Olá, querido doutor e doutora! Os acidentes com materiais perfurocortantes são um dos principais riscos ocupacionais em ambientes de saúde, podendo resultar na transmissão de agentes infecciosos como HIV, hepatite B e C. A adoção de medidas preventivas, como o uso adequado de EPIs e descarte seguro de materiais, é essencial para reduzir a incidência desses eventos. Quando ocorre a exposição, a resposta rápida, incluindo higienização do local e profilaxia pós-exposição, pode minimizar os riscos. Além disso, o acompanhamento sorológico e a notificação adequada contribuem para a segurança do profissional.
A eficácia da profilaxia pós-exposição é maior quando iniciada rapidamente, sendo ideal que o tratamento seja iniciado em até 2 horas após o acidente.
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Os Acidente por Materiais Perfurocortantes
Os acidentes com materiais perfurocortantes representam um risco ocupacional significativo para profissionais de saúde e outras categorias que manipulam materiais biológicos. Esses eventos ocorrem quando há contato com instrumentos que perfuram ou cortam a pele, como agulhas, bisturis e lâminas, possibilitando a exposição a agentes infecciosos presentes no sangue ou outros fluidos corporais.
Os principais patógenos envolvidos nesses acidentes incluem o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o vírus da hepatite B (HBV) e o vírus da hepatite C (HCV), sendo que a transmissão depende de fatores como o tipo de exposição, o volume de material biológico envolvido e a condição clínica do paciente-fonte.
Classificação das Exposições
Exposição Percutânea (Perfurocortante)
A exposição percutânea acontece quando um objeto cortante ou perfurante penetra na pele, podendo introduzir agentes infecciosos na corrente sanguínea. Esse tipo de acidente é um dos mais comuns em ambientes hospitalares e pode ocorrer por picadas de agulhas, cortes com bisturis, lâminas ou vidro quebrado. Além disso, mordidas humanas que rompem a pele e envolvem contato com sangue também são classificadas nessa categoria.
Exposição em Mucosas
Esse tipo de exposição ocorre quando sangue ou fluidos corporais entram em contato com mucosas, como olhos, boca, nariz ou região genital. Pode acontecer por respingos acidentais durante procedimentos médicos ou pelo contato indireto ao levar mãos contaminadas a essas regiões.
Exposição Cutânea
A exposição cutânea pode ser subdividida em dois tipos:
- Pele não íntegra: quando o material biológico entra em contato com áreas da pele que apresentam lesões, como feridas abertas, queimaduras ou dermatites, há um risco aumentado de absorção de patógenos. O potencial de transmissão é maior do que na pele íntegra, mas menor do que nas exposições percutâneas ou mucosas.
- Pele íntegra: o contato de sangue ou outros fluidos contaminados sobre pele sem lesões visíveis apresenta um risco extremamente baixo de transmissão. De forma geral, não há casos documentados de infecção pelo HIV ou hepatites virais por esse tipo de exposição, a menos que o contato envolva grandes volumes de material biológico e por tempo prolongado.
Agentes Biológicos de Risco
Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
O HIV é um dos principais agentes de preocupação em exposições ocupacionais, pois não possui cura e exige acompanhamento contínuo. A transmissão ocorre quando o vírus presente no sangue ou fluidos biológicos entra na corrente sanguínea do profissional exposto.
O risco de infecção pelo HIV varia conforme o tipo de exposição. Em acidentes percutâneos com material contaminado, a taxa de transmissão é de aproximadamente 0,3%. Já em exposições de mucosa, o risco é menor, estimado em 0,09%. O uso imediato da profilaxia pós-exposição (PEP) pode reduzir significativamente a probabilidade de infecção se iniciada nas primeiras 72 horas após o acidente.
Vírus da Hepatite B (HBV)
O HBV é um dos agentes com maior risco de transmissão em acidentes ocupacionais, principalmente quando o profissional exposto não está vacinado. O vírus pode estar presente em altas concentrações no sangue e em outros fluidos corporais, como sêmen e secreção vaginal.
A taxa de transmissão do HBV após uma exposição percutânea pode variar entre 6% e 30%, dependendo da presença do antígeno HBeAg, que indica alta replicação viral. A imunização prévia com a vacina contra hepatite B reduz significativamente o risco de infecção. Nos casos de profissionais não vacinados, pode ser necessário o uso de imunoglobulina específica contra hepatite B (IGHAHB) associada à vacinação.
Vírus da Hepatite C (HCV)
O HCV é um patógeno de grande relevância em exposições ocupacionais devido à possibilidade de evolução para formas crônicas da doença. Diferente do HIV e do HBV, ainda não há uma vacina eficaz contra a hepatite C, tornando a prevenção essencial.
A taxa de transmissão do HCV após um acidente percutâneo é estimada em 1,8% (variando entre 0% e 7%). No entanto, ao contrário do HIV e HBV, não há um esquema de profilaxia pós-exposição estabelecido para o HCV. O acompanhamento clínico deve incluir exames sorológicos periódicos para monitoramento da possível infecção e, caso ocorra soroconversão, iniciar o tratamento com antivirais de ação direta.
Outros Agentes Infecciosos
Além do HIV, HBV e HCV, outros patógenos podem ser transmitidos por meio de acidentes com materiais perfurocortantes, embora sejam menos frequentes. Entre eles, destacam-se:
- Treponema pallidum (sífilis) – pode ser transmitido por contato direto com lesões infecciosas.
- Citomegalovírus (CMV) – pode ser transmitido pelo sangue, principalmente em indivíduos imunossuprimidos.
- Bacilos e micobactérias (como Mycobacterium tuberculosis) – há risco em acidentes envolvendo fluidos contaminados, especialmente em laboratórios.
- Fungos e parasitas – em algumas situações específicas, pode haver transmissão por contato com materiais biológicos contaminados.
Medidas Imediatas Após o Acidente
O primeiro passo após a exposição acidental a material biológico é realizar a higienização adequada da área afetada, seguindo os seguintes procedimentos:
- Exposição percutânea (perfurocortante): lavar imediatamente o local do ferimento com água corrente e sabão neutro. Não se deve espremer, cortar ou realizar fricção excessiva, pois isso pode aumentar a absorção de agentes infecciosos.
- Exposição em mucosas (olhos, boca ou nariz): irrigar abundantemente com soro fisiológico ou água corrente. No caso de contato com a mucosa oral, enxaguar com água, evitando engolir.
- Exposição cutânea: caso o material biológico entre em contato com pele não íntegra, realizar a lavagem com água e sabão, evitando o uso de antissépticos irritantes como álcool, éter ou hipoclorito de sódio.
Avaliação do Acidente e Notificação
Após os cuidados locais, é necessário classificar a exposição e determinar o risco de transmissão de infecções. A avaliação deve considerar os seguintes fatores:
- Tipo de exposição: percutânea, mucosa ou cutânea.
- Material biológico envolvido: sangue, líquido cefalorraquidiano, secreções genitais ou outros fluidos de risco.
- Paciente-fonte: sempre que possível, realizar testagem para HIV, hepatites B e C, desde que haja consentimento.
- Estado imunológico do profissional exposto: verificar se há esquema vacinal completo para hepatite B e se há necessidade de imunoglobulina específica (IGHAHB).
Profilaxia Pós-Exposição (PEP)
Critérios para Indicação da PEP
Nem toda exposição ocupacional exige profilaxia. A necessidade do tratamento depende da combinação de alguns fatores:
- Tipo de exposição: maior risco para exposições percutâneas e mucosas; pele íntegra geralmente não requer PEP.
- Material biológico envolvido: sangue, sêmen, secreções vaginais, líquido cefalorraquidiano e outros fluidos potencialmente infectantes.
- Status sorológico do paciente-fonte: se o paciente-fonte for conhecido e tiver teste negativo para HIV, HBV e HCV, a PEP não é necessária.
A avaliação deve ser realizada o mais rápido possível, e a PEP deve ser iniciada preferencialmente nas primeiras 2 horas, sendo eficaz se administrada até 72 horas após o acidente.
PEP para HIV
Se a exposição envolver um risco significativo de transmissão do HIV, a profilaxia deve ser iniciada imediatamente. O esquema atual recomendado pelo Ministério da Saúde inclui: Terapia antirretroviral (TARV) por 28 dias, composta por três drogas: Tenofovir + Lamivudina (TDF/3TC) Dolutegravir (DTG).
Monitoramento após exposição ao HIV
- Teste rápido ou sorologia para HIV no momento do acidente.
- Repetição dos testes após 30 e 90 dias.
- Caso ocorra soroconversão, encaminhamento imediato para tratamento especializado.
PEP para Hepatite B (HBV)
A conduta pós-exposição ao HBV depende do status vacinal do profissional acidentado e da sorologia do paciente-fonte:
Status Vacinal do Profissional | Paciente-Fonte HBsAg Positivo | Paciente-Fonte Desconhecido |
Vacinado e com Anti-HBs ≥10 UI/L | Nenhuma intervenção necessária | Nenhuma intervenção necessária |
Vacinado e Anti-HBs <10 UI/L | Aplicar 1 dose de reforço da vacina e monitorar sorologia | Aplicar 1 dose de reforço da vacina |
Não vacinado | Aplicar vacina + imunoglobulina anti-HBV (IGHAHB) | Iniciar esquema vacinal |
Monitoramento após exposição ao HBV
- Teste de HBsAg e Anti-HBs no momento do acidente.
- Novo exame após 30 e 180 dias para avaliar resposta imunológica.
PEP para Hepatite C (HCV)
Atualmente, não há profilaxia medicamentosa eficaz para exposição ocupacional ao HCV. No entanto, o acompanhamento clínico precoce é fundamental para detectar infecção e iniciar tratamento específico com antivirais de ação direta, caso ocorra soroconversão.
Monitoramento após exposição ao HCV
- Teste de Anti-HCV e HCV-RNA no momento do acidente.
- Repetição do HCV-RNA após 30, 90 e 180 dias.
- Caso a infecção seja confirmada, encaminhamento imediato para tratamento.
Medidas Preventivas e Biossegurança
Uso Adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
O uso correto de EPIs é fundamental para minimizar o risco de contato direto com material biológico contaminado. Os principais EPIs indicados incluem:
- Luvas descartáveis: reduzem a exposição das mãos a fluidos biológicos e objetos perfurocortantes.
- Óculos de proteção e máscara facial: evitam respingos em mucosas dos olhos, nariz e boca durante procedimentos.
- Aventais impermeáveis: protegem a pele e a roupa do profissional contra contaminação.
Manejo Seguro de Materiais Perfurocortantes
A manipulação adequada de agulhas, lâminas e outros objetos cortantes reduz significativamente a ocorrência de acidentes. As principais recomendações incluem:
- Não reencapar agulhas após o uso, pois esse é um dos principais fatores de acidentes percutâneos;
- Descartar imediatamente materiais perfurocortantes em recipientes rígidos e específicos (descarpack);
- Evitar manipular materiais contaminados desnecessariamente e sempre transportá-los com segurança; e
- Utilizar dispositivos de segurança sempre que disponíveis, como agulhas retráteis ou bisturis com proteção automática.
Monitoramento e Notificação de Acidentes
A notificação adequada de acidentes ocupacionais permite identificar falhas nos protocolos de segurança e implementar melhorias. As medidas incluem:
- Registro imediato do acidente no prontuário do profissional e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN);
- Preenchimento da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para garantir os direitos do trabalhador; e
- Investigação do evento para identificar causas e prevenir recorrências.
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Referências Bibliográficas
- BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pós-exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de exposição a materiais biológicos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006.
- EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES. Acidentes de trabalho com material biológico. Brasília, DF: EBSERH, 2019.
- PREFEITURA DE SÃO PAULO. Fluxograma de Acidente de Trabalho com Exposição a Material Biológico (AT Bio). São Paulo, 2023. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br. Acesso em: 24 jan. 2025.