Olá, meu Doutor e minha Doutora! A causa exata das úlceras gástricas só foi compreendida mais completamente com o avanço da ciência médica. Antes, havia uma crença equivocada de que fatores emocionais ou estresse eram as principais causas. No entanto, à medida que a pesquisa progrediu, tornou-se evidente que fatores como a infecção por Helicobacter pylori (H. pylori) e o uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) desempenham papéis significativos na sua patogênese.
Vem com o Estratégia MED conhecer os principais aspectos das úlceras gástricas. Ao final, separei uma questão de prova sobre o tema para respondermos juntos!
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Conceito de Úlcera Gástrica
As úlceras gástricas são lesões na mucosa do estômago que se estendem até as camadas mais profundas da parede. Elas são causadas pela atividade ácido-péptica do suco gástrico e continuam a representar um desafio significativo em termos de morbidade e custos com saúde. Essas úlceras podem se manifestar de diversas formas, desde sintomas dispépticos ou outros problemas gastrointestinais, até mesmo serem assintomáticas inicialmente e, mais tarde, desencadear complicações sérias.
Epidemiologia da Úlcera Gástrica
Ao longo das últimas décadas, as taxas de úlcera gástrica têm diminuído consistentemente. O declínio na infecção por H. pylori tem sido um fator importante nessa diminuição. Em países desenvolvidos, a prevalência de úlcera gástrica em jovens está diminuindo. Além disso, a úlcera gástrica deixou de ser predominantemente uma doença masculina, com prevalência quase igual entre homens e mulheres.
A incidência combinada de úlcera gástrica não complicada na população geral é de cerca de 1 caso por 1000 pessoas/ano, enquanto a incidência de complicações relacionadas à úlcera é de aproximadamente 0,7 casos por 1000 pessoas/ano.
Etiologia da Úlcera Gástrica
A úlcera gástrica é associada principalmente a dois fatores: infecção pelo Helicobacter pylori e uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Tanto o uso de AINEs quanto a infecção por H. pylori representam fatores de risco independentes e sinérgicos para úlcera gástrica não complicada e hemorrágica. Outras causas raras podem ser por condições específicas, como gastrinoma ou infecções virais, enquanto outras permanecem sem causa aparente, sendo classificadas como idiopáticas.
Patogênese da Úlcera Gástrica
Geralmente, as úlceras ocorrem quando os mecanismos protetores que governam a função e o reparo da mucosa gástrica são interrompidos por fatores sobrepostos, como a infecção pelo H. pylori e o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). As úlceras gástricas frequentemente envolvem níveis normais ou aumentados de secreção ácida. A infecção por H. pylori pode levar a uma redução na secreção ácida gástrica em alguns pacientes, mas cerca de 10 a 15% dos infectados podem desenvolver uma gastrite predominantemente antral, associada à diminuição da somatostatina antral e aumento da secreção ácida gástrica.
O risco de úlcera aumenta com a quantidade e a duração do tabagismo. Fumantes têm uma prevalência maior de doença ulcerosa em comparação com não fumantes. O consumo de álcool em altas concentrações pode danificar a barreira da mucosa gástrica e está relacionado ao desenvolvimento de úlcera gástrica complicada e não complicada. Beber pesado aumenta significativamente o risco de úlcera hemorrágica, e o álcool também estimula a secreção ácida, o que pode contribuir para o desenvolvimento de úlceras.
Manifestações Clínicas da Úlcera Gástrica
A úlcera gástrica pode ser assintomática em cerca de 70% dos casos, o que pode levar a complicações graves, como hemorragia ou perfuração. Pacientes com úlceras gástricas podem desenvolver sangramento sem apresentar sintomas prévios de dispepsia ou outros problemas gastrointestinais. Esse cenário é mais comum em idosos e em pessoas que usam anti-inflamatórios não hormonais.
Entre os sintomáticos, a dor abdominal é o principal sintoma, especialmente a dor epigástrica, presente em cerca de 80% dos casos. Essa dor costuma surgir algumas horas após a alimentação e pode ser acompanhada de sintomas como inchaço, plenitude abdominal, náuseas e saciedade precoce. Além disso, alguns pacientes podem experimentar azia ou regurgitação ácida como sintomas associados.
