Resumo de Antimicrobianos: conceito, classificação e mais!
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Resumo de Antimicrobianos: conceito, classificação e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Os antimicrobianos revolucionaram a prática médica ao possibilitar o tratamento eficaz de diversas infecções que, no passado, tinham alta taxa de mortalidade. No entanto, seu uso inadequado tem contribuído para o crescimento da resistência bacteriana, tornando-se um desafio global. A escolha correta do antibiótico, baseada em critérios clínicos e microbiológicos, é fundamental para otimizar os resultados terapêuticos e minimizar efeitos adversos. Este texto abordará os principais conceitos relacionados aos antimicrobianos, incluindo sua classificação, farmacocinética, farmacodinâmica, critérios de escolha, resistência bacteriana e estratégias para uso racional.

O aumento da resistência antimicrobiana tem tornado infecções antes tratáveis em doenças de difícil controle, exigindo abordagens mais rigorosas para a prescrição de antibióticos.

Conceito de Antimicrobianos

Os antimicrobianos são substâncias capazes de inibir o crescimento ou eliminar microrganismos patogênicos, sendo amplamente utilizados na prática clínica para o tratamento e prevenção de infecções. Eles podem atuar contra diferentes tipos de agentes infecciosos, incluindo bactérias, vírus, fungos e parasitas.

De maneira ampla, os antimicrobianos incluem antibióticos, que são produzidos por microrganismos e modificados ou não em laboratório, e quimioterápicos, que são sintetizados artificialmente. Esses medicamentos são direcionados contra bactérias, fungos, vírus e parasitas, sendo fundamentais no tratamento e prevenção de infecções.

Classificação dos Antimicrobianos 

Os antimicrobianos podem ser classificados de diferentes maneiras, levando em consideração seu mecanismo de ação, espectro de atividade, efeito sobre as bactérias e origem. 

Classificação Quanto ao Efeito Sobre as Bactérias 

Os antibióticos podem ser divididos em: 

  • Bactericidas: promovem a morte bacteriana ao interferir diretamente em estruturas essenciais para a sobrevivência do microrganismo, como a parede celular ou a síntese de DNA. Exemplos incluem beta-lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas), aminoglicosídeos e fluoroquinolonas. 
  • Bacteriostáticos: inibem o crescimento e a multiplicação das bactérias, permitindo que o sistema imunológico do hospedeiro elimine o patógeno. Macrolídeos, tetraciclinas e sulfonamidas pertencem a essa categoria.

Classificação Quanto ao Mecanismo de Ação 

Os antimicrobianos atuam de diferentes formas para combater os microrganismos. As principais classes incluem: 

  • Inibidores da síntese da parede celular: impedem a formação da parede bacteriana, tornando as bactérias vulneráveis à lise. Exemplos: beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas, carbapenêmicos) e glicopeptídeos (vancomicina). 
  • Inibidores da síntese proteica: bloqueiam a produção de proteínas essenciais ao crescimento bacteriano. Exemplo: aminoglicosídeos, tetraciclinas, macrolídeos e lincosamidas. 
  • Inibidores da síntese de ácidos nucleicos: interferem na replicação do DNA ou na transcrição do RNA bacteriano. Exemplo: fluoroquinolonas e rifampicina. 
  • Inibidores da síntese de folato: impedem a produção de ácido fólico, necessário para a replicação bacteriana. Exemplo: sulfonamidas e trimetoprima.

Classificação Quanto ao Espectro de Ação 

Os antibióticos podem apresentar atividade contra diferentes grupos de bactérias: 

  • De amplo espectro: atuam contra uma variedade de microrganismos, incluindo bactérias gram-positivas e gram-negativas. Exemplo: cefalosporinas de terceira geração e carbapenêmicos. 
  • De espectro reduzido: têm ação limitada a grupos específicos de bactérias. Exemplo: vancomicina, eficaz contra bactérias gram-positivas, e aztreonam, que atua sobre gram-negativas.

Classificação Quanto à Origem 

Os antimicrobianos podem ser: 

  • Naturais: produzidos por microrganismos, como os antibióticos derivados de fungos e bactérias (exemplo: penicilina). 
  • Semissintéticos: obtidos a partir de modificações químicas em compostos naturais, aprimorando sua eficácia e estabilidade (exemplo: amoxicilina). 
  • Sintéticos: completamente desenvolvidos em laboratório sem base em produtos naturais (exemplo: sulfonamidas e fluoroquinolonas).

Farmacocinética e Farmacodinâmica dos Antimicrobianos 

A eficácia dos antimicrobianos depende de uma série de fatores que influenciam sua ação no organismo. Para uma prescrição adequada, é essencial compreender os princípios da farmacocinética (PK), que descreve o comportamento do fármaco no organismo, e da farmacodinâmica (PD), que se refere ao efeito do medicamento sobre os microrganismos.

Farmacocinética dos Antimicrobianos 

A farmacocinética estuda o caminho que o antimicrobiano percorre no organismo, desde sua administração até sua eliminação. Esse processo é dividido em quatro etapas principais: 

  • Absorção: refere-se ao processo pelo qual o fármaco entra na circulação sistêmica. Antimicrobianos administrados por via oral, como as fluoroquinolonas e tetraciclinas, dependem da absorção intestinal, que pode ser influenciada pela presença de alimentos ou íons metálicos (exemplo: ferro e cálcio reduzem a absorção de ciprofloxacino). Já os administrados por via intravenosa atingem imediatamente a circulação. 
  • Distribuição: após a absorção, o fármaco se espalha pelos tecidos. O volume de distribuição (Vd) indica a extensão da dispersão do antimicrobiano pelo organismo. Drogas lipofílicas, como a rifampicina, têm maior penetração em tecidos profundos, enquanto antimicrobianos hidrofílicos, como aminoglicosídeos, permanecem mais restritos ao compartimento extracelular. 
  • Metabolismo: alguns antimicrobianos são metabolizados no fígado antes da eliminação, podendo sofrer modificações enzimáticas que influenciam sua atividade. As penicilinas e cefalosporinas sofrem metabolismo mínimo, enquanto a rifampicina é extensamente metabolizada no fígado. 
  • Eliminação: a principal via de excreção dos antimicrobianos é renal ou hepática. Medicamentos como aminoglicosídeos e beta-lactâmicos são eliminados predominantemente pelos rins, enquanto macrolídeos e tetraciclinas são eliminados pelo fígado e podem exigir ajuste de dose em hepatopatas.

Farmacodinâmica dos Antimicrobianos 

A farmacodinâmica avalia a relação entre a concentração do antimicrobiano e seu efeito sobre os microrganismos. Existem três principais padrões de ação antimicrobiana: 

  • Dependente da concentração: a eficácia depende da concentração máxima alcançada no sítio de infecção. Fluoroquinolonas e aminoglicosídeos são exemplos, e sua ação é otimizada com altas doses administradas em intervalos maiores. 
  • Dependente do tempo: a eficácia está relacionada ao tempo em que a concentração do fármaco permanece acima da concentração inibitória mínima (CIM). Beta-lactâmicos e macrolídeos pertencem a essa categoria, sendo ideal a administração em intervalos regulares para manter níveis plasmáticos estáveis. 
  • Dependente da área sob a curva (AUC/CIM): combina características dos dois tipos anteriores, relacionando a exposição total ao antimicrobiano e sua eficácia. A vancomicina é um exemplo em que se busca otimizar a AUC para melhorar a resposta clínica.

Critérios para Escolha do Antimicrobiano 

Fatores Relacionados ao Paciente 

Antes de prescrever um antimicrobiano, é fundamental avaliar as condições individuais do paciente, incluindo: 

  1. Idade: recém-nascidos possuem metabolismo hepático e função renal imaturos, o que exige ajuste na escolha e na dose de alguns antibióticos (exemplo: evitar sulfonamidas devido ao risco de kernicterus). Já em idosos, a função renal reduzida pode exigir ajuste de dose para evitar toxicidade. 
  1. Insuficiência renal ou hepática: pacientes com disfunção renal podem acumular fármacos excretados pelos rins, como aminoglicosídeos e vancomicina, enquanto hepatopatas podem apresentar metabolismo alterado de macrolídeos e rifampicina. 
  1. Histórico de alergias: é essencial verificar reações prévias, especialmente a beta-lactâmicos. Pacientes com hipersensibilidade a penicilinas podem ter reação cruzada com cefalosporinas, exigindo alternativas como aztreonam. 
  1. Estado imunológico: imunossuprimidos, como transplantados ou pacientes oncológicos, podem necessitar de antibióticos bactericidas e terapia mais agressiva para evitar infecções graves. 
  1. Gravidez e lactação: alguns antimicrobianos são contraindicados durante a gestação devido ao risco teratogênico (exemplo: tetraciclinas podem afetar o desenvolvimento ósseo fetal).

