Resumo de MPOX: diagnóstico, vigilância epidemiológica e mais!

Resumo de MPOX: diagnóstico, vigilância epidemiológica e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Hoje abordaremos de forma abrangente e detalhada os principais aspectos relacionados à MPOX (Monkeypox), uma doença viral que ganhou destaque mundial nos últimos anos devido à sua disseminação fora das regiões endêmicas. Exploraremos desde a definição e características clínicas da doença até as estratégias essenciais de vigilância epidemiológica, fundamentais para o controle e prevenção de novos surtos.

A mudança do termo “Monkeypox” para “MPOX” foi recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em novembro de 2022 para reduzir estigmas e preconceitos associados ao nome original, que remetia a macacos, embora o principal reservatório natural do vírus sejam roedores.

Conceito de MPOX 

A MPOX, conhecida até recentemente como Monkeypox ou varíola dos macacos, é uma zoonose viral causada pelo Monkeypox virus (MPXV), pertencente à família Poxviridae, a mesma do vírus da varíola humana. Identificada pela primeira vez em 1958, em macacos utilizados para pesquisa, a MPOX tem, na verdade, um reservatório natural predominante em roedores e outros pequenos mamíferos na África Central e Ocidental. 

A doença foi reconhecida pela primeira vez em humanos em 1970, na República Democrática do Congo, e desde então tem sido endêmica em regiões da África, com surtos esporádicos ocorrendo fora desse continente, especialmente a partir de 2022. 

Estratégia MED.

Linha do Tempo da MPOX

A linha do tempo da MPOX oferece uma visão abrangente da evolução desta doença ao longo das últimas décadas: 

  • 1958: identificação do Monkeypox virus (MPXV) em duas colônias de macacos na Dinamarca, utilizadas para pesquisa; 
  • 1970: primeiro caso humano de MPOX identificado na República Democrática do Congo, marcando o início do reconhecimento da doença em humanos; 
  • 1970-1979: casos humanos relatados principalmente na África Central e Ocidental, onde a doença tornou-se endêmica; 
  • 1981 a 2022: a maioria dos casos no mundo continua concentrada na África, com a mortalidade em torno de 10% em indivíduos não vacinados contra a varíola; 
  • 2003: primeiro surto significativo fora da África, ocorrido nos Estados Unidos, com 47 casos humanos devido à importação de roedores infectados da África; 
  • 2018 a 2021: casos esporádicos relacionados a viagens para áreas endêmicas são relatados em países como Israel, Reino Unido, Singapura e Estados Unidos; 
  • 13 a 15 de maio de 2022: o Reino Unido notifica os primeiros 7 casos de MPOX sem vínculo com viagens às áreas endêmicas, sinalizando o início de uma disseminação global; 
  • Junho a agosto de 2022: o número de casos aumenta significativamente, com predomínio na Europa e nas Américas. Observa-se uma mudança na distribuição geográfica dos casos;
  • 28 de novembro de 2022: a OMS recomenda a mudança do nome da doença de “Monkeypox” para “MPOX” para evitar estigmatização; e
  • 11 de maio de 2023: a MPOX deixa de ser considerada uma Emergência de Saúde Pública Internacional pela OMS, mas continua sendo um desafio significativo para a saúde pública global.

Epidemiologia da MPOX 

A epidemiologia da MPOX historicamente aponta para sua presença endêmica em regiões da África Central e Ocidental, com surtos principalmente em áreas rurais e florestais. Antes de 2022, a maioria dos casos ocorria nessas regiões, com uma taxa de mortalidade variando entre 3,6% e 10,6%, especialmente entre indivíduos não vacinados contra a varíola e imunocomprometidos. A doença afetava igualmente homens e mulheres, sendo mais comum em pessoas com menos de 40 a 50 anos, que não haviam recebido a vacina contra a varíola.

No entanto, a partir de maio de 2022, a MPOX começou a se espalhar globalmente, com casos sendo registrados em mais de 100 países, fora das áreas endêmicas tradicionais. Esse surto global revelou mudanças significativas no perfil epidemiológico da doença: 

  • Observou-se um predomínio marcante de casos entre homens, especialmente aqueles com idades entre 20 e 40 anos
  • Cerca de 97,5% dos casos relatados em países como os Estados Unidos e no Brasil ocorreram em homens, com uma média de idade em torno de 34 anos; e
  • A maioria dos casos está associada a homens que fazem sexo com homens (HSH), com transmissão frequentemente relacionada ao contato íntimo prolongado, principalmente durante atividades sexuais.

