Olá, querido doutor e doutora! A necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido é uma condição inflamatória rara, autolimitada, que acomete principalmente neonatos a termo nas primeiras semanas de vida. Embora suas lesões cutâneas costumem regredir espontaneamente, a condição pode ser acompanhada por alterações metabólicas graves, como hipercalcemia.
Em até 51% dos casos, a hipercalcemia é identificada nas primeiras semanas de vida e pode exigir tratamento intensivo.
Navegue pelo conteúdo
Conceito
A necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido (NGSRN) é uma forma rara de paniculite que acomete principalmente neonatos a termo ou pós-termo durante as primeiras semanas de vida. Clinicamente, manifesta-se por nódulos ou placas subcutâneas firmes, bem delimitadas, com coloração eritematosa ou violácea, localizadas geralmente em áreas como ombros, costas, nádegas e coxas.
Trata-se de uma condição autolimitada, mas que pode estar associada a complicações metabólicas relevantes, sendo a mais frequente a hipercalcemia sintomática. Embora a lesão cutânea tenda a regredir espontaneamente, a monitorização prolongada do paciente é indicada devido ao risco de alterações sistêmicas.
Fisiopatologia
A fisiopatologia da necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido envolve a solidificação e cristalização da gordura subcutânea, fenômeno favorecido pela composição do tecido adiposo neonatal, rico em ácidos graxos saturados, que possuem ponto de fusão elevado. Essa característica torna o tecido adiposo mais suscetível a necrose em situações de hipotermia, hipóxia ou trauma local.
A necrose do tecido adiposo desencadeia uma reação inflamatória granulomatosa, com presença de macrófagos, células gigantes multinucleadas e cristais em forma de agulha no interior dos adipócitos. Essa inflamação intensa pode levar à produção extrarrenal de 1,25-dihidroxivitamina D pelos macrófagos ativados, o que resulta em aumento da absorção intestinal de cálcio e sua mobilização óssea, favorecendo o surgimento de hipercalcemia. Além disso, a mobilização de lipídeos e a sequestração periférica de plaquetas explicam outras alterações como hipertrigliceridemia e trombocitopenia.
Epidemiologia e fatores de risco
A necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido é uma condição rara, com poucos casos descritos na literatura, sendo frequentemente subdiagnosticada. Acomete predominantemente recém-nascidos a termo ou pós-termo, com idade gestacional superior a 37 semanas e peso ao nascer geralmente acima de 3.400 g. A média de idade para surgimento das lesões cutâneas é entre o 6º e 10º dia de vida, embora possa variar.
Os principais fatores de risco associados incluem:
- Asfixia perinatal;
- Hipotermia terapêutica (especialmente em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica);
- Trauma obstétrico;
- Aspiração de mecônio;
- Parto cesariano;
- Doenças maternas como diabetes mellitus e pré-eclâmpsia.
Em estudos retrospectivos, aproximadamente 90% dos pacientes afetados apresentavam histórico de sofrimento perinatal, e até 20% foram submetidos à hipotermia terapêutica. Esses dados reforçam a necessidade de vigilância clínica em recém-nascidos expostos a essas condições.
Avaliação clínica
O quadro clínico da necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido caracteriza-se pelo surgimento de nódulos ou placas subcutâneas firmes, móveis, bem delimitadas, com coloração eritematosa ou violácea. Essas lesões geralmente aparecem nos primeiros 28 dias de vida, sendo mais comuns entre o 6º e o 10º dia. As áreas mais frequentemente afetadas são os ombros, braços, dorso, nádegas e coxas.
As lesões podem variar de pequenos nódulos (<1 cm) a grandes massas com até 8 cm de diâmetro. Em alguns casos, tornam-se flutuantes, podendo ulcerar e drenar um conteúdo esbranquiçado, semelhante a giz.
Além das manifestações cutâneas, podem surgir sinais sistêmicos secundários à hipercalcemia, como:
- Recusa alimentar;
- Vômitos;
- Irritabilidade;
- Hipotonia;
- Constipação;
- Letargia;
- Convulsões;
- Febre persistente.
