A parada cardiorrespiratória (PCR) é a cessação completa da função cardíaca e da respiração, essenciais para manutenção da vida, sendo as causas cardíacas as principais causas de PCR em adultos no mundo. A PCR pode evoluir em morte sem reversão, mas também pode ser revertida por ressuscitação cardiopulmonar.
A American Heart Association (AHA) divulga periodicamente atualizações e recomendações para suporte básico de vida em adultos (BLS) e a qualidade da ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Além da identificação das causas, veremos agora os passos a seguir quando nos depararmos com uma PCR em nossos atendimentos.
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Primeiros passos na parada cardiorrespiratória
Os passos iniciais incluem avaliar a segurança do local, testar a responsividade do paciente e fornecer suporte básico de vida se não estiver em ambiente hospitalar. A confirmação da parada cardiopulmonar requer estimulo sonoro e tátil vigoroso para avaliar a responsividade, sendo precedido por avaliação do pulso carotídeo ou femoral por no máximo 10 segundos, ao mesmo tempo que se avaliam movimentos respiratórios.
Na ausência desses fatores, a PCR está confirmada e é responsabilidade imediata do socorrista ligar para o Serviço de Emergência Médica e iniciar a RCP. É fundamental diagnosticar os sinais de aspiração de corpo estranho nas vias respiratórias, que incluem estridor intenso, dispneia, retrações supraesternais e intercostais. Recomenda-se fazer a manobra de Heimlich se houver suspeita de aspiração.
Compressões na PCR
O fornecimento de compressões torácicas de alta qualidade é vital para a ressuscitação bem-sucedida. Elas devem ser realizadas no terço médio e distal do esterno, na frequência de 100 a 120 compressões por minuto, com a profundidade de 5 a 6 cm e com retorno completo do tórax a cada compressão.
Ventilações na PCR
Após iniciar as compressões efetivas, deve-se avaliar via aérea. A ventilação de pacientes só é indicada se houver no local dispositivos de ventilação, como a bolsa-válvula-máscara. Manobras básicas de abertura da via aérea podem ser aplicadas, incluindo a tração mandíbula (Jaw Thrust) ou elevação do mento (Chin Lift).
A frequência de ventilação depende se o paciente está com dispositivo de via aérea avançada (intubação orotraqueal) ou não. Se o paciente estiver sem viagem avançada deve ser realizado 2 ventilações a cada 30 compressões (30/2), com interrupção das compressões no momento da ventilação. Caso esteja intubado, realizar uma ventilação a cada 6 segundos, contabilizando 10 ventilações a cada minuto com compressões torácicas contínuas.
As últimas atualizações do ACLS trazem a capnografia quantitativa como método para avaliar se a qualidade da RCP. Se o PETCO2 estiver baixo caindo sugere baixa qualidade da RCP.
Ritmos de parada cardiorrespiratória
Os ritmos de paradas são divididos em ritmos chocáveis e não chocáveis. Os últimos chocáveis são representados pela fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sem pulso, enquanto os não chocáveis são a atividade elétrica sem pulso e a assistolia.
No atendimento pré-hospitalar é mais comum que as PCRs sejam por ritmos chocáveis, FV ou TVSP, enquanto os principais motivos intra-hospitalares são ritmos não chocáveis, AESP ou assistolia.
Ritmos chocáveis
Além das compressões de alta qualidade, a desfibrilação precoce é ponto chave na ressuscitação de pacientes em ritmos de FV e TVSP.
Existem dois tipos de desfibriladores, monofásico e bifásico. Enquanto o primeiro utiliza uma carga de 360J para desfibrilar, o bifásico depende da recomendação do fabricante, a exemplo de doses iniciais de 120 a 200J. Se a carga for desconhecida, usar o máximo disponível. A segunda dose da desfibrilação nos casos de bifásico devem ser equivalentes, podendo ser consideradas doses mais altas se não houver resposta.
Em relação às drogas, a epinefrina 1 mg, IV ou intra ósseo, a cada 3 a 5 minutos é a droga utilizada nos casos de ritmo chocável refratária ao primeiro choque e um ciclo completo de RCP (2min). Nos casos de ritmos chocáveis, deve-se lançar mão de amiodarona 300mg na primeira dose e 150mg na segunda dose. A lidocaína é uma opção a amiodarona, na dose de 1 a 1,5 mg por kg na primeira dose e de 0,5 a 0,75 mg por kg na segunda dose.
Ritmos não chocáveis
As compressões de alta qualidade são a base para ressuscitação nos ritmos não chocáveis, não havendo indicação de desfibrilação nestes casos. No caso de assistolia, é importante aplicar o protocolo CA-GA-DA, que consiste em checar os cabos (CA), aumentar o ganho de amplitude no monitor (GA) e avaliar duas derivações diferentes (DA).
Diferente dos ritmos chocáveis, a epinefrina 1 mg IV ou intra ósseo é administrada imediatamente. As outras drogas antiarrítmicas não são utilizadas nos ritmos não chocáveis.
Em busca das causas de parada cardiorrespiratória
As possíveis causas de PCR devem ser pensadas desde o primeiro momento na RCP. As etiologias reversíveis são divididas em 5Hs e 5Ts:
- 5 Hs:
- Hipovolemia (reposição volêmica com cristalóide);
- Hipóxia (fornecer oxigênio ou suporte ventilatório);
- Hipotermia (aquecer);
- Hidrogênio, acidose (administrar bicarbonato de sódio); e
- Hipocalemia (repor K +)/hipercalcemia (administrar gluconato de cálcio).
- 5 Ts:
- Tensão do pneumotórax por pneumotórax (punção de alívio e drenagem torácica);
- Tamponamento cardíaco (punção de marfan para drenar o líquido do pericárdio);
- Trombose pulmonar (trombólise intra parada);
- Trombose coronariana (a trombose durante a PCR é questionável, mas esses pacientes se beneficiam de cateterismo após retorno da circulação espontânea); e
- Toxinas (ex., opioide: administrar naloxona).
Veja também:
- Resumo sobre epinefrina: indicações, farmacologia e mais!
- IAMCSST: diagnóstico, conduta e tratamento
- Resumo sobre amiodarona: indicações, farmacologia e mais!
- Resumo de bradicardia: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo sobre atropina: indicações, farmacologia e mais!
- Resumo técnico do manejo das taquiarritmias: diagnóstico, abordagem inicial e muito mais!
- Arritmia Supraventricular: o que é, causas, sintomas, tratamento e mais!
- Resumo de choque cardiogênico: diagnóstico, tratamento e mais!
Referências bibliográficas:
- AHA. Adult Basic Life Support. 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment. Disponível em AHA.
- Protocolos de Intervenção para o SAMU 192 – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Brasília: Ministério da Saúde, 2a edição, 2016.https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_suporte_avancado_vida.pdf
- Sharabi AF, Singh A. Cardiopulmonary Arrest in Adults. [Updated 2023 Jan 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK563231/
- Crédito da imagem em destaque: Pexels