Transmissão e Fatores de risco da MPOX 

A transmissão da MPOX ocorre tanto de animais para humanos quanto entre humanos. Nas regiões endêmicas da África Central e Ocidental, a infecção zoonótica é comum, ocorrendo através do contato direto com sangue, fluidos corporais ou lesões de animais infectados, especialmente roedores. Entre humanos, o vírus se espalha principalmente por contato direto com lesões cutâneas ou secreções respiratórias de uma pessoa infectada

Nos surtos recentes fora da África, a transmissão sexual tem se mostrado uma via importante, especialmente entre homens que fazem sexo com homens (HSH). Embora o vírus tenha sido detectado em sêmen, ainda são necessários mais estudos para confirmar essa via de transmissão. Além disso, a transmissão de mãe para filho via transplacentária também é possível, resultando em infecção congênita.

Estratégia MED.

Os principais fatores de risco incluem: 

  1. Sexo masculino e idade jovem a adulta: a maioria dos casos recentes se registrou em homens, principalmente na faixa etária de 20 a 40 anos; 
  1. Contato próximo com lesões cutâneas ou secreções respiratórias de pessoas infectadas: esta contínua sendo a principal via de transmissão entre humanos; 
  1. Imunossupressão: indivíduos com imunocomprometimento, como aqueles vivendo com HIV, apresentam um risco maior de desenvolver formas graves da doença;
  1. Transmissão zoonótica: nas regiões endêmicas, o contato direto com animais infectados, especialmente roedores, permanece uma via importante de infecção; e
  1. Atividades sexuais com múltiplos parceiros: este fator tem se destacado como um risco significativo na disseminação recente do vírus fora da África.

Quadro Clínico da MPOX

A MPOX, apesar de ser clinicamente menos grave que a varíola, apresenta um conjunto de sinais e sintomas que podem variar em intensidade. O quadro clínico começa geralmente com um período prodrômico de 0 a 3 dias, caracterizado por:

  • febre alta;
  • mal-estar;
  • dor de cabeça intensa;
  • mialgia;
  • fadiga; e
  • linfadenopatia, especialmente nas regiões cervical e submandibular. 

Esses sintomas iniciais são seguidos pelo surgimento de lesões cutâneas características, que evoluem de máculas a pápulas, vesículas, pústulas e, finalmente, crostas que se desprendem. As lesões costumam aparecer inicialmente no rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés, exibindo uma distribuição centrífuga.

Lesão cutânea de Mpox em seus vários estágios. MS: Fiocruz.

No surto recente, foram observadas variações nesse quadro clínico clássico. As lesões cutâneas, que tradicionalmente apareciam em um estágio único de desenvolvimento, têm sido relatadas em diferentes estágios simultâneos, muitas vezes localizadas nas regiões genital e perianal, principalmente entre homens que fazem sexo com homens (HSH). 

Além disso, o número de lesões pode variar, com alguns pacientes apresentando apenas uma ou poucas lesões localizadas. Sintomas sistêmicos como febre, fadiga e dor de cabeça continuam a ser comuns, mas há uma maior prevalência de infecções bacterianas secundárias e complicações, especialmente em indivíduos imunocomprometidos, como aqueles vivendo com HIV. Em casos graves, podem ocorrer complicações como pneumonia, encefalite, e sepse, que necessitam de intervenção médica imediata.

Lesões de Mpox em mucosas. MS: Fiocruz.

Diagnóstico da MPOX 

O diagnóstico de MPOX é baseado em uma combinação de avaliação clínica, histórico epidemiológico e confirmação laboratorial. A confirmação do diagnóstico é feita por meio de coletas de amostras adequadas, principalmente secreções vesiculares e crostas das lesões, utilizadas para a realização do exame de reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR). Este é o método padrão para a detecção do DNA viral, considerado altamente específico para o Monkeypox virus (MPXV). A coleta deve ser realizada com cuidado, utilizando swabs estéreis, que devem ser esfregados vigorosamente sobre a lesão para garantir a obtenção de uma quantidade adequada de material para análise.

Diagnósticos Diferencias da MPOX 

Dada a variedade de condições que podem apresentar sintomas semelhantes aos da MPOX, é essencial considerar uma lista de diagnósticos diferenciais para garantir um diagnóstico preciso e um manejo adequado. Entre as principais condições que devem ser diferenciadas da MPOX, destacam-se:

  1. Varicela: a varicela, causada pelo vírus varicela-zóster, é uma das condições mais comuns que se assemelha à MPOX. Ambas as doenças apresentam erupções cutâneas vesiculares, mas as lesões da varicela tendem a surgir em diferentes estágios simultâneos, enquanto as lesões da MPOX geralmente evoluem em estágios sincronizados. Além disso, a varicela normalmente começa no tronco e se espalha para o rosto e extremidades, enquanto as lesões da MPOX frequentemente começam no rosto e se espalham de forma centrífuga. 
  1. Herpes-Zóster: causado também pelo vírus varicela-zóster, o herpes-zóster pode ser confundido com MPOX devido à presença de vesículas dolorosas. No entanto, as lesões do herpes-zóster são tipicamente restritas a um único dermátomo sendo acompanhadas de dor intensa na área afetada, o que não é característico da MPOX. 
  1. Sífilis secundária: a sífilis pode apresentar lesões cutâneas em vários estágios de evolução, algumas das quais podem ser confundidas com as da MPOX. Lesões papulares ou pústulas, especialmente nas palmas das mãos e solas dos pés, são comuns na sífilis secundária e podem ser confundidas com MPOX. A história clínica, sorologia para sífilis e a distribuição das lesões ajudam a diferenciar essas condições. 
  1. Impetigo: infecção bacteriana superficial da pele, que pode ser causada por Staphylococcus aureus ou Streptococcus pyogenes. O impetigo pode apresentar lesões pustulosas que formam crostas, semelhantes às de MPOX, mas geralmente é restrito a áreas de trauma ou feridas e é mais comum em crianças. 
  1. Molusco Contagioso: infecção viral causada por um poxvírus diferente, que provoca pápulas pequenas, lisas e brilhantes, muitas vezes com um centro umbilicado. As lesões do molusco são menores e não apresentam a progressão característica das lesões da MPOX.

Tratamento do MPOX 

O tratamento da MPOX é principalmente sintomático e de suporte, uma vez que a maioria dos casos é autolimitada, com recuperação em duas a quatro semanas. A gestão dos sintomas inclui o uso de antipiréticos e analgésicos para controlar a febre e a dor, bem como manter uma hidratação adequada. As lesões cutâneas devem ser mantidas limpas e secas para prevenir infecções secundárias, e em alguns casos, pode ser necessária a utilização de antibióticos para tratar infecções bacterianas que se desenvolvem nas lesões da pele.

Em casos graves, ou em pacientes com risco aumentado de complicações, como aqueles com imunossupressão, podem ser utilizados agentes antivirais específicos. O tecovirimat (TPOXX), um antiviral originalmente desenvolvido para tratar a varíola, é aprovado em alguns países para o tratamento da MPOX em situações específicas. Outro antiviral, o cidofovir, também pode ser considerado em casos graves ou complicados, embora seja usado com cautela devido ao seu perfil de efeitos colaterais.

Além do tratamento médico, o isolamento dos pacientes é uma medida importante para prevenir a disseminação do vírus, especialmente em ambientes hospitalares e domiciliares. Pacientes devem ser mantidos em isolamento até que todas as lesões estejam completamente cicatrizadas e as crostas tenham caído (geralmente em torno de 21 dias). A educação sobre a doença e as práticas de higiene são essenciais para o manejo adequado dos casos e a prevenção de novos surtos.

A vacinação prévia contra a varíola humana oferece uma certa proteção cruzada contra a MPOX, e em situações de surto, a vacinação pós-exposição pode ser recomendada para contatos próximos de casos confirmados, ajudando a reduzir a gravidade da doença ou impedir sua progressão.

Medidas de Prevenção da MPOX

A prevenção da MPOX envolve uma combinação de medidas de controle, vigilância e práticas de higiene. As principais estratégias incluem: 

