Resumo de Síndrome de Tourette: conceito, quadro clínico e mais!

Resumo de Síndrome de Tourette: conceito, quadro clínico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de Tourette é uma condição complexa que envolve tics motores e vocais que variam em gravidade e podem incluir movimentos simples, como piscar os olhos, até ações mais complexas, como gestos repetitivos ou vocalizações inapropriadas como a coprolalia.

A Síndrome de Tourette foi descrita pela primeira vez em 1885 pelo médico francês Georges Gilles de la Tourette.

Conceito de Síndrome de Tourette

A Síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado pela presença de múltiplos tics motores e pelo menos um tic vocal, que surgem durante a infância, normalmente antes dos 18 anos. Os tics são movimentos ou sons repetitivos, involuntários e não rítmicos, que podem variar em frequência, intensidade e tipo ao longo do tempo. A condição foi descrita pela primeira vez pelo médico francês Georges Gilles de la Tourette, em 1885, sendo considerada, inicialmente, uma condição rara.

Epidemiologia e Fatores de Risco de Síndrome de Tourette

A Síndrome de Tourette afeta aproximadamente 0,3% a 1% das crianças em idade escolar, sendo uma condição mais comum do que se pensava anteriormente. A prevalência é significativamente maior em meninos, afetados cerca de quatro vezes mais do que meninas. A síndrome manifesta-se predominantemente na infância, com a média de idade de início dos sintomas em torno de 6 a 7 anos. O pico de gravidade dos tics costuma ocorrer entre os 10 e 12 anos, com melhora em dois terços dos casos após a adolescência. Contudo, em alguns pacientes, a Síndrome de Tourette pode persistir na vida adulta, embora com menor gravidade. 

Os fatores de risco da Síndrome de Tourette incluem predisposição genética, sexo masculino, história familiar e possíveis influências ambientais, como infecções e complicações no período perinatal.

Fisiopatologia de Síndrome de Tourette

A fisiopatologia da Síndrome de Tourette ainda não é completamente elucidada, mas envolve a disfunção dos circuitos corticoestriatais, que incluem o córtex, o estriado, o globo pálido e o tálamo. Esses circuitos são responsáveis pelo controle motor e pela regulação do comportamento. Alterações nesses circuitos resultam em uma falha na inibição de movimentos e vocalizações involuntárias, que se manifestam como tics.

Acredita-se que a disfunção do sistema dopaminérgico seja central para a Síndrome de Tourette. O excesso de atividade dopaminérgica nos gânglios da base pode levar a uma liberação inadequada de movimentos involuntários, explicando os tics motores e vocais. Medicamentos que bloqueiam os receptores de dopamina, como antipsicóticos, são eficazes na redução dos tics, reforçando essa hipótese.

Coprolalia, a manifestação de falar palavrões ou fazer gestos inapropriados involuntariamente, ocorre em cerca de 10 a 30% dos pacientes com Síndrome de Tourette. Essa condição é frequentemente associada à incapacidade de controlar os impulsos, refletindo a disfunção nos circuitos responsáveis pela regulação do comportamento social e controle de impulsos. Sua ocorrência parece estar ligada à desinibição das áreas corticais responsáveis pelo controle de linguagem e comportamento socialmente adequado, sendo que o sistema dopaminérgico e os circuitos frontoestriatais desempenham um papel importante nesse processo.

Quadro Clínico de Síndrome de Tourette

A Síndrome de Tourette é caracterizada pela presença de tics motores e vocais, que surgem na infância, geralmente entre 5 e 7 anos. Os tics motores simples incluem movimentos como piscar ou encolher os ombros, enquanto os complexos podem envolver gestos mais elaborados, como saltos ou comportamentos autoagressivos. Os tics vocais, que aparecem posteriormente, podem ser sons simples, como pigarros e grunhidos, ou complexos, como a coprolalia (uso involuntário de palavrões), que ocorre em uma minoria dos casos.

O curso dos sintomas é variável, com piora durante a adolescência e melhora em cerca de dois terços dos casos na vida adulta. Além dos tics, a Síndrome de Tourette frequentemente se associa a comorbidades psiquiátricas, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), que podem complicar o manejo clínico. Os sintomas também podem incluir sensações pré-monitórias, sensações desagradáveis que precedem os tics.

Diagnóstico de Síndrome de Tourette

O diagnóstico da Síndrome de Tourette é essencialmente clínico, baseado na identificação dos tics motores e vocais, e no curso dos sintomas. Segundo os critérios diagnósticos atuais, para estabelecer o diagnóstico de Síndrome de Tourette, é necessário que o paciente apresente: 

  1. Múltiplos tics motores e pelo menos um tic vocal, não necessariamente simultâneos; 
  1. Duração dos tics por pelo menos 12 meses, com flutuações na frequência e gravidade dos sintomas; 
  1. Início dos sintomas antes dos 18 anos; e 
  1. Ausência de outra condição médica ou uso de substâncias que expliquem os tics (como efeitos colaterais de medicamentos ou doenças neurológicas, como a doença de Huntington).

Tratamento de Síndrome de Tourette

O tratamento da Síndrome de Tourette foca na redução dos tics e na melhora da qualidade de vida, sendo individualizado conforme a gravidade dos sintomas e a presença de comorbidades. 

  1. Terapias comportamentais: a terapia de reversão de hábitos (HRT) é uma abordagem eficaz para auxiliar os pacientes a reconhecer e controlar os tics. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é útil, especialmente no manejo de comorbidades como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). 
  1. Tratamento farmacológico: antipsicóticos, como risperidona e aripiprazol, são eficazes para reduzir os tics, mas podem ter efeitos colaterais. Agonistas alfa-2-adrenérgicos, como clonidina, são uma opção para crianças e também ajudam no controle do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são indicados para o TOC associado. 
  1. Intervenções cirúrgicas: a estimulação cerebral profunda (DBS) é reservada para casos graves e refratários ao tratamento clínico. 
  1. Educação e suporte: é fundamental fornecer informações claras ao paciente e à família, além de apoio social, para reduzir o estigma e melhorar a adaptação.

Prognóstico e Qualidade de Vida de Síndrome de Tourette

A Síndrome de Tourette tende a melhorar ao longo do tempo, com dois terços dos pacientes apresentando redução significativa dos tics após a adolescência. Em alguns casos, os tics podem desaparecer na vida adulta. No entanto, uma pequena parcela pode ter sintomas persistentes. 

A qualidade de vida, além dos tics, é frequentemente impactada pelas comorbidades, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que podem causar dificuldades sociais, acadêmicas e profissionais. Pacientes com Síndrome de Tourette, especialmente aqueles com suporte familiar e intervenções terapêuticas adequadas, podem ter uma vida funcional e satisfatória. O tratamento precoce e o ambiente de apoio social são fatores importantes para um bom prognóstico.

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Referências Bibliográficas 

  1. CAVANNA, Andrea E.; SERI, Stefano. Tourette’s Syndrome. BMJ. 2013. Disponível em: https://www.bmj.com/content/347/bmj.f4964. Acesso em: 22 set. 2024.
  1. MARTINO, Davide; PRINGSHEIM, Tamara M.; LECKMAN, James F. Tourette Syndrome and Other Tic Disorders. In: Feigin and Cherry’s Textbook of Pediatric Infectious Diseases. 7th ed. [S.l.]: Elsevier, 2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499958/. Acesso em: 22 set. 2024.
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