Olá, querido doutor e doutora! A neuralgia intercostal é uma causa relativamente frequente de dor torácica ou abdominal superior que pode ser confundida com diversas condições viscerais. O reconhecimento clínico adequado permite evitar exames e tratamentos desnecessários, direcionando o manejo para uma abordagem mais resolutiva. Suas causas variam de cirurgias torácicas a infecções virais e aprisionamentos nervosos.
A dor costuma seguir um trajeto linear e ser descrita como queimação, pontada ou sensação de aperto, com piora aos movimentos torácicos.
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Definição e caracterização da neuralgia intercostal
A neuralgia intercostal refere-se a um quadro de dor neuropática que se distribui ao longo do trajeto de um ou mais nervos intercostais, localizados entre as costelas. Essa condição pode se manifestar com dor na parede torácica, dorso ou abdome superior, dependendo do nível do nervo acometido.
A dor descrita costuma ter caráter em faixa, acompanhando o contorno torácico ou abdominal conforme o dermátomo afetado, e pode ser percebida como pontada, queimação, choque, formigamento ou sensação de aperto. Em muitos casos, associa-se a parestesias, hiperalgesia e alodinia tátil. A dor pode ser contínua ou intermitente, e tende a ser agravada por movimentos torácicos como tosse, riso, espirro ou respiração profunda.
Etiologias mais comuns
A neuralgia intercostal pode ser desencadeada por diversos mecanismos, envolvendo lesão direta, inflamação, compressão ou estiramento do nervo intercostal. As causas mais frequentes incluem:
Cirurgia torácica (Síndrome de dor pós-toracotomia – PTPS)
A toracotomia é uma das principais causas iatrogênicas de neuralgia intercostal. O dano ocorre tanto por seccionamento direto do nervo quanto por compressão e inflamação geradas por retração muscular, costelas fraturadas ou cicatrizes fibróticas. A dor pode persistir por meses e evoluir para quadro crônico. Estima-se que até 50% dos pacientes submetidos a toracotomia desenvolvam sintomas persistentes.
Herpes-zóster e neuralgia pós-herpética
A reativação do vírus varicela-zóster nos gânglios da raiz dorsal torácica gera inflamação intensa do nervo e dor intensa ao longo do dermátomo. A neuralgia pós-herpética pode se estabelecer em até 20% dos casos, sendo mais comum em idosos e imunossuprimidos.
Trauma torácico
Fraturas de costelas, impactos diretos, cirurgias mamárias, toracocenteses e drenagens podem provocar lesão nervosa por compressão, tração ou laceração. Cicatrizes pós-trauma também podem levar ao aprisionamento do nervo.
Síndromes de aprisionamento nervoso
Incluem quadros como a síndrome do nervo cutâneo anterior (ACNES), em que ramos de T7 a T12 são comprimidos ao atravessar o músculo reto abdominal. É uma causa frequente de dor abdominal de origem parietal, muitas vezes confundida com condições viscerais. Outro exemplo é a síndrome do nervo cutâneo lateral torácico, relacionada à compressão lateral dos nervos intercostais.
Alterações anatômicas e mecânicas
Situações que aumentam a tensão ou o volume abdominal podem tracionar os nervos intercostais e gerar sintomas dolorosos. Entre elas estão:
- Gravidez;
- Ascite;
- Obesidade abdominal;
- Tosse crônica;
- Uso de roupas apertadas ou cintas abdominais.
Causas infecciosas e inflamatórias não herpéticas
Outras infecções, como pleurites, podem afetar o nervo por contiguidade. Polineuropatias diabéticas e distúrbios autoimunes também devem ser considerados.
Causas neoplásicas
Tumores primários ou metastáticos podem infiltrar ou comprimir os nervos intercostais diretamente ou por acometimento ósseo e pleural. Nesses casos, a dor tende a ser progressiva e refratária ao tratamento convencional.
Manifestações clínicas e sinais semiológicos relevantes
A neuralgia intercostal costuma apresentar um padrão bem definido de dor, com características que variam conforme a causa, o tempo de evolução e o nível nervoso envolvido. A dor geralmente acompanha um trajeto linear ao longo do dermátomo torácico ou abdominal, sendo percebida como uma sensação em faixa que contorna o tórax ou abdome superior.
Características da dor
A dor referida é frequentemente descrita como queimação, pontadas, fisgadas ou choque elétrico, podendo ser intermitente ou contínua. Em muitos casos, associa-se a parestesias, como dormência ou formigamento, e a alodinia, em que o paciente percebe como dolorosos estímulos táteis leves. O padrão é quase sempre unilateral, e a localização segue fielmente a distribuição do nervo intercostal acometido. Em neuralgias pós-herpéticas, por exemplo, a dor persiste mesmo após a resolução das lesões cutâneas, com hipersensibilidade e dor espontânea na área previamente afetada.
Fatores agravantes
Diversos movimentos e situações que envolvem a movimentação torácica agravam o quadro álgico. São exemplos comuns tosse, espirros, risos, respiração profunda, rotação do tronco e levantamento dos braços. Esses fatores refletem o envolvimento do nervo em regiões anatomicamente móveis ou comprimidas.
Achados ao exame físico
O exame clínico pode revelar alodinia (dor à escova de algodão ou ao toque leve) e hiperalgesia ao pin-prick (estímulo doloroso com agulha). A perda parcial da sensibilidade no território cutâneo do nervo também pode estar presente, especialmente nos quadros pós-herpéticos ou pós-cirúrgicos. A dor pode ser reproduzida por palpação no trajeto do nervo intercostal, o que auxilia no diagnóstico topográfico.
Sinal de Schepelmann
Um teste clínico útil na suspeita de neuralgia intercostal é o Sinal de Schepelmann. O paciente é orientado a se inclinar lateralmente. Quando a dor aumenta ao inclinar-se para o lado dolorido, há sugestão de compressão nervosa intercostal. Se a dor intensifica-se ao lado oposto, pode haver distensão pleural associada. Esse sinal é útil para diferenciar causas parietais de causas viscerais torácicas.
Sinal de Carnett
Em pacientes que apresentam dor abdominal associada ao comprometimento de ramos inferiores dos nervos intercostais (como em ACNES), o Sinal de Carnett pode ser revelador. O paciente, em decúbito dorsal, é orientado a contrair a musculatura abdominal (como ao levantar a cabeça). Se a dor permanece ou piora com a contração, indica que a origem é provavelmente parietal. Já se a dor diminui, sugere origem visceral.
Diagnóstico clínico e exames complementares
Avaliação inicial baseada na história clínica
O diagnóstico da neuralgia intercostal começa com uma anamnese direcionada, que deve investigar a localização exata da dor, seu caráter neuropático (como queimação ou pontadas), além de fatores que pioram o quadro, como tosse, espirro, respiração profunda e movimento do tronco. A dor em trajeto linear unilateral, associada a parestesias, é altamente sugestiva. É fundamental questionar o histórico de cirurgias torácicas, traumas, infecção por herpes-zóster, ou uso de cintas abdominais e gravidez, que podem tracionar ou comprimir os nervos intercostais.
Exame físico com foco no dermátomo afetado
A palpação segmentar da parede torácica ou abdominal pode reproduzir a dor, especialmente quando se pressiona ao longo do nervo intercostal acometido. A presença de alodinia (dor ao toque leve) e hiperalgesia (dor exagerada ao estímulo nocivo) reforça o diagnóstico. O sinal de Schepelmann (dor que aumenta ao inclinar-se para o lado afetado) é útil para distinguir compressão nervosa de dor pleural. Nos casos com dor abdominal baixa (como em ACNES), o sinal de Carnett é aplicável: a dor que permanece ou piora com a contração do abdome sugere origem parietal, e não visceral.
Bloqueio anestésico como ferramenta diagnóstica
Um bloqueio diagnóstico com anestésico local, geralmente lidocaína ou bupivacaína, pode confirmar o envolvimento nervoso quando há alívio ≥ 50% da dor em até 15 minutos. Essa abordagem é especialmente útil quando o diagnóstico clínico está em dúvida ou como critério de seleção para procedimentos terapêuticos mais invasivos. Também pode ser repetido com corticosteroide associado, em tentativa terapêutica.
Exames de imagem para excluir outras causas
Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, exames como radiografia de tórax são úteis para afastar fraturas costais ou anomalias estruturais. Já a tomografia (TC) ou ressonância magnética (RM) deve ser considerada quando há suspeita de lesões expansivas, neoplasias, hérnias discais torácicas ou persistência da dor sem causa evidente. Esses exames também são importantes em pacientes oncológicos com risco de metástases na parede torácica ou coluna.
Abordagem terapêutica
Tratamento clínico inicial
A primeira abordagem inclui AINEs e analgésicos comuns, embora a resposta seja limitada nos casos com componente neuropático. Nesses pacientes, o uso de gabapentina, pregabalina ou antidepressivos tricíclicos (como amitriptilina) é geralmente mais eficaz.
Terapias tópicas e não farmacológicas
Podem ser utilizados adesivos de lidocaína ou capsaicina tópica em áreas bem delimitadas. O uso de TENS ou acupuntura pode ser considerado como adjuvante, especialmente em dor crônica.
Bloqueios anestésicos
O bloqueio intercostal com anestésico local, associado ou não a corticosteroide, pode ser tanto diagnóstico quanto terapêutico. A resposta positiva reforça a origem neuropática e pode evitar escalonamento medicamentoso.
Técnicas intervencionistas
Em casos refratários, indica-se radiofrequência térmica ou neurolise química (com fenol ou álcool), realizadas sob imagem. São opções para pacientes com alívio temporário após bloqueios simples.
Abordagem cirúrgica
A neurectomia intercostal pode ser indicada em dor persistente após toracotomia ou em entrapamentos não responsivos a infiltrações. Procedimentos mais agressivos, como rizotomia, são raros e indicados em centros especializados.
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Referências Bibliográficas
- FAZEKAS, Dalton; DOROSHENKO, Maksym; HORN, Danielle B. Intercostal Neuralgia. In: STATPEARLS. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025.
- DEGEORGE, Katharine. Chronic Abdominal Wall Pain. DynaMed [Internet]. Ipswich (MA): EBSCO Information Services; 2023.