Olá, querido doutor e doutora! A tungíase é uma doença parasitária negligenciada que afeta principalmente populações vulneráveis em regiões tropicais e subtropicais, como América Latina, Caribe e África Subsaariana. Causada pela Tunga penetrans, essa ectoparasitose é diretamente associada a condições de vida precárias, sendo uma preocupação significativa em comunidades carentes. Este texto aborda os principais aspectos da tungíase, incluindo transmissão, quadro clínico, diagnóstico e tratamento, com foco na importância de estratégias preventivas e no manejo adequado da condição.
Ectoparasitose refere-se a uma infestação causada por parasitas externos que vivem na superfície do corpo do hospedeiro, como pele ou pelos.
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Conceito de Tungíase
A tungíase é uma ectoparasitose cutânea causada pela Tunga penetrans, uma das menores espécies de pulgas conhecidas, frequentemente chamada de “bicho-de-pé” no Brasil. Essa condição ocorre quando a fêmea fecundada da pulga penetra na pele do hospedeiro, geralmente em áreas como pés, mãos e espaços interdigitais. Após sua entrada, o parasita inicia um processo inflamatório, causando prurido intenso, dor e alterações cutâneas visíveis, como eritema e edema.
Epidemiologia da Tungíase
A tungíase é uma ectoparasitose endêmica em áreas tropicais e subtropicais, sendo prevalente na América Latina, Caribe, África Subsaariana e partes da Ásia. No Brasil, a doença é comum em comunidades rurais, assentamentos urbanos irregulares e regiões costeiras, com taxas de prevalência documentadas entre 16% e 55% em populações específicas. Os principais fatores de risco são:
- Condições socioeconômicas: habitações com piso de terra batida, ausência de calçados adequados e falta de saneamento básico e higiene pessoal.
- Exposição ambiental: presença de solo seco, arenoso e com pouca iluminação, comum em quintais, hortas e áreas de criação de animais.
- Hábitos e cultura: não uso de calçados em áreas endêmicas e práticas culturais que levam ao contato frequente com o solo contaminado, como trabalhos agrícolas e recreação infantil ao ar livre.
- Condições climáticas: a tungíase é mais prevalente em períodos secos, quando o ambiente favorece o desenvolvimento das formas larvais e pupais.
Transmissão e Ciclo de Vida da Tungíase
A transmissão da tungíase ocorre principalmente em ambientes tropicais e subtropicais com solos arenosos, secos e sombreados, onde a Tunga penetrans encontra condições ideais para completar seu ciclo de vida. A infecção está frequentemente associada a habitações com pisos de terra batida e ambientes com pouca higiene, como quintais, áreas próximas a chiqueiros e hortas.
Ciclo de Vida do Parasita
- Ovo e desenvolvimento larval: após a fecundação, a fêmea da Tunga penetrans deposita ovos enquanto permanece alojada na pele do hospedeiro. Esses ovos caem no solo, onde eclodem em larvas em cerca de 3 a 4 dias. As larvas se alimentam de matéria orgânica até se transformarem em pupas.
- Pupa para forma adulta: no ambiente, as pupas evoluem para adultos em aproximadamente 2 semanas. A fase adulta do parasita é a responsável por reinfectar novos hospedeiros.
- Infestação do hospedeiro: a pulga adulta fêmea penetra na pele do hospedeiro, geralmente em áreas como pés, mãos ou regiões interdigitais. A entrada ocorre em minutos, deixando a parte posterior do corpo exposta para liberação de ovos e excreção. No hospedeiro, a fêmea aumenta significativamente de tamanho, atingindo até 1 centímetro devido ao acúmulo de ovos.
- Liberação de ovos e morte: após depositar seus ovos por 2 a 3 semanas, a fêmea morre sendo eliminada pelo processo inflamatório do hospedeiro ou permanece na pele, sendo expulsa ao longo do tempo.
Quadro Clínico da Tungíase
A tungíase, em sua fase inicial, manifesta-se mediante sinais inflamatórios locais, como prurido intenso, dor e formação de uma lesão cutânea característica. Essas alterações ocorrem devido à penetração da fêmea da Tunga penetrans na pele do hospedeiro. A presença do parasita é marcada por um ponto escuro central, que corresponde à abertura anal-genital do inseto, cercado por eritema, edema e uma área endurecida. Essas lesões costumam causar desconforto significativo e dificultam atividades diárias, como caminhar ou manipular objetos, dependendo da localização.
Com a progressão da infecção, a lesão aumenta de tamanho devido ao crescimento do parasita e à reação inflamatória ao seu redor. Outros sintomas incluem descamação e hiperceratose, sinais de que o organismo está tentando isolar o parasita. Em alguns casos, ocorre formação de secreções purulentas, indicando infecção bacteriana secundária. Esses processos tornam o quadro ainda mais doloroso e debilitante, especialmente em pessoas que apresentam múltiplas lesões.
Diagnóstico da Tungíase
O diagnóstico da tungíase é feito principalmente por meio da avaliação clínica, com base na inspeção visual das lesões cutâneas características. Essas lesões apresentam um ponto negro central cercado por eritema, edema e endurecimento, geralmente localizadas nos pés ou áreas em contato com o solo. A dor e o prurido associados ajudam a diferenciar a condição de outras afecções dermatológicas. A história epidemiológica, como a exposição a áreas endêmicas e o contato com solos arenosos, também é um elemento crucial para identificar a infecção.
Tratamento da Tungíase
Remoção do Parasita
O tratamento da tungíase visa remover o parasita, aliviar os sintomas e prevenir complicações infecciosas. A abordagem inicial mais utilizada é a extração manual do parasita com instrumentos estéreis, como agulhas ou bisturis, realizada em condições de assepsia para evitar infecções secundárias. Após a retirada, a ferida deve ser limpa, desinfectada e coberta com curativo apropriado. Em casos de infecção bacteriana associada, é indicado o uso de antibióticos tópicos ou sistêmicos, dependendo da gravidade do quadro.
Tratamento Farmacológico
Além da extração, tratamentos tópicos à base de dimeticona têm demonstrado eficácia na imobilização e morte do parasita, sendo uma alternativa menos invasiva, especialmente em locais com múltiplas lesões. Medicações sistêmicas, como tiabendazol, podem ser indicadas em situações específicas. A imunização antitetânica deve ser avaliada e atualizada em pacientes não vacinados ou com histórico vacinal incompleto, devido ao risco de infecção por Clostridium tetani. Em casos graves, com múltiplas lesões ou complicações, é essencial o acompanhamento médico regular para manejo adequado e prevenção de sequelas.
Cai na Prova
Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED):
(SURCE – CE – 2024) No ambulatório, uma criança de 3 anos de idade apresenta a seguinte lesão de pele: pápula amarelada com ponto escuro central. Logo no início, tinha edema, eritema, prurido e dor. Estavam localizadas nos pés e na região glútea. Qual o diagnóstico mais provável?
A) Tungíase.
B) Escabiose.
C) Molusco contagioso.
D) Larva migrans cutânea
Comentário da Equipe EMED
Questão bastante direta! Pápula amarelada com ponto enegrecido central é igual a tungíase. O tratamento nesse caso seria com remoção mecânica. Por isso, gabarito é a alternativa A.
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Referências Bibliográficas
- OLIVEIRA, Izabella Soares de; MOREIRA, Brenda Silveira Valles; PEREIRA, Sandra de Oliveira; et al. Tungíase: atualidades clínicas. Jornal Brasileiro de Medicina, Viçosa, v. 102, n. 6, nov./dez. 2014. Acesso em: 28 nov. 2024.