Resumo sobre Hipercifose: definição, consequências à saúde e mais!
Fonte: Freepik

Resumo sobre Hipercifose: definição, consequências à saúde e mais!

E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre a Hipercifose, uma condição que afeta a curvatura da coluna vertebral e pode causar complicações significativas na saúde.

O Estratégia MED vai te ajudar em mais um conceito que vai enriquecer muito o seu conhecimento e impulsionar o seu crescimento profissional. Então vamos lá!

Definição de hipercifose

A hipercifose é uma acentuação anormal da curvatura da coluna torácica, conhecida popularmente como “corcunda da viúva”, principalmente quando relacionada ao envelhecimento. Embora o termo cifose seja utilizado para descrever a curvatura natural da coluna torácica, a hipercifose se refere ao exagero dessa curvatura. 

Suas causas incluem fatores como fraturas vertebrais, osteoporose, tuberculose óssea, doença de Scheuermann, espondilite anquilosante e anomalias congênitas.

Existem quatro principais tipos de hipercifose:

  1. Dorso curvo: caracterizado por uma curva arredondada longa.
  2. Cifose tóracolombar: onde o tronco está flexionado para frente com redução da curvatura lombar.
  3. Corcunda ou giba: marcada por uma angulação posterior acentuada na coluna torácica e diminuição da inclinação pélvica.
  4. Corcunda de viúva: frequentemente observada em idosos, especialmente mulheres, geralmente associada à osteoporose.

Epidemiologia de hipercifose

A epidemiologia da hipercifose é difícil de definir com precisão devido à ausência de uma definição amplamente aceita da condição. No entanto, estudos sugerem que sua prevalência entre idosos varia de 20% a 40% em indivíduos com 60 anos ou mais que vivem em comunidades. Essa variação pode ser ainda maior em alguns países, como Nepal e China, onde até 75% dos adultos acima de 60 anos podem ser afetados pela hipercifose.

A prevalência da hipercifose aumenta progressivamente com a idade, sendo que as mulheres entre 50 e 59 anos apresentam a maior alteração no ângulo da curvatura torácica. Um estudo realizado na Itália com 154 adultos com 60 anos ou mais revelou que a cifose aumentou cerca de 8 a 9 graus por década, destacando o impacto do envelhecimento na progressão dessa condição.

Etiologias de hipercifose

A hipercifose pode ser causada por diversos fatores, incluindo alterações nas estruturas vertebrais e nos discos intervertebrais, que são as principais responsáveis pela curvatura natural da coluna. 

Qualquer processo que afete essas estruturas pode resultar em um aumento do ângulo da cifose, caracterizando a hipercifose. Entre as principais causas estão fraturas vertebrais, baixa densidade óssea, deformidades vertebrais e alterações posturais, além de condições degenerativas.

As fraturas vertebrais são uma causa comum de hipercifose, especialmente em idosos. Essas fraturas podem levar à deformidade em forma de cunha das vértebras, aumentando o estresse biomecânico sobre as vértebras adjacentes e agravando a cifose. Estudos mostram que a cada fratura vertebral, o ângulo de cifose aumenta em cerca de 3,7 a 3,8 graus. Entretanto, nem todos os casos de hipercifose estão associados a fraturas, pois apenas uma parte dos pacientes com graus severos de cifose apresentam fraturas vertebrais subjacentes.

A baixa densidade óssea, comum em idosos, também contribui para a hipercifose. Mesmo sem fraturas vertebrais, a perda de densidade óssea pode agravar a curvatura da coluna, sobretudo em mulheres mais velhas, que apresentam maior perda óssea e progressão da cifose. 

Além disso, deformidades vertebrais de origem não fraturada, como a doença de Scheuermann, também podem causar hipercifose. Essa condição, mais frequente em adolescentes, é caracterizada por vértebras com formato de cunha e estreitamento do espaço discal.

Alterações degenerativas, como a doença degenerativa do disco, também são associadas à hipercifose, já que os discos intervertebrais podem desidratar e perder altura com o envelhecimento, contribuindo para o aumento da curvatura torácica. Alterações posturais, como hiperlordose cervical ou lombar, também estão relacionadas à hipercifose, especialmente em pessoas mais velhas com diminuição da flexibilidade postural.

