E aí, doc! Vamos explorar mais um tema intrigante? Hoje o foco é a psilocibina, um composto psicodélico com grande potencial terapêutico.
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Vamos nessa!
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Definição de Psilocibina
Psilocibina é um composto psicodélico encontrado naturalmente em certos cogumelos do gênero Psilocybe e também pode ser sintetizado em laboratório. Sua principal ação está associada a alterações na percepção e consciência, podendo induzir alucinações e experiências sensoriais intensas.
Recentemente, a substância tem despertado interesse na medicina por seu potencial no tratamento de transtornos mentais, especialmente em casos de depressão resistente a terapias convencionais.
A administração de psilocibina ocorre em um ambiente terapêutico supervisionado, envolvendo sessões de preparação, suporte durante o uso e integração posterior, para que o paciente processe a experiência vivenciada.
Esse protocolo busca garantir a segurança e o aproveitamento terapêutico da substância, embora ainda haja controvérsias sobre a definição da prática como “terapia assistida por psicodélicos”.
Mecanismo de ação da Psilocibina
A psilocibina atua como um pró-fármaco, sendo convertida em psilocina após sua ingestão. A psilocina é o composto ativo responsável pelos efeitos psicodélicos, exercendo seu impacto principalmente ao se ligar aos receptores 5-HT2A de serotonina, amplamente expressos nas regiões frontal e paralímbica do cérebro, áreas ligadas ao processamento emocional, introspecção e interocepção. Essa interação altera a neurotransmissão e é associada às mudanças na percepção, humor e cognição.
Os efeitos da psilocibina envolvem a modulação de diferentes sistemas, incluindo o sistema serotoninérgico, dopaminérgico e glutamatérgico. Além de aumentar a atividade em neurônios piramidais excitatórios, também foi observado que pode ativar interneurônios GABAérgicos inibitórios, sugerindo um efeito misto de excitação e inibição nos circuitos neuronais. Essas ações complexas explicam parte das experiências psicológicas variadas induzidas pela substância, como alucinações, euforia e insight emocional.
Além disso, estudos demonstraram que a psilocibina diminui a atividade de regiões-chave do cérebro envolvidas na auto-referência e processamento emocional, como a amígdala e a Default Mode Network (DMN) — rede cerebral relacionada à ruminação e padrões fixos de pensamento. A redução na conectividade da DMN é relevante, pois esse circuito hiperativo é associado a diversos transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade.
Outro efeito importante da psilocibina é a indução da plasticidade neural. A ativação dos receptores 5-HT2A pode promover a produção de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que facilita a neuritogênese (crescimento de novos neurônios) e espinogênese (formação de novas espinhas dendríticas).
Esses processos contribuem para a criação de novas sinapses e melhoram a função neuronal, especialmente no córtex pré-frontal, área frequentemente disfuncional em condições como depressão e dependência química. Assim, os efeitos neuroplásticos da psilocibina reforçam seu potencial como uma terapia inovadora para transtornos psiquiátricos.
Indicações da Psilocibina
As indicações terapêuticas da psilocibina se consolidam em estudos sobre sua eficácia no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos. As principais áreas de aplicação incluem:
- Depressão resistente ao tratamento: a psilocibina tem se mostrado promissora no tratamento de depressão major resistente a terapias convencionais. Em estudos controlados, uma ou duas doses em ambiente terapêutico resultaram em melhora significativa e prolongada dos sintomas depressivos, além de melhoras no humor e na qualidade de vida dos pacientes. Esses efeitos parecem estar ligados à capacidade da psilocibina de reduzir a atividade da Default Mode Network (DMN), circuito associado a ruminações e pensamentos repetitivos, típicos em quadros depressivos.
- Transtornos de ansiedade: pesquisas indicam que a psilocibina também pode ser eficaz na redução da ansiedade, especialmente em pacientes com condições de saúde ameaçadoras, como câncer. Ao atuar nos receptores 5-HT2A e reduzir a reatividade da amígdala, responsável pela resposta emocional a estímulos negativos, a psilocibina promove um efeito de atenuação da ansiedade, resultando em uma experiência emocional mais positiva e em menor angústia psicológica para esses pacientes.
