Olá, querido doutor e doutora! A suplementação de progesterona é uma prática adotada em contextos obstétricos específicos, com o objetivo de reduzir riscos como abortamento precoce e parto prematuro. O uso deve ser fundamentado em critérios clínicos bem definidos e respaldado por evidências científicas. Confira abaixo uma visão atualizada sobre suas indicações, mecanismos, segurança e limitações. A conduta deve sempre ser individualizada, considerando o perfil e a história gestacional da paciente.
Em gestantes com colo uterino curto, a administração de progesterona vaginal pode reduzir significativamente o risco de parto prematuro espontâneo.
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Introdução
A suplementação de progesterona durante a gestação tem sido objeto de amplos estudos e debates na prática clínica. A justificativa para seu uso repousa nas múltiplas funções que esse hormônio exerce no processo gestacional, desde a implantação embrionária até a manutenção da gravidez.
Ainda assim, suas indicações não são universais e devem ser cuidadosamente individualizadas, considerando-se fatores como a presença de colo uterino encurtado, histórico de abortamentos espontâneos ou risco de parto prematuro. A diversidade de formulações e vias de administração, somada à variabilidade dos desfechos nas pesquisas, exige do médico uma análise criteriosa das evidências disponíveis para guiar sua prescrição de forma segura e eficaz.
Progesterona e sua função na gestação
A progesterona é um hormônio esteroide produzido pelo corpo lúteo logo após a ovulação e, posteriormente, pela placenta. Ela atua desde os estágios iniciais da gestação, preparando o endométrio para a implantação embrionária e promovendo sua transformação em um ambiente receptivo à gestação.
Durante a gravidez, a progesterona modula o sistema imunológico materno, reduzindo a resposta contra os antígenos fetais e, assim, contribuindo para a tolerância imunológica. Além disso, ela inibe a contratilidade uterina, mantendo o miométrio em estado de quiescência, e favorece o aumento do fluxo sanguíneo uteroplacentário.
Essas ações coordenadas fazem da progesterona um elemento chave para o início e manutenção da gestação, motivo pelo qual sua suplementação é considerada em cenários específicos de risco obstétrico.
Indicações
A suplementação de progesterona na gestação é recomendada apenas em contextos específicos, nos quais há respaldo científico para seu uso. As indicações mais aceitas atualmente envolvem situações de risco aumentado para abortamento ou parto prematuro, sempre com avaliação individualizada.
1. Colo uterino curto em gestação única
A principal indicação atual é a presença de colo uterino ≤ 2,5 cm, diagnosticado por ecografia transvaginal entre 16 e 24 semanas, em gestações únicas. Nesses casos, a progesterona vaginal demonstrou eficácia na redução do risco de parto prematuro espontâneo, sendo a formulação recomendada:
- Progesterona micronizada 100 a 200 mg, via vaginal, 1x/dia à noite, iniciada entre 18 e 25 semanas, com manutenção até 36–37 semanas.
2. Ameaça de aborto com perda gestacional anterior
Em gestantes com sangramento no primeiro trimestre e antecedente de abortamento espontâneo precoce, pode-se considerar o uso de progesterona, mesmo que os estudos apresentem resultados variados. O esquema mais utilizado é:
- Progesterona micronizada 200 mg, via vaginal, 2x/dia, iniciando no momento do sangramento até a 16ª semana.
3. Abortamento recorrente idiopático
Embora as evidências ainda sejam conflitantes, algumas metanálises sugerem benefício da progesterona — especialmente da didrogesterona oral — em casos de duas ou mais perdas gestacionais consecutivas sem causa definida. Nessa situação, recomenda-se:
- Didrogesterona 10 mg, 2 a 3x/dia, iniciada logo após o diagnóstico de gestação, com duração variável entre 12 e 20 semanas.
4. Outras situações com benefício não comprovado
Não há evidência robusta que justifique a suplementação de progesterona nas seguintes condições:
- Gestação gemelar, mesmo com histórico de parto prematuro.
- História de parto prematuro isolado, sem diagnóstico de colo curto na gestação atual.
- Abortamento recorrente com progesterona vaginal, em que os estudos mais robustos não demonstraram diferença significativa em relação ao placebo.
Assim, a decisão de prescrever progesterona deve sempre considerar o contexto clínico, a via mais adequada, a tolerabilidade da paciente e as evidências disponíveis para cada cenário.
Segurança e efeitos adversos
A suplementação de progesterona durante a gestação apresenta perfil de segurança favorável, especialmente quando utilizada nas doses e vias recomendadas. Trata-se de um hormônio naturalmente produzido pelo organismo feminino, e sua reposição, quando indicada, não tem sido associada a riscos significativos para a mãe ou para o feto.
Os efeitos adversos mais comuns estão geralmente relacionados à via de administração. Quando usada por via vaginal, podem ocorrer:
- Aumento da umidade e corrimento vaginal;
- Irritação local;
- Desconforto ao uso contínuo, especialmente em presença de sangramento.
Com o uso oral, sobretudo da didrogesterona, os efeitos colaterais mais descritos incluem:
- Náuseas, sonolência, dor de cabeça;
- Distensão abdominal;
- Sensibilidade mamária.
Efeitos menos frequentes, mas possíveis, envolvem alterações de humor, tontura, sudorese noturna e dor pélvica. Casos de reações alérgicas graves, como angioedema e dificuldade respiratória, são raros, mas devem ser prontamente reconhecidos e tratados.
Vale reforçar que, mesmo em uso prolongado no primeiro trimestre, não há aumento significativo de malformações fetais ou desfechos obstétricos adversos relacionados diretamente à progesterona.
Ainda assim, o uso de qualquer progestagênio deve ser cuidadosamente contraindicado em casos de:
- Doença hepática grave;
- História de trombose ou tromboembolismo;
- Câncer de mama ou ginecológico ativo;
- Sangramento vaginal sem diagnóstico definido.
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Referências Bibliográficas
- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Qual a indicação de suplementação de progesterona em gestantes na APS? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS, 2023. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders.
- TRAPANI JÚNIOR, A. et al. Aborto recorrente e progestagênios. São Paulo: FEBRASGO, 2017. (Série Orientações e Recomendações, n. 6).
- LIVERPOOL WOMEN’S NHS FOUNDATION TRUST. Progesterone in Pregnancy. Liverpool, 2024. Disponível em: https://www.liverpoolwomens.nhs.uk.