Outros fatores incluem fraqueza muscular, ligamentos intervertebrais calcificados, doenças genéticas como síndrome de Marfan e osteogênese imperfeita, e condições metabólicas que podem predispor o indivíduo ao desenvolvimento da hipercifose.

Complicações da hipercifose

A hipercifose pode levar a diversas complicações associadas à saúde, principalmente em adultos mais velhos. Entre as principais consequências estão:

  • Comprometimento da função pulmonar: A hipercifose, por alterar a curvatura natural da coluna torácica, pode comprimir a cavidade torácica diminuindo o espaço disponível para a expansão dos pulmões. Isso resulta em uma menor capacidade vital forçada (CVF) e volume expiratório forçado (VEF), comprometendo a função respiratória. Estudos mostram que pacientes com hipercifose têm uma maior chance de desenvolver disfunções ventilatórias restritivas e obstrutivas, além de apresentarem dispneia, o que pode limitar as atividades diárias e piorar a qualidade de vida.
  • Função física diminuída: a hipercifose está diretamente relacionada à diminuição da força muscular, principalmente dos extensores das costas. Essa perda de força prejudica o equilíbrio postural e a capacidade de realizar movimentos básicos, como caminhar e levantar-se de uma cadeira. Pacientes com maior curvatura cifótica tendem a ter uma mobilidade reduzida, com piora em testes de desempenho físico, como a velocidade de caminhada e o teste de levantar e andar cronometrado. Além disso, tarefas do cotidiano, como vestir-se e tomar banho, podem se tornar desafiadoras.
  • Aumento do risco de quedas: a postura inclinada para frente causada pela hipercifose altera o centro de gravidade do corpo, o que pode comprometer o equilíbrio e aumentar o risco de quedas, especialmente em idosos. No entanto, os estudos são conflitantes quanto à extensão desse risco, pois existem mecanismos compensatórios, como o ajuste pélvico, que podem reduzir o impacto da cifose no equilíbrio. Mesmo assim, em pessoas mais velhas, o risco de quedas pode ser significativo, particularmente em indivíduos com maior desvio cifótico.
  • Fraturas osteoporóticas: a hipercifose está associada a fraturas vertebrais e, acredita-se que as fraturas sejam tanto causa quanto consequência da progressão da curvatura. A postura encurvada aumenta a carga biomecânica nas vértebras, favorecendo fraturas, especialmente em pessoas com osteoporose. Pacientes com cifose grave apresentam um risco elevado de fraturas não apenas vertebrais, mas também em outros ossos, o que pode comprometer ainda mais a mobilidade e aumentar a dependência de cuidados.
  • Problemas gastrointestinais: a hipercifose pode afetar a anatomia do trato gastrointestinal, levando a problemas como refluxo gastroesofágico, disfagia (dificuldade para engolir), esôfago de Barrett, hérnias de hiato e até mesmo estômago intratorácico, uma condição em que parte do estômago se desloca para a cavidade torácica. Esses problemas resultam da compressão dos órgãos abdominais pela curvatura acentuada da coluna torácica.
  • Dores nas costas e outras dores: a dor crônica nas costas é um sintoma comum em pessoas com hipercifose. A postura curvada exerce maior pressão nas vértebras e nos músculos, levando a desconforto e dor. Em alguns casos, pacientes podem relatar dores no peito associadas a fraturas por insuficiência do esterno, que podem ser inicialmente confundidas com problemas cardíacos, como infarto ou embolia pulmonar.
  • Aumento da mortalidade: a hipercifose está associada a um aumento da mortalidade em idosos, independentemente de outras condições, como fraturas vertebrais. Estudos sugerem que o grau da curvatura está relacionado a uma maior chance de morte por todas as causas. Embora as fraturas osteoporóticas desempenhem um papel importante, outros fatores, como comprometimento da função física, problemas respiratórios e a diminuição da qualidade de vida, também contribuem para esse aumento do risco de mortalidade.

Diagnóstico de hipercifose

O diagnóstico da hipercifose começa com a avaliação clínica, onde a condição é frequentemente visível pela postura encurvada característica. Esse fenótipo é notavelmente óbvio e pode ser identificado por meio de observação direta durante o exame físico. A detecção precoce é crucial, uma vez que a hipercifose pode levar anos para se desenvolver plenamente. 

