E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Criptococose, uma infecção fúngica causada principalmente pelo Cryptococcus neoformans, microrganismo encapsulado que tem predileção pelo sistema nervoso central.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Criptococose
A criptococose é uma micose sistêmica causada por fungos encapsulados do gênero Cryptococcus, principalmente Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. A infecção ocorre geralmente pela inalação de partículas presentes no ambiente, levando inicialmente ao comprometimento pulmonar, que pode ser assintomático ou manifestar-se com sintomas respiratórios inespecíficos.
Em alguns casos, especialmente em indivíduos imunossuprimidos, o fungo dissemina-se pela corrente sanguínea e atinge outros órgãos, com destaque para o sistema nervoso central, onde provoca meningite ou meningoencefalite.
Trata-se de uma doença potencialmente grave, cuja evolução depende do estado imunológico do paciente e do agente envolvido, exigindo diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Epidemiologia da Criptococose
A criptococose apresenta impacto epidemiológico significativo, com cerca de 1 milhão de casos anuais no mundo e aproximadamente 625 mil mortes. Nos Estados Unidos, a incidência varia de 0,4 a 1,3 casos por 100 mil habitantes na população geral, aumentando para 2 a 7 casos por 100 mil entre pessoas com AIDS, grupo no qual a letalidade é de cerca de 12%.
A doença tornou-se menos frequente nas últimas duas décadas graças aos avanços da terapia antirretroviral. Em relação aos agentes, Cryptococcus neoformans predomina em indivíduos imunocomprometidos, enquanto Cryptococcus gattii é mais comum em pessoas imunocompetentes, refletindo diferenças no perfil de risco e na distribuição das infecções.
Fisiopatologia da Criptococose
A fisiopatologia da criptococose envolve uma interação complexa entre os mecanismos de virulência do Cryptococcus e a resposta imune do hospedeiro. A infecção inicia-se pela inalação de leveduras ou basidiósporos presentes no ambiente, que atingem os alvéolos pulmonares.
No pulmão, o fungo utiliza fatores de virulência essenciais, como cápsula polissacarídica, produção de melanina e enzimas extracelulares, que lhe permitem sobreviver, evitar a fagocitose e replicar-se no interior dos macrófagos.
A cápsula, um dos principais determinantes patogênicos, inibe a resposta imune, reduz a apresentação de antígenos e interfere na quimiotaxia, permitindo que o fungo persista nos tecidos. A melanina protege o patógeno contra estresse oxidativo e danos induzidos por radicais livres, fortalecendo sua capacidade de sobreviver dentro do hospedeiro.
Após estabelecer-se no pulmão, o Cryptococcus pode permanecer contido ou disseminar-se pela via hematogênica, especialmente quando há deficiência da imunidade celular. A habilidade de sobreviver dentro de macrófagos funciona como um “cavalo de Troia”, facilitando o transporte do fungo até o sistema nervoso central.
Quando alcança o SNC, a proliferação do fungo e o acúmulo de polissacarídeos capsulares no líquor contribuem para aumento da pressão intracraniana e inflamação, culminando em meningite ou meningoencefalite, principais formas graves da doença.
Manifestações clínicas da Criptococose
A doença pode se apresentar de forma pulmonar, disseminada ou com acometimento do sistema nervoso central, que é a forma mais grave.
Manifestações pulmonares
O quadro pulmonar pode ser assintomático ou apresentar sintomas inespecíficos, como tosse seca ou produtiva, febre baixa, dor torácica e mal-estar. Em imunocompetentes, é comum uma apresentação mais branda, muitas vezes semelhante à de pneumonias leves. Em imunossuprimidos, no entanto, a infecção pulmonar tende a ser mais extensa e com evolução rápida.
Acometimento do sistema nervoso central
A meningite criptocócica é a principal e mais temida forma clínica. Sintomas progressivos, como cefaleia intensa, febre, náuseas, vômitos, fotofobia e rigidez de nuca. Em quadros avançados, podem surgir alterações do nível de consciência, confusão mental, convulsões e sinais de hipertensão intracraniana, que são frequentes devido ao acúmulo de antígenos capsulares no líquor.
Doença disseminada
A criptococose pode disseminar-se para pele, ossos, próstata, fígado e outros órgãos. As lesões cutâneas são variadas, podendo se apresentar como pápulas, nódulos, úlceras ou manifestações semelhantes às de molusco contagioso. O envolvimento sistêmico é mais comum em pessoas com imunossupressão importante.
