Olá, querido doutor e doutora! A bromidrose é uma condição frequente na prática dermatológica, caracterizada pela emissão de odor corporal intenso e desagradável. Embora não represente risco direto à saúde, pode comprometer significativamente o bem-estar psicossocial do paciente. O diagnóstico é clínico e exige atenção à diferenciação com causas psiquiátricas ou infecciosas.
A variante genética ABCC11 está diretamente associada à forma úmida de cerume e ao aumento da atividade apócrina, influenciando a predisposição à bromidrose.
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Conceito
A bromidrose é uma condição caracterizada pela emissão de odor corporal desagradável associado à sudorese, geralmente percebido nas regiões de maior atividade glandular, como axilas, pés e virilha. O quadro costuma surgir após a puberdade, quando as glândulas apócrinas tornam-se ativas, e o suor, ao entrar em contato com bactérias da microbiota cutânea, é degradado em compostos odoríferos voláteis. Embora o suor apócrino seja inicialmente inodoro, é essa transformação bacteriana que confere ao odor sua característica fétida.
Fisiopatologia
A origem da bromidrose está ligada à atividade das glândulas sudoríparas e à interação do suor com a microbiota cutânea. Existem dois tipos principais de glândulas envolvidas: apócrinas e écrinas, cada uma associada a mecanismos distintos.
A bromidrose apócrina é a forma mais comum e está relacionada à secreção viscosa e lipídica das glândulas apócrinas, localizadas principalmente nas axilas, região anogenital e mamilos. Embora essa secreção seja inicialmente inodora, ela serve de substrato para bactérias como Corynebacterium spp., que a decompõem em compostos voláteis como ácido (E)-3-metil-2-hexanoico (E-3M2H) e ácido 3-hidroxi-3-metil-hexanoico (HMHA) — responsáveis pelo odor forte característico. A presença de proteínas transportadoras, como a apolipoproteína D, também está envolvida na liberação desses compostos.
Já na bromidrose écrina, o suor é composto basicamente por água e sais, sendo normalmente inodoro. No entanto, certos alimentos, fármacos e distúrbios metabólicos podem alterar sua composição, resultando em odores incomuns. Além disso, quando a sudorese écrina se torna excessiva e há maceração do estrato córneo, ocorre um ambiente propício para degradação bacteriana da queratina, que também gera odores desagradáveis.
Ambas as formas podem ser influenciadas por fatores genéticos, como a presença de variantes no gene ABCC11, associados à produção de cerúmen úmido e maior secreção apócrina. Em alguns casos, há um componente neurossensorial, com exagero da percepção olfativa, que exige avaliação diferenciada.
Epidemiologia e fatores de risco
A bromidrose é uma condição frequente, embora subnotificada, especialmente em culturas onde o odor corporal é mais tolerado. Sua prevalência exata é desconhecida, mas há maior procura por atendimento em regiões com alto padrão de exigência estética e social, como em alguns países asiáticos, onde o simples odor axilar pode ser considerado motivo de constrangimento clínico.
O quadro tem início predominante após a puberdade, período em que as glândulas apócrinas se tornam funcionalmente ativas. Em crianças e idosos, por outro lado, a condição é incomum devido à inatividade ou regressão dessas glândulas. Existe também uma predominância em homens, possivelmente relacionada à maior densidade e atividade apócrina masculina.
Entre os principais fatores de risco, destacam-se:
- Histórico familiar positivo, sugerindo herança autossômica dominante, especialmente ligada à variante do gene ABCC11, também associada à cera de ouvido úmida;
- Hiperidrose, por manter o ambiente úmido e favorecer a proliferação bacteriana;
- Higiene inadequada ou uso prolongado de roupas suadas;
- Infecções cutâneas associadas, como eritrasma, tricomicoses e intertrigo;
- Obesidade e diabetes mellitus, que favorecem maceração e alterações microbiológicas da pele;
- Ingestão frequente de alimentos odoríferos, como alho, cebola, curry e álcool;
Avaliação clínica e Diagnóstico
A avaliação de um paciente com suspeita de bromidrose deve iniciar por uma anamnese direcionada, com atenção especial à história de odor corporal persistente, seu início, localização, relação com a sudorese e impacto na qualidade de vida. O paciente geralmente relata odor forte, descrito como rançoso, ácido, azedo ou fétido, que se intensifica com o calor, esforço físico ou estresse emocional. É importante identificar triggers alimentares ou medicamentosos, histórico familiar e presença de hiperidrose associada.
No exame físico, a pele costuma apresentar aspecto normal. Contudo, em alguns casos, podem ser observadas lesões associadas, como:
- Eritrasma: placas eritematosas, bem delimitadas, com descamação fina nas axilas ou virilha;
- Tricomicoses: concreções amareladas ou brancas aderidas aos pelos;
- Maceramento plantar ou áreas com queratinização intensa nos pés, sugerindo bromidrose écrina;
- Halitose nasal persistente em crianças, levando à hipótese de corpo estranho nasal.
Não há necessidade rotineira de exames laboratoriais. Contudo, diante de suspeita de distúrbios metabólicos, podem ser solicitados testes específicos de suor ou urina. A lâmpada de Wood pode ajudar no diagnóstico de eritrasma (fluorescência coral) e a coloração de Gram pode confirmar tricomicoses.
Tratamento
Medidas gerais
São a base do tratamento, especialmente em casos leves ou moderados:
- Higiene adequada, com lavagem diária das áreas afetadas utilizando sabonetes antissépticos (ex: triclosan 1%, sabonetes iodados). Contudo, o excesso de higiene deve ser evitado para não causar irritações;
- Remoção dos pelos axilares, que reduzem o acúmulo de secreção e bactérias;
- Troca diária de roupas e meias, preferindo tecidos que favorecem ventilação e absorção da umidade, como o algodão;
- Esfoliação das regiões com hiperqueratose, especialmente nos pés;
- Evitar alimentos com potencial odorífero, como alho, cebola, curry e álcool.
Tratamento tópico
Indicado quando as medidas gerais não são suficientes:
- Antibióticos tópicos, como clindamicina 1% ou eritromicina 2%, aplicados 2x/dia. Podem ser utilizados de forma contínua ou em ciclos;
- Antiperspirantes com sais de alumínio (ex: cloreto de alumínio hexahidratado 6,25% a 20%), aplicados à noite, com a pele bem seca, reduzindo a atividade das glândulas sudoríparas;
- Peróxido de benzoíla pode ser considerado em alternativa aos antibióticos, reduzindo a proliferação bacteriana.
Toxina botulínica tipo A
A aplicação de botox reduz temporariamente a sudorese e, por consequência, a liberação de secreções odoríferas. É especialmente útil em pacientes com hiperidrose associada. Os efeitos costumam durar de 4 a 6 meses, sendo necessárias reaplicações. Estudos mostram alta taxa de satisfação, incluindo em adolescentes.
Procedimentos com energia
Terapias não cirúrgicas baseadas em energia têm ganhado espaço:
- Laser Nd:YAG (1.444 nm): promove coagulação seletiva das glândulas apócrinas;
- Micro-ondas: destroem termicamente glândulas sudoríparas;
- Radiofrequência com microagulhas: tecnologia promissora com bons resultados de curto prazo.
Esses métodos são indicados para pacientes que buscam soluções mais duradouras, mas não desejam se submeter à cirurgia.
Tratamento cirúrgico
Reservado para casos refratários às abordagens anteriores:
- Curetagem com lipoaspiração superficial: remove glândulas apócrinas com mínima invasão, mas apresenta taxas de recidiva mais altas;
- Excisão cirúrgica das glândulas com ou sem remoção da pele axilar: abordagem mais definitiva, porém com risco de cicatrizes, hematomas e necrose;
- Simpatectomia torácica: raramente indicada, pode ser considerada em casos extremos, sobretudo quando associada à hiperidrose severa.
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Referências Bibliográficas
- TELESSAUDERS. Segunda Opinião Formativa – Bromidrose. Núcleo Telessaúde RS-UFRGS, 15 mar. 2019.
- TEEGEE, Nathaniel; JAMES, William D. Bromhidrosis. Medscape. Atualizado em: 22 abr. 2025.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Bromidrose.