Olá, querido doutor e doutora! O magnésio exerce funções relevantes na regulação metabólica e neuromuscular, influenciando diretamente a resposta do músculo ao esforço físico. A literatura recente indica que sua disponibilidade adequada está associada a menor dor muscular, melhor recuperação e menor impacto de microlesões induzidas pelo exercício.
Mesmo com valores séricos normais, pode existir deficiência intracelular capaz de aumentar a sensibilidade muscular após treinos intensos.
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O que é o Uso de Magnésio para Dor Muscular
O magnésio é um cátion intracelular distribuído principalmente em ossos, músculos e tecidos moles, onde participa de processos metabólicos que sustentam a função muscular. Atua na produção de ATP, na regulação do fluxo de cálcio, na estabilidade das membranas e na modulação da transmissão neuromuscular. Nos músculos esqueléticos, seu papel é determinante para o adequado acoplamento excitação-contração e para o controle da fadiga.
A dor muscular relacionada ao exercício, especialmente a dor tardia pós-esforço, pode surgir quando há redução dos níveis intracelulares de magnésio, o que favorece maior acúmulo de lactato, aumento da excitabilidade neuromuscular e menor eficiência nos mecanismos de recuperação. Nessa perspectiva, o uso de magnésio para dor muscular refere-se à suplementação destinada a atenuar desconforto pós-exercício, apoiar a recuperação e reduzir biomarcadores associados a dano muscular.
Mecanismos envolvidos na dor muscular associados ao magnésio
Regulação do cálcio e da contração muscular
O magnésio funciona como antagonista fisiológico do cálcio. Quando seus níveis estão reduzidos, ocorre liberação aumentada de cálcio pelo retículo sarcoplasmático, gerando tensão excessiva das fibras, microlesões e maior sensibilidade pós-esforço. Essa instabilidade facilita o desenvolvimento da dor muscular tardia.
Manutenção da bioenergia muscular
A formação do complexo Mg-ATP é indispensável para o funcionamento das enzimas glicolíticas e oxidativas. A baixa disponibilidade de magnésio reduz a eficiência energética, favorecendo acúmulo de lactato, queda de desempenho e prolongamento da dor após treino intenso.
Modulação da excitabilidade neuromuscular
O magnésio atua na estabilidade das membranas neuromusculares, reduzindo a hiperexcitabilidade. Sua deficiência leva a espasmos, fasciculações e maior hipersensibilidade muscular, aumentando a percepção dolorosa após contrações excêntricas.
Influência sobre inflamação e estresse oxidativo
Níveis adequados de magnésio limitam a geração de radicais livres e regulam a resposta inflamatória. A redução desse mineral favorece aumento de espécies reativas, intensificação do processo inflamatório local e maior duração da dor muscular tardia.
Redistribuição do magnésio durante o exercício
Durante atividades intensas, ocorre deslocamento rápido de magnésio para tecidos metabolicamente ativos. Mesmo com valores séricos normais, pode surgir depleção intracelular, condição associada a recuperação mais lenta, aumento do desconforto e menor tolerância à carga de treino.
Sinais clínicos de deficiência de magnésio relacionados a dor muscular
Aumento da dor muscular após exercícios habituais
A queda dos níveis intracelulares de magnésio favorece maior acúmulo de lactato, redução da eficiência energética e elevação da excitabilidade neuromuscular. Isso se traduz clinicamente em desconforto muscular exacerbado, mesmo após cargas de treino consideradas leves ou habituais.
Câimbras e espasmos musculares
A deficiência de magnésio compromete o equilíbrio entre magnésio e cálcio, facilitando contrações involuntárias, espasmos e episódios de câimbras, que podem ocorrer tanto em repouso quanto após esforços.
Fasciculações e hiperexcitabilidade
A menor estabilização das membranas neuromusculares aumenta a hipersensibilidade elétrica, gerando sensação de tremores finos, fasciculações ou descargas musculares espontâneas, frequentemente acompanhadas de dor residual.
