Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome do Desfiladeiro Torácico (SDT) é uma condição caracterizada pela compressão de estruturas neurovasculares na transição cervicotorácica, resultando em sintomas variados e muitas vezes desafiadores de diagnosticar. Abaixo reunimos os principais conceitos atualizados sobre a fisiopatologia, diagnóstico e manejo clínico da SDT.
A forma neurogênica representa mais de 90% dos casos de Síndrome do Desfiladeiro Torácico.
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Conceito e Classificação da SDT
A Síndrome do Desfiladeiro Torácico (SDT) abrange um grupo de condições clínicas que resultam da compressão de estruturas neurovasculares ao longo de seu trajeto entre o pescoço e o membro superior, especialmente na região limitada pela clavícula, primeira costela e músculos escalenos. Essas estruturas incluem principalmente o plexo braquial, a artéria subclávia e a veia subclávia.
A nomenclatura “desfiladeiro torácico” refere-se ao espaço anatômico por onde essas estruturas transitam. Quando há redução desse espaço, por fatores anatômicos, funcionais ou adquiridos, pode ocorrer compressão mecânica que resulta em sintomas variados, como dor, parestesias, fraqueza e alterações vasculares no membro superior. A SDT pode ser subdividida de acordo com o tipo de estrutura comprimida:
- Neurogênica: afeta o plexo braquial e é responsável pela maioria dos casos;
- Venosa: envolve a compressão da veia subclávia, com sinais de congestão venosa;
- Arterial: menos comum, está relacionada à compressão da artéria subclávia, podendo causar isquemia.
Fisiopatologia da SDT
A fisiopatologia da Síndrome do Desfiladeiro Torácico está diretamente relacionada à compressão mecânica de estruturas neurológicas e/ou vasculares ao longo de seu trajeto no estreito espaço entre o pescoço e a axila. Esse trajeto compreende três regiões principais que, quando alteradas, podem contribuir para o surgimento dos sintomas:
- Triângulo interescalênico: delimitado pelos músculos escalenos anterior e médio e pela primeira costela;
- Espaço costoclavicular: situado entre a clavícula e a primeira costela;
- Espaço subcoracopeitoral: entre o processo coracóide e o músculo peitoral menor.
A compressão pode ocorrer por alterações ósseas, como costelas cervicais ou alongamento do processo transverso de C7, além de anomalias musculares, hipertrofias, bandas fibrosas, lipomas ou posturas que diminuem esses espaços. Movimentos repetitivos, má postura e traumas cervicais também contribuem para o desequilíbrio muscular e para o aumento da tensão em estruturas adjacentes, promovendo o estreitamento progressivo do desfiladeiro.
Epidemiologia e fatores de risco
A Síndrome do Desfiladeiro Torácico acomete preferencialmente adultos jovens, com maior incidência em mulheres, especialmente aquelas com musculatura menos desenvolvida ou alterações posturais.
A variante neurogênica é a mais prevalente, representando mais de 90% dos casos, enquanto as formas venosa e arterial são menos comuns. Estimativas de incidência variam amplamente, entre 3 a 80 casos por mil habitantes, reflexo da dificuldade diagnóstica e da diversidade clínica.
Alguns fatores de risco contribuem para o desenvolvimento da SDT:
- Anomalias congênitas: presença de costela cervical, bandas fibrosas ou processos transversos alongados;
- Traumas cervicais prévios: acidentes automobilísticos ou lesões por hiperextensão podem predispor à compressão secundária;
- Postura inadequada: cifose torácica, ombros protraídos e cabeça anteriorizada alteram o equilíbrio muscular e a dinâmica escapular;
- Atividades repetitivas com os membros superiores elevados, como ocorre em nadadores, arremessadores, músicos, cabeleireiros e trabalhadores industriais;
- Hipertrofia muscular: comum em atletas de força, pode reduzir o espaço disponível no desfiladeiro torácico;
- Síndromes hipermóveis ou frouxidão ligamentar: contribuem para instabilidade escapular e alteração no posicionamento da clavícula.
Sintomas
A apresentação clínica da Síndrome do Desfiladeiro Torácico varia conforme a estrutura comprimida, nervo, veia ou artéria, e a posição do membro superior:
Tipo de SDT | Estrutura acometida | Sintomas principais |
---|---|---|
Neurogênica | Plexo braquial (geralmente C8–T1) | – Dor cervical, em ombro ou braço – Parestesias (predomínio ulnar) – Fraqueza muscular – Sensação de peso no membro – Atrofia de músculos da mão (casos prolongados) |
Venosa | Veia subclávia | – Edema do membro superior – Cianose – Veias colaterais dilatadas – Sensação de pressão ou tensão no braço |
Arterial | Artéria subclávia | – Palidez e frialdade distal – Dor ao esforço (claudicação do membro) – Diminuição ou ausência de pulsos – Sopro supraclavicular |
Diagnóstico da SDT
O diagnóstico da SDT é clínico, mas deve ser sustentado por achados complementares sempre que possível, especialmente nos casos cirúrgicos.
Exame físico
O exame físico inclui manobras que visam reproduzir os sintomas por meio da compressão das estruturas no desfiladeiro. Entre as mais utilizadas estão:
- Manobra de Adson: o paciente estende o pescoço e gira a cabeça para o lado examinado, enquanto realiza inspiração profunda; a redução do pulso radial sugere compressão vascular.
- Manobra costoclavicular (teste militar): ombros para trás e para baixo; positiva se houver sintomas ou redução do pulso.
- Manobra da hiperabdução (Wright): abdução do braço com rotação externa; indicada para avaliar compressão pelo peitoral menor.
- Teste de Roos (ou teste do estresse): abdução com flexão de cotovelos a 90°, mantendo abertura e fechamento das mãos por 3 minutos; a reprodução dos sintomas reforça a suspeita.
Exames complementares
Exames complementares são úteis na exclusão de diagnósticos diferenciais e na identificação de alterações anatômicas:
- Radiografia: detecta costelas cervicais ou alterações ósseas (clavícula, primeira costela).
- Ultrassonografia com Doppler: avalia compressões venosas ou arteriais dinâmicas.
- Angiotomografia / Angio-RM: úteis nas formas vasculares e para planejamento cirúrgico.
- Ressonância magnética: mostra alterações do plexo braquial e pode ser feita em diferentes posições do braço.
- Eletroneuromiografia: indicada em casos com déficits neurológicos; ajuda a identificar o grau e a localização da compressão.
- Bloqueio anestésico do escaleno anterior: pode ser utilizado tanto como método diagnóstico quanto para seleção de candidatos à cirurgia.
Tratamento da SDT
Tratamento conservador
É a primeira linha em praticamente todos os casos, principalmente na forma neurogênica. As medidas incluem:
- Fisioterapia especializada, com foco na reeducação postural, fortalecimento da musculatura estabilizadora da escápula e alongamentos específicos;
- Modificações no estilo de vida, como evitar elevação repetitiva dos braços, corrigir postura e ergonomia;
- Técnicas manuais e liberação miofascial, especialmente nos casos musculares funcionais;
- Medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, quando há dor significativa;
- Injeções de toxina botulínica no músculo escaleno anterior podem ser utilizadas em casos selecionados, com bons resultados temporários.
Tratamento cirúrgico
Indicado quando há falha do tratamento conservador, presença de anomalias anatômicas relevantes (como costela cervical), déficit neurológico progressivo ou complicações vasculares. Os procedimentos incluem:
- Ressecção da primeira costela ou costela cervical;
- Escalenectomia;
- Neurólise do plexo braquial;
- Abordagens por via supraclavicular ou transaxilar.
Evolução
A resposta ao tratamento depende da forma clínica e do tempo até o diagnóstico. Na forma neurogênica, cerca de 80–90% dos pacientes apresentam melhora significativa com medidas conservadoras bem conduzidas. Casos com compressão vascular ou alterações estruturais anatômicas tendem a evoluir melhor com intervenção cirúrgica.
Contudo, em alguns pacientes, os sintomas podem persistir ou recidivar, especialmente quando associados a fatores ocupacionais ou musculares não corrigidos. O retorno à atividade plena, inclusive esportiva, é possível em grande parte dos casos após reabilitação adequada.
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Referências Bibliográficas
- PATRONE, Luiz Lúcio et al. Síndrome do desfiladeiro torácico: uma revisão integrativa. Revista UNINGÁ, Maringá, v. 56, n. S4, p. 116-133, abr./jun. 2019.
- KAPLAN, Jason; KANWAL, Arjun. Thoracic Outlet Syndrome. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025.