Os distúrbios de sódio são as alterações hidroeletrolíticas mais comuns da prática médica e possuem extrema importância dentro das provas de residência médica. Confira agora quais são os distúrbios de sódio, que podem aparecer nos seus atendimentos e serem cobrados nas provas de residência médica!
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Definições
Os distúrbios de sódio são as alterações hidroeletrolíticas mais comuns na prática médica. Os valores de referência podem variar de acordo com o laboratório, mas a faixa mais comum de concentração sérica de sódio dentro da normalidade é entre 135 a 145 mEq/L.
Os valores abaixo desses limites são nomeados de hiponatremia, enquanto valores mais altos dentro dessa faixa são chamados de hipernatremia, os dois distúrbios de sódio presentes na prática clínica.
Epidemiologia e fisiopatologia dos distúrbios de sódio
A hiponatremia é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum em pacientes hospitalizados, estando presente em 15-20% das admissões hospitalares de urgência e em até 20% dos pacientes gravemente enfermos.
A hipernatremia é menos frequente que a baixa de sódio, acredita-se que tenha uma frequência de 0,2% nas admissões hospitalares, chegando a 6% nos pacientes de unidade de terapia intensiva (UTI).
#Ponto importante: As disnatremias verdadeiras, mais que distúrbios do sódio, representam alterações de água no corpo, visto que o sódio é íon do meio extracelular. Enquanto a perda de água livre causa a hipernatremia (maior concentração), o ganho de água livre gera a hiponatremia por diluição.
Distúrbios do sódio: Hiponatremia
Define-se hiponatremia aguda aquelas com duração menor que 48 horas e crônica as que duram pelo menos 48 horas. Se a hiponatremia não puder ser classificada, ela é considerada crônica, a menos que haja evidência clínica ou histórica em contrário.
Quanto a gravidade, é classificada a partir dos níveis séricos de sódio em:
- Leve: 130 a 134
- Moderado: 121 a 129
- Grave: Menor que 120
Quanto às causas, pode ser dividida em:
- Hipovolemia: Causada principalmente por desidratação, uso de diuréticos (principalmente tiazídicos) e na síndrome cerebral perdedora de sal.
- Euvolêmica: Por mais que seja um diagnóstico de exclusão, a maioria dos pacientes hiponatrêmicos que parecem estar euvolêmicos no exame físico tem a síndrome da liberação inadequada de ADH (SIADH), causada por uso de medicações, TCE, neurocirurgias, AVCs e classicamente ligada à neoplasia de pulmão de pequenas células.
- Hipervolêmico: As causas mais comuns são insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome nefrótica e doença renal crônica avançada.
Manifestações clínicas
Os sintomas de hiponatremia leve a moderada podem ser inespecíficos, como cefaleia, fadiga, náuseas, vômitos e cãibras. Sintomas graves incluem convulsões, obnubilação, coma e parada respiratória. Esses sintomas graves são mais comuns em pacientes com redução aguda e acentuada da concentração sérica de sódio, em que não houve adaptação cerebral à mudança na concentração de sódio.
Por outro lado, convulsões e outras manifestações neurológicas graves são relativamente incomuns em pacientes com hiponatremia crônica, mesmo entre aqueles com concentrações séricas de sódio gravemente diminuídas.
Nos quadros agudos e sintomáticos graves deve-se utilizar NaCl 3%, pois a excreção da sobrecarga de solutos promoverá excreção obrigatória de grande quantidade de água livre.
Tratamento
Pacientes com hiponatremia aguda e sintomas graves devem fazer bolus de 100 mL a 3%, seguida, se os sintomas persistirem, com até duas doses adicionais de 100 mL ao longo de 30 minutos.
#Ponto importante: O cálculo da reposição pode ser feito pela fórmula de Androgue, classicamente cobrada em provas.
Sódio infundido – Sódio sérico ➗ Água corporal total +1
Nos quadros crônicos, deve-se suspender medicações potenciais causadoras da hiponatremia, realizar restrição hídrica, aumentar ingestão de solutos orais, utilizar diuréticos de alça ou reposição de cloreto de sódio.
A reposição deve ser de no máximo 8 a 10 mEq por dia, pelo risco de síndrome da desmielinização osmótica, condição grave e potencialmente fatal. Quanto mais rápido for corrigido ou maior a gravidade da hiponatremia, maior o risco da desmielinização.
Distúrbios do sódio: Hipernatremia
O aumento da concentração de sódio do plasma acarreta um desvio de água do compartimento intracelular para o extracelular, com consequente ingurgitamento vascular e desidratação neuronal.
A hipernatremia geralmente está associada à hipovolemia. A perda combinada de água livre e sódio pode ser observada em condições extra-renais, como gastroenterite, vômitos, drenagem nasogástrica prolongada, queimaduras e sudorese excessiva. Por outro lado, a perda de água livre isolada é observada no diabetes insipidus (DI) central ou nefrogênico e também em condições com aumento da perda insensível.
Manifestações
A maioria dos pacientes apresenta sinais clínicos de desidratação. Outros sintomas incluem sede (que gera irritabilidade e choro em crianças menores), pele pode ficar pastosa ou aveludada devido à perda de água intracelular e hipotensão ortostática e taquicardia geralmente estão presentes na hipernatremia hipovolêmica. A poliúria é um dos sintomas comuns do diabetes insipidus.
Tratamento
O objetivo é diminuir o sódio sérico em não mais que 10 a 12 meq/L em 24 horas, pois a correção rápida da hipernatremia pode levar ao edema cerebral pela água que se move do soro para as células cerebrais.
O tratamento inicial é baseado na administração de soluções hipotônicas. No entanto, em pacientes com desidratação grave ou choque, o passo inicial é a ressuscitação volêmica com fluidos isotônicos antes da correção com água livre.
Algumas medicações ajudam a espoliar sódio durante processo de reabsorção renal, como hidroclorotiazida em doses altas e acetazolamida. Crianças mais velhas e adultos com diabetes insipidus central podem precisar de desmopressina.
Veja também:
- Resumo de hiponatremia: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de Potássio: fisiologia e distúrbios
- Resumo de distúrbios ácido-base
- Como interpretar a creatinina sérica
Referências bibliográficas:
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