Olá, querido doutor e doutora! A conjuntivite neonatal representa uma condição oftalmológica que acomete recém-nascidos nas primeiras semanas de vida, podendo ter origem infecciosa ou química. A seguir, é apresentado um caso clínico ilustrativo, abordando os principais aspectos dessa condição.
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Informações do paciente
- Nome: E.G.A.
- Idade: 7 dias
- Motivo de consulta: Secreção purulenta nos olhos e inchaço palpebral há dois dias.
Histórico da moléstia atual
O quadro iniciou-se no quinto dia de vida com presença de secreção amarelada em ambos os olhos, colando as pálpebras ao acordar. Os pais notaram também edema palpebral progressivo e hiperemia conjuntival. O bebê apresentou temperatura axilar de 37,8 °C no segundo dia de sintomas, além de irritabilidade leve. A secreção tornou-se mais espessa com o passar dos dias, e não houve melhora significativa com a irrigação feita com soro fisiológico. Os pais negam trauma ocular, mas relatam que a mãe teve corrimento vaginal no final da gestação, sem investigação ou tratamento. O bebê recebeu aplicação de nitrato de prata 1% logo após o nascimento.
História patológica pregressa
O recém-nascido não possui histórico de doenças de base, não faz uso de medicamentos contínuos, e não apresentou reações alérgicas conhecidas até o momento. Não há histórico de hospitalizações ou cirurgias anteriores. A mãe não realizou triagem completa de infecções durante o pré-natal, o que levanta suspeita de infecção materna não diagnosticada. O parto foi vaginal, sem intercorrências documentadas.
Histórico familiar
Não há registros de patologias oculares, autoimunes ou imunodeficiências na família. Nenhum dos pais apresenta comorbidades importantes relacionadas ao quadro apresentado pelo bebê.
Histórico social
O bebê vive com os pais em uma residência simples e arejada. A mãe está em licença-maternidade e realiza aleitamento materno exclusivo. O ambiente familiar é tranquilo, sem exposição à fumaça de cigarro. O sono do recém-nascido tem sido interrompido devido ao desconforto ocular. A rotina alimentar e os cuidados básicos estão sendo mantidos adequadamente.
Exame físico
O bebê apresenta-se em estado geral bom, normocorado e hidratado. Os sinais vitais mostraram temperatura axilar de 37,6 °C, frequência cardíaca de 132 bpm e frequência respiratória de 44 irpm. O peso atual é de 3.250 g. Ao exame oftalmológico, observou-se edema palpebral bilateral, hiperemia conjuntival e secreção purulenta intensa. Não há lesões corneanas visíveis à inspeção direta. As mucosas estão rosadas e úmidas. Os demais sistemas não apresentam alterações no momento.
Exames complementares
Foi realizado swab ocular com coloração de Gram, evidenciando diplococos Gram-negativos intracelulares, sugestivos de Neisseria gonorrhoeae. A coleta para PCR está em andamento. Não foram solicitados exames de imagem nesta primeira abordagem, uma vez que o quadro clínico é característico e laboratorialmente compatível com conjuntivite gonocócica.
Hipótese diagnóstica
A conjuntivite neonatal por Neisseria gonorrhoeae é altamente sugestiva neste caso, considerando a apresentação precoce (até o sétimo dia de vida), secreção purulenta abundante, edema palpebral intenso e a confirmação laboratorial inicial com Gram. Trata-se de uma condição emergencial, de evolução potencialmente grave, com risco elevado de perfuração da córnea e complicações sistêmicas, como sepse.
Perguntas
- Como diferenciar os tipos de conjuntivite neonatal?
A conjuntivite química aparece nas primeiras 24–48 horas, com quadro leve e bilateral. A por Neisseria gonorrhoeae surge entre 1 e 7 dias, é grave, com secreção purulenta intensa. A clamidiana ocorre entre 5 e 19 dias, geralmente com secreção mucopurulenta. A herpética, entre 6 e 14 dias, pode vir acompanhada de vesículas cutâneas e ceratite dendrítica.
- Por que a conjuntivite gonocócica é uma emergência médica?
A infecção por N. gonorrhoeae pode evoluir rapidamente com perfuração da córnea e cegueira irreversível. Além disso, há risco de disseminação sistêmica, com possibilidade de sepse e acometimento do sistema nervoso central.
- Qual a conduta mais adequada neste caso?
