Olá, querido doutor e doutora! As calosidades são alterações cutâneas frequentes na prática clínica, especialmente em pacientes idosos, diabéticos ou com alterações biomecânicas nos pés. Apesar de benignas, essas lesões podem comprometer significativamente o conforto e a funcionalidade ao caminhar. O reconhecimento precoce, aliado a uma abordagem terapêutica adequada, permite aliviar sintomas e evitar complicações.
A dor nos calos ocorre principalmente quando o núcleo rígido pressiona estruturas nervosas profundas.
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Conceito
As calosidades são áreas da pele que desenvolvem um espessamento progressivo como resposta a estímulos mecânicos repetitivos, como atrito e pressão. Essa resposta adaptativa visa proteger os tecidos mais profundos contra lesões.
Quando esse espessamento é focal e delimitado, geralmente em regiões de maior proeminência óssea, denomina-se calo (ou clavus). Esse tipo de lesão se distingue das calosidades difusas por apresentar um núcleo endurecido no centro e, frequentemente, causar dor ao ser pressionado. Já as calosidades comuns, por outro lado, tendem a ser mais amplas, superficiais e menos dolorosas, surgindo em áreas de maior atrito, como as solas dos pés e as palmas das mãos.
Fisiopatologia
O desenvolvimento das calosidades ocorre como uma resposta protetora do organismo frente à exposição contínua da pele a forças mecânicas. Quando há pressão ou fricção repetida sobre determinada região, especialmente sobre saliências ósseas, ocorre uma estimulação das células da epiderme, levando à produção excessiva de queratina. Esse processo culmina no espessamento da camada córnea, caracterizando a hiperceratose.
Nos calos, essa proliferação é mais concentrada, formando um núcleo rígido no centro da lesão. Essa estrutura endurecida pode pressionar terminações nervosas na derme, gerando dor. A localização dos calos está frequentemente relacionada às áreas onde ossos proeminentes sofrem atrito com o calçado ou o solo, como as cabeças dos metatarsos e articulações interfalângicas. Em pessoas com deformidades nos pés, como dedos em garra, ou perda do coxim adiposo plantar, essa sobrecarga se intensifica, favorecendo ainda mais a formação das lesões.
Epidemiologia e fatores de risco
As calosidades são bastante prevalentes na população geral, especialmente em indivíduos com maior exposição a atritos constantes nos pés. Estima-se que a incidência varie entre 14% e 48%, sendo mais comum entre idosos, devido à atrofia natural da almofada de gordura plantar. Além disso, mulheres tendem a apresentar mais casos, possivelmente por conta do uso frequente de calçados apertados ou de salto alto. A condição também é observada com maior frequência em pessoas com pele mais escura, embora os motivos exatos dessa predisposição ainda não estejam completamente definidos.
Fatores de risco
- Uso de calçados inadequados (apertados, duros ou de salto alto);
- Deformidades ortopédicas nos pés (ex.: hálux valgo, dedos em garra);
- Idade avançada com perda do coxim plantar;
- Presença de doenças como diabetes mellitus (com neuropatia periférica);
- Marcha alterada ou má distribuição da pressão plantar;
- Atividades físicas com impacto repetitivo nos pés (ex.: corrida); e
- História prévia de amputações ou assimetrias posturais.
Avaliação clínica
As calosidades se apresentam como áreas endurecidas, espessas e ressecadas da pele, com coloração amarelada ou esbranquiçada. Nos calos propriamente ditos, observa-se um núcleo central mais denso, que pode se tornar doloroso à pressão. Essas lesões tendem a surgir sobre saliências ósseas submetidas a atrito contínuo, como o dorso dos dedos, planta dos pés ou entre os espaços interdigitais.
Embora algumas calosidades possam ser assintomáticas, os calos costumam provocar dor ao caminhar ou ao usar calçados apertados. Essa dor ocorre principalmente quando o núcleo rígido da lesão pressiona as estruturas nervosas subjacentes. Lesões localizadas entre os dedos (heloma molle) podem tornar-se úmidas e mais dolorosas, com risco aumentado de infecção secundária.
Variedades clínicas
Existem três tipos principais de calos:
- Heloma durum (calo duro): geralmente encontrado no dorso ou lateral dos dedos, apresenta superfície seca e núcleo bem definido.
- Heloma molle (calo mole): aparece entre os dedos, principalmente entre o quarto e o quinto, sendo macerado e mais susceptível a infecções.
- Heloma miliare (calo em semente): múltiplos pontos ceratósicos, assintomáticos, geralmente nas áreas plantares não sujeitas a carga.
Diagnóstico
Avaliação clínica
O diagnóstico das calosidades é predominantemente clínico, baseado na inspeção e palpação da pele. As lesões apresentam textura áspera e espessada, sendo frequente a presença de um núcleo central nos calos. A anamnese deve incluir questionamentos sobre hábitos de marcha, tipo de calçado utilizado, presença de dor e histórico de deformidades nos pés.
Exame físico direcionado
Durante o exame, é importante observar a localização das lesões e verificar se há dor à pressão vertical, um achado típico dos calos. A diferenciação com outras lesões cutâneas, como verrugas plantares, pode ser feita pela observação das linhas naturais da pele (que se mantêm nas calosidades, mas se perdem nas verrugas) e pela ausência de pontos hemorrágicos característicos destas últimas.
Diagnóstico diferencial
É importante considerar outras condições que se manifestam com lesões hiperqueratóticas. Entre elas estão a verruga plantar, o poroma, a queratodermia palmoplantar, o líquen plano hipertrófico, o neuroma interdigital e a gota.
Tratamento
Cuidados conservadores
A abordagem inicial para calosidades é conservadora e visa aliviar o desconforto, reduzir a espessura da lesão e prevenir recidivas. O desbaste mecânico, realizado por profissional treinado com lâmina estéril, deve ser feito com cuidado para não causar sangramento. Após esse procedimento, recomenda-se que o paciente realize manutenção semanal em casa com lixa suave ou pedra-pomes, sempre após imersão dos pés em água morna.
Terapia tópica
Agentes queratolíticos, como o ácido salicílico em concentrações entre 12,6% e 40%, são indicados para promover a esfoliação da pele espessada. Ureia a 20–50%, nitrato de prata e curativos hidrocolóides também podem ser utilizados para amolecer a área e facilitar o desbaste. Em pacientes com neuropatia periférica, como os diabéticos, o uso desses produtos deve ser cauteloso ou supervisionado, para evitar lesões na pele íntegra.
Prevenção e orientações
O sucesso do tratamento depende, em grande parte, da prevenção de novos episódios. O uso de calçados adequados, com bico largo, solado acolchoado e bom ajuste. Palmilhas ortopédicas e protetores de silicone também ajudam a redistribuir a pressão plantar. A higiene regular dos pés e o corte correto das unhas complementam as medidas preventivas.
Prognóstico
O prognóstico das calosidades é geralmente favorável quando os fatores desencadeantes são identificados e corrigidos. A maioria das lesões regride com tratamento adequado. Contudo, a recidiva é comum se o atrito ou a pressão persistirem. Em uma comparação entre tratamentos cirúrgicos e conservadores, pacientes submetidos a cirurgia relataram maior satisfação e alívio da dor, embora a indicação deva ser criteriosa.
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Referências Bibliográficas
- ABOUD, Ahmad M.; YARRARAPU, Siva N. S. Corns. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.