Maior rigidez e lentificação da recuperação
A insuficiência de magnésio reduz a eficiência do Mg-ATP e atrasa a remoção de metabólitos associados à fadiga. Clinicamente, isso se expressa como rigidez prolongada, sensação de “musculatura pesada” e recuperação mais lenta entre treinos.
Hiperalgesia muscular pós-esforço
Indivíduos com deficiência podem apresentar sensibilidade aumentada à palpação, dor desproporcional após exercícios excêntricos e maior duração da dor tardia.
Fadiga muscular precoce
A redução da fosforilação aeróbica e da disponibilidade energética resulta em queda rápida da performance muscular, frequentemente acompanhada de dor ou desconforto difuso.
Associação com sintomas sistêmicos
Em deficiência mais acentuada, podem aparecer sinais adicionais que reforçam a suspeita clínica, como fraqueza generalizada, irritabilidade neuromuscular, parestesias e, em quadros prolongados, distúrbios eletrolíticos que amplificam a dor muscular.
Evidências clínicas do uso de magnésio na redução de dor muscular
Os estudos clínicos disponíveis mostram efeitos consistentes do magnésio na redução da dor pós-exercício, na melhora da recuperação e na atenuação de marcadores de dano muscular. Embora o número de ensaios seja limitado, os resultados convergem para benefícios significativos em diferentes modalidades esportivas.
Exercício excêntrico e desempenho de força
Em indivíduos submetidos a protocolos que induzem dor muscular tardia, a suplementação com magnésio glicinato reduziu de forma importante a intensidade da dor entre 24 e 48 horas, com melhora notável da sensação de recuperação. Além disso, houve menor interferência da dor no desempenho de força, indicando impacto positivo na recuperação neuromuscular.
Atletas de endurance
Em corredores recreacionais submetidos a corrida intensa em declive, a suplementação de 500 mg de magnésio por dia proporcionou menor desconforto tardio, melhor manutenção da glicemia e redução da resposta inflamatória pós-esforço. Esses achados apontam para efeito protetor contra o estresse metabólico gerado por esforços prolongados.
Esportes coletivos e treinos de alta carga
Atletas de modalidades como basquete, expostos a treinos repetitivos e de alta demanda, apresentaram redução de marcadores de lesão muscular, como creatina quinase e mioglobina, quando suplementados com magnésio ao longo da temporada. Esse padrão é compatível com menor dor muscular, melhor tolerância ao volume de treino e maior proteção estrutural das fibras.
Ciclismo de longa duração
Em competições de múltiplas etapas, ciclistas suplementados mantiveram níveis celulares mais estáveis de magnésio e apresentaram menor aumento de biomarcadores de dano muscular, além de menor sensação de fadiga e desconforto. Tais resultados sustentam um efeito de modulação do dano induzido por esforço prolongado.
Segurança, efeitos adversos e contraindicações
Segurança geral
O magnésio apresenta excelente perfil de segurança quando administrado por via oral em doses usuais. Em indivíduos com função renal preservada, o excesso do mineral é rapidamente excretado, reduzindo o risco de acúmulo. A absorção ocorre de forma regulada no intestino, o que limita elevações abruptas.
Efeitos adversos mais comuns
A maioria dos efeitos adversos tem origem gastrointestinal:
- Diarreia, especialmente com sais como óxido e cloreto;
- Náuseas ou desconforto abdominal; e
- Aumento transitório do trânsito intestinal.
Formulações como glicinato e citrato tendem a ser melhor toleradas, com menor impacto digestivo. Em doses altas, podem ocorrer hipotensão leve, sensação de fraqueza ou sonolência, porém esses efeitos são raros com uso oral.
Risco de hipermagnesemia
A hipermagnesemia é incomum e, quando ocorre, está geralmente associada a deterioração da função renal ou ao uso de magnésio por via parenteral. Em níveis elevados, o paciente pode apresentar:
- Bradicardia, hipotensão;
- Redução dos reflexos osteotendinosos;
- Sensação de fraqueza muscular; e
- Alterações de condução cardíaca em casos graves.
Esses quadros são raros com suplementação oral adequada em indivíduos saudáveis.
