Fala, estrategista! A disúria é um sintoma comum na população, principalmente nas mulheres. Mas, diferente de como muitos acreditam, nem todo caso de disúria na emergência é infecção do trato urinário e, por muitas vezes negligenciar a história e exame físico, muitos diagnósticos são deixados de lado na investigação desse sintoma.
Por este motivo, confira agora os principais aspectos referentes à disúria que aparecem nos atendimentos e como são cobrados nas provas de residência médica!
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Definição da doença
A disúria é definida como a sensação de dor, queimação, ardência ou coceira na uretra ou no meato uretral associada à micção.
Epidemiologia e fisiopatologia de disúria
É o sintoma genitourinária mais descrito pelas pessoas, afetando cerca de 3% de todos os adultos com mais de 40 anos de idade, sendo que aproximadamente 25% das mulheres americanas relatam disúria aguda todos os anos.
Dados adicionais mostram que a disúria é responsável por 5 a 15% das visitas aos médicos de família. Nos Estados Unidos, a disúria é motivo de 7 milhões de consultas anualmente e 20% delas ocorrem em departamentos de emergência.
Fisiopatologia
Este sintoma ocorre tipicamente quando a urina entra em contato com o revestimento da mucosa uretral inflamada ou irritada, produzida pela contração do músculo detrusor da bexiga e pela atividade peristáltica da uretra, ambas estimulando as fibras dolorosas da mucosa edematosa e inflamada.
Etiologias da disúria
A disúria tem uma ampla gama de causas infecciosas e não infecciosas. A causa mais comum de disúria é a infecção do trato urinário (ITU), principalmente a cistite aguda, que ocorre em homens e mulheres. Lembrar que nesses casos, comumente há associado à polaciúria.
#Ponto importante: As mulheres são mais propícias a ITU, pois as bactérias podem alcançar a bexiga mais facilmente devido a uma uretra mais curta e reta em comparação com os homens. Alguns autores, inclusive, defendem que toda ITU em homens mereça investigação adicional e não apenas tratamento empírico.
No entanto, existem outras causas infecciosas comuns, incluindo uretrite, pielonefrite, prostatite, vulvovaginites e doenças sexualmente transmissíveis. Causas não infecciosas incluem condições de pele, corpo estranho ou pedra no trato urinário, trauma, hipertrofia prostática benigna e tumores.
Um exemplo é em relação a outra condição bastante comum nas mulheres, as vulvovaginites. Candidíase e vaginose bacteriana são extremamente comuns nas mulheres, que podem cursar com disúria e ser o principal sintoma relatado na doença; A utilização de antibiótico na Candidíase, uma infecção fúngica, pode piorar muito a sintomatologia.
A causa mais comum de uretrite masculina é infecciosa por organismos sexualmente transmissíveis, como Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e Mycoplasma genitalium. A uretrite associada à prostatite bacteriana é mais frequentemente causada por organismos gram-negativos, como E. coli .
Nos casos em que não há condição infecciosa subjacente, uma causa identificável às vezes é chamada de síndrome da dor uretral. A síndrome uretral apresenta disúria mais contínua, mas um tanto mais branda, geralmente descrita como uma irritação constante. Possivelmente está relacionada à estenose uretral ou desequilíbrios hormonais, embora a causa exata ainda seja desconhecida.
Isso é muito semelhante a uma forma leve de cistite intersticial, que possivelmente é apenas uma variedade diferente do mesmo distúrbio, que normalmente apresenta mais desconforto vesical, frequência, urgência e dor quando a bexiga está cheia e é aliviada um pouco após a micção.
Em mulheres menopausadas, pela redução de estímulo estrogênico, com atrofia (vaginite atrófica), ressecamento e, ocasionalmente, inflamação do epitélio vaginal podem ocorrer sintomas urinários como disúria, polaciúria e urgência, simulando uma cistite aguda.
Foi relatado que uma grande variedade de alimentos e bebidas contribui para os sintomas de disúria, incluindo álcool, cafeína, especiarias picantes, alimentos processados e ricos em potássio.
Causas mais incomuns devem ser pesquisadas se ocorrer manutenção dos sintomas mesmo após tratamento de causas mais prováveis. São elas a endometriose, bexiga hiperativa (com urgência e frequência como sintomas primários), estenoses uretrais, divertículos, inflamação ou infecção das glândulas parauretrais/de Skene, sífilis, micobactérias, herpes genital e cistos úracos infectados.
Avaliação da disúria
A dica principal para não deixar escapar esses outros diagnósticos de disúria, é a correta coleta de anamnese e exame físico. Perguntas essenciais que devem ser feitas incluem sintomas associados (prurido, febre, dor lombar, lesões em região genital,etc), história sexual pregressa, utilização de proteção, frequência urinária. Particularmente no caso das mulheres, questionar sobre fluxo menstrual, possibilidade de gestação e presença de corrimento.
O exame de urina tipo 1 é o teste inicial na disúria. A presença de nitritos e leucócitos positivos em uma vareta é extremamente preditiva de infecção urinária, enquanto a disúria em um paciente com apenas esterase leucocitária positiva ou piúria na urina sugere uretrite. Nas uretrites, o teste mais sensível para gonorreia masculina ou clamídia é o teste de amplificação de ácido nucleico urinário (NAAT).
A urocultura fica reservada para pacientes que não respondem ao tratamento inicial e aqueles com fatores de risco para uma possível complicação, como pielonefrite. Em pacientes com sinais sistêmicos associados, é importante solicitar hemograma completo e função renal, com creatinina sérica.
Na maioria dos casos de disúria simples, exames de imagem não são necessários. No entanto, a ultrassonografia ou tomografia computadorizada, podem ser úteis em casos de disúria recorrente, com sinais de infecção complicada do trato urinário, obstrução, febre inexplicável, dor no flanco, hidronefrose, abscesso, cálculos ou tumores.
Tratamento da disúria
O tratamento da disúria depende da etiologia subjacente sempre que possível. A causa mais comum de disúria é uma infecção do trato urinário, sendo que a antibioticoterapia empírica com base na história e nos sintomas do paciente costuma ser a terapia com melhor custo-benefício. As uretrites e prostatites também são tratadas com antibioticoterapia.
Outras terapias são direcionadas de acordo com a possível causa, como metronidazol e antifúngicos para vulvovaginites, estrogênio para vaginite atrófica, alfa-bloqueadores para bexiga hiperativa.
Haverá inevitavelmente casos em que nenhuma causa específica de disúria pode ser encontrada. Nesses casos, o tratamento tende a ser sintomático ou holístico, com eficácia limitada de algumas drogas, como fenazopiridina, glicerofosfato de cálcio e similares.
Veja também:
- Resumo de cistite aguda
- Candidíase: o que é, tipos e muito mais
- Pielonefrite: o que é, causas e muito mais
- Resumo técnico de balanopostite
- Resumo de incontinência urinária: da fisiopatologia ao diagnóstico e tratamento
Referências bibliográficas:
- Mehta P, Leslie SW, Reddivari AKR. Disúria. [Atualizado em 28 de novembro de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK549918/
- Pradip P Chaudhari, MD. Etiology and evaluation of dysuria in children and adolescents. Uptodate.
- Sanders, Helady. Disúria Aguda na Mulher. Braz. J. Nephrol., v. 30, n. 1, p. 5-5, jan. 2008. https://bjnephrology.org/wp-content/uploads/2019/08/jbn_v30n1a2.pdf
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