As complicações da úlcera gástrica podem ser graves e variadas. O sangramento gastrointestinal é a complicação mais comum, manifestando-se por sintomas como náuseas, hematêmese ou melena. Outras complicações incluem penetração e fistulização, nas quais a úlcera pode penetrar em órgãos adjacentes, resultando em sintomas como dor intensa e alterações nos sintomas gastrointestinais. Por fim, a perfuração da úlcera é uma emergência médica que se manifesta com dor abdominal aguda e difusa, taquicardia e rigidez abdominal.
Diagnóstico da Úlcera Gástrica
A endoscopia digestiva alta é o método definitivo para diagnosticar a úlcera gástrica, onde úlceras benignas são caracterizadas por bordas lisas, regulares e arredondadas, com uma base plana e lisa, muitas vezes preenchida por exsudato.
As úlceras com características malignas devem ser biopsiadas durante a endoscopia, especialmente aquelas com uma massa ulcerada protusa para o lúmen, dobras ao redor da cratera da úlcera que são nodulares, baqueadas, fundidas ou param abaixo da margem da úlcera, e margens da úlcera pendentes, irregulares ou espessadas.
Em áreas com alta incidência de câncer gástrico, todas as úlceras gástricas devem ser biopsiadas, enquanto em áreas de baixa incidência, a decisão de biopsiar úlceras gástricas de aparência benigna pode ser mais controversa, dependendo das características clínicas do paciente.
Além disso, todos os pacientes diagnosticados com úlcera gástrica devem ser testados para infecção por H. pylori. Outras avaliações para determinar a etiologia subjacente devem ser consideradas quando a infecção por H. pylori e o uso de AINEs foram excluídos.
Tratamento da Úlcera Gástrica
O tratamento da úlcera gástrica visa tratar a causa subjacente e aliviar os sintomas, além de prevenir recorrências e complicações. Aqui está um resumo das principais estratégias de tratamento:
- Teste e tratamento do Helicobacter pylori: todos os pacientes com úlcera gástrica devem ser testados para H. pylori. Aqueles com a infecção devem ser tratados para erradicá-la. A confirmação da erradicação deve ser realizada após quatro ou mais semanas do término do tratamento.
- Evitar AINEs: pacientes com úlcera gástrica devem ser aconselhados a evitar anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), e quaisquer fatores contribuintes devem ser identificados e tratados.
- Terapia antissecretória: todos os pacientes com úlcera gástrica devem receber terapia antissecretória com inibidores da bomba de prótons (IBPs) para promover a cicatrização da úlcera. A escolha e duração da terapia variam conforme a etiologia, localização e complicações da úlcera.
- Endoscopia de vigilância: em alguns casos, a endoscopia de vigilância pode ser necessária para monitorar a cicatrização da úlcera e detectar precocemente qualquer recorrência ou malignidade.
- Prevenção de recorrência: é necessário avaliar a necessidade de aspirina e AINEs em pacientes com história de úlcera gástrica. A terapia antissecretória de manutenção pode ser considerada em subgrupos de alto risco, como aqueles com úlcera gástrica refratária, úlceras recorrentes, uso contínuo de AINEs, entre outros.
- Curso da doença: a maioria das úlceras gástricas cicatriza espontaneamente, especialmente com a erradicação do H. pylori. No entanto, mesmo após o tratamento bem-sucedido, algumas úlceras podem recorrer, e complicações podem ocorrer em alguns pacientes.
Cai na Prova
Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED):
RJ – SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – SES RJ 2020 A principal razão para buscar erradicar o Helicobacter pylori em pacientes com úlcera péptica é para:
A. reduzir a recorrência
B. aumentar a velocidade da cura
C. encurtar o período dos sintomas
D. diminuir a incidência de complicações
Comentário da Equipe EMED: Está bem comprovado e documentado na literatura médica que a erradicação do H. pylori diminui a chance de recorrência da úlcera péptica. Tanto que hoje em dia é raro encontrarmos a entidade “úlcera crônica”, já que dificilmente o paciente tratado para H. pylori volta a desenvolver úlceras, não havendo a necessidade de se manter usando IBP depois que a bactéria foi erradicada. Portanto, alternativa A.
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Referências Bibliográficas
- Nimish B Vakil. Peptic ulcer disease: Treatment and secondary prevention. UpToDate. Last updated: Aug 08, 2022.
- Nimish B Vakil. Peptic ulcer disease: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate. Last updated: Jul 19, 2022.
- Nimish B Vakil. Peptic ulcer disease: Epidemiology, etiology, and pathogenesis. UpToDate. Last updated: Jul 20, 2022.