E aí, doc! Vamos abordar mais um tema relevante? Agora, falaremos sobre a Hiperêmese Gravídica, uma condição que envolve náuseas e vômitos intensos durante a gravidez.
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Vamos nessa!
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Definição de Hiperêmese Gravídica
A hiperêmese gravídica é uma condição caracterizada por náuseas e vômitos intensos durante a gravidez, muitas vezes resultando em perda de peso significativa e desidratação.
Embora náuseas e vômitos leves sejam comuns no início da gestação, especialmente no primeiro trimestre, a hiperêmese representa o extremo mais grave desse espectro de sintomas. A condição pode prejudicar severamente a qualidade de vida da gestante, afetando seu bem-estar emocional e físico.
Estudos indicam que até 90% das gestações podem ser afetadas por algum grau de náusea, sendo que uma pequena porcentagem, de 0,3% a 3%, evolui para sintomas graves. As gestantes que apresentam hiperêmese podem enfrentar dificuldades no trabalho, ansiedade e até depressão, além de um impacto significativo nas atividades diárias.
Diversos fatores de risco podem predispor à hiperêmese gravídica, como a presença de náuseas relacionadas a medicamentos à base de estrogênio, enxaquecas e enjoo de movimento. Além disso, fatores genéticos e a gestação de fetos do sexo feminino também têm sido associados ao desenvolvimento dessa condição.
Patogênese da Hiperêmese Gravídica
A patogênese da hiperêmese gravídica é complexa e multifatorial, ainda sem uma explicação completamente definida. Entre as teorias mais aceitas, destaca-se o envolvimento de fatores genéticos.
Estudos indicam que mulheres com histórico familiar de náuseas graves ou hiperêmese gravídica têm maior risco de desenvolver a condição. Também foi observado um risco mais elevado em gêmeos monozigóticos em comparação com dizigóticos, sugerindo uma forte influência genética.
Além dos fatores genéticos, o hormônio gonadotrofina coriônica humana (hCG) também está relacionado ao desenvolvimento da hiperêmese gravídica. Os níveis de hCG atingem o pico no primeiro trimestre, período em que os sintomas tendem a ser mais intensos. Condições associadas a altos níveis de hCG, como gravidez múltipla ou mola hidatiforme, aumentam a probabilidade de náuseas e vômitos severos, embora a relação entre esses níveis e a gravidade dos sintomas ainda não seja totalmente consistente.
Outros fatores incluem a motilidade gastrointestinal anormal, que pode estar presente em algumas pacientes, e a infecção por Helicobacter pylori, associada a um risco maior de desenvolver a condição. No entanto, essas teorias apresentam variação em suas associações com a doença, refletindo a complexidade da hiperêmese gravídica.
Características da Hiperêmese Gravídica
A hiperêmese gravídica, forma grave de náusea e vômitos durante a gravidez, possui uma apresentação clínica variada. A condição pode se manifestar de forma leve, com sintomas que começam por volta das 5 a 6 semanas de gestação e atingem seu pico por volta da 9ª semana. Esses sintomas geralmente diminuem entre a 16ª e 20ª semana de gestação, mas em alguns casos, podem persistir até o terceiro trimestre e, em cerca de 5% das pacientes, até o momento do parto.
Nos casos mais graves, as pacientes podem desenvolver sinais de desidratação, como hipotensão ortostática, desequilíbrios eletrolíticos e alterações nos níveis hormonais e hepáticos. Esses quadros mais graves podem necessitar de internação hospitalar para estabilização clínica e administração de medicamentos. Em alguns casos ocorre hipersalivação excessiva, conhecida como ptialismo.
Esses sintomas podem ter um impacto significativo na qualidade de vida da gestante, interferindo nas atividades diárias e na saúde física, exigindo intervenções médicas específicas para seu controle.
Diagnóstico de Hiperêmese Gravídica
Os critérios diagnósticos incluem vômitos persistentes, perda de peso superior a 5% do peso corporal pré-gestacional e cetonúria, que sinaliza a falta de nutrientes adequados e desidratação.
Essa condição é classificada como um diagnóstico de exclusão, ou seja, outras causas para os sintomas devem ser descartadas antes de confirmá-la. O diagnóstico também pode incluir vômitos que ocorrem mais de três vezes ao dia, perda de peso maior que 3 kg ou 5% do peso corporal e a incapacidade de realizar atividades diárias normais, como comer ou beber.
A avaliação inicial de pacientes com hiperêmese gravídica inclui monitoramento de peso, medição da pressão arterial ortostática e frequência cardíaca, além de testes laboratoriais para verificar os níveis de eletrólitos, cetonas urinárias, nitrogênio ureico no sangue, creatinina, função hepática, amilase e lipase, entre outros. As anomalias laboratoriais frequentes incluem hipocalemia, alcalose metabólica e aumento das aminotransferases séricas, além de elevações da amilase e lipase, geralmente de origem não pancreática. A hipovolemia pode ser confirmada pelo aumento do hematócrito e do nitrogênio ureico no sangue.
Outro aspecto a ser observado é o hipertireoidismo transitório da gravidez que pode ocorrer em até 11% dos casos devido às elevadas concentrações de gonadotrofina coriônica humana (hCG). Embora o hipertireoidismo seja transitório e se resolva espontaneamente à medida que a hiperêmese melhora, é importante diferenciá-lo de outras formas de hipertireoidismo, como a doença de Graves. A ausência de bócio e oftalmopatia, bem como os sintomas limitados ao vômito, ajudam a distinguir essas condições.
A ultrassonografia obstétrica é um exame essencial para confirmar a viabilidade fetal e identificar possíveis complicações, como gravidez molar ou múltipla. Em casos de suspeita de doenças hepáticas ou apendicite, exames adicionais de imagem como ultrassonografia do fígado ou apêndice podem ser necessários.
Se não tratada adequadamente pode levar a complicações como desequilíbrios eletrolíticos, hipomagnesemia e hipocalcemia. Por isso, o manejo clínico visa estabilizar a paciente por meio de reposição de fluidos, correção das anormalidades metabólicas e, em casos mais graves, hospitalização para controle dos sintomas e monitoramento do estado clínico.
Tratamento da Hiperêmese Gravídica
A abordagem começa com medidas conservadoras, como ajustes na dieta, evitando gatilhos e utilizando suplementos de gengibre ou pulseiras de acupressão. Se essas intervenções não forem suficientes, a piridoxina (vitamina B6) é sugerida, progredindo para uma combinação de piridoxina com doxilamina quando os sintomas persistem.
Para casos de náuseas persistentes com vômitos ocasionais, pode ser necessária uma farmacoterapia mais intensiva, adicionando gradualmente outras classes de medicamentos, com monitoramento cuidadoso para evitar efeitos adversos. Se a paciente apresentar vômitos contínuos, mas os eletrólitos e o equilíbrio ácido-base estiverem normais, a terapia intravenosa com reposição de fluidos e antieméticos pode ser administrada antes de considerar a internação hospitalar.
Nos casos em que há vômitos graves com desequilíbrios eletrolíticos ou acidose metabólica, a hospitalização é indicada. O tratamento hospitalar envolve a reposição de até 2 litros de fluidos isotônicos, suplementação de tiamina para prevenir a encefalopatia de Wernicke, e uso de ondansetrona intravenosa.
Glicocorticoides podem ser indicados para sintomas refratários após o primeiro trimestre. Durante a internação, é recomendado um breve período de repouso intestinal, seguido pela reintrodução gradual de líquidos e alimentos leves. Nos casos mais graves, onde a paciente não consegue manter o peso, nutrição enteral ou parenteral pode ser necessária.
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Referências
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Judith A Smith, PharmD, BCOP, CPHQ, FCCP, FHOPA, FISOPPKarin A Fox, M.D., M.Ed., FACOG, FAIUMShannon M Clark, MD, MMS. Nausea and vomiting of pregnancy: Treatment and outcome. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate