Resumo de Aspiração e Injeção da Articulação do Joelho
Pexels.

Resumo de Aspiração e Injeção da Articulação do Joelho

Olá, querido doutor e doutora! A aspiração e injeção da articulação do joelho são procedimentos amplamente utilizados na prática clínica para fins diagnósticos e terapêuticos. Quando bem indicados e executados com técnica adequada, permitem alívio sintomático, obtenção de líquido sinovial para análise e administração local de fármacos.

As complicações infecciosas após a aspiração e injeção do joelho são raras, porém exigem alto grau de suspeição clínica devido ao potencial de morbidade associado.

O que é a aspiração e injeção da articulação do joelho 

A aspiração e injeção da articulação do joelho correspondem a procedimentos invasivos realizados no espaço intra-articular com finalidades diagnósticas e terapêuticas. A aspiração articular consiste na remoção do líquido sinovial por meio de punção, permitindo alívio da pressão intra-articular e obtenção de amostra para análise laboratorial.

A injeção intra-articular envolve a administração direta de fármacos no interior da articulação, visando reduzir dor e inflamação, além de possibilitar intervenção local com menor exposição sistêmica. Ambos os procedimentos podem ser realizados de forma isolada ou sequencial, conforme a indicação clínica e a condição do joelho avaliado.

Indicações clínicas  

A aspiração e injeção da articulação do joelho são indicadas em diferentes cenários clínicos, tanto para esclarecimento diagnóstico quanto para manejo sintomático:

  • Investigação de derrame articular ou monoartrite de causa indeterminada, permitindo análise do líquido sinovial para contagem celular, pesquisa de cristais, coloração de Gram e cultura.
  • Alívio sintomático em derrames volumosos, com redução da distensão capsular e melhora temporária da dor e da limitação funcional.
  • Suspeita de artrite séptica, na qual a aspiração é indicada para exclusão ou confirmação de infecção antes de qualquer intervenção terapêutica intra-articular.
  • Diagnóstico e tratamento de artropatias cristalinas, como gota e condrocalcinose, com identificação de cristais no líquido sinovial e controle da inflamação local.
  • Osteoartrite do joelho, para manejo da dor e inflamação por meio de injeção intra-articular de glicocorticoides ou agentes viscosos, quando indicado.
  • Processos inflamatórios articulares de origem reumatológica, nos quais a intervenção local pode contribuir para controle de sintomas e recuperação funcional.

Contraindicações e precauções 

Contraindicações

  • Infecção cutânea ou celulite sobrejacente ao local da punção.
  • Bacteriemia ou artrite séptica confirmada, ou suspeita, especialmente para injeção intra-articular.
  • Prótese articular no joelho a ser abordado.
  • Diátese hemorrágica ou coagulopatia não controlada.
  • Hemartrose ativa sem esclarecimento etiológico.
  • Paciente não cooperativo ou impossibilidade de manter condições adequadas de assepsia.

Precauções

  • Diabetes mellitus mal controlado, devido à possibilidade de elevação transitória da glicemia após injeção de glicocorticoides.
  • Uso de anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários, exigindo avaliação individual do risco hemorrágico e técnica cuidadosa.
  • Planejamento de artroplastia do joelho a curto prazo, situação na qual a injeção intra-articular deve ser evitada.
  • Limitação do número de injeções com glicocorticoides, geralmente restritas a três a quatro aplicações por ano na mesma articulação.
  • Necessidade de exclusão de fratura osteocondral ou outras lesões estruturais antes da injeção terapêutica.

Anatomia funcional da articulação do joelho

Configuração geral

A articulação do joelho é uma articulação sinovial de grande porte, responsável pela sustentação do peso corporal e pela mobilidade do membro inferior. Permite movimentos de flexão e extensão, com discreta rotação associada, exigindo integração entre mobilidade articular e estabilidade estrutural.

Componentes ósseos

É formada pela extremidade distal do fêmur, pela extremidade proximal da tíbia e pela patela, que atua como osso sesamoide e contribui para a eficiência do mecanismo extensor do joelho.

Compartimentos articulares

O joelho é dividido em três compartimentos: femorotibial medial, femorotibial lateral e femoropatelar. O compartimento medial é o mais frequentemente envolvido em processos degenerativos e inflamatórios.

Cápsula articular e membrana sinovial

A cápsula articular envolve toda a articulação e se prolonga formando superiormente o recesso suprapatelar, que se comunica diretamente com o espaço articular. A membrana sinovial reveste a cápsula internamente e é responsável pela produção do líquido sinovial, favorecendo lubrificação, redução do atrito e nutrição da cartilagem articular.

Relevância anatômica para a punção

O reconhecimento do recesso suprapatelar e das regiões medial e súpero-lateral à patela orienta a escolha do local de acesso intra-articular, contribuindo para maior precisão técnica e menor risco de lesão de estruturas adjacentes.

Guia ilustrado de procedimentos médicos.

Passo a passo do procedimento

1. Checagem clínica e planejamento

Confirme indicação e revise contraindicações, com atenção para suspeita de artrite séptica, celulite sobre o local e bacteriemia. Quando houver possibilidade de infecção, programe aspiração antes de qualquer injeção e já deixe definidos os exames do líquido sinovial conforme o caso, como contagem celular, Gram e cultura e pesquisa de cristais.

2. Orientação e consentimento

Explique objetivo do procedimento, desconforto esperado, riscos mais comuns e cuidados após. Organize analgesia conforme necessidade e experiência do operador.

3. Materiais e montagem do campo

Separe previamente:

  • Antisséptico para preparo da pele;
  • Seringa grande para aspiração, em geral 20 a 60 mL;
  • Seringa menor para injeção, em geral 3 a 10 mL;
  • Agulhas 21 a 22G;
  • Lidocaína 1% se for usar anestesia local e, se indicado, para mistura com medicação intra-articular;
  • Medicação intra-articular conforme objetivo terapêutico;
  • Tubos e frascos para laboratório e cultura, se necessário;
  • Gaze e curativo.

Se você pretende aspirar e depois injetar sem uma segunda punção, deixe disponível uma pinça hemostática para estabilizar a agulha durante a troca de seringas.

4. Posição do paciente

Opções práticas:

  • Supino com o joelho em leve flexão para abordagens medial ou súpero lateral;
  • Sentado com joelho a 90 graus para abordagem anterior, menos usada por risco de contato com superfícies articulares em determinadas situações.

5. Antissepsia e manutenção de técnica asséptica

Faça preparo amplo da pele, respeite tempo de secagem do antisséptico e evite tocar novamente na área preparada. Mantenha técnica sem toque durante a punção e manipulação das conexões.

6. Anestesia local

Quando necessária, infiltre pequena quantidade subcutânea de lidocaína 1% no ponto de entrada e em direção ao trajeto planejado. Evite volumes grandes que possam distorcer os marcos anatômicos palpáveis.

7. Escolha da via de acesso

As mais utilizadas:

  • Abordagem medial em supino;
  • Abordagem súpero lateral

A escolha pode considerar volume do derrame, conforto do operador e facilidade de acesso ao recesso suprapatelar.

8. Técnica de punção

Após identificar o ponto de entrada:

  • Introduza a agulha de forma firme e controlada;
  • Direcione para o espaço articular, ajustando suavemente a angulação se houver contato com estrutura rígida;
  • Evite movimentação lateral da agulha dentro do plano articular, pois isso aumenta dor.
Guia ilustrado de procedimentos médicos.

9. Aspiração do líquido sinovial

Acople a seringa de aspiração e retire o volume desejado. Em derrames pequenos, compressão suave ao redor da patela pode ajudar a direcionar o líquido para a agulha. Se o objetivo incluir análise, distribua o material nos recipientes adequados logo após a coleta.

10. Troca de seringa para injeção

Se você for aspirar e depois injetar mantendo a mesma punção:

  • Estabilize a agulha com pinça hemostática ou com apoio firme da mão;
  • Desenrosque a seringa de aspiração mantendo as conexões estéreis;
  • Conecte a seringa com a medicação sem permitir contato com superfícies não estéreis.

Mantenha a agulha imóvel durante toda a troca.

11. Injeção intra-articular

Antes de injetar, avalie o “feedback” do êmbolo:

  • A injeção deve ocorrer sem resistência significativa;
  • Resistência sugere posicionamento fora do espaço articular, sendo preferível recuar milímetros e reajustar o trajeto;


Realize a injeção e remova agulha e seringa em conjunto.

12. Curativo e finalização imediata

Comprima com gaze se houver sangramento cutâneo e aplique curativo. Oriente o paciente que, se foi utilizado anestésico local, pode haver alívio em minutos, enquanto o efeito do fármaco intra-articular pode iniciar após algum tempo, dependendo do agente utilizado.

13. Orientações pós-procedimento

  • Evitar atividade vigorosa do joelho por cerca de 24 horas e reduzir sobrecarga por 1 a 2 dias;
  • Alertar sinais de complicação infecciosa, como febre, aumento progressivo de dor, calor e vermelhidão local;
  • Se ocorrer piora importante da dor nas primeiras 12 a 72 horas após corticosteroide, considerar exacerbação pós-injeção e manejo sintomático, com gelo e analgésicos conforme tolerância;
  • Em pacientes com diabetes, orientar vigilância de glicemia nos dias seguintes, devido à possibilidade de elevação transitória após corticosteroide;
  • Para corticosteroides, manter limite de repetição em torno de 3 a 4 aplicações por ano na mesma articulação, com reavaliação clínica entre aplicações.

Complicações e eventos adversos

Complicações locais

As complicações locais são as mais frequentemente observadas após a aspiração e injeção da articulação do joelho. Podem incluir dor no local da punção, discreto sangramento cutâneo, equimose e sensibilidade local transitória. A exacerbação pós-injeção caracteriza-se por piora da dor e do edema articular horas ou dias após a aplicação de glicocorticoide, geralmente autolimitada, com resolução em poucos dias.

Também podem ocorrer atrofia cutânea e alterações de pigmentação, especialmente quando há refluxo do fármaco para tecidos subcutâneos. Em situações menos frequentes, há risco de hemartrose, sobretudo em pacientes com distúrbios da coagulação ou em uso de anticoagulantes.

Complicações infecciosas

A infecção articular é incomum, porém potencialmente grave. A artrite séptica pode surgir após o procedimento, exigindo diagnóstico e tratamento precoces. O risco está associado a falhas na técnica asséptica ou à realização de injeção em articulações previamente infectadas.

Complicações relacionadas aos glicocorticoides

O uso intra-articular de glicocorticoides pode estar associado a elevação transitória da glicemia, especialmente em pacientes com diabetes mellitus. Outros efeitos possíveis incluem rubor facial, cefaleia e, raramente, efeitos sistêmicos relacionados à absorção do fármaco. A repetição frequente das injeções pode contribuir para dano condral e aceleração de alterações degenerativas.

Outros eventos adversos

Podem ocorrer reações vasovagais durante ou após o procedimento, manifestadas por tontura, náusea ou síncope. Em casos raros, a punção inadequada pode resultar em lesão de estruturas adjacentes, como tendões ou superfícies articulares, reforçando a necessidade de técnica adequada e conhecimento anatômico.

Venha fazer parte da maior plataforma de Medicina do Brasil! O Estratégia MED possui os materiais mais atualizados e cursos ministrados por especialistas na área. Não perca a oportunidade de elevar seus estudos, inscreva-se agora e comece a construir um caminho de excelência na medicina! 

Veja também

Canal do YouTube 

Referências bibliográficas 

  1. MAYEAUX JR., E. J. Aspiração e injeção da articulação do joelho. In: Guia ilustrado de procedimentos médicos. 1. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2010. cap. 106.
  1. DYNAMED. Complications of joint aspiration and injection in adults. Ipswich: EBSCO Information Services, 2025. Atualizado em 10 jul. 2024. 

Você pode gostar também