Olá, querido doutor e doutora! A tosse é um reflexo natural do sistema respiratório, atuando na remoção de agentes irritantes e secreções das vias aéreas. Embora frequentemente associada a infecções virais, sua persistência pode indicar condições mais graves, como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e refluxo gastroesofágico.
A tosse pode ser classificada com base na duração, sendo considerada aguda (até três semanas), subaguda (três a oito semanas) ou crônica (mais de oito semanas), o que auxilia no diagnóstico diferencial.
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Conceito de tosse
A tosse é um reflexo fisiológico do sistema respiratório, responsável por remover secreções, partículas estranhas e agentes irritantes das vias aéreas. Esse mecanismo é coordenado pelo sistema nervoso central, sendo desencadeado pela estimulação de receptores localizados na laringe, traqueia e brônquios.
Reflexo da tosse
O reflexo da tosse é um mecanismo de defesa do organismo que tem a função de manter as vias aéreas livres de secreções, partículas inaladas e agentes irritantes. Ele ocorre em três fases distintas:
- Fase Inspiratória: ocorre uma inalação profunda que aumenta o volume de ar nos pulmões, preparando a expulsão eficiente do agente irritante.
- Fase Compressiva: a glote se fecha e os músculos respiratórios, incluindo o diafragma e os músculos intercostais, se contraem, elevando a pressão intratorácica.
- Fase Expulsiva: a glote se abre subitamente, permitindo a liberação forçada do ar a alta velocidade, o que resulta na eliminação de secreções ou partículas presentes nas vias aéreas.
O reflexo da tosse é ativado pela estimulação de receptores sensoriais localizados na laringe, traqueia e brônquios. Esses receptores enviam sinais pelo nervo vago até o tronco encefálico, onde ocorre o processamento da resposta motora, desencadeando a tosse.
Classificação da tosse
A tosse pode ser classificada de diferentes formas, considerando sua duração, características e fatores desencadeantes. Essa categorização auxilia na identificação da causa subjacente e no direcionamento da conduta clínica.
Classificação quanto à duração
- Tosse aguda: dura até três semanas e geralmente está associada a infecções respiratórias virais, como resfriados, gripe e bronquite aguda. Também pode ser causada por inalação de irritantes ou exacerbações de doenças crônicas.
- Tosse subaguda: persiste entre três e oito semanas, frequentemente ocorrendo após infecções respiratórias, como na tosse pós-viral e na coqueluche.
- Tosse crônica: dura mais de oito semanas e pode estar relacionada a doenças como asma, DPOC, refluxo gastroesofágico e doenças intersticiais pulmonares.
Classificação quanto às características
- Tosse seca: não há produção de secreção. Pode estar associada a infecções virais, asma, refluxo gastroesofágico e uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA).
- Tosse produtiva: acompanhada de expectoração, podendo indicar infecções bacterianas, bronquite crônica ou tuberculose. A cor e a viscosidade do escarro podem fornecer pistas sobre a etiologia.
Classificação quanto ao padrão
- Tosse persistente: ocorre de forma contínua ao longo do dia, podendo estar associada a doenças pulmonares crônicas.
- Tosse paroxística: aparece em crises súbitas e intensas, característica da coqueluche e do broncoespasmo.
- Tosse noturna: piora durante a noite, sendo comum na asma e no refluxo gastroesofágico. Tosse Matinal: frequentemente observada em tabagistas, podendo indicar bronquite crônica.
Causas de tosse
Causas infecciosas
Doenças infecciosas são uma das principais origens da tosse, podendo ser virais, bacterianas ou fúngicas.
- Infecções virais: resfriado comum, gripe, Covid-19, bronquite viral e infecções do trato respiratório superior.
- Infecções bacterianas: pneumonia, coqueluche, sinusite bacteriana e tuberculose.
- Infecções fúngicas: histoplasmose e aspergilose, mais comuns em pacientes imunossuprimidos.
Doenças respiratórias crônicas
- Asma: pode causar tosse seca ou produtiva, geralmente desencadeada por alérgenos, ar frio ou exercício.
- Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC): inclui bronquite crônica e enfisema, frequentemente associada ao tabagismo.
- Bronquiectasias: dilatação anormal dos brônquios, levando à produção excessiva de muco e tosse crônica.
- Doenças intersticiais pulmonares: incluem fibrose pulmonar e pneumonite por hipersensibilidade, que resultam em inflamação e cicatrização do tecido pulmonar.
Causas relacionadas ao estômago e esôfago
- Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): pode provocar tosse crônica devido à irritação da laringe e traqueia pelo ácido gástrico.
- Aspiração de alimentos ou líquidos: comum em idosos e pacientes com distúrbios neuromusculares.
Uso de medicamentos
Alguns fármacos podem induzir tosse como efeito colateral, especialmente:
- Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA): como enalapril e captopril, podem causar tosse seca persistente.
- Betabloqueadores: podem agravar tosse em pacientes com asma.
Fatores ambientais e ocupacionais
- Tabagismo ativo e passivo: irrita as vias aéreas e pode levar à tosse crônica.
- Exposição a poluentes: poeira, fumaça, produtos químicos e mofo podem desencadear tosse persistente.
- Ambientes frios e secos: ressecam as vias respiratórias e estimulam o reflexo da tosse.
Causas cardíacas e vasculares
- Insuficiência cardíaca congestiva: pode levar à congestão pulmonar, causando tosse produtiva, principalmente à noite.
- Embolia pulmonar: pode causar tosse súbita associada a dor torácica e falta de ar.
Avaliação clínica
Anamnese
A história clínica do paciente ajuda a estabelecer possíveis causas e direcionar a investigação. Alguns pontos importantes incluem:
- Duração da tosse: aguda, subaguda ou crônica.
- Características da tosse: produtiva (com expectoração) ou seca.
- Fatores desencadeantes: exposição a fumaça, mudanças climáticas, esforço físico, refluxo gastroesofágico.
- Sintomas associados: febre, perda de peso, dispneia, sibilância, dor torácica, entre outros.
- Histórico de tabagismo e uso de medicamentos: Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) podem causar tosse crônica.
- Resposta a tratamentos prévios: se já houve uso de medicamentos antitussígenos ou broncodilatadores e qual foi a resposta.
Exame físico
O exame físico pode fornecer pistas importantes sobre a etiologia da tosse:
- Inspeção e ausculta pulmonar: presença de sibilos, estertores ou roncos pode indicar asma, DPOC ou infecção pulmonar.
- Avaliação da orofaringe: sinais de gotejamento pós-nasal podem sugerir rinossinusite.
- Sinais sistêmicos: emagrecimento, sudorese noturna e linfadenopatia podem indicar tuberculose ou neoplasias
Exames complementares
Os exames solicitados dependerão da suspeita clínica, podendo incluir:
- Radiografia de tórax: útil para investigar pneumonia, tuberculose e neoplasias.
- Espirometria: avalia doenças pulmonares obstrutivas, como asma e DPOC.
- Tomografia computadorizada de alta resolução: indicada para doenças pulmonares intersticiais.
- Análise do escarro: presença de eosinófilos pode sugerir bronquite eosinofílicatosse.
- pHmetria esofágica: útil para diagnóstico de refluxo gastroesofágico associado à tosse
Tratamento da tosse
Medidas não farmacológicas
- Hidratação adequada: pode ajudar na fluidificação do muco.
- Evitar irritantes: controle da exposição a poeira, fumaça e poluentes.
- Cessação do tabagismo: reduz irritação brônquica e melhora a função pulmonar
Tratamento Farmacológico
- Antitussígenos: indicados para tosse seca persistente, mas devem ser usados com cautela.
- Mucolíticos e expectorantes: auxiliam na eliminação de secreções na tosse produtiva.
- Broncodilatadores e corticosteroides inalados: indicados em casos de asma e DPOC
- Antibióticos: apenas quando há suspeita de infecção bacteriana comprovada.
- Inibidores da bomba de prótons: podem ser indicados para tosse associada ao refluxo gastroesofágico
Indicações de encaminhamento médico
Algumas situações exigem avaliação especializada:
- Tosse persistente por mais de 3 semanas sem melhora.
- Presença de hemoptise (tosse com sangue).
- Perda de peso inexplicada.
- Dispneia grave ou sinais de insuficiência respiratória.
- Suspeita de neoplasia pulmonar ou tuberculose.
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Referências Bibliográficas
- CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Guia de prática clínica: sinais e sintomas respiratórios – Tosse. Brasília: CFF, 2021.
- SHARMA, S.; HASHMI, M. F.; ALHAJJAJ, M. S. Cough. In: STATPEARLS. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025.