Resumo de Transtorno Ciclotímico: causas, diagnóstico e mais!
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Resumo de Transtorno Ciclotímico: causas, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O transtorno ciclotímico é uma condição frequentemente negligenciada na prática clínica, apesar de seu impacto prolongado na qualidade de vida dos pacientes. Abaixo trouxemos uma visão abrangente sobre os principais aspectos da ciclotimia, desde a fisiopatologia até o manejo terapêutico.

A combinação entre alta reatividade emocional e controle inibitório deficitário contribui para um padrão afetivo instável, característico da ciclotimia.

Conceito de transtorno ciclotímico

O transtorno ciclotímico, também conhecido como ciclotimia, integra o espectro dos transtornos bipolares e se caracteriza por oscilações crônicas do humor, com episódios de sintomas depressivos e hipomaníacos que não chegam a atingir a intensidade ou duração necessária para configurar episódios major. Essas flutuações persistem por longos períodos – geralmente mais de dois anos – e causam prejuízos funcionais, ainda que, em muitos casos, os pacientes não reconheçam a presença de um transtorno.

Fisiopatologia  

Alterações neurobiológicas 

A ciclotimia envolve uma alteração contínua nos mecanismos cerebrais responsáveis pela regulação emocional. Evidências sugerem que há hiperatividade da amígdala, estrutura ligada ao processamento de emoções, especialmente medo e excitação, o que favorece uma reatividade afetiva intensa e desproporcional aos estímulos. Além disso, o córtex orbitofrontal, envolvido no controle inibitório e na avaliação de riscos, apresenta funcionamento menos eficiente, dificultando o equilíbrio entre impulsos e comportamentos adaptativos. Essa combinação favorece um padrão de instabilidade emocional com mudanças de humor rápidas e desorganizadas, mesmo na ausência de eventos externos significativos.

Fatores genéticos e ambientais 

Estudos genéticos indicam que há maior incidência de ciclotimia em indivíduos com histórico familiar de transtornos do espectro bipolar, sugerindo uma vulnerabilidade herdada. Genes como o CLOCK e o ANK3, relacionados ao ritmo circadiano e à plasticidade neuronal, têm sido investigados como possíveis marcadores de risco. Por outro lado, fatores ambientais como traumas precoces, relações familiares instáveis e exposição prolongada ao estresse também contribuem para o surgimento do quadro. Esses elementos, somados à base neurobiológica, ajudam a explicar a natureza crônica e oscilante do transtorno. 

Epidemiologia e fatores de risco

A ciclotimia é um transtorno pouco diagnosticado, embora não necessariamente raro. Estimativas apontam uma prevalência vitalícia entre 0,4% e 1% na população geral, podendo alcançar índices mais elevados, próximos de 5%, em contextos clínicos especializados. A condição tende a surgir ainda na adolescência ou no início da vida adulta, com curso crônico e flutuações contínuas do humor. 

Há relatos de discreta predominância entre mulheres, mas essa diferença pode estar associada à maior procura por cuidados de saúde. A baixa taxa de diagnóstico está fortemente relacionada à confusão com outras condições psiquiátricas e à tendência dos próprios pacientes em considerar suas oscilações emocionais como parte do temperamento pessoal.

Fatores de risco 

  • Histórico familiar de transtorno bipolar ou ciclotimia;
  • Presença de temperamento ciclotímico desde a adolescência; 
  • Experiências traumáticas na infância ou adolescência; 
  • Ambientes familiares disfuncionais ou com vínculos instáveis; 
  • Comorbidades psiquiátricas (como ansiedade, TDAH ou abuso de substâncias); 
  • Início precoce de sintomas afetivos, especialmente antes dos 21 anos; 
  • Alta sensibilidade ao estresse e eventos interpessoais; e 
  • Ritmos circadianos irregulares ou sono desregulado.

Sintomas 

A ciclotimia se manifesta por oscilações persistentes entre sintomas depressivos e hipomaníacos, que embora não preencham critérios para episódios major, comprometem a estabilidade emocional e funcional do indivíduo. Essas alterações costumam ocorrer de forma imprevisível, sendo muitas vezes confundidas com traços de personalidade. Abaixo estão descritas as principais manifestações clínicas de cada fase:

FaseSintomas Comuns
Hipomaníaca– Aumento da energia e da sociabilidade 
– Pensamento acelerado 
– Fala excessiva – Impulsividade 
– Redução da necessidade de sono 
– Irritabilidade ou euforia
Depressiva– Fadiga 
– Baixa autoestima 
– Sentimento de inutilidade 
– Tristeza persistente 
– Isolamento social 
– Ideias suicidas ou automutilação
Fase Mista– Instabilidade emocional intensa 
– Irritabilidade explosiva 
– Ansiedade com agitação 
– Combinação de sintomas depressivos e hipomaníacos

Diagnóstico do transtorno ciclotímico

O diagnóstico da ciclotimia exige atenção clínica apurada, já que os sintomas costumam ser interpretados como características de personalidade ou confundidos com outros transtornos afetivos. De acordo com o DSM-5, o transtorno é caracterizado por: 

CritérioDescrição
APresença, por pelo menos 2 anos (ou 1 ano em crianças e adolescentes), de múltiplos períodos com sintomas depressivos e hipomaníacos que não preenchem critérios para episódios major.
BDurante esse período, os sintomas estão presentes por, no mínimo, metade do tempo e não há mais de 2 meses consecutivos sem sintomas.
CNunca houve episódio depressivo maior, episódio maníaco ou hipomaníaco com critérios completos.
DOs sintomas não são melhor explicados por transtornos do espectro esquizofrênico (esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo, etc.).
EOs sintomas não se devem aos efeitos de substâncias ou de outra condição médica (ex: hipertireoidismo).
FOs sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

O diagnóstico diferencial inclui transtornos como depressão persistente (distimia), transtorno de personalidade borderline e transtornos do déficit de atenção, além de quadros clínicos secundários como disfunções tireoidianas. O uso de escalas específicas, como o TEMPS-A e questionários de rastreio do espectro bipolar, pode ajudar a direcionar a avaliação, especialmente nos casos em que o paciente apresenta sintomas atípicos ou flutuantes desde a juventude.

Tratamento do transtorno ciclotímico 

O manejo da ciclotimia baseia-se na combinação de estabilizadores de humor — como lítio, valproato ou lamotrigina — e intervenções psicoterapêuticas adaptadas ao padrão de oscilação afetiva do paciente. A psicoterapia cognitivo-comportamental e programas específicos de psicoeducação têm mostrado benefícios ao auxiliar o indivíduo a reconhecer seus padrões emocionais e prevenir recaídas. O uso isolado de antidepressivos deve ser evitado, pois pode desencadear episódios hipomaníacos ou acelerar os ciclos de humor.

Evolução

Quando identificada e tratada precocemente, a ciclotimia pode ter um curso mais controlável, embora a instabilidade afetiva persistente represente um risco contínuo para disfunção social e ocupacional. O prognóstico tende a ser mais favorável quando há boa adesão terapêutica, suporte psicossocial e ausência de comorbidades graves, mas a evolução para formas mais graves do espectro bipolar permanece uma possibilidade em parte dos casos.

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Referências Bibliográficas 

  1. BIELECKI, Joseph E.; GUPTA, Vikas. Cyclothymic Disorder. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023. 
  1. SOUSA, João Pedro Santos Teixeira de. Ciclotimia: estudo e revisão monográfica. Universidade da Beira Interior, 2016. Dissertação (Mestrado em Medicina) – Faculdade de Ciências da Saúde, Covilhã, 2016. 
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