Resumo de Norovírus: transmissão, sintomas, prevenção e mais!
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Resumo de Norovírus: transmissão, sintomas, prevenção e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O norovírus é um dos principais agentes etiológicos da gastroenterite aguda, causando milhões de infecções anualmente em todo o mundo. Altamente contagioso, o vírus se dissemina rapidamente em ambientes fechados e institucionais, como hospitais, creches, escolas e cruzeiros, sendo transmitido principalmente por via fecal-oral, através do contato com alimentos, água ou superfícies contaminadas. Devido à sua resistência ambiental e à ausência de antivirais específicos ou vacinas licenciadas, a prevenção e o controle rigoroso da infecção são essenciais para minimizar o impacto dos surtos.

Mesmo após a resolução dos sintomas, o vírus pode continuar sendo eliminado por semanas nas fezes, contribuindo para a persistência dos surtos e tornando o controle da infecção um desafio.

O Norovírus

O norovírus foi identificado pela primeira vez em 1968, durante um surto de gastroenterite em uma escola primária na cidade de Norwalk, Ohio, nos Estados Unidos. Amostras de fezes coletadas de pacientes infectados foram analisadas anos depois, em 1972, quando partículas virais foram visualizadas por microscopia eletrônica, levando à denominação inicial de “vírus de Norwalk”.

Com o avanço das técnicas moleculares, descobriu-se que esse agente pertencia a uma ampla família de vírus gastroentéricos, sendo posteriormente classificado na família Caliciviridae e renomeado oficialmente como norovirus pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus em 2002.

Ao longo das décadas seguintes, estudos demonstraram a diversidade genética do norovírus, resultando na identificação de múltiplos genogrupos e variantes, com o genogrupo GII.4 sendo responsável pela maioria dos surtos em humanos. Em 2012, a cepa GII.4 Sydney emergiu como uma das mais prevalentes globalmente, resultando em um grande número de surtos de gastroenterite.

Atualmente, o norovírus é reconhecido como uma das principais causas de gastroenterite aguda não bacteriana no mundo, sendo um desafio significativo para a saúde pública devido à sua alta transmissibilidade, resistência ambiental e ausência de imunidade prolongada.

Estrutura do Norovírus

O norovírus é um vírus de RNA de fita simples e senso positivo, com aproximadamente 7,5 kb de comprimento, pertencente à família Caliciviridae. Sua estrutura é composta por um capsídeo icosaédrico, sem envelope lipídico, o que o torna altamente resistente a desinfetantes comuns e condições ambientais adversas, como calor, frio e variações de pH. O genoma do norovírus é organizado em três regiões principais (open reading frames – ORFs): 

  • ORF1: codifica proteínas não estruturais essenciais para a replicação viral, incluindo uma RNA polimerase dependente de RNA. 
  • ORF2: codifica a principal proteína estrutural do capsídeo, denominada VP1, que se divide em dois domínios: o domínio da concha (S), responsável pela estrutura básica do capsídeo, e o domínio projetado (P), envolvido na interação com receptores celulares. 
  • ORF3: codifica a proteína VP2, que desempenha um papel auxiliar na estabilidade do capsídeo.

O capsídeo do norovírus apresenta depressões características em sua superfície, formando padrões que facilitam a ligação do vírus a glicanos específicos, como os antígenos dos grupos sanguíneos ABO. Essa interação influencia a suscetibilidade dos indivíduos à infecção.

Devido à ausência de envelope, o norovírus é resistente a solventes lipídicos e a vários desinfetantes à base de álcool, exigindo soluções específicas, como hipoclorito de sódio, para sua inativação em superfícies contaminadas.

Como Ocorre a Transmissão do Norovírus 

O norovírus é altamente contagioso e se dissemina principalmente por via fecal-oral, sendo transmitido através do consumo de alimentos e água contaminados, contato direto com pessoas infectadas ou superfícies contaminadas. Devido à sua resistência a diversos desinfetantes e condições ambientais, a transmissão pode ocorrer de diversas formas, tornando-se um desafio para o controle de surtos. As principais vias de transmissão incluem: 

  1. Alimentos e água contaminados: o vírus pode ser introduzido em alimentos durante a produção, manuseio ou preparação, especialmente por trabalhadores infectados. Frutos do mar, vegetais crus e frutas são frequentemente implicados em surtos. A água contaminada também pode atuar como reservatório do vírus. 
  1. Contato pessoa a pessoa: indivíduos infectados eliminam grande quantidade de partículas virais nas fezes e no vômito, facilitando a transmissão em ambientes fechados, como hospitais, creches, escolas e cruzeiros. 
  1. Superfícies contaminadas: o vírus pode permanecer viável por longos períodos em objetos e superfícies, sendo transmitido ao tocar áreas contaminadas e levar as mãos à boca. 
  1. Aerossolização de partículas virais: pequenas partículas virais podem ser dispersas no ar durante episódios de vômito e serem inaladas ou depositadas em superfícies próximas.

A alta infectividade do norovírus se deve à baixa dose infectante, já que menos de 20 partículas virais podem ser suficientes para causar infecção. Além disso, indivíduos infectados podem eliminar o vírus por semanas após a resolução dos sintomas, contribuindo para a disseminação contínua.

Sintomas

Os sintomas da infecção por norovírus surgem rapidamente, geralmente entre 12 a 48 horas após a exposição ao vírus, e se manifestam de forma aguda. O quadro clínico é caracterizado por uma gastroenterite de curta duração, sendo a diarreia e os vômitos os sinais predominantes: 

  • Diarreia aquosa e não sanguinolenta: frequente e de alta intensidade, podendo levar à desidratação. 
  • Vômitos intensos: comuns, especialmente em crianças, podendo levar a complicações devido à perda rápida de líquidos. 
  • Náusea e dor abdominal: sensação de mal-estar gástrico e cólicas leves a moderadas. 
  • Febre baixa e calafrios: pode estar presente, mas geralmente é autolimitada. 
  • Cefaleia e mialgia: sintomas sistêmicos leves, semelhantes a um quadro gripal. 
  • Fadiga e mal-estar geral: relatos frequentes de cansaço extremo durante a infecção.

Tratamento do Norovírus

O manejo da infecção por norovírus é predominantemente suporte clínico, uma vez que não há antivirais específicos disponíveis. O tratamento foca na prevenção e correção da desidratação, alívio dos sintomas e medidas para conter a transmissão.

Hidratação e Reposição Eletrolítica 

A principal preocupação no tratamento é a desidratação, especialmente em crianças, idosos e imunocomprometidos. A abordagem varia conforme a gravidade do quadro: 

  • Casos leves a moderados: a terapia de reidratação oral (TRO) é recomendada, utilizando soluções com eletrólitos e glicose. Bebidas açucaradas como refrigerantes e sucos devem ser evitadas, pois podem agravar a diarreia devido à alta osmolaridade. 
  • Casos graves ou persistentes: pacientes com vômitos intensos, desidratação severa ou incapacidade de ingerir líquidos podem necessitar de hidratação intravenosa (IV) com solução salina ou ringer lactato.

Controle dos Sintomas 

  • Antieméticos: Ondansetrona pode ser utilizada para reduzir náuseas e vômitos, facilitando a reposição de líquidos. 
  • Analgésicos e Antitérmicos: paracetamol e ibuprofeno ajudam a aliviar febre e mialgias. 
  • Antidiarreicos: o uso de agentes antimotilidade, como loperamida, não é recomendado em crianças e deve ser evitado em adultos com diarréia severa, pois pode prolongar a eliminação viral.

Medidas de Prevenção 

Higiene das Mãos 

A principal forma de evitar a infecção e disseminação do norovírus é a lavagem correta das mãos. O ideal é utilizar água e sabão por pelo menos 20 segundos, garantindo a remoção mecânica do vírus. Diferente de outros patógenos, o norovírus não é completamente eliminado pelo álcool em gel, tornando a lavagem com sabão o método mais eficaz. O uso de álcool pode ser complementar, mas não deve substituir a higienização com água corrente.

Higienização e Manipulação de Alimentos 

A contaminação de alimentos é uma das principais causas de surtos de norovírus. Alimentos que não passam por cocção, como frutas, vegetais crus e frutos do mar, apresentam maior risco de transmissão e devem ser lavados adequadamente antes do consumo. Além disso, manipuladores de alimentos com sintomas gastrointestinais devem ser afastados de suas atividades por pelo menos 48 horas após a recuperação, pois ainda podem eliminar o vírus mesmo após a melhora clínica.

Desinfecção de Superfícies e Objetos 

O norovírus tem grande resistência em superfícies e pode permanecer viável por longos períodos. Para a desinfecção eficaz, é necessário o uso de hipoclorito de sódio (água sanitária) ou desinfetantes certificados contra norovírus. Superfícies como maçanetas, torneiras, mesas e banheiros devem ser higienizadas frequentemente, especialmente durante surtos. Roupas, lençóis e utensílios contaminados precisam ser lavados com água quente e detergentes adequados para evitar a propagação do vírus.

Evolução e Complicações 

A infecção por norovírus é geralmente autolimitada, com duração média de 24 a 72 horas. A maioria dos indivíduos infectados apresenta recuperação completa sem necessidade de tratamento específico. No entanto, em grupos vulneráveis, como idosos, crianças pequenas e imunocomprometidos, a infecção pode ter um curso mais prolongado e levar a complicações graves.

Em indivíduos saudáveis, os sintomas desaparecem espontaneamente dentro de poucos dias, sem sequelas. Durante esse período, a reidratação adequada é essencial para evitar complicações decorrentes da diarreia e dos vômitos. Embora os sintomas gastrointestinais cessem rapidamente, a eliminação viral pode persistir por até duas semanas nas fezes, o que contribui para a transmissão contínua do vírus. Em pacientes imunocomprometidos, essa eliminação pode se prolongar por meses ou anos.

Complicações

As principais complicações da infecção por norovírus estão associadas à desidratação e aos distúrbios hidroeletrolíticos, especialmente em populações de risco. Entre as complicações mais comuns, destacam-se: 

  • Desidratação grave: pode levar a hipovolemia, hipotensão e choque, principalmente em idosos e lactentes. 
  • Distúrbios eletrolíticos: hiponatremia e hipocalemia são frequentes devido à perda excessiva de líquidos e eletrólitos. 
  • Insuficiência renal aguda: a desidratação severa pode comprometer a perfusão renal, resultando em lesão renal aguda. 
  • Complicações neurológicas: em casos raros, pode ocorrer encefalopatia associada ao norovírus, especialmente em crianças. 
  • Enteropatia grave em imunocomprometidos: pacientes transplantados ou com imunossupressão prolongada podem apresentar diarreia persistente e risco aumentado de desnutrição e septicemia secundária.

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Referências Bibliográficas 

  1. CAPECE, Gregory; GIGNAC, Elizabeth. Norovirus. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513265/. Acesso em: 17 jan. 2025. 
  1. KHAN, Zartash Zafar. Norovirus. Medscape, 2023. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/224225-print. Acesso em: 17 jan. 2025.
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