Esses sintomas geralmente aparecem entre a 3ª e a 16ª semana de vida e indicam a necessidade urgente de avaliação laboratorial, especialmente do cálcio sérico. A presença desses sinais sistêmicos deve sempre motivar investigação e tratamento precoce.
Diagnóstico
O diagnóstico da necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido é predominantemente clínico, baseado na observação de lesões subcutâneas firmes, eritematosas ou violáceas em recém-nascidos a termo com histórico de sofrimento perinatal ou hipotermia.
Contudo, diante da possibilidade de complicações metabólicas, é necessário complementar a investigação com:
- Dosagem sérica de cálcio total e ionizado;
- Função renal (ureia, creatinina);
- Triglicerídeos e glicemia;
- Contagem de plaquetas.
Em casos duvidosos ou atípicos, pode-se realizar ultrassonografia de partes moles, que demonstra áreas hiperecogênicas no subcutâneo, com ou sem calcificações. Esse exame pode substituir a biópsia, evitando procedimentos invasivos.
Se houver necessidade de confirmação histológica, a biópsia de pele revelará:
- Paniculite lobular;
- Necrose de adipócitos;
- Cristais em forma de agulha no interior de macrófagos e adipócitos;
- Presença de células gigantes multinucleadas e focos de calcificação.
A monitorização do cálcio sérico deve ser feita semanalmente no primeiro mês e mensalmente até o sexto mês de vida ou até a resolução completa das lesões cutâneas, mesmo nos casos inicialmente normocalcêmicos.
Tratamento
O manejo da necrose gordurosa subcutânea do recém-nascido é predominantemente suporte clínico, já que a maioria das lesões cutâneas evolui com resolução espontânea em semanas ou meses. Entretanto, nos casos complicados por hipercalcemia, a intervenção deve ser imediata para evitar consequências graves, como nefrocalcinose e convulsões.
As medidas terapêuticas incluem:
- Hidratação endovenosa vigorosa, com solução isotônica, para promover a excreção renal de cálcio.
- Furosemida (1 a 4 mg/kg/dia), administrada com cautela, para estimular a calciúrese. Deve-se garantir boa hidratação antes do uso.
- Corticoterapia sistêmica (como hidrocortisona 2 mg/kg/dose a cada 6 horas), que reduz a produção de 1,25-dihidroxivitamina D pelas células granulomatosas, diminuindo a absorção de cálcio.
- Suspensão imediata da suplementação de vitamina D e uso de fórmula com baixo teor de cálcio.
- Monitoramento laboratorial diário nos casos com hipercalcemia, incluindo cálcio, eletrólitos e função renal.
Nos casos refratários à terapêutica inicial, podem ser utilizados:
- Bifosfonatos, como pamidronato;
- Calcitonina, embora seu uso possa levar à taquifilaxia com o tempo.
Após estabilização, o paciente deve continuar em acompanhamento ambulatorial regular até a normalização laboratorial e regressão completa das lesões. A maioria dos casos responde bem às medidas iniciais, com melhora clínica em até 72 horas após o início do tratamento adequado.
Venha fazer parte da maior plataforma de Medicina do Brasil! O Estratégia MED possui os materiais mais atualizados e cursos ministrados por especialistas na área. Não perca a oportunidade de elevar seus estudos, inscreva-se agora e comece a construir um caminho de excelência na medicina!
Veja Também
- Resumo de Acne Neonatal: causas, diagnóstico e mais!
- Sarampo: transmissão, sintomas e muito mais!
- Resumo de exantema súbito: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de doenças exantemáticas na infância: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo do eritema infeccioso: diagnóstico, tratamento e mais!
- Rubéola: causas, sintomas e muito mais!
- Caxumba ou papeira: descubra tudo sobre!
- Vacinação infantil brasileira enfrenta a pior queda em 25 anos: entenda o caso!
Canal do YouTube
Referências Bibliográficas
- CABRAL, Joaquim Eugênio Bueno et al. Necrose gordurosa do subcutâneo ou adipo necrose do recém-nascido: descrição de um caso. Jornal de Pediatria, v. 70, n. 3, p. 178-180, 1994.
- VELASQUEZ, Juan H.; MENDEZ, Magda D. Subcutaneous Fat Necrosis of the Newborn. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.