Após a identificação clínica, a medição objetiva da cifose é necessária para determinar a gravidade da condição. Existem métodos clínicos e radiológicos para essa medição. Entre os métodos clínicos, destacam-se a régua flexicurva, o goniômetro, o inclinômetro e o cifômetro de Debrunner, que ajudam a quantificar a curvatura da coluna torácica de maneira relativamente acessível e prática. Medidas como a distância do occipital à parede e a contagem de blocos de 1,7 cm também fornecem indicações úteis, embora menos precisas.

Os métodos radiológicos, por sua vez, são mais precisos e incluem a utilização de radiografias laterais da coluna. O ângulo de Cobb é um dos parâmetros mais utilizados para medir a curvatura da coluna, traçando linhas perpendiculares a partir das bordas dos corpos vertebrais e calculando o ângulo de interseção. Este método, adaptado da avaliação da escoliose, é considerado o padrão ouro na medição da cifose. Ainda, novas tecnologias, como ferramentas assistidas por inteligência artificial, estão sendo desenvolvidas para aprimorar a precisão dessas medições.

Em adultos mais velhos, o ângulo cifótico médio é geralmente de 48 a 50 graus para mulheres e cerca de 44 graus para homens. Muitos estudos definem hipercifose como um ângulo de Cobb ≥40 graus. Ângulos maiores, como >50 graus, estão associados a um risco elevado de fraturas e quedas, o que destaca a importância da avaliação detalhada.

Além das medições, é essencial avaliar outras condições associadas à hipercifose. Todos os pacientes com hipercifose devem ser examinados para osteoporose, uma condição que pode contribuir para a gravidade da cifose e aumentar o risco de fraturas. 

Radiografias da coluna devem ser realizadas para identificar fraturas vertebrais subjacentes ou outras patologias. Idealmente, a interpretação dessas radiografias deve ser feita por um radiologista especializado em musculoesquelético, dado o desafio na detecção de fraturas e outras condições espinhais.

Tratamento da hipercifose

Como primeira linha de intervenção, sugere-se o uso de exercícios focados na reabilitação de anormalidades posturais. Esses exercícios, realizados sob orientação de um fisioterapeuta, visam melhorar o alinhamento postural, além de aumentar a flexibilidade e a força do core, especialmente os músculos extensores das costas.

Pacientes sem sintomas graves, como aqueles que não sentem dor ou comprometimento funcional evidente, também podem se beneficiar desses exercícios. Mesmo indivíduos assintomáticos mas que apresentam sinais de hipercifose, como dificuldade para levantar a cabeça ou enxergar para frente ao caminhar, podem ter melhorias significativas ao adotar esse tratamento. Exercícios como a posição “cacto” ou movimentos de “gato-vaca” são alguns exemplos que podem ser praticados em casa após a demonstração clínica.

Além dos exercícios, outros tratamentos também são recomendados. As órteses espinhais, por exemplo, são dispositivos flexíveis que ajudam na postura e podem melhorar a cifose em pacientes mais velhos. Elas são projetadas para estimular a propriocepção e fortalecer os músculos de forma inconsciente. 

Estudos indicam que o uso dessas órteses pode melhorar significativamente o ângulo de cifose e aumentar a força dos músculos extensores das costas, porém, é preciso cuidado, pois algumas podem afetar negativamente o equilíbrio funcional.

A terapia manual, como massagens e mobilizações, também é uma opção de tratamento para melhorar a postura. Ainda que haja poucos dados sobre sua eficácia em adultos mais velhos, essas técnicas podem proporcionar benefícios biomecânicos e neurofisiológicos. 

Em casos mais graves, nos quais os pacientes apresentam dor intensa ou comprometimento respiratório devido à hipercifose, intervenções cirúrgicas podem ser necessárias. No entanto, a cirurgia está associada a altas taxas de complicações, sendo recomendada apenas em último caso.

Veja também

Referências

Deborah M Kado, MD, MS. Hyperkyphosis in older persons.UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate

BARBIERI, Leandro Gomes; GOMES, Jemima Torres; SARAIVAA, Letícia Gomes; VIEIRA BARBIERI, Danielle Gonçalves Fernandes; GUIMARÃES, Denis Frota. Revisão integrativa sobre hipercifose: análise dos tratamentos fisioterápicos. *Revista Pesquisa em Fisioterapia*, v. 4, n. 1, p. 55-61, abr. 2014.

Você pode gostar também