E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Síndrome de Reye, uma condição rara, porém grave, que geralmente acomete crianças em fase de recuperação de uma infecção viral e está associada ao uso de ácido acetilsalicílico.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Síndrome de Reye
A síndrome de Reye é uma condição aguda que afeta principalmente crianças e adolescentes, geralmente após uma infecção viral recente, como gripe ou catapora. Ela é caracterizada por uma combinação de disfunção cerebral (encefalopatia) e comprometimento hepático com acúmulo de gordura no fígado, sem sinais de inflamação. O quadro clínico costuma começar com vômitos persistentes, irritabilidade ou letargia, progredindo rapidamente para confusão, convulsões e coma em casos graves.
Essa síndrome foi descrita pela primeira vez em 1963 pelo patologista australiano R.D.K. Reye. Estudos epidemiológicos demonstraram uma forte associação entre o uso de aspirina (ácido acetilsalicílico) durante infecções virais e o desenvolvimento da doença. Após campanhas de conscientização e restrição ao uso de aspirina em crianças, especialmente a partir da década de 1980, houve uma queda significativa na incidência da síndrome.
Embora rara, a síndrome de Reye representa uma emergência médica devido à sua evolução rápida e potencial letalidade. Além da associação com vírus como influenza e varicela, outros agentes infecciosos, como vírus coxsackie, Epstein-Barr e até algumas bactérias, também foram implicados como possíveis desencadeantes em casos menos comuns.
Epidemiologia da Síndrome de Reye
A síndrome de Reye é rara, com menos de dois casos anuais desde 1994. Afeta principalmente crianças de 5 a 14 anos e ocorre com mais frequência entre dezembro e abril. Após alertas contra o uso de aspirina em crianças, emitidos na década de 1980, a incidência caiu drasticamente nos EUA, Reino Unido e França. Apesar da redução, o uso de aspirina ainda é necessário em algumas doenças, exigindo vigilância para sinais da síndrome.
Fisiopatologia da Síndrome de Reye
A fisiopatologia da síndrome de Reye não é totalmente compreendida, mas envolve principalmente uma lesão mitocondrial, geralmente desencadeada por uma infecção viral e agravada pelo uso de aspirina. Esse dano mitocondrial compromete o metabolismo dos ácidos graxos, afetando especialmente o fígado e o sistema nervoso central.
No fígado, a disfunção mitocondrial leva à acumulação de amônia no sangue (hiperamonemia). Esse excesso de amônia atravessa a barreira hematoencefálica, provocando edema de astrócitos, que resulta em edema cerebral difuso e aumento da pressão intracraniana, responsáveis pelas manifestações neurológicas da síndrome.
Estudos patológicos mostram edema de astrócitos, perda neuronal, degeneração gordurosa dos rins e mitocôndrias inchadas e reduzidas em número, reforçando o papel central da disfunção mitocondrial no desenvolvimento da doença.
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Manifestações clínicas da Síndrome de Reye
As manifestações clínicas da síndrome de Reye geralmente surgem entre 12 horas e 3 semanas após uma infecção viral, como gripe ou gastroenterite, especialmente em crianças. O sintoma inicial mais comum é o vômito persistente, que costuma aparecer de 3 a 6 dias após a infecção. A progressão clínica segue cinco estágios descritos pelo CDC:
- Estágio 1: vômitos intensos, letargia, pesadelos, sonolência aumentada e confusão;
- Estágio 2: rebaixamento do nível de consciência, desorientação, delírio, hiperreflexia, sinal de Babinski positivo, pupilas dilatadas e lentas, taquicardia e hiperventilação;
- Estágio 3: coma superficial com rigidez de descorticação;
- Estágio 4: coma profundo, pupilas fixas e dilatadas, rigidez de descerebração e olhar desviado;
- Estágio 5: crises convulsivas, paralisia flácida, ausência de reflexos, parada respiratória e morte.
A rápida progressão entre os estágios exige atenção imediata, uma vez que o quadro pode evoluir para comprometimento neurológico grave e fatal.
Diagnóstico da Síndrome de Reye
O diagnóstico da síndrome de Reye é clínico e laboratorial, com base nos critérios estabelecidos pelo CDC. São exigidos três componentes principais:
- Encefalopatia aguda não inflamatória, evidenciada por alteração do nível de consciência e, se disponível, líquido cefalorraquidiano (LCR) com no máximo 8 leucócitos/mm³ ou biópsia cerebral com edema cerebral sem sinais de inflamação meníngea ou perivascular;
- Hepatopatia, confirmada por biópsia hepática ou achado de necropsia compatível, ou por elevação três vezes acima do normal das enzimas hepáticas (AST, ALT) ou níveis elevados de amônia sérica;
- Ausência de outra causa mais plausível para as alterações neurológicas e hepáticas observadas.
Exames laboratoriais frequentemente mostram aumento das transaminases (AST, ALT), hiperamonemia, distúrbios da coagulação, elevação de amilase e lipase, redução do bicarbonato sérico e sinais de desidratação.
O achado laboratorial mais precoce e comum é o aumento da amônia sanguínea, que ocorre em até dois dias após o início das alterações neurológicas. Em punção lombar, além do LCR com poucos leucócitos, a pressão de abertura pode estar elevada em fases mais avançadas.
Tratamento da Síndrome de Reye
O tratamento da síndrome de Reye é essencialmente suporte intensivo, devido à rápida progressão da doença e ao risco de complicações graves. Os cuidados devem ser realizados preferencialmente em unidade de terapia intensiva (UTI), com monitoramento rigoroso das funções respiratória, hemodinâmica, neurológica e metabólica.
Medidas iniciais podem incluir:
- Intubação orotraqueal para proteger a via aérea e garantir ventilação adequada;
- Acesso venoso central para administração de medicamentos e monitoramento;
- Cateter vesical para controle da diurese;
- Em alguns casos, pode ser necessária biópsia hepática ou monitoramento da pressão intracraniana (PIC).
O manejo das alterações laboratoriais inclui:
- Hipoglicemia: reposição com soluções contendo dextrose (como D10 ou D50), mantendo a glicemia entre 100-120 mg/dL;
- Acidose metabólica: correção cuidadosa com bicarbonato de sódio e suporte ventilatório;
- Hiperamonemia: uso de fenilacetato de sódio e benzoato de sódio, ou hemodiálise se os níveis excederem 500 mcg/dL;
- Coagulopatias: correção com vitamina K, plasma fresco congelado (PFC) ou crioprecipitado, especialmente antes de procedimentos invasivos ou em caso de sangramentos.
Para controle da pressão intracraniana elevada, podem ser adotadas as seguintes medidas:
- Elevar a cabeceira a 30 graus;
- Controlar febre para reduzir o metabolismo cerebral;
- Uso de diuréticos como furosemida (Lasix);
- Administração de manitol ou soro hipertônico;
- Manter hidratação cuidadosa, evitando sobrecarga;
- Oferecer sedação e analgesia;
- Tratar e prevenir convulsões.
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Referências
Chapman J, Arnold JK. Reye Syndrome. [Updated 2023 Jul 4]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK526101/
A Karl Barnett, MD, FACEPEdward W Boyer, MD, PhD. Salicylate (aspirin) poisoning: Clinical manifestations and evaluation. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate