Olá, querido doutor e doutora! O bruxismo é uma atividade parafuncional caracterizada pelo apertamento ou ranger dos dentes, podendo ocorrer tanto em vigília quanto durante o sono. Influenciado por fatores emocionais, neurológicos e comportamentais, esse distúrbio pode levar a desgaste dentário, dores orofaciais e disfunção temporomandibular. Sua identificação exige uma avaliação clínica detalhada, podendo ser complementada por exames específicos em casos mais complexos. Este texto aborda a fisiopatologia, os fatores de risco, o diagnóstico, as opções terapêuticas e as possíveis complicações associadas ao bruxismo.
O bruxismo pode permanecer assintomático por longos períodos, sendo frequentemente identificado apenas em consultas odontológicas devido ao desgaste dentário e às queixas de dor orofacial.
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Conceito de Bruxismo
Bruxismo é uma condição caracterizada pelo apertamento ou ranger involuntário dos dentes, podendo ocorrer tanto durante o sono quanto no estado de vigília. Essa atividade parafuncional envolve contrações repetitivas dos músculos da mastigação, podendo resultar em desgaste dentário, dores faciais e problemas na articulação temporomandibular.
O bruxismo é classificado em duas formas principais: bruxismo do sono e bruxismo em vigília. O primeiro ocorre durante os estágios do sono e está associado a microdespertares e alterações na atividade do sistema nervoso central. Já o segundo acontece enquanto o indivíduo está acordado, frequentemente relacionado a estados emocionais como ansiedade, estresse e concentração intensa.
Por que Ocorre o Bruxismo
O bruxismo é considerado uma condição multifatorial, envolvendo aspectos neurológicos, musculares e comportamentais. Sua fisiopatologia ainda não é completamente elucidada, mas estudos indicam que a atividade dos músculos mastigatórios está relacionada a mecanismos centrais de controle motor e ao sistema nervoso autônomo.
No bruxismo do sono, há uma ativação do sistema nervoso simpático, associada a microdespertares, aumento da frequência cardíaca e elevação do tônus dos músculos da mastigação. Esse fenômeno ocorre principalmente durante o sono leve e pode estar relacionado a distúrbios respiratórios, como a apneia obstrutiva do sono.
Já no bruxismo em vigília, os episódios são frequentemente desencadeados por fatores emocionais, como estresse e ansiedade. Nesses casos, o indivíduo mantém os dentes em contato por períodos prolongados ou realiza movimentos de apertamento, o que leva a sobrecarga dos músculos e estruturas dentárias.
Fatores de Risco do Bruxismo
O bruxismo do sono é mais frequente em crianças, com uma prevalência estimada entre 15% e 40%. Na população adulta, a prevalência é menor, variando entre 8% e 10%. Já o bruxismo em vigília afeta aproximadamente 22% a 31% da população adulta, sendo mais comum em indivíduos expostos a altos níveis de estresse e ansiedade.
O bruxismo do sono pode diminuir com o avanço da idade, enquanto o bruxismo em vigília pode persistir ao longo da vida dependendo das condições emocionais e do estilo de vida do indivíduo. Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento do bruxismo, incluindo aspectos genéticos, emocionais e ambientais. Os principais fatores de risco incluem:
- Estresse e ansiedade: estados emocionais alterados estão fortemente associados ao bruxismo, especialmente na forma em vigília. O aumento da tensão muscular devido ao estresse pode intensificar o hábito de apertar os dentes.
- Distúrbios do sono: condições como apneia obstrutiva do sono, insônia e síndrome das pernas inquietas estão relacionadas ao bruxismo do sono, possivelmente devido à fragmentação do sono e ativações do sistema nervoso autônomo. Predisposição
- Genética: estudos apontam que fatores hereditários desempenham um papel importante, com aproximadamente 20% a 50% dos pacientes relatando histórico familiar de bruxismo.
- Uso de substâncias estimulantes: o consumo excessivo de cafeína, nicotina, álcool e drogas estimulantes, como cocaína e metanfetaminas, pode aumentar a frequência dos episódios de bruxismo.
- Uso de medicamentos: alguns antidepressivos, especialmente inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), podem estar associados ao bruxismo, possivelmente por influenciar neurotransmissores envolvidos no controle motor.
- Condições neurológicas e psiquiátricas: doenças como Parkinson, Alzheimer, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtornos de ansiedade podem predispor ao bruxismo.
Sintomas de Bruxismo
Os sintomas do bruxismo podem variar de acordo com a frequência, a intensidade dos episódios e o impacto sobre as estruturas orofaciais. Em muitos casos, o paciente não percebe que apresenta bruxismo até que sinais clínicos sejam detectados em uma avaliação odontológica. Os principais sintomas são:
- Desgaste dentário:a fricção repetitiva entre os dentes pode levar ao desgaste progressivo do esmalte, expondo a dentina e tornando os dentes mais sensíveis a estímulos térmicos e químicos.
- Dores orofaciais: a contração excessiva dos músculos mastigatórios pode causar dor na mandíbula, na face e ao redor da articulação temporomandibular (ATM), sendo um sintoma comum nos casos crônicos.
- Cefaleia: muitos pacientes relatam dores de cabeça, especialmente na região temporal, decorrentes da tensão muscular sustentada durante os episódios de bruxismo.
- Zumbido e dor no ouvido: o envolvimento da musculatura da ATM pode gerar sintomas auditivos, como sensação de pressão no ouvido, zumbido e dor sem sinais inflamatórios no sistema auditivo.
- Estalos e limitação na abertura da boca: o impacto da atividade parafuncional na ATM pode resultar em ruídos articulares, dificuldade para abrir a boca e sensação de travamento da mandíbula.
- Marcas na mucosa oral: pacientes com bruxismo podem apresentar marcas na parte interna das bochechas e na borda lateral da língua devido à pressão exercida durante os episódios de apertamento.
- Distúrbios do sono: no bruxismo do sono, alguns pacientes relatam sono não reparador e fadiga diurna. Além disso, o ranger dos dentes pode ser percebido por parceiros de cama ou familiares.
Como é Feito o Diagnóstico de Bruxismo
O diagnóstico do bruxismo é baseado na avaliação clínica, complementada por exames quando necessário. A identificação precoce da condição permite prevenir danos estruturais e otimizar o manejo do paciente.
Em situações em que o diagnóstico clínico não é suficiente, exames adicionais podem ser indicados. A polissonografia é útil para avaliar o bruxismo do sono, registrando a atividade muscular e a ocorrência de microdespertares associados ao distúrbio. Já a eletromiografia (EMG) permite a análise da contração dos músculos mastigatórios, auxiliando na quantificação da atividade muscular anormal. Em alguns casos, dispositivos portáteis podem ser utilizados para monitoramento da atividade mandibular ao longo do dia e da noite.
Diagnóstico Diferencial
O bruxismo deve ser diferenciado de outras condições que causam dor orofacial e desgaste dentário, como disfunção temporomandibular, apertamento consciente dos dentes, refluxo gastroesofágico (que pode levar à erosão do esmalte) e distúrbios neuromusculares, como distonia oromandibular. Além disso, cefaleias tensionais e neuralgias faciais podem simular a dor associada ao bruxismo, exigindo uma avaliação detalhada para um diagnóstico preciso.
Tratamento de Bruxismo
O manejo do bruxismo visa reduzir sintomas, minimizar danos dentários e, quando possível, controlar fatores desencadeantes. A abordagem terapêutica pode incluir:
- Medidas comportamentais e psicoterapêuticas: técnicas de relaxamento, manejo do estresse e terapia cognitivo-comportamental são úteis, especialmente no bruxismo em vigília.
- Placas oclusais: dispositivos intraorais personalizados ajudam a proteger os dentes contra desgastes e reduzem a sobrecarga muscular. São mais eficazes para evitar danos do que para diminuir a atividade do bruxismo.
- Fisioterapia e biofeedback: exercícios para reequilíbrio muscular, terapia manual e dispositivos de biofeedback podem reduzir a contração excessiva da musculatura mastigatória.
- Medicação: em casos refratários, fármacos como relaxantes musculares, benzodiazepínicos e bloqueadores adrenérgicos podem ser considerados. O uso de toxina botulínica nos músculos mastigatórios pode ser indicado para casos graves, reduzindo a intensidade das contrações sem afetar a função mastigatória.
- Tratamento de condições associadas: se houver apneia obstrutiva do sono ou outros distúrbios do sono, o tratamento adequado pode reduzir episódios de bruxismo noturno.
Evolução
O curso do bruxismo varia conforme o tipo e os fatores associados. O bruxismo infantil frequentemente regride com a idade, enquanto o bruxismo do sono em adultos pode persistir ou se agravar dependendo de fatores emocionais e de saúde geral. O bruxismo em vigília, por sua vez, está fortemente ligado ao nível de estresse e pode ser modificado com terapias de controle emocional. Sem intervenção, o quadro pode progredir, levando a complicações.
Complicações
As principais complicações do bruxismo incluem desgaste dentário severo, fraturas em dentes e restaurações, dor crônica na musculatura mastigatória, cefaleias tensionais e disfunção temporomandibular, que pode causar estalos, travamentos e limitação na abertura da boca. Além disso, a sobrecarga muscular pode levar a dor orofacial persistente e zumbido. No bruxismo do sono, a fragmentação do sono pode resultar em fadiga diurna e redução da qualidade de vida, especialmente quando associado a distúrbios como a apneia obstrutiva do sono.
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Referências Bibliográficas
- BRASIL. Ministério da Saúde. Bruxismo (ranger ou apertar os dentes). Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bruxismo-ranger-ou-apertar-os-dentes/. Acesso em: 20 jan. 2025.
- LAL, Sona J.; SANKARI, Abdulghani; WEBER, Kurt K. Bruxism Management. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482466/. Acesso em: 20 jan. 2025.