- Transtornos por uso de substâncias: a psilocibina está sendo explorada como tratamento auxiliar para dependências químicas, como o transtorno por uso de álcool e nicotina. Estudos sugerem que ela ajuda a reduzir a dependência e os sintomas de abstinência por meio de sessões acompanhadas de terapia. Sua atuação no córtex pré-frontal e no hipocampo estimula a plasticidade neuronal, o que pode ajudar na criação de novos padrões de comportamento e redução da dependência.
- Melhoria da qualidade de vida e resiliência emocional: a psilocibina, em estudos de contexto terapêutico, demonstrou aumentar a resiliência emocional e a capacidade de introspecção dos pacientes, facilitando a superação de medos e memórias dolorosas. Esse aspecto é especialmente relevante para pacientes com doenças crônicas ou em estágios finais de vida, promovendo uma abordagem mais tranquila e positiva diante de situações difíceis.
Toxicidade da Psilocibina
A toxicidade da psilocibina é relativamente baixa quando comparada a outras substâncias psicoativas, o que a torna um dos psicodélicos com maior margem de segurança. A dose tóxica não letal em humanos foi estabelecida em 60 µg/kg por via oral, valor relativamente seguro para a maioria dos usuários em contextos terapêuticos ou experimentais.
Além disso, a psilocibina não provoca dependência física e não está associada a síndromes de abstinência, reforçando seu perfil seguro para uso controlado. Poucas mortes foram historicamente relacionadas ao uso da psilocibina, e estas normalmente envolvem a ingestão de outros compostos ou condições extremas de uso, indicando que, em geral, a psilocibina tem uma toxicidade baixa e é segura dentro de doses terapêuticas e supervisão médica.
Atualizações sobre a Psilocibina
A pesquisa e o uso da psilocibina para fins terapêuticos foram amplamente limitados a partir dos anos 1960 pela FDA (Food and Drug Administration) devido à falta de evidências sólidas e pela influência negativa da mídia sobre as substâncias alucinógenas, o que gerou forte restrição política e acadêmica.
No Brasil, a psilocibina permanece proibida desde 1998, sendo classificada como substância psicotrópica na Portaria Nº 344 do Ministério da Saúde, mesmo que o cogumelo Psylocibe cubensis, sua fonte natural, seja encontrado livremente na natureza.
Atualmente, a FDA reconheceu o potencial terapêutico da psilocibina, concedendo-lhe o status de terapia inovadora para tratar transtornos depressivos resistentes. Esse reconhecimento reflete um avanço significativo na área da ciência psicodélica, porém enfrenta desafios regulatórios e metodológicos. Questões como tamanho reduzido das amostras e viés de expectativa são limitações importantes nos estudos atuais, reforçando a necessidade de pesquisas mais controladas.
Contudo, o progresso das terapias com psicodélicos esbarra em resistências culturais e econômicas. O modelo de tratamento psicodélico, que busca aliviar sintomas de maneira duradoura com poucas doses, se opõe ao modelo de tratamentos farmacológicos diários, tornando-se menos atraente para a indústria farmacêutica
Por isso, apesar de crescente evidência de que a psilocibina é eficaz e segura em ambientes controlados, seu avanço como terapia reconhecida depende de maior aceitação social e de adaptações regulatórias.
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Referências
Michael Thase, MDK Ryan Connolly, MD, MS. Unipolar depression in adults: Choosing treatment for resistant depression. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate
TEIXEIRA, Gabriella Brandão; PASSOS, Ana Cláudia de Brito; FARIAS, Beatriz Valentim; GIRÃO, Ana Beatriz Cavalcanti Fernandes; MARÇAL, Larissa da Silva; ALBUQUERQUE, Ketsya Oliveira dos Santos; FERREIRA, Maria Augusta Drago. Uso da psilocibina no tratamento de transtornos psiquiátricos: revisão da literatura. Universidade Federal do Ceará, 2024. Recebido: 29 jan. 2024; revisado: 05 fev. 2024; aceito: 06 fev. 2024; publicado: 09 fev. 2024.
William Breitbart, MDAnna L Dickerman, MD. Assessment and management of depression in palliative care. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate