O corpo humano só pode funcionar dentro de uma faixa bem definida de pH, se há alguma patologia que cause um distúrbio ácido-base é necessário o manejo certeiro do paciente. Por isso, futuro residente, atenção no tema para não deixar passar nada deste assunto essencial para a prática médica e para a prova.
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O que é um ácido? E uma base?
- Ácido é uma substância que pode doar um íon de H+, ou também chamado de próton, no corpo humano. Um exemplo capital é o ácido clorídrico (HCl) que se decompõe e libera H+; e
- Base é uma substância capaz de receber pelo menos um próton. No corpo humano o principal exemplo é o bicarbonato de sódio que reage com o H+ e forma o ácido carbônico (H2CO3).
Desmistificando o pH
O pH por vezes assusta, principalmente quando lembramos que ele provém de uma conta logarítmica.Mas, muita calma nessa hora, para efeitos práticos precisamos lembrar que ele deve ficar na faixa entre 7,35 e 7,45. No caso de distúrbios usamos a classificação a seguir:
Acidemia | “Muito H+” pH < 7,35 |
Alcalemia | “Pouco H+” pH > 7,45 |
Acidose | Metabólico (queda de bicarbonato) ou respiratório (aumento de PCO2), reduzindo o pH. |
Alcalose | Metabólico (aumento de bicarbonato) ou respiratório (queda de PCO2), aumentando o pH. |
Fisiologicamente,são 3 mecanismos que mantém o pH dentro da faixa compatível com a vida, são eles:
- Pulmões: retiram CO2 do corpo, deslocando o equilíbrio da equação (CO2 + H2O H2CO3 HCO3– + H+) no sentido da remoção de H+ do organismo. Portanto, quanto maior a frequência respiratória, maior a retirada de CO2 e consequentemente menos H+ (diminui o pH), o inverso também ocorre;
- Rins: o corpo gera como produto metabólico ácidos que são eliminados pelo rins, ou seja, em problemas renais pode haver uma alteração do pH; e
- Sistemas tampão: são variados, mas os principais são:
- Extracelular, sendo representado pelo bicarbonato de sódio;
- Intracelular – hemoglobina e fosfato -, aqui vale o lembrete da relação íntima do pH com os níveis séricos de potássio, acidoses normalmente cursam com hipercalemia. As alcaloses, por sua vez, podem levar e ser perpetuadas por uma hipocalemia.
- Ósseo é mais evidente em acidoses metabólicas de longa duração. Cursa com calciúria e nefrolitíase.
Equação de Henderson Hasselbach
É a equação matemática que define o pH do organismo, a equação é essa:
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Antes que se assuste, é importante deixar claro que o importante não é a conta em si nem o valor numérico da equação, mas a noção de como varia o pH em função da concentração de bicarbonato e CO2 no corpo.
- Para o pH subir (alcalemia), temos que ter uma alcalose, isto é, aumento no HCO3 ou uma queda na pCO2; e
- Para o pH cair (acidemia), temos que ter uma acidose, isto é, queda no HCO3 ou um aumento na pCO2.
Acidose metabólica
É o distúrbio mais cobrado em prova e também muito prevalente na prática médica, vamos juntos para não perder nada.
Definição: redução dos níveis séricos de bicarbonato, tendo como valor de corte 22 mEq/L, causado por ganho de ácidos ou perda de bases.
Para classificar a acidose usamos o critério do ânion gap, a diferença entre a concentração dos cátions e dos ânions, no caso para o cálculo utilizamos a concentração de sódio, que tem carga positiva, menos a concentração dos ânions que são cloreto e bicarbonato.
(Ânion gap = Na – (cloreto +bicarbonato) normal entre 8 e 12 mEq/L).
Para manter a homeostase o corpo humano precisa estar eletricamente neutro, portanto a redução do bicarbonato pode ser causada por aumento dos níveis de cloreto, ou diminuição do ânion gap assim como podemos ver no gráfico abaixo:
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Cada tipo de distúrbio apresenta uma causa provável e uma terapêutica. Agora grave o seguinte mantra para nunca mais esquecer:
- Acidoses metabólicas com ânion gap aumentado são gerados por acúmulo de ácido.
- Acidoses metabólicas com ânion gap normal são causadas por perda de bases.
Causas de acidose com ânion gap aumentado:
- Acidose lática: aumento do lactato, formado pela dissociação do ácido lático relacionado com a má perfusão tecidual. Como o oxigênio não está suficiente, o corpo começa a realizar o metabolismo anaeróbio gerando lactato, comum em pacientes chocados, independentemente da causa do choque;
- Cetoacidoses: ocorre por acúmulo de cetoácidos, quando há baixa utilização de glicose como fonte de energia. A principal patologia é a cetoacidose diabética. Mas também ocorre em jejum prolongado e em pacientes etilistas crônicos;
- Insuficiência renal: tanto de maneira aguda quanto crônica, o rim ao parar de funcionar faz com que o corpo retenha ácidos fixos. Os principais acúmulos são de fosfato e sulfato; e
- Intoxicações exógenas: podem ocorrer por álcoois tóxicos, como o metanol (lembre-se: altera a visão), etilenoglicol e salicilatos. Para reverter tais quadros é imprescindível hemodiálise e carvão ativado.
