Resumo sobre colchicina: indicações, farmacologia e mais!

Resumo sobre colchicina: indicações, farmacologia e mais!

Visão geral

A colchicina é um agentes com ação anti-inflamatória mais antigos, utilizado há décadas para o tratamento de vários doenças incluindo gota, febre familiar do mediterrâneo e pericardite e nos últimos anos por indicações dermatológicas incluindo urticária crônica caria, vasculite cutânea e psoríase.

O fármaco é derivado de uma planta, o açafrão de outono (Colchicum autumnale), que foi descrito para tratamento de reumatismo e inchaço no Papiro Ebers (ca. 1500 a.C.), um dos tratados médicos mais antigos e importantes que se conhece.  

Dicas sobre o uso da colchicina

  • As indicações rotuladas incluem artrite gotosa (crise e profilaxia), pericardite aguda ou recorrente (no Brasil) e febre familiar do mediterrâneo (Ásia e Europa).
  • A maioria dos efeitos colaterais a curto prazo são leves e podem resolver com redução da dose e descontinuação temporária. 
  • A meia-vida pode ser prolongada significativamente em pacientes com insuficiência renal e hepática grave, aumentando o risco de toxicidade. 
  • Tem sido usada em uma gama de doenças dermatológicas e inflamatórias, mesmo com evidências limitadas sobre o uso. 

Inscreva-se em nossa newsletter!

Receba notícias sobre residência médica e revalidação de diplomas, além de materiais de estudo gratuitos e informações relevantes do mundo da Medicina.

Indicações e dosagem

Crise de artrite gotosa: É utilizada para tratamento de crises agudas de gota quando tomadas ao primeiro sinal de uma crise e prevenção das crises agudas nos pacientes com artrite gotosa crônica. Para ataques de gota a dosagem usual é de 1 mg, seguidos de 0,5 ou 0,6 mg na próxima hora. A dose total máxima: 1,8 mg/dia no primeiro dia de crise. 

#Ponto importante: O início da ação é rápido após a administração oral e o alívio da dor é alcançado geralmente dentro de 12 a 24 horas. 

Pericardite aguda ou recorrente: Segundo a diretriz da SBC sobre miocardites e pericardites de 2013, a colchicina tem demonstrado ser efetiva como terapêutica coadjuvante da pericardite aguda, no alívio da dor e na prevenção da recorrência ao fim de dezoito meses. A dose é de 0,5 mg de 12/12 horas ou 0,5 mg a cada 24 horas nos pacientes com menos de 70 kg, pelo período de três meses no primeiro evento e 6 meses na pericardite recorrente. 

Febre familiar do mediterrâneo: Essa doença é mais prevalente em indivíduos de ascendência turca, armênia, do Oriente Médio e do norte da África, judeus e árabes, não sendo uma doença prevalente no Brasil, ocorrendo apenas em imigrantes recentes. 

No entanto, a colchicina é a principal droga utilizada para seu tratamento, sendo recomendado em todos os pacientes, independentemente da frequência e intensidade das crises. É utilizada A dose habitual é 1 a 1,5 mg/dia em dose única diária; se doses únicas diárias não forem toleradas, administrar em doses divididas. 

Outras indicações

Na dermatologia, a colchicina tem sido usada tanto em formulações tópicas quanto orais em uma ampla gama de indicações, mas com graus de evidência ainda indefinidos. 

O uso de colchicina tem sido recomendado para o tratamento da urticária crônica (principalmente nos casos que são refratários ao tratamento com anti-histamínicos), psoríases, vasculites cutâneas, pustulose palmoplantar, entre outras condições dermatológicas crônicas, mas com evidências baseadas em estudos pequenos ou conflitantes. No Canadá, ela é utilizada para prevenção de eventos cardiovasculares ateroscleróticos na doença cardíaca isquêmica estável. 

Contraindicações

Hipersensibilidade conhecida à colchicina e uso concomitante com inibidor da glicoproteína-P ou inibidor forte do CYP3A4 na presença de insuficiência renal ou hepática são contra indicações absolutas. As relativas incluem doenças no TGI, hepáticas, renais, cardíacas graves e discrasias sanguíneas existentes.

Efeitos adversos da colchicina

 Os mais comuns são gastrointestinais, que ocorrem em até 15% dos casos, incluindo náuseas, vômitos e diarreia, principalmente no início do tratamento. Em 5 a 10% dos pacientes, esses efeitos podem persistir e levar à retirada final do medicamento. Geralmente são quadros leves e podem resolver com redução da dose e descontinuação temporária. 

Efeitos colaterais mais graves são raros, incluindo hepatotoxicidade, miotoxicidade, redução da contagem de glóbulos brancos e alopecia. 

Características farmacológicas da colchicina

Farmacodinâmica 

O principal alvo conhecido da droga é a tubulina, causando a inibição da polimerização dos microtúbulos. A capacidade da substância bloquear a polimerização da tubulina se concentra em glóbulos brancos e principalmente granulócitos, interferindo em diferentes funções dessas células como migração, degranulação e fagocitose, exercendo assim um efeito antiinflamatório. Ações anti-inflamatórias diretas adicionais menos compreendidas incluem sua inibição do inflamassoma e liberação de citocinas pró-inflamatórias. 

Ação da colchicina sobre as células inflamatórias Crédito: Imazio M, 2015.

Farmacocinética

A colchicina é lipossolúvel e após a ingestão oral é rapidamente absorvido no delgado e sofre extenso metabolismo hepático de primeira passagem. A concentração máxima da droga no plasma é atingido aproximadamente 1 h após a administração oral,  mas sua concentração é muito maior nos leucócitos do que no plasma, com pico intracelular em aproximadamente 48 h, correspondente com efeitos anti-inflamatórios máximos. 

A colchicina é metabolizada no fígado pelo citocromo enzima P450 CYP3A4, que catalisa a desmetilação de colchicina antes de sua excreção hepatobiliar. Na presença de insuficiência hepática ou interações com medicações que utilizam esta enzima pode aumentar os riscos de toxicidade. 

A droga é eliminada principalmente via excreção biliar e nas fezes, com uma contribuição de 10-20% de eliminação renal em indivíduos saudáveis.

Curso Extensivo Residência Médica

Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Imazio M. Colchicine for pericarditis. Trends Cardiovasc Med. 2015 Feb;25(2):129-36. doi: 10.1016/j.tcm.2014.09.011. Epub 2014 Oct 2. 
  • Robinson KP, Chan JJ. Colchicine in dermatology: A review. Australas J Dermatol. 2018 Nov;59(4):278-285. doi: 10.1111/ajd.12795. Epub 2018 Feb 12. 
  • Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Diretriz de Miocardites e Pericardites da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2013. 
  • Wallace SL. Colchicine. Semin Arthritis Rheum. 1974 Summer;3(4):369-81. doi: 10.1016/0049-0172(74)90006-7. 
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels 
Você pode gostar também