Resumo sobre Microcitose: definição, valores de referência e mais!

Resumo sobre Microcitose: definição, valores de referência e mais!

E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre a Microcitose, que consiste na diminuição do volume das hemácias.

O Estratégia MED vai te ajudar em mais um conceito que vai enriquecer muito o seu conhecimento e impulsionar o seu crescimento profissional. Vamos lá!

Definição de Microcitose

Microcitose é uma condição hematológica caracterizada pela presença de eritrócitos (glóbulos vermelhos) anormalmente pequenos, ou seja, com volume corpuscular médio (VCM) inferior ao valor de referência normal, que geralmente é definido como inferior a 80 fL em adultos. 

Esta condição é detectável através de um hemograma completo, especificamente pela análise dos índices eritrocitários, sendo o VCM o principal parâmetro utilizado para identificar a microcitose.

A microcitose pode ser indicativa de diversas condições patológicas subjacentes. A causa mais comum é a deficiência de ferro, que leva à anemia ferropriva. Nesta condição, a redução da síntese de hemoglobina resulta na produção de eritrócitos menores e com menor conteúdo de hemoglobina. Além disso, doenças crônicas e certas intoxicações podem também levar à microcitose.

Causas de Microcitose

A microcitose, definida por um volume corpuscular médio (VCM) inferior a 80 fL, tipicamente indica uma redução no conteúdo de hemoglobina nos eritrócitos. Esta condição está frequentemente associada a uma diminuição paralela na hemoglobina corpuscular média (MCH) e na concentração média de hemoglobina corpuscular (MCHC), resultando em um aspecto hipocrômico no esfregaço sanguíneo.

Existem três causas predominantes de microcitose ou anemia microcítica:

Anemia Ferropriva 

A deficiência de ferro e a anemia por deficiência de ferro (ADF) são condições que podem afetar indivíduos de todas as idades, sendo especialmente prevalentes em crianças, mulheres menstruantes e grávidas. 

Em crianças, a deficiência de ferro geralmente resulta do aumento das necessidades de ferro para o crescimento e, mais frequentemente, de uma ingestão inadequada de ferro, em vez de perda de sangue. A dependência exclusiva de leite de vaca sem suplementação de ferro pode causar deficiência em lactentes. 

Em adultos, a deficiência de ferro é mais frequentemente causada por perdas sanguíneas que excedem a ingestão de ferro. Em mulheres, menstruações intensas e gravidez são causas comuns, enquanto em outros adultos, especialmente aqueles com mais de 50 anos, a perda de sangue pode ser indicativa de câncer colorretal ou outras condições como infecção por H. pylori e doença celíaca, que afetam a absorção de ferro.

A deficiência de ferro pode ser mascarada por condições que levam à anemia macrocítica, como doença hepática ou deficiência de vitamina B12. A avaliação da medula óssea é o padrão ouro para diagnosticar a deficiência de ferro, embora raramente necessária. A ferritina sérica diminuída é usada como substituto para esta avaliação.

Anemia de doença crônica/anemia de inflamação

A anemia crônica ou anemia de inflamação (ACD/AI) é diagnosticada em indivíduos que apresentam uma condição médica causadora de inflamação aguda ou crônica, após a exclusão de outras causas de anemia. 

Este diagnóstico é de exclusão, pois testes diretos para citocinas ou para a proteína reguladora do ferro hepcidina ainda não estão disponíveis na prática clínica de rotina, embora testes de hepcidina estejam em desenvolvimento e possam ser úteis no futuro.

O volume corpuscular médio (VCM) não é especialmente útil para o diagnóstico de ACD/AI. Entretanto, é improvável que um VCM inferior a 70 fL seja causado apenas por ACD/AI, sugerindo uma deficiência concomitante de ferro.

 As características típicas de ACD/AI incluem ferro sérico baixo, capacidade total de ligação de ferro (TIBC) baixa e ferritina sérica normal ou aumentada. É importante notar que a ferritina sérica é um reagente de fase aguda e pode estar normal ou elevada devido à inflamação, não necessariamente refletindo reservas adequadas de ferro. Além disso, alguns indivíduos com ACD/AI podem também apresentar ou desenvolver deficiência de ferro.

As condições inflamatórias que podem levar a ACD/AI são variadas e numerosas, incluindo infecções crônicas (como a tuberculose pulmonar), condições inflamatórias (como artrite reumatoide ativa e doença inflamatória intestinal), doenças malignas, entre outras.

Talassemias

As talassemias são doenças hereditárias resultantes de variantes patogênicas (mutações, inserções, deleções) nos genes que codificam as cadeias de globina alfa ou beta, essenciais para a produção de hemoglobina. 

A talassemia alfa é causada pela redução na produção de alfa globina, enquanto a beta talassemia resulta da diminuição na produção de beta globina. A gravidade da doença está relacionada ao grau de desequilíbrio na proporção de alfa e não-alfa globina. 

Ao contrário da anemia por deficiência de ferro, a contagem de glóbulos vermelhos na talassemia pode ser normal ou aumentada devido à produção elevada de células pequenas pela medula óssea. As reservas de ferro também são normais ou aumentadas, consequência da eritropoiese ineficaz que leva ao aumento da absorção intestinal de ferro. 

A largura de distribuição dos eritrócitos (RDW) pode ser normal ou ligeiramente aumentada em pacientes com talassemia menor, mas geralmente não atinge os níveis observados na anemia por deficiência de ferro.

Causas raras

As causas raras de microcitose e anemia microcítica incluem diversas condições que interferem na síntese de hemoglobina ou causam hemólise. 

