Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de Sheehan é uma condição rara de hipopituitarismo que ocorre após hemorragia pós-parto significativa, resultando na necrose da hipófise anterior. Seu quadro clínico pode se manifestar de forma aguda ou tardia, dificultando o diagnóstico precoce. O tratamento baseia-se na reposição hormonal, essencial para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida das pacientes.
A insuficiência adrenal secundária pode levar a sintomas como fadiga intensa, hipoglicemia e hipotensão, sendo fundamental o reconhecimento precoce para evitar crises potencialmente fatais.
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Conceito da Síndrome de Sheehan
A Síndrome de Sheehan é uma condição rara que ocorre devido à necrose da hipófise anterior após uma hemorragia pós-parto significativa. Essa lesão resulta em hipopituitarismo de intensidade variável, afetando a produção de hormônios essenciais para a homeostase do organismo. O comprometimento hipofisário pode ser agudo ou manifestar-se de forma tardia, tornando o diagnóstico um desafio clínico.
Fisiopatologia da Síndrome de Sheehan
Durante a gestação, a hipófise anterior sofre um aumento de volume devido à hiperplasia das células produtoras de prolactina. No entanto, a vascularização da glândula não se adapta proporcionalmente a esse crescimento, tornando-a mais suscetível a isquemia em situações de hipoperfusão. A hemorragia pós-parto pode levar a um choque hipovolêmico, comprometendo o fluxo sanguíneo para a hipófise, que depende de um sistema de irrigação de baixa pressão. Essa redução na perfusão resulta em necrose hipofisária, afetando a produção hormonal de maneira parcial ou completa.
A disfunção hormonal varia conforme a extensão do dano tecidual, sendo o hipopituitarismo total a forma mais grave. A deficiência mais comum ocorre nos hormônios do crescimento (GH) e da prolactina (PRL), seguida da insuficiência de gonadotrofinas (LH e FSH), adrenocorticotropina (ACTH) e, por último, do hormônio tireoestimulante (TSH). Na maioria dos casos, o lobo posterior da hipófise não é afetado, embora raramente possa ocorrer diabetes insipidus. Como a falência hipofisária pode se instalar de forma lenta e progressiva, os sintomas podem surgir meses ou até anos após o evento obstétrico inicial, dificultando o reconhecimento precoce da síndrome.
Fatores de Risco para a Síndrome de Sheehan
A Síndrome de Sheehan tornou-se menos frequente em países com acesso a cuidados obstétricos avançados, mas ainda é uma causa relevante de hipopituitarismo em regiões com assistência médica limitada. A incidência varia conforme o contexto socioeconômico e a qualidade da atenção ao parto, sendo mais comum em locais onde a hemorragia pós-parto não é prontamente tratada. Estudos indicam que a síndrome pode afetar até 5 mulheres a cada 100.000 partos, com subnotificação em muitos casos devido à apresentação tardia e inespecífica dos sintomas.
Os principais fatores de risco incluem:
- Complicações obstétricas que resultam em hemorragia grave, como atonia uterina, descolamento prematuro da placenta e parto prolongado.
- O choque hipovolêmico é o evento crítico que precipita a isquemia hipofisária, especialmente em gestações com múltiplos fetos, pré-eclâmpsia ou anemia prévia, que reduzem a capacidade da paciente de compensar perdas sanguíneas.
- Transfusões sanguíneas tardias; e
- Ausência de monitoramento adequado no pós-parto.
Diagnóstico da Síndrome de Sheehan
Sintomas
Os sintomas da Síndrome de Sheehan variam conforme a extensão da lesão hipofisária e o tempo decorrido desde o evento obstétrico. Na fase aguda, os sinais podem ser inespecíficos, incluindo fadiga intensa, hipotensão persistente e dificuldade na lactação (agalactia). A insuficiência adrenal secundária pode levar a hipoglicemia, náuseas, tontura e crises de fraqueza. Em muitos casos, porém, o quadro clínico se desenvolve de forma insidiosa, com sintomas como amenorreia ou ciclos menstruais irregulares, perda de pelos axilares e pubianos, hipotireoidismo secundário (fadiga, ganho de peso, intolerância ao frio) e diminuição da libido. Em apresentações mais tardias, a síndrome pode ser identificada por sintomas associados ao hipopituitarismo crônico, como pele seca, depressão e alterações cognitivas.
Avaliação laboratorial
A suspeita clínica da Síndrome de Sheehan é levantada a partir do histórico de hemorragia pós-parto seguido por sintomas de insuficiência hipofisária. Exames laboratoriais demonstram redução dos níveis de ACTH, TSH, LH, FSH, GH e prolactina, evidenciando pan-hipopituitarismo. Além disso, alterações metabólicas como hipoglicemia, hiponatremia e anemia normocítica são achados comuns.
Diagnóstico por imagem
A ressonância magnética da hipófise auxilia na confirmação diagnóstica, revelando sinais de atrofia hipofisária e a presença de sela turca vazia ou parcialmente vazia. Esse achado é característico da síndrome e reforça a necessidade de reposição hormonal precoce para evitar complicações severas decorrentes da insuficiência endócrina.
Diagnóstico Diferencial
As principais condições a serem consideradas no diagnóstico diferencial da Síndrome de Sheehan incluem insuficiência adrenal primária (Doença de Addison), pan-hipopituitarismo de outras causas, linfocitose hipofisária e apoplexia hipofisária. Além disso, tumores hipofisários e infecções do sistema nervoso central podem apresentar sintomas semelhantes, exigindo avaliação clínica e laboratorial detalhada.
Tratamento da Síndrome de Sheehan
O manejo da Síndrome de Sheehan consiste na reposição vitalícia dos hormônios deficientes, ajustada conforme a necessidade de cada paciente. A insuficiência adrenal é tratada com glicocorticoides, como hidrocortisona ou prednisona, priorizando sua reposição antes da introdução do hormônio tireoidiano para evitar crise adrenal. O hipotireoidismo secundário é tratado com levotiroxina, ajustando a dose conforme os níveis séricos de T4 livre. Já a deficiência de gonadotrofinas é manejada com reposição de estrogênio e progesterona em mulheres na pré-menopausa ou terapia de fertilidade para aquelas que desejam engravidar.
Evolução
O prognóstico depende do diagnóstico precoce e da adesão ao tratamento hormonal. Quando devidamente manejadas, as pacientes podem ter boa qualidade de vida e evitar complicações graves da insuficiência hormonal. No entanto, o diagnóstico tardio pode resultar em anos de sintomas não tratados, impactando negativamente o bem-estar físico e psicológico.
Complicações
A ausência de reposição hormonal adequada pode levar a diversas complicações, incluindo crises adrenalinas potencialmente fatais, hipotireoidismo descompensado e osteoporose devido à deficiência estrogênica. Além disso, a redução da produção de GH pode estar associada a alterações metabólicas, aumento da adiposidade e piora da densidade óssea. Pacientes sem acompanhamento regular correm maior risco de eventos cardiovasculares, infecções graves e redução da expectativa de vida. A monitorização periódica dos níveis hormonais e a educação da paciente sobre a necessidade da terapia contínua são essenciais para prevenir essas complicações.
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Referências Bibliográficas
- SCHURY, Mark P.; ADIGUN, Rotimi. Sheehan Syndrome. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459166/. Acesso em: 15 fev. 2025.
- LEAL, Renata Mateus et al. Síndrome de Sheehan, um relato de caso. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 9, n. 3, p. 9314-9323, mar. 2023. DOI:10.34117/bjdv9n3-031.