Olá, querido doutor e doutora! O queratoacantoma é uma lesão cutânea de crescimento rápido que, apesar de seu comportamento geralmente benigno, levanta preocupação clínica por sua semelhança com o carcinoma espinocelular. Apresenta-se como um nódulo crateriforme, com plug de queratina central, predominando em áreas expostas ao sol. Seu diagnóstico requer confirmação histológica, e o tratamento costuma ser cirúrgico.
Ainda que haja casos de regressão espontânea, a conduta expectante raramente é indicada.
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Conceito
O queratoacantoma é uma neoplasia cutânea de origem epitelial, caracterizada por crescimento rápido e aparência nodular, geralmente com um centro crateriforme preenchido por queratina. Surge principalmente em áreas da pele expostas ao sol e é originado da unidade pilossebácea, sendo mais comum em indivíduos de pele clara e idosos.
Embora frequentemente classificado como uma lesão benigna, o queratoacantoma apresenta semelhanças clínicas e histológicas com o carcinoma espinocelular, o que justifica a abordagem terapêutica ativa. Em muitos casos, observa-se uma evolução autolimitada, com regressão espontânea ao longo de semanas ou meses. Contudo, essa característica não deve afastar a possibilidade de tratamento cirúrgico, dada a dificuldade em diferenciar com precisão, apenas clinicamente, de lesões malignas.
Fisiopatologia
O queratoacantoma origina-se da porção infundibular do folículo piloso, local onde ocorre proliferação desorganizada dos queratinócitos. Essa proliferação resulta na formação de um nódulo exofítico com acúmulo central de queratina, responsável pela aparência crateriforme típica da lesão.
Seu desenvolvimento ocorre em três fases distintas:
- Fase proliferativa – caracteriza-se por crescimento acelerado durante 4 a 8 semanas, com aumento volumoso da lesão.
- Fase de maturação – há estabilização do tamanho e espessamento da borda epitelial ao redor do centro queratinoso.
- Fase de involução – ocorre regressão espontânea da lesão, com substituição por cicatriz atrófica.
Diversos fatores externos e internos influenciam essa cascata de eventos. Entre os principais, destacam-se:
- Radiação ultravioleta (UV), que induz dano ao DNA dos queratinócitos.
- Mutação em genes como p53 e H-Ras, que favorecem a proliferação celular descontrolada.
- Infecção por papilomavírus humano (HPV), relacionada a formas subungueais ou mucosas.
- Imunossupressão e o uso de medicamentos como inibidores da via do BRAF e do Hedgehog, que aumentam a incidência de queratoacantomas múltiplos ou eruptivos.
Esses estímulos levam à ativação de vias inflamatórias e proliferativas, resultando em um crescimento tumoral acelerado que, em alguns casos, pode regredir com a mesma intensidade com que se formou.
Epidemiologia e fatores de risco
O queratoacantoma acomete predominantemente adultos acima dos 50 anos, com pico de incidência entre a sexta e sétima décadas de vida. É consideravelmente mais comum em homens, com uma razão aproximada de 2:1 em relação às mulheres.
A prevalência é mais elevada em indivíduos de pele clara (Fitzpatrick I a III), especialmente aqueles que vivem em regiões com alta exposição solar. É rara sua ocorrência em pessoas com menos de 20 anos.
Diversos fatores de risco estão associados ao desenvolvimento do queratoacantoma:
- Exposição crônica à radiação ultravioleta, especialmente em áreas fotoexpostas.
- Imunossupressão, como em transplantados ou pacientes em uso de imunobiológicos.
- Infecção por HPV, particularmente em lesões subungueais ou mucosas.
- Uso de medicamentos, como inibidores de BRAF (ex.: vemurafenibe) e bloqueadores de vias como Hedgehog.
- Tabagismo, com estudos apontando correlação significativa com casos esporádicos.
- Traumas prévios ou cirurgias no local afetado.
- História genética ou síndromes familiares.
Avaliação clínica
O queratoacantoma costuma apresentar-se como uma lesão única, nodular, bem delimitada, de coloração rósea ou cor da pele, que cresce rapidamente em questão de semanas. A principal característica morfológica é sua forma em cúpula com um tampão central de queratina, conferindo um aspecto crateriforme típico.
As lesões geralmente surgem em áreas fotoexpostas, como:
- Face;
- Pescoço;
- Dorso das mãos e antebraços;
- Couro cabeludo (em homens calvos).
Menos frequentemente, podem ocorrer em áreas não expostas ao sol, como mucosas, região anogenital, subungueal ou até em cicatrizes.
Características clínicas importantes incluem:
- Crescimento acelerado, atingindo de 1 a 2 cm em poucas semanas;
- Superfície lisa e brilhante nas fases iniciais;
- Plug central de queratina que pode se projetar como um pequeno “chifre”;
- Ausência de sintomas sistêmicos, sendo geralmente indolor;
- Em alguns casos, pode haver inflamação periférica ou sinais de ulceração superficial.
De forma mais rara, podem surgir múltiplas lesões simultâneas, como nas variantes eruptiva de Grzybowski ou síndrome de Ferguson-Smith.
Diagnóstico
O diagnóstico do queratoacantoma baseia-se na avaliação clínica cuidadosa e confirmação histopatológica. Devido à semelhança morfológica com o carcinoma espinocelular (CEC), a diferenciação entre as duas condições nem sempre é possível apenas pela inspeção visual, sendo necessário aprofundar a investigação.
Etapas principais do diagnóstico:
- Exame clínico detalhado, com atenção à velocidade de crescimento, localização, presença de plug central de queratina e histórico de exposição solar ou imunossupressão.
- Dermosopia pode ser útil para excluir outras lesões não pigmentadas, mas não consegue diferenciar de forma confiável entre queratoacantoma e CEC.
- Palpação de linfonodos regionais, para avaliar possível invasão local.
Exame histopatológico:
- A biópsia excisional com margem de segurança é o padrão-ouro, pois permite a avaliação completa da profundidade da lesão e suas bordas.
- A biópsia por shaving pode ser insuficiente, uma vez que as características mais importantes estão localizadas em camadas mais profundas da epiderme e derme.
- Em locais subungueais, pode ser necessário exame de imagem (como radiografia) para investigar destruição óssea.
Achados histológicos típicos:
- Proliferação simétrica e bem delimitada de queratinócitos diferenciados.
- Formação de um crateriforme central com tampão de queratina.
- Presença de microabscessos intraepidérmicos e eosinofilia tecidual.
- Arquitetura lobular com bordas epiteliais que se curvam (“lábios”).
Dada a sobreposição histológica com o CEC, muitos especialistas referem-se à lesão como carcinoma espinocelular do tipo queratoacantoma (SCC-KA), reforçando a necessidade de tratamento ativo mesmo nas apresentações aparentemente benignas.
Tratamento
Apesar do comportamento geralmente benigno e da possibilidade de regressão espontânea, o queratoacantoma deve ser tratado ativamente devido ao risco de confusão com o carcinoma espinocelular e ao potencial de crescimento agressivo ou recidiva local.
Opção preferencial: tratamento cirúrgico
- Excisão cirúrgica com margens de 3 a 5 mm é a abordagem mais recomendada.
- A cirurgia de Mohs é indicada para:
- Lesões em áreas de importância estética ou funcional (face, pálpebras, nariz, genitais).
- Tumores grandes ou recidivantes.
- Casos com invasão perineural.
- Lesões em áreas de importância estética ou funcional (face, pálpebras, nariz, genitais).
- Eletrodissecção e curetagem podem ser utilizadas em lesões pequenas e superficiais, especialmente em extremidades.
Terapias não cirúrgicas (casos selecionados)
São consideradas quando o paciente tem múltiplas lesões, contraindicação cirúrgica ou localização de difícil abordagem:
- 5-fluorouracil (5-FU):
- Uso tópico ou intralesional.
- Doses intralesionais de 40 a 75 mg por semana durante 3 a 8 semanas mostraram taxa de resposta de até 98%.
- Uso tópico ou intralesional.
- Metotrexato intralesional:
- Resposta clínica observada entre 83% a 100% dos casos em séries pequenas.
- Necessita em média 2 a 3 aplicações.
- Resposta clínica observada entre 83% a 100% dos casos em séries pequenas.
- Imiquimode 5%:
- Uso tópico com eficácia relatada em casos isolados.
- Uso tópico com eficácia relatada em casos isolados.
- Isotretinoína oral:
- Útil em pacientes com múltiplas lesões ou formas eruptivas.
- Útil em pacientes com múltiplas lesões ou formas eruptivas.
- Crioterapia e laser:
- Alternativas para lesões pequenas ou de localização delicada.
- Alternativas para lesões pequenas ou de localização delicada.
- Radioterapia:
- Utilizada em tumores grandes ou recorrentes, quando a cirurgia não é viável.
- Contraindicada em pacientes jovens, devido aos efeitos tardios da radiação.
- Utilizada em tumores grandes ou recorrentes, quando a cirurgia não é viável.
Acompanhamento
Pacientes tratados devem ser acompanhados com avaliações dermatológicas regulares, já que há risco aumentado para desenvolvimento de novas neoplasias cutâneas, especialmente carcinoma espinocelular.
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Referências Bibliográficas
- ZITO, Patrick M.; SCHARF, Richard. Keratoacanthoma. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.
- HOFFPAUIR, Lauren Abigail. Keratoacanthoma. Medscape Reference. Atualizado em: 25 fev. 2025.