Olá, querido doutor e doutora! As picadas de formiga-de-fogo representam um desafio clínico frequente em regiões endêmicas, com manifestações que variam desde reações cutâneas autolimitadas até quadros sistêmicos potencialmente fatais.
A presença de pústulas estéreis após 24 horas é considerada uma característica marcante dessas ferroadas.
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Conceito
A picada de formiga-de-fogo corresponde à inoculação de veneno através do ferrão localizado no abdômen desse inseto, pertencente ao gênero Solenopsis. As espécies mais associadas a acidentes são a formiga-de-fogo vermelha (Solenopsis invicta) e a formiga-de-fogo preta (Solenopsis richteri).
O veneno é composto majoritariamente por alcaloides lipossolúveis, responsáveis por necrose e inflamação local, além de uma fração proteica que contém alérgenos capazes de induzir reações de hipersensibilidade imediata. O resultado clínico varia desde lesões cutâneas autolimitadas até manifestações sistêmicas graves, como anafilaxia.
Etiologia e mecanismo de ataque
As picadas de formiga-de-fogo ocorrem geralmente quando o ninho é perturbado, embora esses insetos possam atacar sem provocação aparente. Uma única formiga é capaz de aplicar múltiplas ferroadas em sequência, organizando-se em ataques coletivos que potencializam o envenenamento.
Durante o ataque, o inseto prende-se à pele com as mandíbulas, curva o corpo e introduz o ferrão abdominal repetidamente, liberando veneno a cada ferroada. O veneno é composto principalmente por alcaloides piperidínicos, que causam dor imediata, necrose local e formação de pústulas estéreis, além de proteínas alergênicas que podem desencadear respostas imunológicas graves, como urticária generalizada e anafilaxia.
Epidemiologia
As picadas de formiga-de-fogo são um problema de saúde pública, principalmente em áreas endêmicas. Nos Estados Unidos, elas se concentram no sul e sudeste, com registros crescentes de expansão territorial. Globalmente, também estão presentes em países do Caribe, América do Sul, Austrália, Nova Zelândia e regiões da Ásia.
Esses acidentes são mais frequentes nos meses quentes, quando a atividade das colônias aumenta. Crianças e indivíduos com mobilidade reduzida representam grupos de maior risco, pois têm menor capacidade de escapar rapidamente do ataque. Estima-se que até 20% dos pacientes apresentem reações locais extensas, e cerca de 1% a 3% podem evoluir com anafilaxia. A mortalidade é rara, mas existe, especialmente em idosos e lactentes.
Avaliação clínica
Reação local típica
A resposta inicial ocorre com dor intensa em queimação, seguida de eritema e pápula pruriginosa. Em poucas horas, pode surgir uma vesícula que evolui para a pústula estéril característica, geralmente preenchida por líquido amarelado. Essa lesão persiste por cerca de uma semana e não apresenta carga bacteriana inicial, embora possa ser colonizada secundariamente.
Reações locais extensas
Em alguns indivíduos, desenvolve-se uma reação maior que 10 cm de diâmetro, acompanhada de edema, calor e prurido intenso. Essas lesões podem durar de dois a três dias, trazendo importante desconforto e, em crianças, limitação de mobilidade.
Manifestações sistêmicas imediatas
Pacientes previamente sensibilizados podem apresentar hipersensibilidade IgE-mediada, com urticária generalizada, angioedema, broncoespasmo e até choque anafilático. Estima-se que entre 1% e 3% dos casos evoluam com anafilaxia, o que torna a picada um evento de risco vital em indivíduos alérgicos.
Manifestações sistêmicas tardias
Além das reações imediatas, há relatos de complicações mais raras, como síndrome nefrótica, vasculite, neuropatias e distúrbios hematológicos, que podem surgir dias a semanas após o acidente. Embora incomuns, essas apresentações devem ser lembradas no acompanhamento clínico de pacientes com múltiplas ferroadas.
Diagnóstico
O diagnóstico das picadas de formiga-de-fogo é essencialmente clínico. A história típica envolve o paciente em áreas externas, muitas vezes próximo a gramados ou ninhos, seguido de ataque súbito por várias formigas. O achado mais característico é a formação de pústulas estéreis após 24 horas, sinal que diferencia essas ferroadas de outros insetos.
O exame físico pode revelar desde pápulas eritematosas e pruriginosas até lesões mais extensas com edema e dor significativa. Em casos de hipersensibilidade sistêmica, observa-se urticária generalizada, angioedema ou sinais respiratórios, como broncoespasmo.
Para pacientes com suspeita de alergia grave, podem ser realizados testes cutâneos ou dosagem de IgE específica para veneno de formiga-de-fogo, auxiliando na confirmação da sensibilização e na indicação de imunoterapia.
Tratamento
Medidas locais
Geralmente, o tratamento é apenas sintomático. Recomenda-se limpeza com água e sabão, aplicação de compressas frias para reduzir dor e edema, além do uso de corticoides tópicos e anti-histamínicos para controle do prurido. As pústulas estéreis não devem ser manipuladas; caso se rompam, deve-se manter a higiene da área e aplicar pomada antibiótica para evitar infecção secundária.
Controle de complicações
Se houver sinais de infecção bacteriana, como aumento de dor, calor local ou secreção purulenta, indica-se o uso de antibióticos sistêmicos direcionados ao agente provável. Reações locais extensas podem se beneficiar de um curso curto de corticoide oral, como prednisona, para alívio da inflamação e do edema.
Reações sistêmicas graves
Na presença de anafilaxia, a conduta imediata é a administração de epinefrina intramuscular, podendo ser repetida a cada 5 a 15 minutos se necessário. Deve-se associar anti-histamínicos e corticoides sistêmicos, além de suporte ventilatório e hemodinâmico, conforme a gravidade. Todos os pacientes devem ser observados em ambiente hospitalar devido ao risco de recorrência tardia dos sintomas (reação bifásica).
Imunoterapia
Em pacientes com histórico de anafilaxia documentada, pode-se indicar imunoterapia com extrato de veneno de formiga-de-fogo, reduzindo a chance de reações graves em novos acidentes. Essa medida deve ser conduzida em ambiente especializado, com acompanhamento por alergista.
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Referências Bibliográficas
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