Os diversos tipos de estudos epidemiológicos são cobrados com frequência na prova de residência. Além disso, são importantes ferramentas de avaliação de prevalência das doenças e para intervenções, por exemplo, como teste de uma nova medicação para determinada doença.
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Tipos de estudos epidemiológicos
Primeiramente é importante compreender as características atribuídas a um estudo:
- Papel do investigador: Um estudo é observacional quando o pesquisador apenas analisa, mas não realiza nenhuma intervenção em fatores que levem a doença de interesse ou altere seu prognóstico. Por outro lado, nos estudos experimentais, o pesquisador controla fatores selecionados que podem ser de importância nesse processo, como testar uma medicação para determinada doença ou avaliar risco.
- Unidade de análise: Um estudo pode ser individuado, quando cada indivíduo é avaliado separadamente, ou agrupado, onde os testes são feitos em grupos de pessoas ou regiões e não fornecem dados individuais.
- Temporalidade: Pode ser estudos transversais, onde se faz um corte populacional e avalia a prevalência de determinada condição ou doença em um momento só, ou longitudinal, que são estudos que avaliam determinada população ou grupo em um período de tempo.
#Ponto importante: Como os estudos experimentais precisam testar alguma intervenção ou experimento, necessariamente precisa acompanhar a população testada ao longo do tempo, por isso precisa ser longitudinal.
Estudos epidemiológicos agrupados
São estudos com menor custo, visto que a avaliação é do grupo e não pessoa por pessoa, além de possibilitar realizar planejamento e implementação de estratégias de saúde pública.
Estudos ecológicos
- Unidade de análise: Agrupado, áreas geográficas (ex., cidades e países) ou blocos de população.
- Papel do investigador: Observacional.
- Temporalidade: Transversal.
Este tipo de estudo utiliza indicadores de saúde e os compara com indicadores gerais. Por exemplo, qual a incidência de carcinoma de pulmão e a média de consumo de tabaco e comparar esses indicadores em duas populações situadas em áreas geográficas diferentes.
Estudos de série temporal
- Unidade de análise: Agrupado, similar ao estudo ecológico.
- Papel do investigador: Observacional.
- Temporalidade: Longitudinal.
A única diferença para o estudo ecológico é que irá comparar as diferentes áreas geográficas em momentos distintos no tempo, tornando-se um estudo longitudinal. Por exemplo, observar a incidência de COVID-19 no Brasil e comparar com a China em janeiro de 2020, janeiro de 2021 e janeiro de 2022. Cada momento deste, seria um estudo ecológico diferente.
Estudos de série temporal
- Unidade de análise: Agrupado, similar ao estudo ecológico.
- Papel do investigador: Experimental.
- Temporalidade: Longitudinal.
É um estudo que avalia uma determinada intervenção no grupo destinada a um problema de saúde. Eles selecionam grupos dentro de populações distintas (agrupados) e cria o grupo intervenção e um grupo comparação, testando alguma intervenção coletiva. Por exemplo, a incidência de carcinoma de pulmão após a proibição do tabagismo em lugares públicos.
Estudos epidemiológicos individuados
Estudos transversais
- Unidade de análise: Individual.
- Papel do investigador: Observacional.
- Temporalidade: Transversal.
São estudos nos quais, a exposição e o desfecho são determinados simultaneamente, como uma fotografia em um ponto no tempo, o resultado do estudo será a prevalência da doença/agravo, por isso, são conhecidos como estudos de prevalência. Não existe análise de causalidade, mas fornece dados rápidos e que ajudam a avaliar as necessidades de saúde da população estudada.
Por exemplo, em determinada população foi selecionada uma amostra para avaliar quantas pessoas têm câncer de pulmão em tabagistas e não tabagistas. Este estudo consegue fornecer prevalência, mas não consegue determinar o risco (incidência) do cigarro em causar CA de pulmão, pois tanto a exposição quanto a doença estão sendo analisadas no mesmo momento.
São úteis para determinar a prevalência de doenças crônicas em determinada população, mas doenças agudas ou sazonais, pois possuem apresentação muito variável, ou doenças raras, devido a amostra não conseguir coletar os indivíduos com essas doenças.
Além disso, é um estudo sujeito aos vieses de seleção, pois há um maior risco da amostra coletada não representar a população estudada.
Estudos de Coorte
- Unidade de análise: Individual.
- Papel do investigador: Observacional.
- Temporalidade: Longitudinal.
São estudos que medem o risco de uma exposição ou fator de risco poder desencadear uma doença. No desenho do estudo, registra-se exposição aos fatores de risco e após um tempo de seguimento, em geral longo, observa-se a ocorrência ou não do desfecho. Os estudos de coorte podem ser de dois tipos:
- Prospectivo ou estudos de coorte concorrente: o início da pesquisa e a doença progridem juntos. O pesquisador seleciona uma população sem a doença e realiza o seguimento até o desenvolvimento da doença ou não.
- Retrospectivo ou estudos de coorte histórica: o início e o fim do acompanhamento ocorrem no passado. Seleciona-se população ou coorte que possui registros de exposição ao fator de risco obtido no passado, mas verifica-se a doença no presente.
É o único estudo epidemiológico capaz de confirmar hipóteses causais, pois acompanha no tempo os indivíduos desde a exposição até desenvolver a doença, podendo assim, determinar a incidência/risco de uma doença. Além disso, reduz o risco de vieses de seleção.
Por outro lado, é um estudo grande e longo e, por isso, de alto custo. Não é indicado para avaliar doenças raras, pois estes pacientes podem não ser selecionados, mesmo sendo um estudo longitudinal. Além disso, por ser um estudo individuado e longitudinal, há maior risco de descontinuação do acompanhamento de alguns pacientes.
Estudos de caso-controle ou retrospectivo
- Unidade de análise: Individuado.
- Papel do investigador: Observacional.
- Temporalidade: Longitudinal, sempre retrospectivo.
É um estudo longitudinal sempre retrospectivo, que seleciona os indivíduos doentes e avalia retrospectivamente as possíveis exposições. O pesquisador também seleciona os controles, que devem ser semelhantes à população que constituiu os casos e podem ser recrutados dos mesmos serviços de saúde no qual foram recrutados os casos, em geral na proporção 1:1 (caso:controle).
É um bom estudo para fazer associações etiológicas de doenças de baixa incidência (raras) ou doenças com período de latência prolongado, além de rápida execução, são mais baratos que estudos de coorte, permitem investigar vários fatores de risco e não estão sujeitos às perdas de seguimento.
As limitações incluem o viés de seleção de casos e controles, e de medida da exposição, não permitem calcular incidência/risco, não são adequados para investigar exposições raras, não estabelecem a sequência entre doença e exposição. Como não mostram a incidência, os resultados não representam uma as estimativas de uma população.
Ensaios clínicos
- Unidade de análise: Individuado.
- Papel do investigador: Experimental.
- Temporalidade: Longitudinal, sempre retrospectivo.
Como se trata de um estudo experimental, necessariamente precisa ser longitudinal para testar a hipótese do investigador. No desenho do estudo, o investigador introduz um elemento crucial em fatores que levam a doença de interesse ou altera seu prognóstico, como uma medicação.
Existem várias ações para que diminuam os vieses na análise de uma hipótese, sendo os mais importantes:
- Randomização: São os fatores de confusão, como tomar café e câncer de pulmão. Na verdade, sabemos que quem fuma tem o hábito de tomar café, desta forma, o café seria um fator confundidor. É importante randomizar os grupos intervenção e controle no intuito de tentar controlar variáveis de confusão.
- Cegamento: Evita a influência do pesquisado, examinador e dos pacientes envolvidos, além de possibilitar comparar o efeito da intervenção com o efeito placebo na população estudada. O cegamento pode ocorrer de três maneiras:
- Cegamento simples: Só o paciente não sabe se está no grupo intervenção ou no grupo controle.
- Duplo-cego: O pesquisador e paciente não sabem quem está no grupo intervenção ou no grupo controle.
- Triplo-cego: Além do pesquisador e paciente, quem faz a análise dos resultados não sabe quem está no grupo intervenção ou no grupo controle.
A alocação aleatória dos participantes do estudo não nos assegura que o tratamento será igual nos diferentes grupos estudados, o que torna indispensável que a análise dos resultados do estudo inclua estatísticas descritivas das características dos indivíduos que formam cada um dos grupos estudados.
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