Resumo sobre Síndrome de Dressler: definição, manifestações clínicas e mais!

Resumo sobre Síndrome de Dressler: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Síndrome de Dressler, uma condição inflamatória que surge semanas após um infarto do miocárdio ou procedimentos cardíacos, caracterizada por pericardite autoimune. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Síndrome de Dressler

Síndrome de Dressler, também conhecida como síndrome pós-infarto do miocárdio, é uma forma de pericardite secundária que se desenvolve como resposta inflamatória tardia após uma lesão no miocárdio ou no pericárdio. Essa lesão pode ocorrer em decorrência de um infarto agudo do miocárdio, de uma cirurgia cardíaca ou de outros tipos de trauma cardíaco.

O mecanismo subjacente envolve uma reação autoimune, na qual o organismo, ao entrar em contato com antígenos liberados pelo tecido cardíaco lesionado, desencadeia uma resposta inflamatória que afeta o pericárdio. 

Embora sua incidência tenha diminuído com o avanço das terapias modernas de reperfusão e manejo do infarto, a Síndrome de Dressler continua sendo uma condição importante, pois reflete a complexa interação entre dano tecidual e resposta imunológica do corpo.

Por seu caráter inflamatório e sua relação direta com a injúria cardíaca, a síndrome é considerada uma manifestação tardia do processo de cicatrização do coração, exigindo atenção dos profissionais de saúde no acompanhamento pós-eventos cardíacos.

Fisiopatologia da Síndrome de Dressler

A fisiopatologia da Síndrome de Dressler está relacionada a uma resposta imunomediada desencadeada após uma lesão do miocárdio ou do pericárdio. 

Quando ocorre uma injúria cardíaca, como em um infarto agudo do miocárdio, cirurgia cardíaca, trauma torácico ou procedimento invasivo, antígenos do tecido cardíaco que antes estavam protegidos passam a ser expostos ao sistema imunológico. 

Essa exposição leva à ativação de uma resposta autoimune, resultando na produção de anticorpos dirigidos contra componentes do próprio miocárdio e do pericárdio.Esses anticorpos, conhecidos como antimiocárdicos, podem se ligar aos antígenos cardíacos e formar complexos imunes. 

A deposição desses complexos no pericárdio, na pleura e, em alguns casos, no tecido pulmonar, desencadeia uma inflamação local caracterizada por infiltrado de células imunológicas e liberação de mediadores inflamatórios. Esse processo é o que dá origem ao quadro de pericardite secundária observado na síndrome.

Além do mecanismo autoimune, há indícios de que agentes virais, como os vírus Coxsackie B, Adenovírus e Citomegalovírus, possam participar do processo, possivelmente atuando como gatilhos adicionais da resposta inflamatória. 

Embora o papel exato desses vírus ainda não esteja totalmente esclarecido, a presença de seus componentes em alguns pacientes sugere uma contribuição infecciosa associada à resposta imune.

Manifestações clínicas da Síndrome de Dressler

As manifestações clínicas da Síndrome de Dressler costumam aparecer entre uma e seis semanas após a lesão cardíaca inicial, seja ela decorrente de infarto, cirurgia ou trauma. O quadro reflete uma resposta inflamatória sistêmica e pode variar de leve a moderado, dependendo da extensão do processo inflamatório.

Sintomas gerais

Os pacientes frequentemente apresentam febre, mal-estar, fadiga, irritabilidade e perda de apetite. A febre, em geral, varia entre 38 °C e 39 °C, podendo, em casos mais intensos, atingir até 40 °C, e tende a regredir em cerca de duas a três semanas.

Sintomas cardiovasculares e respiratórios

O sintoma mais característico é a dor torácica de caráter pleurítico, que piora com a inspiração profunda ou ao deitar-se, melhorando ao sentar e inclinar-se para frente. Também são comuns palpitações e taquicardia, associadas ao processo inflamatório pericárdico. A dispneia, com ou sem hipóxia, pode ocorrer devido ao derrame pericárdico ou ao envolvimento pleural.

Achados ao exame físico

Durante a ausculta cardíaca, pode-se identificar o atrito pericárdico, som típico da inflamação do pericárdio, embora ele possa desaparecer à medida que o líquido se acumula no espaço pericárdico. Além disso, alguns pacientes apresentam pulsus paradoxus, caracterizado por uma queda maior que 10 mmHg na pressão arterial durante a inspiração, acompanhada de diminuição da amplitude do pulso radial.

Envolvimento pulmonar

Em certos casos, há sinais de comprometimento pulmonar, como tosse, febre persistente e queda da saturação de oxigênio. Esses achados podem indicar a presença de pneumonite ou derrame pleural, variando de manifestações discretas até quadros de desconforto respiratório mais intenso.

