E aí, doc! Bora mergulhar em mais um tema relevante? O assunto de hoje é a Estimulação Cerebral Profunda (DBS), um procedimento que utiliza impulsos elétricos em regiões específicas do cérebro para ajudar no controle de sintomas de condições neurológicas como Parkinson e distonia.
O Estratégia MED está aqui para facilitar seu aprendizado e fortalecer sua base teórica e prática, contribuindo para um atendimento cada vez mais eficiente e seguro.
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Definição de Estimulação Cerebral Profunda (DBS)
A Estimulação Cerebral Profunda (DBS, do inglês Deep Brain Stimulation) é uma técnica terapêutica neurocirúrgica utilizada principalmente no tratamento de distúrbios neurológicos, como a doença de Parkinson, especialmente em casos avançados ou quando há falha na resposta ao tratamento medicamentoso.
O procedimento consiste na implantação de eletrodos finos e permanentes em áreas específicas do cérebro, que se conectam a um gerador de pulsos elétricos implantado sob a pele, geralmente na região torácica, abaixo da clavícula.
A DBS não destrói o tecido cerebral e permite ajustes pós-operatórios, sendo considerada uma abordagem reversível, adaptável e de longa duração. A escolha do local de estimulação, como o núcleo subtalâmico (STN) ou o globo pálido interno (GPi), depende dos sintomas predominantes em cada paciente.
Essa técnica pode proporcionar alívio de tremores, rigidez muscular, discinesias, distúrbios do sono, alterações gastrointestinais e até certos sintomas psiquiátricos, contribuindo significativamente para a melhora da qualidade de vida dos indivíduos tratados.
Procedimento
A Estimulação Cerebral Profunda (DBS) é realizada por meio de uma cirurgia estereotáxica, uma técnica neurocirúrgica minimamente invasiva e precisa. O procedimento ocorre em etapas:
- Implantação dos eletrodos: são introduzidos um ou dois eletrodos finos diretamente em áreas-alvo do cérebro, como o núcleo subtalâmico (STN) ou o globo pálido interno (GPi). Essa introdução é feita com base em exames de imagem detalhados (ressonância magnética e tomografia computadorizada) e pode ser realizada com o paciente acordado ou sob anestesia, permitindo testes intraoperatórios para confirmar o posicionamento correto.
- Conexão dos eletrodos ao gerador de pulsos: os eletrodos são conectados, por meio de fios subcutâneos, a um gerador de pulsos elétricos (também chamado de neuroestimulador), que é implantado geralmente na região do tórax, sob a pele, próximo à clavícula.
- Programação do sistema: após a cirurgia, o neuroestimulador é ativado e programado de forma personalizada por um neurologista. Os parâmetros de estimulação (intensidade, frequência e duração) podem ser ajustados ao longo do tempo conforme a evolução clínica do paciente.
Mecanismo de ação
O mecanismo de ação da Estimulação Cerebral Profunda (DBS) ainda não é completamente elucidado, mas estudos clínicos e neurofisiológicos têm revelado hipóteses consistentes sobre como essa intervenção atua no sistema nervoso central, especialmente em pacientes com doença de Parkinson.
A DBS envolve a entrega de estímulos elétricos de alta frequência em áreas específicas do cérebro que apresentam atividade anormal associada aos sintomas motores e não motores da doença. Diferentemente de procedimentos ablativos, como palidotomia ou talamotomia, a DBS não destrói o tecido cerebral. Em vez disso, modula a atividade elétrica neuronal, promovendo reorganização funcional em circuitos neuronais desregulados.
Um dos principais efeitos da DBS é a supressão da atividade patológica em regiões hiperativas. Na doença de Parkinson, a degeneração dos neurônios dopaminérgicos na substância negra leva a um desequilíbrio nos gânglios da base, provocando hiperatividade no núcleo subtalâmico (STN) e globo pálido interno (GPi).
Essa hiperatividade resulta em inibição excessiva do tálamo e, consequentemente, redução da atividade motora cortical, manifestando-se clinicamente como bradicinesia, rigidez e tremores. A DBS, ao modular essas estruturas, restaura o equilíbrio funcional dos circuitos motores, aliviando os sintomas.
Além da inibição funcional, outro mecanismo proposto é a ativação de fibras eferentes, ou seja, a estimulação de vias de saída dos núcleos-alvo. Isso permite que a DBS influencie regiões cerebrais conectadas, promovendo efeitos à distância, como a regulação de áreas corticais e subcorticais envolvidas em movimento, percepção sensorial e função emocional.
Estudos com neuroimagem funcional, como a fMRI, também sugerem que a DBS altera padrões de conectividade cerebral, interferindo em redes mais amplas do que o núcleo-alvo isolado. Isso explicaria por que a estimulação pode melhorar não apenas os sintomas motores, mas também sintomas não motores como dor, distúrbios do sono, alterações urinárias e problemas gastrointestinais.
Mais recentemente, o desenvolvimento de tecnologias como a DBS adaptativa (aDBS), que ajusta os parâmetros de estimulação com base na leitura de sinais neurais em tempo real, reforça a compreensão da DBS como uma ferramenta de neuromodulação dinâmica. Isso abre caminho para intervenções cada vez mais personalizadas, com maior eficácia e menos efeitos adversos.
Principais indicações da Estimulação Cerebral Profunda
A Estimulação Cerebral Profunda (DBS) é uma técnica terapêutica utilizada no tratamento de várias condições neurológicas e psiquiátricas. Entre as principais indicações estão:
- Parkinson: a DBS é eficaz no tratamento dos sintomas motores do mal de Parkinson, como tremores, rigidez, lentidão e desequilíbrio. Ela ajuda a regular os sinais cerebrais que causam esses sintomas, melhorando a movimentação do paciente.
- Tremor Essencial: caracterizado por tremores involuntários, especialmente nas mãos, a DBS pode ser uma opção terapêutica quando outras formas de tratamento não surtiram efeito. Ela atua no controle dos sinais irregulares no cérebro, aliviando os tremores.
- Distonia: trata-se de um transtorno neurológico que provoca contrações musculares involuntárias, levando a movimentos repetitivos e dolorosos. A DBS ajuda a controlar os impulsos cerebrais que causam essas contrações musculares.
- Epilepsia: em casos de epilepsia, onde convulsões ocorrem de forma espontânea, a DBS pode ser utilizada para reduzir ou até interromper as crises convulsivas, atuando diretamente nos sinais elétricos anormais do cérebro.
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): a DBS tem mostrado resultados promissores no tratamento do TOC, aliviando os sintomas relacionados às obsessões e compulsões. Ela também pode ter um efeito benéfico em comorbidades associadas, como a depressão e a ansiedade.
Além dessas indicações, a DBS está sendo estudada experimentalmente para o tratamento de condições como Síndrome de Tourette, Doença de Huntington, dores crônicas e cefaleia em salvas, oferecendo perspectivas de tratamento para esses distúrbios de difícil controle.
Complicações da Estimulação Cerebral Profunda (DBS)
Embora a Estimulação Cerebral Profunda (DBS) seja considerada um tratamento seguro e eficaz para pacientes com doença de Parkinson em estágio avançado, o procedimento envolve riscos cirúrgicos, técnicos e clínicos que devem ser cuidadosamente avaliados antes da indicação.
Complicações cirúrgicas
A DBS é um procedimento neurocirúrgico que envolve a introdução de eletrodos no cérebro e a implantação de um gerador de pulsos. Como em qualquer cirurgia intracraniana, há riscos associados, tais como:
- Infecção no local da incisão ou ao redor do sistema implantado;
- Hemorragia intracerebral, podendo causar sequelas neurológicas;
- Convulsões, embora raras;
- Confusão mental transitória, especialmente em pacientes mais idosos;
- Vazamento de líquor, com possibilidade de cefaleia pós-operatória.
A taxa de complicações graves é considerada baixa, com a maioria dos efeitos adversos sendo reversíveis ou manejáveis.
Complicações relacionadas ao dispositivo
Problemas técnicos com o equipamento implantado também podem ocorrer:
- Falhas no eletrodo ou no fio de conexão (como fratura, migração ou mau funcionamento);
- Deslocamento do eletrodo, que pode exigir nova cirurgia para reposicionamento;
- Defeitos no gerador de pulsos, com necessidade de troca precoce;
- Reações inflamatórias ou alérgicas ao material do implante.
A substituição do gerador pode ser necessária a cada 3 a 5 anos, dependendo do uso, embora existam modelos recarregáveis com maior durabilidade.
Efeitos adversos da estimulação
Os efeitos colaterais da própria estimulação elétrica podem incluir:
- Parestesias (sensações anormais de formigamento);
- Disartria (alteração da fala);
- Distúrbios do equilíbrio ou da marcha;
- Contrações involuntárias (discinesias induzidas por estimulação);
- Alterações visuais ou sensoriais, geralmente leves e reversíveis com ajuste dos parâmetros.
Esses efeitos são, na maioria das vezes, controláveis por meio da reprogramação do sistema.
Complicações cognitivas e psiquiátricas
A DBS, especialmente quando direcionada ao núcleo subtalâmico (STN), pode estar associada a:
- Déficits cognitivos leves, como redução na fluência verbal;
- Apatia e diminuição da motivação, muitas vezes relacionados à redução da medicação dopaminérgica no pós-operatório;
- Depressão, ansiedade ou alterações comportamentais, particularmente em pacientes com histórico psiquiátrico;
- Casos raros de psicose, mania ou impulsividade exacerbada, especialmente se houver uso excessivo de dopaminérgicos.
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Referências
VALE, Gustavo Fernandes do et al. Efeitos da estimulação cerebral profunda (DBS – Deep Brain Stimulation) no tratamento da doença de Parkinson: uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 5, n. 5, p. 3688-3706, 2023. DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2023v5n5p3688-3706.
CHOU, Kelvin L. Procedimentos assistidos por dispositivos e lesões para doença de Parkinson. In: UPTODATE. Device-assisted and lesioning procedures for Parkinson disease. WALTHAM, MA: UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate