Olá, meu Doutor e minha Doutora! A síndrome de Rett (RTT) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que ocorre predominantemente em meninas, sendo descrita pela primeira vez em 1966 pelo médico Andreas Rett. A maioria dos casos é causada por mutações no gene MECP2.
Vem com o Estratégia MED conhecer as principais características dessa condição e como podemos diferenciá-la do autismo. Ao final, separei uma questão de prova sobre o tema para respondermos juntos!
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Conceito da Síndrome de Rett
A síndrome de Rett (RTT) é um distúrbio genético raro que afeta predominantemente as meninas. É caracterizada por uma desaceleração no desenvolvimento, perda de habilidades adquiridas, movimentos repetitivos das mãos, problemas de coordenação motora, dificuldades de fala e linguagem, além de problemas de saúde como convulsões, escoliose e problemas respiratórios. A síndrome de Rett é causada por mutações no gene MECP2 e não tem cura, mas o tratamento visa aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Epidemiologia da Síndrome de Rett
A síndrome de Rett é considerada uma doença rara. Sua incidência é estimada em cerca de 1 em cada 22.800 nascimentos de meninas. Como a síndrome de Rett é causada por mutações genéticas aleatórias no gene MECP2, não há uma predisposição conhecida em termos de raça, etnia ou geografia. A maioria dos casos relatados ocorre em meninas, uma vez que a mutação no gene MECP2 geralmente é letal em homens.
A expectativa de vida das pessoas com síndrome de Rett pode variar consideravelmente, dependendo da gravidade dos sintomas e do acesso a cuidados médicos adequados. Em geral, as pessoas com síndrome de Rett têm uma expectativa de vida mais curta do que a população em geral. No entanto, com o avanço nos cuidados médicos e terapias de suporte ao longo dos anos, muitas pessoas com síndrome de Rett estão vivendo mais tempo do que no passado. Algumas podem viver até a idade adulta e além, especialmente aquelas com formas mais leves da síndrome e acesso a cuidados médicos especializados e tratamentos adequados para gerenciar os sintomas e complicações associadas.
Fisiopatologia da Síndrome de Rett
A síndrome de Rett é causada por variantes patogênicas no gene MECP2, localizado no cromossomo Xq28. Este gene codifica a proteína de ligação metil-CpG 2 (MeCP2), que desempenha um papel crucial no desenvolvimento neuronal. Embora o MeCP2 seja expresso em todo o corpo, ele é mais abundante no cérebro, onde sua função anormal pode ter um impacto significativo.
A neuropatologia da síndrome de Rett envolve um crescimento cerebral desacelerado, especialmente no córtex, refletindo um desenvolvimento interrompido. Observações post-mortem indicam uma falta de degeneração cerebral e uma interrupção no crescimento cerebral após os quatro anos. Embora haja uma compreensão substancial da fisiopatologia da síndrome de Rett, ainda há muitas questões em aberto, especialmente em relação à variabilidade fenotípica e ao impacto das variantes específicas do MECP2 no curso da doença.
Quadro Clínico da Síndrome de Rett
Algumas das manifestações típicas da síndrome de Rett incluem:
Perda de habilidades manuais propositais: as crianças com síndrome de Rett perdem geralmente a capacidade de realizar movimentos manuais propositais.
Anormalidades motoras e de marcha: movimentos estereotipados das mãos são comuns, como oposição das mãos, amassar e esfregar os dedos, entre outros. A marcha é frequentemente ampla, desajeitada e atáxica.
Perda da linguagem falada: a maioria das meninas com síndrome de Rett perdem a linguagem expressiva durante a primeira infância, embora algumas possam reter expressões de uma palavra. Comunicação por meio de olhares, linguagem corporal e expressões faciais pode ser observada.
Falha de crescimento: há uma desaceleração precoce do crescimento da cabeça, seguida de desaceleração das medidas de peso e altura. Isso pode ser observado logo nos primeiros meses de vida e é uma característica distintiva da síndrome de Rett.
Epilepsia: convulsões são comuns em pacientes com síndrome de Rett, afetando a maioria deles. A incidência de epilepsia aumenta com a idade e está associada a maiores escores de gravidade clínica da doença.
Anormalidades cardíacas: pacientes com síndrome de Rett têm um risco aumentado de morte súbita inesperada, sugerindo instabilidade elétrica cardíaca devido à regulação anormal do sistema nervoso autônomo.
Distúrbios do sono: cerca de 80% ou mais dos pacientes com síndrome de Rett apresentam distúrbios do sono, incluindo horários irregulares de sono, despertares noturnos periódicos com comportamento perturbador e sono noturno abreviado.
Disfunção autonômica: entre 50 a 70% dos pacientes apresentam características clínicas indicativas de disfunção do sistema nervoso autônomo, como aumento do tônus simpático e resposta parassimpática prejudicada.
Diferença entre Autismo e Síndrome de Rett
O autismo e a síndrome de Rett (RTT) são duas condições neurológicas distintas, embora compartilhem algumas características em comum. Aqui estão algumas diferenças importantes entre elas:
- Causa e genética:
- Autismo: a causa exata do autismo não é totalmente compreendida, mas é geralmente considerada uma condição multifatorial, envolvendo uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Múltiplos genes foram implicados no autismo, e há uma grande variabilidade genética entre os indivíduos afetados.