Diagnóstico da Síndrome de Dressler

O diagnóstico da Síndrome de Dressler baseia-se na associação entre o histórico clínico compatível (geralmente após infarto, cirurgia ou trauma cardíaco) e achados laboratoriais e de imagem que confirmam a presença de inflamação pericárdica e, em alguns casos, derrame pericárdico.

Exames de imagem

O ecocardiograma é o exame padrão-ouro para a avaliação de pacientes com suspeita de Síndrome de Dressler. Ele permite identificar a presença e a quantidade de líquido no espaço pericárdico, além de avaliar a contratilidade ventricular e o risco de tamponamento cardíaco, quando há compressão das câmaras cardíacas pelo acúmulo de fluido. Em situações emergenciais, o ultrassom cardíaco à beira do leito pode ser utilizado para diagnóstico rápido e tomada de decisão imediata, evitando atrasos no manejo de possíveis complicações.

Quando há dificuldade na visualização do pericárdio posterior, a ressonância magnética cardíaca pode ser empregada para confirmar a presença de derrame pericárdico ou coleções loculadas, que nem sempre são detectadas pelo ecocardiograma. 

Em locais onde esses métodos não estão disponíveis, a radiografia de tórax pode fornecer indícios indiretos, como aumento da silhueta cardíaca e apagamento dos ângulos costofrênicos, resultantes de derrames pleurais e pericárdicos.

Eletrocardiograma

O ECG costuma mostrar elevação difusa do segmento ST e inversão de onda T, padrões típicos de pericardite. Em casos com grande acúmulo de líquido pericárdico, podem ser observados baixo voltagem do QRS e alternância elétrica (variação da amplitude dos complexos QRS de batimento a batimento), achados compatíveis com derrame significativo.

Exames laboratoriais

No estudo laboratorial, é comum encontrar leucocitose com desvio à esquerda e elevação de marcadores inflamatórios, como a velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR). A sorologia pode revelar títulos elevados de anticorpos anti-coração, reforçando o componente autoimune da doença.

A hemocultura deve ser coletada precocemente para descartar causas infecciosas, devendo ser negativa na verdadeira Síndrome de Dressler. Quando há necessidade de analisar o líquido pericárdico, recomenda-se realizar estudo do fluido drenado, incluindo contagem celular, cultura, coloração de Gram, citologia e dosagens bioquímicas, o que auxilia na exclusão de outras etiologias.

Tratamento da Síndrome de Dressler

A maioria dos pacientes pode ser tratada de forma ambulatorial, desde que apresente estabilidade clínica. O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ácido acetilsalicílico, ibuprofeno ou naproxeno, constitui a terapia de primeira escolha. Esses medicamentos devem ser administrados por um período de 4 a 6 semanas, com redução gradual da dose à medida que o líquido pericárdico regride e os sintomas diminuem.

Nos casos em que não há resposta adequada ao uso de AINEs, pode-se recorrer aos corticosteroides, como a prednisona, também administrados em esquema decrescente ao longo de aproximadamente 4 semanas.

A colchicina surge como uma opção terapêutica adicional, embora sua eficácia no tratamento da síndrome já instalada ainda seja incerta. Alguns estudos sugerem que seu uso profilático, antes de procedimentos cardíacos, pode reduzir o risco de desenvolvimento da síndrome.

Tratamento hospitalar

Pacientes com sinais de complicação, como tamponamento cardíaco iminente ou pericardite constritiva, devem ser tratados em ambiente hospitalar. Nesses casos, está indicada a drenagem pericárdica por meio de pericardiocentese com colocação de cateter para drenagem contínua por 24 a 48 horas, associada ao uso de anti-inflamatórios. 

Quando o derrame pericárdico é extenso e circunda todo o coração, recomenda-se o acesso subxifoide guiado por ecocardiografia, por oferecer maior segurança e precisão durante o procedimento.

Recorrências e casos refratários

A recidiva da Síndrome de Dressler ou de outras formas de síndrome pós-pericardiotomia é relativamente comum, podendo ocorrer até um ano após o episódio inicial. Em casos refratários ao tratamento convencional, há relatos de benefício com o uso de imunoglobulina intravenosa, especialmente em pacientes pediátricos.

É importante destacar que o principal fator de risco para desenvolver novamente a Síndrome de Dressler é tê-la apresentado anteriormente, o que reforça a necessidade de acompanhamento clínico regular e vigilância prolongada após o primeiro episódio.

Veja também!

Referências

Leib AD, Foris LA, Nguyen T, et al. Dressler Syndrome. [Updated 2023 Jul 3]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441988/

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