O tratamento deve ser iniciado imediatamente com ceftriaxona (25–50 mg/kg, dose única IM ou EV) e irrigação abundante dos olhos com solução fisiológica. O paciente deve ser internado para monitoramento. A mãe e parceiros sexuais devem ser tratados com azitromicina 1 g VO em dose única.
Resumo de Conjuntivite Neonatal
Definição
A conjuntivite neonatal é uma inflamação da conjuntiva ocular que acomete recém-nascidos nas primeiras quatro semanas de vida. É também chamada de oftalmia neonatal e pode resultar em complicações visuais importantes quando não tratada de forma adequada.
Causas
A conjuntivite neonatal pode ter origem infecciosa ou química.
- Infecciosas: são as mais comuns, geralmente adquiridas durante a passagem pelo canal vaginal de mães com infecções sexualmente transmissíveis. Os principais agentes são: Chlamydia trachomatis (causa mais comum) Neisseria gonorrhoeae (formas mais graves) Herpes simplex vírus (tipo 1 ou 2)
- Outras bactérias: Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Pseudomonas aeruginosa
- Químicas: geralmente secundárias ao uso profilático de colírios, como o nitrato de prata 1%, provocando reação irritativa transitória.
Sintomas
A conjuntivite neonatal apresenta um quadro clínico variável, dependendo da etiologia envolvida, mas em geral se manifesta nas primeiras quatro semanas de vida com sinais oculares marcantes. Os principais sintomas incluem hiperemia conjuntival, edema palpebral e presença de secreção ocular, que pode ser serosa, mucopurulenta ou purulenta. A secreção tende a se acumular nas pálpebras, levando à aderência dos cílios e dificuldade para abrir os olhos, especialmente ao acordar.
Nas formas químicas, o quadro costuma ser mais leve, bilateral e autolimitado, surgindo geralmente até 48 horas após o uso profilático de colírios como o nitrato de prata. Já nas infecções por Chlamydia trachomatis, os sintomas aparecem entre o 5º e o 19º dia de vida e incluem secreção mucopurulenta intensa, edema leve a moderado e, em casos mais graves, formação de pseudomembranas e envolvimento respiratório, como pneumonite.
A conjuntivite gonocócica se instala de forma mais abrupta, entre o 1º e o 7º dia de vida, com secreção purulenta abundante e edema palpebral acentuado. Essa forma pode evoluir rapidamente para ulceração da córnea, perfuração ocular e até cegueira se não houver tratamento imediato. Casos mais graves também podem evoluir com complicações sistêmicas, como sepse neonatal.
A forma herpética costuma surgir entre o 6º e o 14º dia e pode se apresentar com secreção aquosa, vesículas cutâneas, ceratite dendrítica e sinais neurológicos, como letargia e irritabilidade, quando há acometimento do sistema nervoso central. Em geral, a infecção herpética exige alto grau de suspeição clínica, pois pode ocorrer mesmo em partos cesáreos, sobretudo em mães com lesões ativas.
Diagnóstico
O diagnóstico da conjuntivite neonatal é clínico, baseado na presença de hiperemia conjuntival, edema palpebral e secreção ocular em recém-nascidos com até 28 dias de vida, sendo complementado por exames laboratoriais e oftalmológicos. A bacterioscopia com coloração de Gram, cultura em meios específicos e testes moleculares como PCR auxiliam na identificação do agente etiológico, especialmente Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e vírus herpes simples. A avaliação do histórico materno, incluindo o pré-natal e possíveis infecções genitais, também é essencial para orientar a investigação e o manejo adequado.
Tratamento
O tratamento da conjuntivite neonatal depende da causa identificada ou suspeita. Nas infecções por Neisseria gonorrhoeae, é indicada a administração imediata de ceftriaxona por via intramuscular ou endovenosa, em ambiente hospitalar, associada à lavagem ocular com soro fisiológico. Para casos por Chlamydia trachomatis, utiliza-se azitromicina oral por 3 dias ou eritromicina por 14 dias, evitando o uso isolado de colírios, pois há risco de disseminação sistêmica. Infecções herpéticas exigem terapia com aciclovir sistêmico combinado a antivirais tópicos, enquanto quadros químicos são autolimitados e tratados com colírios lubrificantes. Em todos os casos infecciosos, é fundamental tratar a mãe e seus parceiros sexuais para evitar reinfecção.
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Referências Bibliográficas
- SBOP; CBO; SBP. Nota Técnica: Oftalmia Neonatal. São Paulo: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, Conselho Brasileiro de Oftalmologia e Sociedade Brasileira de Pediatria, 2023.