A monocitose, com ou sem neutrofilia associada, é um achado relativamente inespecífico e com diversas causas possíveis. Confira agora alguns aspectos referentes a este achado laboratorial e que podem aparecer em seu atendimento médico.
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Dicas do Estratégia
Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à monocitose.
- Os monócitos apresentam importante função em imunomoduladora, fogocitária e apresentadora de antígeno.
- A contagem absoluta normal de monócitos em adultos varia entre 0,2–0,8 × 10 9 /L.
- A monocitose isolada raramente possui significado clínico mais grave.
- As causas incluem gravidez, prática de exercícios físicos, estresse, uso de corticosteróides, condições inflamatórias, auto imunes e neoplásicas.
- Pacientes com monocitose sem sinais de alarme e esfregaço sanguíneo sem displasias podem repetir o exame com 3 meses e avaliar persistência.
- Em caso de persistência podem ser encaminhados para hematologista ou realizado citometria de fluxo do compartimento de monócitos.
Definição de monócitos
Os monócitos são células intermediárias destinadas a formar os macrófagos dos tecidos. São as maiores células normais encontradas no sangue periférico, importantes para o sistema fagocitário mononuclear envolvido na ingestão de microorganismos e materiais estranhos em vários tecidos.
É de origem mielóide, assim como as outras células de defesa, exceto os linfócitos. Os monócitos, após surgirem a partir da divisão dos promonócitos, caem na circulação sanguínea, permanecendo em média 8 horas até migrarem para o tecido conjuntivo e se diferenciam em macrófagos. Os macrófagos que apresentam ação fagocitica.
Eles têm um citoplasma azul acinzentado, muitas vezes repleto de vacúolos. Seu núcleo é irregular, raramente arredondado ou ovalado, e cromatina frequentemente em alto relevo com “dobras” ou “pregas”.
Função dos monócitos
Em relação às suas funções, participam como intermediários essenciais do sistema fagocitário mononuclear, após sinalização por quimiocinas e citocinas, os monócitos ativados aderem e migram para os locais de infecção ou inflamação por diapedese, diferenciando-se em macrófagos e participando da ingestão de microorganismos e materiais estranhos em vários tecidos.
Além disso, eles participam da regulação de respostas inflamatórias e imunes interagindo com os linfócitos e servem como células apresentadoras de antígenos, após se diferenciar em células dendríticas. Além disso, os monócitos têm uma interação mal definida com a cascata de coagulação.
A monocitose
A contagem absoluta normal de monócitos em adultos varia entre 0,2–0,8 × 10 9 /L, com valores variando significativamente com a idade e o sexo, sendo ligeiramente mais altas nos homens.
As condições fisiológicas ou benignas que causam monocitose incluem gravidez, prática de exercícios físicos, estresse, uso de corticosteróides, fatores de crescimento mielóide. Por outro lado, condições inflamatórias, autoimunes e neoplásicas também podem cursar com monocitose.
Causas agudas e transitórias
A monocitose geralmente ocorre em pacientes que se recuperam da quimioterapia citotóxica mielossupressoras e é um prenúncio do retorno da contagem de neutrófilos ao normal nesses pacientes. Outros eventos inflamatórios que cursam com monocitose incluem infarto do miocárdio e exercícios, sendo frequentemente agudos e reversíveis.
A monocitose aguda é ocasionalmente um sinal de infecção, como IVAS, certas infecções bacterianas agudas, como leptospirose ou listeriose, e também pode ocorrer em algumas formas de neutropenia crônica e estados pós-esplenectomia.
Causas persistentes
Condições hematológicas e oncológicas podem estimular a monocitose sustentada, assim como a pré-leucemia , a leucemia mielóide crônica e os linfomas. Outras causas de monocitose persistentes incluem infecções como tuberculose, sífilis, brucelose, malária, leishmaniose visceral e infecção por riquétsias.
Distúrbios inflamatórios crônicos granulomatosos, como sarcoidose e doença inflamatória intestinal (colite ulcerativa), e distúrbios reumatológicos sistêmicos, incluindo artrite reumatóide, lúpus sistêmico eritematoso e trombocitopenia imunomediada, também são causas de monocitose.
Embora a neutrofilia seja mais comumente observada com a terapia com corticosteróides, a monocitose foi relatada. Outras drogas e terapias associadas à monocitose, como ziprasidona, fator estimulador de colônias de granulócitos, radioterapia e globulina anti-timócito.
Avaliação da elevação de monócitos
O achado acidental em um hemograma de rotina raramente é motivo de preocupação. Devemos nos perguntar a cronicidade da monocitose para diferenciar possíveis causas agudas e persistentes. A presença de sinais infecciosos agudos, como febre recente, tosse e coriza podem ser o motivo da monocitose.
A avaliação adicional vai depender dos achados a partir da história completa da doença e exame físico, sendo sinais de alarme febres recorrentes, sudorese noturna e/ou perda de peso, que podem estar presentes em infecções ocultas (ex., tuberculose), distúrbios inflamatórios crônicos e causas neoplásicas.
Um passo seguinte adequado é avaliar o esfregaço sanguíneo para avaliação de displasias. A monocitose mais displasia ou anormalidades adicionais no hemograma completo, como anemia, trombocitopenia, eosinofilia ou basofilia, ou indicadores clínicos de malignidade, como esplenomegalia, dor óssea ou perda de peso, entre outros, indicam uma etiologia clonal e, nesses casos, um aspirado de medula óssea e a avaliação da biópsia central deve ser realizada.
Na presença de monocitose isolada, ausência de displasia, sinais de alarme e possível causa aguda benigna, uma conduta conservadora com repetição do hemograma completo em 3 meses é aceitável. Se melhora da elevação dos monócitos, é considerado monocitose transitória benigna.
Se persistência da monocitose o correto encaminhamento para hematologista ou reumatologista pode ser adequado. A avaliação por citometria de fluxo do compartimento de monócitos ou expansão da fração CD16+ dos monócitos podem ajudar a afastar condições neoplásicas. No entanto, se houver condições reumáticas concomitantes, à avaliação da medula óssea geralmente é recomendada.
Veja também:
- Resumo de leucocitose: etiologia, avaliação e mais!
- Resumo sobre linfócitos: citologia, alterações e mais!
- Resumo de eosinofilia: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de neutropenia febril e febre de origem indeterminada, tratamento, etiologia
Referências bibliográficas:
- JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 13ª edição. Rio de Janeiro – RJ: Guanabara Koogan, 2017. p. 246.
- Mangaonkar AA, Tande AJ, Bekele DI. Differential Diagnosis and Workup of Monocytosis: A Systematic Approach to a Common Hematologic Finding. Curr Hematol Malig Rep. 2021 Jun;16(3):267-275. doi: 10.1007/s11899-021-00618-4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8057007/
- Thomas F. Michniacki, e Kelly J. Walkovich. Nelson Textbook of Pediatrics, Chapter 158, 1147-1149.e1.
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