Evolução conforme o estado imune
Imunocomprometidos costumam apresentar quadros mais graves, sintomas mais intensos e maior risco de disseminação, enquanto imunocompetentes podem ter manifestações mais localizadas e de evolução lenta. Entretanto, Cryptococcus gattii pode causar doença severa mesmo em indivíduos sem comorbidades.
Diagnóstico de Criptococose
A análise do líquor é fundamental nos quadros de meningite criptocócica. Geralmente revela pressão de abertura elevada, celularidade baixa ou moderada, proteínas discretamente aumentadas e glicose reduzida. A visualização direta do fungo pode ser feita pela tinta nanquim (India ink), que evidencia a cápsula característica do Cryptococcus.
Detecção de antígeno criptocócico
O teste de antígeno criptocócico no soro ou no líquor é um dos métodos mais sensíveis e específicos para o diagnóstico. Ele permite identificar rapidamente o polissacarídeo capsular do fungo, sendo extremamente útil em pacientes imunossuprimidos e nos casos onde o exame direto não é conclusivo.
Cultura
A cultura permanece como padrão-ouro. O fungo pode ser cultivado a partir de amostras de líquor, sangue, escarro ou outros materiais clínicos. O crescimento geralmente ocorre em poucos dias e permite confirmar a espécie envolvida.
Métodos de imagem
Radiografia e tomografia de tórax podem mostrar infiltrados pulmonares, nódulos ou massas, embora os achados possam ser inespecíficos. Nos casos neurológicos, tomografia e ressonância magnética podem revelar hidrocefalia, edema ou lesões focais.
Exames complementares
Em situações específicas, podem ser utilizados testes moleculares ou avaliações histopatológicas de biópsias pulmonares ou cutâneas, que demonstram leveduras encapsuladas compatíveis com Cryptococcus.
Tratamento da Criptococose
O tratamento da criptococose, é estruturado em três fases principais: indução, consolidação e manutenção, com variações conforme o estado imunológico do paciente e o local da infecção. A forma meníngea recebe maior destaque, por ser a apresentação mais grave.
Fase de indução
O objetivo é reduzir rapidamente a carga fúngica. A terapia recomendada combina anfotericina B (em formulações desoxicolato ou lipídicas) com flucitosina, pois essa associação apresenta maior eficácia e reduz a mortalidade. Nos casos em que flucitosina não está disponível, utiliza-se anfotericina B isoladamente ou associada ao fluconazol em altas doses. A duração típica é de 2 semanas, podendo ser estendida em pacientes com imunossupressão grave ou resposta lenta.
Fase de consolidação
Após o controle inicial da infecção, inicia-se o fluconazol em dose elevada para impedir a replicação residual do fungo. Essa etapa geralmente dura 8 semanas e é fundamental para evitar recaídas, especialmente em pacientes com HIV ou imunossupressão persistente.
Fase de manutenção
Finalizada a consolidação, mantém-se fluconazol em dose menor por vários meses para prevenir recidivas. Em indivíduos vivendo com HIV, a manutenção é prolongada até que haja recuperação sustentada da imunidade.
Tratamento da hipertensão intracraniana
É de grande importância controlar a pressão intracraniana elevada, complicação frequente da meningite criptocócica. Punções lombares seriadas podem ser necessárias. Em casos refratários, avaliam-se dispositivos de derivação liquórica.
Formas pulmonares e localizadas
Quando a doença é restrita ao pulmão e ocorre em pacientes imunocompetentes, o tratamento pode ser realizado apenas com fluconazol, em doses e durações ajustadas à gravidade e à resposta clínica. Infecções extensas, com cavitações ou doença disseminada, seguem o mesmo esquema das formas neurológicas.
Ajustes conforme o estado imune
Imunocomprometidos, como pessoas com AIDS avançada, transplantados ou pacientes em uso de imunossupressores, necessitam de tratamentos mais prolongados e monitorização rigorosa devido ao maior risco de recidiva e de pior evolução.
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Referências
CIZOSKI CARVALHO, Letícia; CIZOSKI CARVALHO, Gabriel; CIZOSKI FRANÇA , Olinda. Criptococose: Epidemiologia, Diagnóstico e Tratamento de uma Micose Sistêmica em Pacientes Imunocompetentes e Imunossuprimidos. Periódicos Brasil. Pesquisa Científica, Macapá, Brasil, v. 3, n. 2, p. 908–916, 2024. DOI: 10.36557/pbpc.v3i2.114. Disponível em: https://periodicosbrasil.emnuvens.com.br/revista/article/view/114. Acesso em: 19 nov. 2025.
Mada PK, Jamil RT, Alam MU. Cryptococcus. [Updated 2023 Aug 7]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK431060/