  1. Isolamento de casos confirmados: pacientes com MPOX devem ser isolados até que todas as lesões estejam completamente cicatrizadas e as crostas tenham caído, para evitar a transmissão do vírus a outras pessoas. 
  1. Higiene das Mãos e Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI): a lavagem frequente das mãos com água e sabão ou o uso de desinfetantes à base de álcool é fundamental, especialmente após o contato com pacientes ou superfícies potencialmente contaminadas. Profissionais de saúde devem usar EPIs, como luvas, máscaras e aventais, ao cuidar de pacientes com MPOX. 
  1. Vacinação: a vacinação com a vacina contra a varíola pode oferecer proteção cruzada contra a MPOX. Em situações de surto, a vacinação pós-exposição pode ser recomendada para contatos próximos de casos confirmados. 
  1. Educação e conscientização: informar a população sobre os modos de transmissão, sintomas e medidas preventivas é crucial para reduzir o risco de disseminação. Campanhas educativas devem focar em práticas de higiene, identificação precoce dos sintomas e importância do isolamento. 
  1. Controle de reservatórios animais: nas regiões endêmicas, evitar o contato com animais selvagens que possam ser reservatórios do vírus, como roedores, e implementar medidas de controle de animais, pode ajudar a prevenir a transmissão zoonótica do MPXV.

Vigilância Epidemiológica na MPOX 

Notificação dos Casos de MPOX 

A vigilância epidemiológica da MPOX envolve a notificação obrigatória de todos os casos suspeitos, confirmados e prováveis, utilizando plataformas como o e-SUS Sinan. Este processo é fundamental para o controle da doença, permitindo a rápida identificação e investigação dos casos, além de ajudar na implementação de medidas preventivas para conter a disseminação do vírus. A notificação deve incluir detalhes sobre o caso, como dados socioepidemiológicos e laboratoriais, garantindo uma resposta eficaz e coordenada.

Definições de Caso 

Para garantir a precisão na notificação e investigação, a MPOX é categorizada em três tipos principais de casos: 

  • Caso suspeito: indivíduo que apresenta lesão cutânea aguda e/ou mucosa, edema peniano, proctite, ou outros sintomas que possam ser indicativos de MPOX. A definição de um caso suspeito é o primeiro passo para o rastreamento e monitoramento. 
  • Caso confirmado: este é um caso suspeito que teve confirmação laboratorial positiva para o vírus MPXV através de um teste PCR. A confirmação laboratorial é essencial para validar o diagnóstico clínico e direcionar as ações de saúde pública.
  • Caso provável: refere-se a um caso que, embora atenda à definição de caso suspeito, ainda não teve a confirmação laboratorial, mas apresenta exposições de risco ou outros critérios epidemiológicos que justificam o seguimento como caso de MPOX.

Classificação dos Casos 

A classificação dos casos de MPOX é uma etapa importante na vigilância epidemiológica. Os casos podem ser classificados da seguinte maneira: 

  • Confirmado: quando o resultado laboratorial para MPXV é positivo. 
  • Descartado: caso suspeito com resultado laboratorial negativo. 
  • Excluído: quando o caso não atende às definições de um caso suspeito. 
  • Perda de seguimento: casos onde não foi possível concluir a investigação, devido à falta de dados ou outros impedimentos.

Rastreamento de Contatos 

O rastreamento de contatos é uma medida epidemiológica vital na contenção da MPOX. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera contato de caso qualquer pessoa que teve uma ou mais das seguintes interações com um caso provável, ou confirmado de MPOX nos últimos 21 dias: 

  • Contato físico direto: inclui contato sexual com parceiros múltiplos e/ou desconhecidos. 
  • Exposição próxima e prolongada: sem proteção respiratória, ou contato íntimo, incluindo sexual. 
  • Contato com materiais contaminados: como roupas de cama, toalhas, ou utensílios de uso comum. 
  • Trabalhadores de saúde: que não usaram adequadamente o EPI ao tratar pacientes com MPOX. 

Monitoramento de Casos e Contatos 

O monitoramento deve começar assim que o caso é identificado e continuar até que o resultado laboratorial esteja disponível. Se o resultado for negativo, o monitoramento é suspenso; se for positivo, o monitoramento deve continuar por 21 dias, observando o aparecimento de sinais ou sintomas sugestivos de MPOX. Contatos de casos suspeitos que estejam assintomáticos podem continuar com suas atividades diárias, mas devem ser orientados a realizar o automonitoramento durante o mesmo período.

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Referências Bibliográficas 

  1. OLIVEIRA, Marilia Santini de; NASCIMENTO, Débora Dupas Gonçalves do; MORAES, Sílvia Helena Mendonça de; MARQUES, Ana Paula da Costa. Monkeypox: uma abordagem geral para profissionais de saúde. 1. ed. Campo Grande, MS: Fiocruz Pantanal, 2023. Disponível em: https://www.matogrossodosul.fiocruz.br. Acesso em: 27 ago. 2024.
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