Olá, querido doutor e doutora! A úlcera de Lipschütz é uma condição genital rara e pouco reconhecida na prática clínica, especialmente em adolescentes. Por apresentar lesões dolorosas e de aparecimento súbito, costuma gerar confusão diagnóstica com infecções sexualmente transmissíveis. Confira abaixo uma revisão atualizada e objetiva sobre o tema, com foco na abordagem médica.
Apesar da aparência alarmante, a úlcera de Lipschütz tende a se resolver espontaneamente em poucas semanas, sem deixar cicatrizes na maioria dos casos.
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O que é a úlcera de Lipschütz
A úlcera de Lipschütz é uma condição inflamatória aguda caracterizada pelo surgimento abrupto de uma ou mais lesões ulceradas na região genital feminina, geralmente em adolescentes e mulheres jovens sem atividade sexual recente. Essas úlceras costumam ser dolorosas, profundas e apresentam uma base necrótica, com aparência característica que pode gerar apreensão tanto da paciente quanto da equipe de saúde.
Embora frequentemente confundida com doenças sexualmente transmissíveis, trata-se de uma manifestação não infecciosa, associada a reações imunológicas desencadeadas por infecções virais ou bacterianas.
Fisiopatologia da úlcera de Lipschütz
A origem da úlcera de Lipschütz ainda não é completamente esclarecida, mas acredita-se que o processo envolva uma resposta inflamatória intensa desencadeada por agentes infecciosos, especialmente vírus como Epstein-Barr, citomegalovírus ou mesmo bactérias como Mycoplasma pneumoniae. Esses microrganismos atuariam como estímulos antigênicos à distância, sem estarem presentes diretamente na lesão genital.
Duas principais hipóteses explicam o mecanismo de formação das úlceras: a primeira propõe que antígenos virais ou bacterianos induzem uma reação de hipersensibilidade tipo III, com formação de complexos imunes que se depositam nos vasos dérmicos, ativando o complemento e resultando em microtromboses e necrose tecidual. A segunda hipótese defende que a vasculite local causada por essa cascata inflamatória leva ao dano vascular direto, gerando ulcerações profundas, dolorosas e com base necrótica. Independentemente do mecanismo predominante, trata-se de uma reação imunomediada, e não de uma infecção direta do tecido vulvar.
Epidemiologia e fatores de risco
A úlcera de Lipschütz é uma condição pouco frequente, sendo relatada principalmente em adolescentes e mulheres jovens, em especial aquelas com menos de 20 anos. A maioria das pacientes afetadas não apresenta atividade sexual recente, o que ajuda a diferenciar essa condição de outras causas infecciosas de úlcera genital.
Entre os fatores de risco identificados, destaca-se o histórico recente de infecção viral sistêmica — como mononucleose, gripe ou outras viroses respiratórias — ou infecção bacteriana, como pneumonia atípica. Apesar de não haver uma predisposição genética claramente estabelecida, há relatos de recorrência em algumas pacientes, o que levanta a hipótese de uma suscetibilidade imunológica individual a esse tipo de reação inflamatória.
Sintomas da úlcera de Lipschütz
Característica | Descrição |
---|---|
Início | Súbito, geralmente após infecção viral ou bacteriana |
Sintomas prodrômicos | Febre, mal-estar, dor de garganta, linfadenopatia |
Localização das lesões | Pequenos lábios (mais comum), grandes lábios, vestíbulo, períneo, vagina inferior |
Número de lesões | Única ou múltiplas |
Tamanho das úlceras | Geralmente maiores que 1 cm |
Morfologia | Úlceras profundas, bem delimitadas, base necrótica com exsudato acinzentado ou escara preta |
Padrão simétrico | Pode apresentar-se em “espelho” – úlceras que se “beijam” |
Dor | Intensa, constante, limitante |
Outros achados associados | Edema vulvar, disúria, possível retenção urinária |
Evolução | Autolimitada, com resolução espontânea em 2 a 6 semanas |
Recorrência | Pode ocorrer em até 30%–50% dos casos |
Cicatrizes | Incomum após a cura |
Diagnóstico
O diagnóstico da úlcera de Lipschütz é clínico e baseado na exclusão criteriosa de outras causas mais frequentes de ulceração genital. A avaliação deve iniciar com uma anamnese detalhada, incluindo a duração e características das lesões, sintomas sistêmicos associados e histórico sexual, sendo comum que a paciente seja virgem ou não tenha tido atividade sexual nos últimos três meses. Esse dado é relevante para afastar causas infecciosas sexualmente transmissíveis.
Para firmar o diagnóstico, alguns exames laboratoriais são úteis no processo de exclusão:
- Sorologias para Herpes simplex virus, Epstein-Barr virus (EBV), citomegalovírus e HIV;
- Testes para sífilis e outras ISTs;
- Hemograma com pesquisa de linfócitos atípicos;
- Função hepática (que pode estar alterada em infecções virais como mononucleose);
- PCR para HSV, quando disponível.
A biópsia raramente é necessária, já que os achados histológicos são inespecíficos. Só deve ser considerada se houver dúvidas diagnósticas ou evolução atípica, como lesões persistentes além de quatro semanas.
Tratamento da úlcera de Lipschütz
O tratamento da úlcera de Lipschütz é direcionado ao alívio dos sintomas e à prevenção de complicações locais, já que a condição apresenta evolução autolimitada. A maioria dos casos pode ser manejada ambulatorialmente com medidas simples. As principais recomendações incluem:
- Banhos de assento em água morna ajudam na higiene da região e podem auxiliar no desbridamento suave das lesões.
- Controle da dor com uso de anestésicos tópicos como lidocaína 2% em solução viscosa ou em pomada.
- Antibióticos não são indicados rotineiramente, sendo reservados para situações com sinais de infecção bacteriana secundária ou celulite vulvar.
Evolução
A úlcera de Lipschütz costuma cicatrizar espontaneamente entre duas a seis semanas, sem deixar cicatrizes na maioria dos casos. No entanto, cerca de 30% a 50% das pacientes podem apresentar recorrências ao longo da vida. Em situações de repetição, deve-se considerar a investigação para aftose complexa ou outras condições ulcerativas sistêmicas, como a síndrome de Behçet.
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Referências Bibliográficas
- GAY, Carter et al. Lipschütz Ulcers: Classic Presentation of an Uncommon Condition. Cureus, [s.l.], v. 15, n. 5, p. e38505, 2023.
- BRITO, Maria de Fátima Dias de Sousa et al. Síndrome de Behçet ou úlcera de Lipschütz: desafio diagnóstico. Femina, São Paulo, v. 49, n. 3, p. 187–192, 2021.
- SCHAFER, Fabiola; MIRANDA, Rodrigo. Úlceras genitais agudas em jovem menina: desafio clínico. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 97, n. 5, p. 682–683, 2022.