Resumo sobre Tularemia: definição, manifestações clínicas e mais!

Resumo sobre Tularemia: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Tularemia, uma zoonose causada pela Francisella tularensis, uma bactéria altamente infecciosa que pode ser transmitida por contato com animais silvestres, picadas de artrópodes ou inalação de aerossóis contaminados. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Tularemia

A tularemia é uma doença infecciosa febril aguda causada pela Francisella tularensis, uma bactéria gram-negativa altamente virulenta e considerada um dos patógenos mais infecciosos conhecidos. 

A infecção pode ocorrer com a exposição a uma quantidade extremamente baixa do microrganismo, o que reforça seu potencial de gravidade. Trata-se de uma zoonose, podendo ser transmitida por contato direto com animais infectados, picadas de artrópodes, ingestão de água ou alimentos contaminados, além da inalação de aerossóis contendo a bactéria.

Devido ao potencial de gravidade e à possibilidade de evolução para formas sistêmicas, a tularemia exige diagnóstico precoce e manejo adequado, frequentemente com antibióticos específicos. 

A integração entre diferentes profissionais da saúde é fundamental, garantindo avaliação cuidadosa, comunicação efetiva e tratamento coordenado para otimizar o prognóstico dos pacientes.

Etiologia da Tularemia

A etiologia da tularemia está relacionada à infecção pelo coccobacilo gram-negativo altamente virulento Francisella tularensis. Esse microrganismo possui a capacidade de causar doença mesmo com a exposição a um número extremamente pequeno de organismos, o que reforça seu potencial infeccioso. 

A transmissão ocorre por múltiplas vias, incluindo inalação de aerossóis, contato direto com pele ou mucosas não íntegras, ingestão de água ou alimentos contaminados e picadas de vetores, como carrapatos e moscas. Além disso, a manipulação de animais infectados ou de seus produtos também representa uma via significativa de exposição.

A bactéria apresenta quatro subespécies reconhecidas, com diferenças marcantes de virulência. A F. tularensis tipo A é a mais agressiva e responsável pelas formas clínicas mais graves da doença. Já a subespécie holarctica (tipo B) está associada a quadros menos severos e possui maior suscetibilidade a fluoroquinolonas, segundo relatos comparativos de sensibilidade antimicrobiana.

A diversidade de apresentações clínicas da tularemia reflete diretamente a porta de entrada do agente etiológico, que define manifestações como formas ulceroglandular, glandular, oculoglandular, orofaríngea, gastrointestinal, respiratória e tífica. 

Apesar de amplamente distribuída na natureza e capaz de sobreviver a variações extremas de temperatura e condições ambientais, a doença não apresenta transmissão entre humanos, reforçando seu caráter zoonótico. 

A infecção é mais frequente em pessoas com maior exposição ocupacional, como veterinários, agricultores, trabalhadores de laboratório e indivíduos que lidam com animais ou carnes.

Fisiopatologia da Tularemia 

A fisiopatologia da tularemia envolve uma combinação de alta capacidade de invasão celular, replicação intracelular eficiente e mecanismos sofisticados de evasão imune que permitem à Francisella tularensis causar doença sistêmica grave. 

Após a entrada no organismo, mesmo em quantidades extremamente baixas, a bactéria rapidamente se multiplica e atinge células-alvo, especialmente macrófagos, que funcionam como um dos principais reservatórios iniciais da infecção. Esses macrófagos, ao serem infectados, tornam-se vetores de disseminação, transportando o microrganismo do ponto de inoculação para linfonodos regionais e, posteriormente, para outros órgãos.

A F. tularensis apresenta a capacidade de sobreviver e se replicar dentro de células fagocíticas, prejudicando o processo de fagocitose e bloqueando mecanismos naturais de eliminação bacteriana. A evasão imunológica inclui fenómenos como morte celular mediada por caspase-3, permitindo que a bactéria escape de respostas imunes efetivas e mantenha-se ativa por longos períodos dentro do hospedeiro.

No local de entrada, é comum o desenvolvimento de ulceração seguida de linfadenopatia regional, indicando disseminação linfática. A formação de granulomas, frequentemente observada, ocorre devido à resposta inflamatória crônica ao patógeno e pode levar a confusão diagnóstica com Mycobacterium tuberculosis

A replicação acelerada e a disseminação sistêmica podem culminar em resposta inflamatória aguda intensa, caracterizada por quadro séptico grave. O período de incubação varia de 2 a 9 dias, e, embora alguns indivíduos permaneçam assintomáticos, a maioria desenvolve doença aguda que, sem tratamento adequado, pode evoluir para desfechos fatais.

Manifestações clínicas da Tularemia

A tularemia pode se apresentar de formas variadas, dependendo da via de infecção. Em todas as síndromes, sintomas constitucionais como febre, cefaleia e mal-estar são frequentes. 

A anamnese deve incluir histórico de viagens, ingestão de água não tratada, manipulação de animais silvestres e possíveis picadas de carrapatos, embora a ausência de exposição clara não exclua o diagnóstico, já que picadas podem passar despercebidas.

  • Forma ulceroglandular: é a apresentação mais comum. Caracteriza-se pela formação de uma úlcera no local de inoculação, acompanhada de linfadenopatia regional dolorosa. Com a evolução da doença, o linfonodo pode tornar-se flutuante, mesmo após melhora dos sintomas sistêmicos.
  • Forma glandular: semelhante à forma ulceroglandular, porém sem lesão cutânea visível. O paciente apresenta linfadenopatia regional importante, geralmente associada ao local de inoculação. Também pode evoluir para flutuação ganglionar.
  • Forma oculoglandular: decorre da inoculação ocular, levando a conjuntivite exsudativa associada à linfadenopatia pré-auricular. Pode ocorrer após contato das mãos contaminadas com os olhos.
  • Forma orofaríngea: relacionada à ingestão do patógeno, apresenta faringite exsudativa, estomatite e linfadenopatia cervical. É comum haver queixa de dor de garganta e dificuldade para engolir.
  • Forma gastrointestinal: pode surgir após ingestão de água ou alimentos contaminados. Manifesta-se com dor abdominal, diarreia e vômitos, podendo simular gastroenterites de outras etiologias.
  • Forma pneumônica: é uma das apresentações mais graves. Resulta da inalação do aerosol bacteriano e cursa com pneumonia bilateral severa, podendo atingir mortalidade de 30% a 60% em alguns relatos. Requer atenção imediata devido ao risco elevado de complicações sistêmicas.
  • Forma sistêmica ou tifoide: pode ocorrer após qualquer via de inoculação. Caracteriza-se por febre alta, quadro séptico e hepatosplenomegalia. Representa uma forma disseminada da doença e demanda abordagem intensiva.
  • Outras manifestações possíveis: embora menos frequentes, a tularemia também pode se apresentar como meningite, osteomielite ou outras infecções localizadas, reforçando sua capacidade de atingir múltiplos tecidos e órgãos.

Diagnóstico de Tularemia

O diagnóstico da tularemia exige um alto grau de suspeição clínica, pois a confirmação laboratorial pode ser desafiadora. A sorologia é o método mais utilizado, sendo considerada diagnóstica quando apresenta título inicial maior que 1:160 ou quando há aumento de quatro vezes entre a sorologia inicial e a de convalescença. Como a resposta de anticorpos pode demorar a se desenvolver, testes realizados muito precocemente podem ser negativos, o que não exclui a doença.

Outra forma de confirmação é o isolamento da Francisella tularensis por cultura de sangue, líquor, tecidos linfáticos ou swabs de lesões ulceradas. No entanto, esse método requer condições laboratoriais altamente controladas, pois a manipulação pode expor profissionais a aerossóis e representar risco significativo de infecção pneumônica. 

Por isso, sempre que houver suspeita de tularemia, o laboratório deve ser notificado para utilizar meios de cultura específicos e cuidados de biossegurança apropriados, além de considerar que o crescimento bacteriano pode exigir período de incubação mais prolongado.

Exames laboratoriais gerais podem mostrar marcadores inflamatórios elevados, como proteína C reativa e velocidade de sedimentação, ou leucocitose. Contudo, esses achados não são consistentes em todos os casos e sua ausência não deve ser usada para descartar a infecção.

Tratamento da Tularemia

O tratamento da tularemia ainda não conta com ensaios clínicos randomizados que definam a terapêutica ideal, mas há consenso em torno do uso de antibióticos específicos. A gentamicina intravenosa é atualmente o fármaco mais recomendado, administrada por sete a quatorze dias conforme a gravidade do quadro. 

Fluoroquinolonas como ciprofloxacino também podem ser utilizadas, principalmente nas formas leves da doença, embora a evidência de eficácia seja mais sólida em regiões onde circulam cepas menos virulentas, como ocorre na Europa.

O uso de tetraciclinas requer cautela, pois esses antibióticos são bacteriostáticos e apresentam maior risco de recaída após a suspensão do tratamento. Em situações de linfadenopatia volumosa ou com flutuação, pode ser necessário realizar drenagem cirúrgica dos linfonodos comprometidos como abordagem complementar ao tratamento antimicrobiano.

Veja também!

Referências

Snowden J, Simonsen KA. Tularemia. [Updated 2023 Jul 17]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430905/

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