- Síndrome de Rett: a RTT é causada por mutações no gene MECP2, localizado no cromossomo X. Esta é uma condição genética dominante ligada ao X, o que significa que geralmente afeta meninas e é rara em meninos. A maioria dos casos de RTT é causada por mutações espontâneas, não herdadas dos pais.
- Sexo e Prevalência:
- Autismo: o autismo afeta indivíduos de todos os sexos, embora seja mais comum em meninos do que em meninas. Estima-se que cerca de 1 em cada 36 pessoas nos Estados Unidos tenha autismo.
- Síndrome de Rett: a RTT afeta quase exclusivamente meninas, devido à sua natureza ligada ao cromossomo X. É uma condição muito rara, com uma prevalência estimada de cerca de 1 em cada 22.800 meninas.
- Desenvolvimento e Regressão:
- Autismo: o autismo é geralmente reconhecido na primeira infância, com sintomas se tornando aparentes antes dos 3 anos. Não há uma regressão significativa nas habilidades já adquiridas.
- Síndrome de Rett: a RTT é caracterizada por uma regressão significativa após um período de desenvolvimento aparentemente normal. As crianças com RTT geralmente apresentam um desenvolvimento típico durante os primeiros 6 a 18 meses de vida, seguido por uma perda gradual de habilidades motoras e linguísticas.
- Padrão de Comportamento e Sintomas:
- Autismo: o autismo é caracterizado por dificuldades na comunicação social e na interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Os sintomas variam amplamente em termos de gravidade e impacto funcional.
- Síndrome de Rett: além da perda de habilidades motoras e linguísticas, as crianças com RTT podem exibir movimentos estereotipados das mãos, distúrbios respiratórios, distúrbios do sono e uma série de outras manifestações neurológicas.
Diagnóstico da Síndrome de Rett
O diagnóstico da síndrome de Rett (RTT) é estabelecido com base em características clínicas e genéticas. Os critérios diagnósticos diferenciam entre RTT típica e atípica, sendo necessários critérios específicos para cada uma delas.
- RTT típica: para diagnosticar RTT típica, é necessário observar um período de regressão seguido de recuperação ou estabilização, além do preenchimento de todos os quatro critérios principais: perda de habilidades manuais propositais, perda da linguagem falada, anormalidades da marcha e movimentos estereotipados das mãos. Não deve haver critérios de exclusão presentes.
- RTT atípica: o diagnóstico de RTT atípica também requer um período de regressão seguido de recuperação ou estabilização. Além disso, deve-se preencher pelo menos 2 dos 4 critérios principais e 5 dos 11 critérios de suporte.
A confirmação do diagnóstico pode ser feita pela detecção de uma variante patogênica no gene MECP2, responsável pela maioria dos casos de RTT. No entanto, é importante observar que nem todos os casos de RTT apresentam uma mutação no gene MECP2, o que significa que o diagnóstico clínico ainda é fundamental, especialmente em pacientes que não têm uma variante detectável no gene MECP2.
Tratamento da Síndrome de Rett
O manejo da síndrome de Rett requer uma abordagem abrangente que aborde tanto os aspectos médicos quanto os psicossociais da condição. Isso envolve terapias sintomáticas, apoio familiar e educacional, aconselhamento genético e apoio à pesquisa para melhorar os resultados para os pacientes afetados.
Cai na Prova
Acompanhe comigo uma questão sobre a síndrome de Rett (disponível no banco de questões do Estratégia MED):
(PR – ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP 2010) Menina de 4 anos de idade com quadro de regressão do desenvolvimento. Apresentou desenvolvimento adequado até 1 ano, quando começou regressão da linguagem, marcha atáxica e tremores finos das mãos. Atualmente apresenta convulsões tônico-clônicas generalizadas, presença de movimentos estereotipados de torcer as mãos, microcefalia, baixos peso e estatura. O diagnóstico mais provável é:
A. Autismo
B. Síndrome de Rett
C. Síndrome de Sandifer
D. Encefalomielite aguda disseminada (ADEM)
E. Síndrome de Asperger.
Comentário da Equipe EMED: A síndrome de Rett é uma doença neurológica, que acomete quase que exclusivamente meninas, que apresentam um desenvolvimento neuropsicomotor típico até 6 e 24 meses de vida. Após esse período de desenvolvimento normal, acontece uma regressão do neurodesenvolvimento, com prejuízo nas habilidades de fala e motoras, desaceleração do crescimento, e prejuízo cognitivo intenso. Na maioria das pacientes também ocorrem frequentes convulsões. É preciso destacar que acontece uma perda importante das habilidades adquiridas, característica não presente habitualmente no TEA. Portanto, alternativa B.
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Referências Bibliográficas
- Rebecca J Schultz & Bernhard Suter. Rett syndrome: Genetics, clinical features, and diagnosis. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate
- Rebecca J Schultz & Bernhard Suter. Rett syndrome: Treatment and prognosis. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate
- Imagem de Ratna Fitry por Pixabay
- Instituto CureRETT. Disponível em: CureRETT