  • Anemia sideroblástica ligada ao X e outras anemias sideroblásticas hereditárias;
  • Hipotransferrinemia hereditária;
  • Envenenamento por chumbo;
  • Deficiência de zinco;
  • Deficiência de cobre;
  • Álcool e certas drogas;
  • Síndrome mielodisplásica com talassemia adquirida. 

Parâmetros de hemograma na Microcitose

Volume Corpuscular Médio (VCM)

O volume corpuscular médio (VCM) mede o volume médio das hemácias em uma amostra contendo milhões de células. A variação no tamanho das hemácias pode fornecer informações importantes para identificar a causa da microcitose. 

O intervalo e a variabilidade dos tamanhos das hemácias são avaliados utilizando a largura de distribuição dos glóbulos vermelhos (RDW) e/ou pela observação direta das hemácias em um esfregaço de sangue periférico. Essas medidas ajudam a caracterizar e a diferenciar as diferentes causas subjacentes de anemias microcíticas.

RDW (variabilidade de tamanho)

A análise do esfregaço de sangue geralmente oferece mais informações do que a largura de distribuição das hemácias (RDW). O RDW é uma medida da variação no tamanho dos glóbulos vermelhos, baseada na amplitude do histograma do VCM (uma curva em forma de sino ao redor da média). 

Um RDW elevado indica uma maior variação no tamanho dos glóbulos vermelhos; no entanto, essa medida não é altamente específica ou sensível para confirmar ou excluir diagnósticos específicos. 

Por exemplo, o RDW frequentemente se eleva em anemias causadas por deficiências de vitaminas ou minerais (como ácido fólico, vitamina B12 e ferro). Um aumento no RDW também pode ser observado em situações com duas populações distintas de células (como uma população de células microcíticas resultantes de hemólise junto com uma população de reticulócitos, que são maiores do que os eritrócitos normais) ou após a transfusão de eritrócitos, quando a média dos eritrócitos do paciente e dos transfundidos é calculada em conjunto.

Concentração média de hemoglobina corpuscular (CHCM)

A concentração média de hemoglobina corpuscular (MCHC) é uma característica comum a todas as anemias microcíticas discutidas, apresentando uma redução concomitante. Um MCHC baixo está associado à hipocromia observada no esfregaço de sangue periférico.

É importante notar que os valores de MCHC podem ser diminuídos artificialmente se a amostra de sangue for mantida à temperatura ambiente por um período prolongado. Além disso, os valores de MCHC podem variar dependendo do instrumento ou da tecnologia utilizada para a medição.

Para uma avaliação precisa, é essencial considerar esses fatores ao interpretar os resultados laboratoriais relacionados ao MCHC.

Valores de referência no hemograma

ParâmetroHomensMulheres
Hemoglobina (g/dL)13,6 a 16,911,9 a 14,8
Hematócrito (%)40 a 5035 a 43
Contagem de hemácias (x10^6 /microl)4,2 a 5,73,8 a 5,0
VCM (fL)82,5 a 9882,5 a 98
MCH (pág.)27,6 a 33,327,6 a 33,3
CHCM (g/dL)32,5 a 35,232,5 a 35,2
RDW (%)11,4 a 13,511,4 a 13,5
Contagem de reticulócitos (x10^3 /microL ou ×10^9 /L)16 a 13016 a 98
Contagem de plaquetas (x10^3 /microL)152 a 324153 a 361
Contagem de leucócitos (×10^3 /microL)3,8 a 10,43,8 a 10,4

De olho na prova!

Não pense que esse assunto fica fora das provas de residência, concursos ou até nas provas da graduação. Veja abaixo um exemplo:

SP – HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI – HMMG – 2019 – RESIDÊNCIA (ACESSO DIRETO)

É exemplo de anemia microcítica:

A) Anemia por doença renal.

B) Deficiência de folato.

C) Anemia sideroblástica.

D) Mielodisplasia.

Opção correta: Alternativa “C” 

Comentário da questão:

A) Errada. A anemia da doença renal crônica decorre principalmente de um déficit relativo de produção de eritropoetina, hormônio renal que tem função de estimular a eritropoiese. Cursam com quadros de anemia leve, com hemoglobina em torno de 8 a 9 g/dL, e normocitose, não microcitose. 

B) Errado. A deficiência de ácido fólico é, em conjunto com a carência de vitamina B12, a causa mais comum de anemia megaloblástica, um tipo de anemia macrocítica. Como esses nutrientes estão envolvidos na síntese de bases nitrogenadas do DNA, sua deficiência faz com que os precursores hematopoiéticos não desenvolvam adequadamente seus núcleos e assim não completem as divisões celulares, gerando hemácias de tamanho aumentado (macrocíticas) em sangue periférico. 

C) Correto. Como vimos, a anemia sideroblástica é uma das quatro formas clássicas de anemia microcítica. Decorre de defeitos enzimáticosda conjugação do ferro à protoporfirina para formação do grupo heme, prejudicando a síntese de hemoglobina e assim culminando na formação de hemácias de tamanho diminuído (microcíticas). 

D) Errado. A síndrome mielodisplásica engloba um conjunto de doenças clonais dos precursores hematopoiéticos, causando citopenia de uma ou mais linhagens de sangue periférico, sendo a anemia a mais comum delas. Quando se expressa sob a forma de anemia, ela é tipicamente normocítica ou macrocítica, não microcítica. 

Veja também!

Referências

lara CamaschellaC, MDCarlo Brugnara, MD. Microcytosis/Microcytic anemia. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate

Você pode gostar também