Já para as causas de ânion gap normal temos:
- Perdas intestinais: no trato gastrointestinal baixo são produzidas substâncias ricas em bicarbonatos, quando há uma perda grande por quadros como diarreia é cursado com acidose de ânion gap normal;
- Perdas renais: são as acidoses tubulares renais, que podem ser proximal (tipo II) marcada por bicarbonatúria, distal (tipo I) caracterizada por pH urinário alcalino ou tipo IV que cursa com hipercalemia.
Como é a clínica de um paciente em estado de acidose metabólica?
- Choque cardiogênico pode aparecer por interferência em receptores adrenérgicos; e
- Respiração de Kussmaul que é um padrão de inspirações e expirações mais longas, com a intenção de eliminar mais CO2 e manter o ph na faixa fisiológica, lembrando que em ambientes ácidos há uma queda importante da afinidade da hemoglobina por oxigênio.
O tratamento da acidose metabólica passa por tratar a doença causadora do distúrbio, repor bicarbonato não é a primeira linha de ação, apenas em paciente com pH < 7,2 há alguma evidência de melhora no desfecho.
Alcalose metabólica
Ocorre por ganho de bases ou perda de H +, em suma esse distúrbio ocorre por alguma interferência na eliminação renal de bicarbonato. Normalmente, algum estímulo inicial gera o acúmulo de bicarbonato e posteriormente ocorre algum estímulo que impede a eliminação do bicarbonato. São classificadas em hipovolêmicas e hipervolêmicas. As hipovolêmicas são:
- Diuréticos de alça e tiazídicos: que pela ação em canais relacionados ao sódio cursa com maior reabsorção deste íon, gerando assim uma eliminação maior de H+, causando alcalose;
- Síndrome de Bartter e Gitelman: síndromes genéticas que mimetizam o uso de diuréticos de alça e tiazídicos respectivamente; e
- Vômitos ou drenagem gástrica: causa extrarrenal que ocorre pela intensa eliminação de HCl, também cursando com perda urinária de potássio.
As causas hipervolêmicas são:
- Hiperaldosteronismo: quando primário, é marcado pela tríade hipertensão arterial, hipocalemia e alcalose metabólica;
- Síndrome de cushing: causada por excesso de corticosteroides tem efeitos semelhantes ao hiperaldosteronismo;
- Infusão de bicarbonato: pode ocorrer em contextos de pronto-socorro; e
- Hemotransfusão: as bolsas de sangue contém metabólitos que se convertem em bicarbonato, causando o distúrbio.
De maneira semelhante o tratamento é feito com a correção da doença de base.
Acidose respiratória
Tem como padrão o aumento da pCO2, de acordo com o tempo de evolução pode ser aguda ou crônica. As principais causas agudas são:
- Alterações neuromusculares: Miastenia gravis e Guillain-Barré são clássicas;
- Obstrução de vias aéreas: corpo estranho ou edema;
- Tórax acometido: pneumotórax e tórax instável; e
- Ventilação mecânica inadequada.
Já as crônicas são:
- Anormalidades neuromusculares: paralisia diafragmática, Síndrome de Pickwick; e
- Desordem toracopulmonares: DPOC como principal causa.
O quadro clínico é principalmente neurológico (o pH do liquor se altera mais facilmente), cursando com confusão mental, tremores, flapping e até coma.
O tratamento é feito com a correção da doença de base que normalmente são broncodilatadores, ventilação mecânica não invasiva e invasiva.
Alcalose respiratória
Queda na concentração de CO2, aparece na gasometria com uma diminuição de pCO2. O mecanismo envolvido é a hipóxia que causa um estímulo direto ao centro respiratório, fazendo assim com que aumente a ventilação e causando a alcalose.
Os mecanismos para o distúrbio são:
- Hipóxia: causada por pneumonia, TEP, insuficiência cardíaca, edema pulmonar; e
- Estímulo ao centro respiratório: ansiedade, intoxicação por salicilato.
O quadro clínico normalmente cursa com alteração do nível de consciência, parestesias periorais, porém há de se tomar cuidado para não confundir com uma hipocalemia aguda.
O tratamento, assim como em outros distúrbios, é tratar a doença de base.
É isso, futuro residente, esse extenso assunto é de suma importância para a sua prova e também para a sua vida profissional, por isso leia e releia com calma. Com o Estratégia MED você não perde nada e dá mais um passo em direção a sua vaga!