Contraindicações
A suplementação deve ser evitada ou rigorosamente monitorada nas seguintes situações:
- Insuficiência renal moderada ou grave, devido ao risco de acúmulo do mineral;
- Bloqueios cardíacos avançados;
- Uso concomitante de bloqueadores neuromusculares, que podem potencializar efeitos de relaxamento; e
- Quadros de hipermagnesemia prévia.
Cautela adicional é indicada em pacientes que utilizam medicamentos que modulam a excreção renal ou a absorção intestinal de magnésio.
Interações medicamentosas relevantes
Alguns fármacos podem interferir na absorção, eliminação ou ação do magnésio:
- Diuréticos de alça e tiazídicos aumentam a perda renal;
- Inibidores da bomba de prótons reduzem absorção intestinal;
- Aminoglicosídeos, quimioterápicos e imunossupressores podem intensificar magnesúria; e
- Magnésio pode reduzir absorção de antibióticos como tetraciclinas e quinolonas se tomados simultaneamente.
Perspectivas futuras e lacunas na literatura
Padronização das formulações e esquemas de suplementação
Os estudos disponíveis utilizam diferentes sais de magnésio, como glicinato, citrato, lactato e óxido, com doses que variam de forma ampla e sem consenso sobre o tempo ideal de uso ou o melhor momento de administração em relação ao exercício.
Essa variabilidade dificulta a definição de um protocolo clínico padronizado, tanto para prevenção quanto para manejo da dor muscular, reforçando a necessidade de ensaios que comparem diretamente as formulações e estabeleçam doses e durações mais precisas.
Limitações na avaliação do status de magnésio
Grande parte das pesquisas baseia-se apenas na magnesemia sérica, que não reflete adequadamente o conteúdo intracelular, especialmente no músculo esquelético. Essa limitação impede a identificação precisa de indivíduos com maior risco de depleção muscular.
Futuros estudos devem incorporar métodos mais sensíveis, como magnésio eritrocitário ou outros marcadores funcionais, permitindo correlacionar níveis teciduais com intensidade da dor e resposta à suplementação.
Populações ainda pouco estudadas
A maioria das evidências provém de adultos jovens fisicamente ativos, o que restringe a aplicação dos resultados a outras populações. Indivíduos como idosos, pacientes com sarcopenia, pessoas com doenças crônicas e pacientes com doenças neuromusculares permanecem sub-representados.
Investigar esses grupos é essencial para compreender se o magnésio também pode atuar na modulação da dor não relacionada apenas ao exercício.
Desfechos clínicos de longo prazo
Muito poucos estudos acompanharam indivíduos por períodos prolongados, limitando o entendimento dos efeitos do magnésio sobre dor recorrente, tolerância ao treino ao longo da temporada, capacidade funcional e qualidade de vida.
Ensaios com acompanhamento mais extenso poderiam esclarecer se a suplementação reduz episódios de dor tardia repetitiva, previne lesões musculares e melhora adaptação ao treinamento.
Necessidade de ensaios clínicos mais robustos
De maneira geral, ainda faltam ensaios randomizados com amostras maiores, controle adequado de variáveis e análise estratificada por sexo, idade e nível de atividade física. Investigações mais extensas também devem explorar a segurança do uso prolongado, particularmente em indivíduos com função renal limítrofe ou exposição a medicamentos que aumentam a perda de magnésio.
A realização de estudos mais robustos permitirá definir com maior precisão quem se beneficia, em qual dose e por quanto tempo.
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Referências Bibliográficas
- TARSITANO, Maria Grazia et al. Effects of magnesium supplementation on muscle soreness in different type of physical activities: a systematic review. Journal of Translational Medicine, 2024.
- LIGUORI, Sara et al. Role of Magnesium in Skeletal Muscle Health and Neuromuscular Diseases: A Scoping Review. International Journal of Molecular Sciences, 2024.
- TOUYZ, Rhian M.; DE BAAIJ, Jeroen H.F.; HOENDEROP, Joost G.J. Magnesium Disorders. The New England Journal of Medicine, 2024.