Fatores Relacionados ao Microrganismo 

A eficácia do tratamento depende da identificação do agente infeccioso e do conhecimento de sua suscetibilidade antimicrobiana: 

  1. Provável agente etiológico: a escolha do antimicrobiano deve ser baseada no sítio da infecção e nos patógenos mais comuns. Por exemplo, pneumonia adquirida na comunidade pode ser tratada empiricamente com macrolídeos ou beta-lactâmicos. 
  1. Perfil de resistência local: conhecer os padrões de resistência na instituição ou na comunidade pode auxiliar na seleção do antibiótico mais eficaz, evitando o uso de fármacos ineficazes. 
  1. Teste de sensibilidade: quando possível, a realização de culturas e antibiogramas permite direcionar o tratamento com base na concentração inibitória mínima (CIM) do patógeno.

Fatores Relacionados ao Medicamento 

As propriedades do antimicrobiano influenciam diretamente sua eficácia e segurança no tratamento de infecções: 

  1. Espectro de ação: fármacos de amplo espectro, como carbapenêmicos, devem ser reservados para infecções graves ou multirresistentes, enquanto antibióticos de espectro reduzido são preferidos quando o patógeno é conhecido. 
  1. Capacidade de penetração nos tecidos: infecções em locais protegidos, como o sistema nervoso central, requerem antimicrobianos capazes de atravessar a barreira hematoencefálica (exemplo: ceftriaxona e meropenem). 
  1. Farmacocinética e farmacodinâmica: antibióticos dependentes do tempo (exemplo: beta-lactâmicos) exigem administração frequente, enquanto os dependentes de concentração (exemplo: aminoglicosídeos) podem ser administrados em doses espaçadas. 
  1. Interações medicamentosas: certos antibióticos podem potencializar ou reduzir o efeito de outros medicamentos, sendo essencial revisar possíveis interações antes da prescrição. Por exemplo, fluoroquinolonas podem aumentar o risco de arritmias quando combinadas com outros fármacos que prolongam o intervalo QT. 
  1. Efeitos adversos e toxicidade: antimicrobianos com alto potencial de toxicidade, como aminoglicosídeos (nefrotoxicidade e ototoxicidade), devem ser usados com cautela, especialmente em pacientes de risco.

Resistência Bacteriana 

Como as Bactérias Desenvolvem Resistência? 

A resistência pode ser intrínseca ou adquirida. A resistência intrínseca ocorre quando a bactéria possui características naturais que a tornam imune a certos antibióticos. Um exemplo clássico é a vancomicina, que não atua contra bactérias gram-negativas porque não consegue atravessar sua membrana externa. 

Já a resistência adquirida acontece quando bactérias inicialmente sensíveis passam a resistir ao antibiótico, seja por mutações espontâneas ou pela aquisição de genes de resistência. Esses genes podem ser transferidos entre bactérias por mecanismos como transformação (captação de DNA do ambiente), transdução (transferência por vírus bacteriófagos) e conjugação (troca de plasmídios entre bactérias).

Principais Mecanismos de Resistência 

As bactérias desenvolveram diversas estratégias para evitar a ação dos antibióticos, incluindo: 

Produção de Enzimas Inativadoras 

Algumas bactérias produzem enzimas capazes de destruir ou modificar os antibióticos antes que eles exerçam seu efeito. O exemplo mais conhecido são as beta-lactamases, que degradam penicilinas e cefalosporinas. Algumas cepas produzem beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) e carbapenemases, tornando-se resistentes a praticamente todos os beta-lactâmicos.

Alteração do Alvo do Antibiótico 

Mutações podem modificar a estrutura do local de ação do antibiótico, reduzindo sua afinidade pelo alvo. Esse mecanismo ocorre na resistência aos macrolídeos, que agem sobre os ribossomos bacterianos, e à rifampicina, que sofre mutações em sua enzima-alvo (RNA polimerase).

Redução da Permeabilidade da Membrana 

Algumas bactérias reduzem a entrada do antibiótico, diminuindo a expressão de porinas, proteínas que facilitam a passagem de substâncias. Esse mecanismo é visto em Pseudomonas aeruginosa, que apresenta baixa permeabilidade a diversos antibióticos, dificultando o tratamento.

Aumento da Expulsão do Antibiótico (Bombas de Efluxo) 

Bactérias podem possuir sistemas de transporte ativo que removem rapidamente os antibióticos do interior celular, reduzindo sua concentração eficaz. Esse mecanismo é comum em resistência a tetraciclinas e fluoroquinolonas.

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Referências Bibliográficas 

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Consenso sobre o uso racional de antimicrobianos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasília: Ministério da Saúde, 2001. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa. Acesso em: 04 fev. 2025. 
  1. PATEL, Preeti; WERMUTH, Harrison R.; CALHOUN, Chara; HALL, Gregory A. Antibiotics. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK535443/. Acesso em: 04 fev. 2025.
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