Resumo sobre Capnografia: definição, utilidade e mais!
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Resumo sobre Capnografia: definição, utilidade e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Capnografia, um método de monitorização que avalia em tempo real a concentração de dióxido de carbono (CO₂) durante o ciclo respiratório. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais segura e eficaz.

Vamos nessa!

Definição de Capnografia

A respiração envolve a difusão de moléculas através de membranas permeáveis, sendo classificada como “interna” (nas células) e “externa” (nos pulmões). Nos pulmões, as trocas gasosas ocorrem conforme gradientes de concentração, garantindo a homeostasia respiratória. 

O oxigênio é utilizado nas células, gerando gás carbônico, que retorna aos pulmões para eliminação. A função pulmonar é essencial para a vida, justificando a importância de sua monitorização. 

A avaliação clínica isolada é insuficiente para detectar hipóxia, sendo necessária a monitorização respiratória. Métodos não invasivos incluem oximetria de pulso e capnografia, enquanto a gasometria arterial e outras técnicas invasivas fornecem informações adicionais. 

A capnografia é a representação gráfica da pressão parcial de dióxido de carbono (CO₂) na mistura gasosa expirada ao longo do tempo. Esse método permite a monitorização contínua e não invasiva da eliminação do CO₂, refletindo indiretamente os níveis circulantes do gás e a eficácia da ventilação pulmonar.

Formas de onda de CO₂ 

O capnograma, que representa graficamente a concentração de dióxido de carbono (CO₂) ao longo do ciclo respiratório, é dividido em quatro fases principais:

  1. Fase 1 – Ventilação do Espaço Morto (AB):
    • Marca o início da expiração, quando o ar proveniente das vias aéreas superiores (espaço morto) é eliminado.
    • A concentração de CO₂ nesse momento é próxima de zero.
  2. Fase 2 – Ascensão Rápida (BC):
    • Representa a chegada do CO₂ proveniente dos alvéolos às vias aéreas superiores.
    • Há um aumento súbito na concentração do gás na corrente respiratória.
  3. Fase 3 – Platô Alveolar (CD):
    • O nível de CO₂ se estabiliza, refletindo a concentração uniforme do gás ao longo das vias respiratórias.
    • O ponto D, situado no final dessa fase, indica o CO₂ expirado final (EtCO₂), valor exibido no monitor.
  4. Fase 4 – Inspiração (DE):
    • Ocorre o início da inspiração, quando o CO₂ retorna a zero.

Padrões do Capnograma

  • Indivíduos com função pulmonar normal apresentam capnogramas com formato trapezoidal e um gradiente estreito entre a concentração de CO₂ alveolar (EtCO₂) e a arterial (PaCO₂), geralmente entre 0 e 5 mmHg.
  • Pacientes com doença pulmonar obstrutiva apresentam um padrão alterado, com:
    • Fluxo expiratório reduzido
    • Esvaziamento desigual dos alvéolos
    • Inclinação ascendente no platô alveolar devido à incompatibilidade ventilação-perfusão.

Em condições pulmonares comprometidas, o gradiente entre EtCO₂ e PaCO₂ pode aumentar conforme a gravidade da disfunção. Nesses casos, o EtCO₂ é mais útil para acompanhar tendências ventilatórias ao longo do tempo, pois valores isolados podem não refletir fielmente a PaCO₂.

Fonte: UpToDate
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Valores da Capnografia

A capnografia mede o dióxido de carbono expirado (EtCO2), que é um indicador chave da ventilação e do metabolismo do paciente. Em condições normais, os valores de EtCO2 variam entre 35 e 45 mmHg, sinalizando uma ventilação adequada e equilíbrio entre a produção e eliminação de CO2. 

Valores abaixo dessa faixa podem indicar hipoventilação, como insuficiência respiratória ou problemas respiratórios agudos. Já valores elevados sugerem hiperventilação, com possíveis causas como febre ou distúrbios metabólicos, e também podem refletir ventilação inadequada.

Aplicações clínicas para pacientes entubados 

Suas aplicações clínicas são diversas, desempenhando um papel crucial na detecção precoce de complicações respiratórias e na garantia de um manejo eficaz da ventilação mecânica.

  • Verificação do posicionamento do tubo endotraqueal (TET): A capnografia é útil para confirmar que o tubo endotraqueal está corretamente posicionado imediatamente após a intubação, além de ser uma ferramenta eficaz para monitorar o tubo durante o transporte, garantindo que ele não se desloque.
  • Monitoramento contínuo durante o transporte: Para evitar complicações graves, como a obstrução das vias aéreas (UMI), é fundamental monitorar a posição do tubo endotraqueal com capnografia enquanto o paciente é transportado. Isso ajuda a manter o TET na posição correta e reduz o risco de deslocamento.
  • Avaliação da eficácia da ressuscitação cardiopulmonar (RCP): O nível de dióxido de carbono expirado (EtCO2) serve como um indicador da eficácia das compressões torácicas. Um aumento no EtCO2 indica um aumento na perfusão e pode ser usado para monitorar a efetividade da RCP.
  • Detecção do retorno da circulação espontânea (ROSC): Durante uma parada cardíaca, um aumento repentino no EtCO2 é um dos primeiros sinais de que a circulação foi restabelecida, frequentemente antes que um pulso palpável ou pressão arterial se normalize.
  • Ajuste da ventilação e prognóstico em casos de trauma: Monitorar os níveis de EtCO2 em pacientes com lesões cerebrais traumáticas ou com suspeita de aumento da pressão intracraniana pode ajudar a ajustar a ventilação, evitando complicações como a hiperventilação, que pode prejudicar a recuperação.
  • Detecção precoce de hipóxia ou hipoventilação: A capnografia pode identificar rapidamente uma queda nos níveis de CO2, sinalizando uma ventilação inadequada e a necessidade de ajustes na ventilação ou reavaliação da intubação.
  • Monitoramento de sedação e anestesia: Em pacientes sedados ou sob anestesia, a capnografia ajuda a monitorar a ventilação e detectar problemas respiratórios precocemente, permitindo a correção imediata.
  • Verificação de eficácia de ventilação não invasiva (como a máscara facial): Em alguns casos, a capnografia também pode ser usada para verificar se a ventilação não invasiva, como o uso de uma máscara facial ou CPAP, está funcionando corretamente, identificando sinais de ventilação inadequada.
  • Análise do padrão respiratório: Além de monitorar a quantidade de CO2 expirado, a capnografia pode ajudar a observar o padrão respiratório do paciente, fornecendo informações sobre a mecânica respiratória e possíveis distúrbios.

Aplicação clínicas para pacientes com respiração espontânea 

  • Avaliação rápida de pacientes gravemente enfermos ou com convulsões: A capnografia ajuda a monitorar rapidamente a ventilação desses pacientes, detectando anormalidades que possam indicar problemas respiratórios graves.
  • Determinação da resposta ao tratamento em caso de dificuldade respiratória aguda: Ela é crucial para avaliar a efetividade de intervenções terapêuticas em pacientes com insuficiência respiratória aguda, proporcionando dados em tempo real sobre a ventilação.
  • Monitoramento da ventilação em pacientes obtusos ou inconscientes, ou em sedação processual: A capnografia auxilia na detecção de problemas respiratórios em pacientes que estão inconscientes ou sedados, permitindo ajustar os cuidados respiratórios conforme necessário.
  • Detecção de acidose metabólica em pacientes com cetoacidose diabética ou gastroenterite: O monitoramento da capnografia pode fornecer sinais precoces de acidose metabólica, o que é essencial para a gestão de condições como a cetoacidose diabética.
  • Fornecimento de indicadores prognósticos em pacientes com sepse ou choque séptico: A capnografia oferece insights sobre a condição do paciente em sepse ou choque séptico, sendo útil na avaliação da eficácia do tratamento e previsão do desfecho clínico.

Limitações da Capnografia

A capnografia, embora seja uma ferramenta valiosa para monitoramento de ventilação, perfusão e metabolismo, apresenta algumas limitações importantes que precisam ser consideradas no contexto clínico. 

Uma das principais limitações ocorre quando há problemas mistos, como ventilação e perfusão afetadas ao mesmo tempo. Nesses casos, a interpretação dos resultados pode ser desafiadora. Por exemplo, em pacientes com edema pulmonar agudo, que é um problema de ventilação, combinado com um infarto do miocárdio que reduz o débito cardíaco e causa um problema de perfusão, os achados capnográficos podem não fornecer informações claras ou úteis para avaliar a condição clínica de maneira eficaz.

Outra limitação ocorre em sistemas de CO2 de alto fluxo. Quando o volume corrente do paciente diminui abaixo da taxa de fluxo do sistema, o monitor de capnografia pode puxar ar ambiente, diluindo a leitura do dióxido de carbono expirado (EtCO2). Esse fenômeno pode prejudicar a precisão da leitura, distorcendo a forma da onda capnográfica. Por essa razão, sistemas de baixo fluxo são frequentemente preferidos, pois ajudam a evitar a diluição das medições e oferecem leituras mais confiáveis, especialmente em condições de ventilação volátil ou alterada.

Além disso, a capnografia pode não ser totalmente eficaz em pacientes com fisiopatologia complexa, onde múltiplos sistemas estão comprometidos. Em tais condições, a medição do EtCO2 pode não refletir com precisão o estado geral do paciente, dificultando a avaliação da ventilação e a monitorização do tratamento. 

Isso é particularmente problemático em pacientes com múltiplas comorbidades que podem apresentar alterações sutis no EtCO2, tornando as leituras pouco confiáveis para uma avaliação precisa da condição clínica.

A capnografia tem limitações em detectar condições que não estão diretamente relacionadas à ventilação. Por exemplo, em algumas condições metabólicas, as alterações do EtCO2 podem ser mínimas ou ausentes, o que reduz a eficácia do monitoramento em avaliar esses distúrbios. 

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Referências

Baruch Shlomo Krauss, MD, EdM, FAAPJay L Falk, MDJay G Ladde, MD, FACEP, FAAEM. Carbon dioxide monitoring (capnography). UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate

AMARAL, José Luiz Gomes do; PIRES, Antônio Carlos. Monitorização da Respiração: Oximetria e Capnografia. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 42, n. 1, p. 51-58, 1992.

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