Se você foi aprovado no seu programa de residência médica dos sonhos e acaba de iniciá-lo, ainda está escolhendo a especialidade e a instituição ou está se preparando para ingressar no próximo ano, não saia desse texto!
O Estratégia MED separou dicas indispensáveis para novos residentes médicos e conversou com quem já está no meio da especialização a fim de entender o que cada recém-aprovado deve considerar ou saber ao ingressar na residência. Então, confira aqui 7 dicas para começar bem a residência médica!
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1. Preze por seus deveres
Mesmo ainda como residente médico, é essencial conhecer bem o Código de Ética Médica (CEM), documento responsável por estabelecer limites e deveres de médicos e pacientes no Brasil. O CEM é composto atualmente por 26 princípios fundamentais para o exercício da profissão, inclusive nas áreas relativas a ensino – como a residência médica, pesquisa e administração de serviços, garantindo confiabilidade e segurança.
No regulamento, há um capítulo inteiro sobre Responsabilidade Profissional, que explica o dever dos médicos de não causar danos ao paciente, seja por ação ou omissão. Os profissionais também têm por obrigação esclarecer todas as dúvidas do paciente, bem como prezar pelo sigilo profissional.
Na residência médica, há a necessidade de seguir, ainda, o regimento interno próprio de cada instituição, responsável por estipular atividades, códigos internos e mais. Converse com o seu médico preceptor a respeito das normas, pois, além do acompanhamento, ele também é responsável pela orientação e supervisão das atividades gerais da especialização.
Confira mais: Ética, direitos e deveres no exercício da Medicina
2. Saiba seus direitos
Alguns documentos são essenciais para o residente médico ficar a par dos seus direitos e até mesmo das obrigações que a instituição onde o programa de residência médica é realizado possui em relação a você.
Para isso, é interessante conferir os documentos vigentes da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). A CNRM tem como funções a regulação, supervisão e avaliação das instituições que ofertam programas de residência médica no Brasil, estabelecendo as normas gerais e os requisitos mínimos dos programas de residência médica.
Em dezembro de 2022, a CNRM publicou uma nova resolução para normatizar todos os processos de seleção pública dos candidatos aos programas de residência médica autorizados em instituições credenciadas. Ou seja, o órgão fiscaliza e preza pelos direitos dos residentes muito antes do ingresso de fato aos programas.
Saber de seus direitos é algo importante não somente no período de residência, mas também durante a prática médica após finalizada totalmente a formação. No CEM, através de onze normas diceológicas, são garantidos os direitos dos médicos no exercício de sua profissão.
A primeira norma garantida pelo código estabelece que todo médico possui o direito de exercer a medicina sem quaisquer discriminações, seja por cor, religião, sexo, orientação sexual, condição social, deficiência, entre outras. Além disso, os próprios profissionais podem se recusar a realizar atos médicos que vão contra seus princípios pessoais, mesmo que estes sejam permitidos por lei.
O CEM garante também aos médicos o direito de apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das instituições onde trabalham caso as julgue incorretas ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros.
Caso perceba que a instituição não oferece condições de trabalho dignas, prejudicando assim a sua saúde, o profissional pode se recusar a exercer sua profissão ali. Neste caso, ou se houver qualquer irregularidade, é necessário comunicar ao Conselho Regional de Medicina (CRM) de sua jurisdição e à Comissão de Ética da Instituição, quando houver.
Hoje, os direitos dos residentes médicos assegurados por lei são:
- Bolsa com valor mínimo definido: R$ 4.106,09;
- Alimentação;
- Moradia conforme regulamentos internos ou por processo administrativo;
- Condições adequadas para repouso e higiene pessoal durante plantões;
- Licença-maternidade e paternidade;
- 30 dias de férias remuneradas por ano de atividade, sem fracionamento; e
- Filiação ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), o que assegura aos contribuintes alguns benefícios como: aposentadoria, auxílio-doença, entre outros.
Além disso, é estabelecido por lei que a carga horária dos programas de residência seja de 60 horas semanais, contando com um plantão de 24 horas e atividades teórico-práticas. A lei também estabelece a obrigatoriedade de um dia por semana para descanso remunerado.
Saiba mais: Lei da Residência e direitos garantidos ao médico residente
3. Procure os defeitos do seu programa
Ao dar o “primeiro passo” profissional e iniciar a residência médica, é de se esperar que as expectativas estejam muito altas, o que muitas vezes aumenta a chance de decepção. É importante procurar também os pontos negativos que irá enfrentar na instituição e na especialidade escolhida como:
- Equipamentos disponíveis para atendimento;
- Estrutura da instituição;
- Localização da instituição;
- Qualidade de vida na cidade onde realizará a residência médica;
- Rotatividade do hospital;
- Urgências e emergências ligadas à especialidade;
- Complexidade da especialidade, pensando no tempo hábil para complementação de estudos de caso e aprofundamento;
- Equipes disponíveis para discussão de casos;
- Parceria com o médico preceptor;
- Entre outros.
Ou seja, problematize sim os diversos cenários que você pode encontrar ao ingressar na residência. Veja se são desafios superáveis e alinhe as suas expectativas com a realidade com que irá se deparar.
Uma boa dica é conversar com residentes e ex-residentes do seu programa de interesse, de preferência, com mais de uma pessoa para discutir possíveis dúvidas com quem esteve, de fato, “na casa”. No YouTube do Estratégia MED você encontra o depoimento de residentes das mais diversas especialidades e instituições, o que com certeza poderá te ajudar a tirar aquela “pulga atrás da orelha”. Confira a playlist:
4. Renda extra durante a residência médica
Já sabemos que o plantão desgasta bastante o médico e, no caso do residente, ainda prejudicará o momento que deve ser focado no aprendizado. A atual bolsa de residência médica está fixada em R$ 4.106,09, porém muitos são os gastos previstos no início da carreira.
Durante a residência, sobretudo a iniciada logo após a formação é necessário, se possível, programar-se financeiramente para não depender de maneira exclusiva dos plantões em um ponto que prejudique o seu aperfeiçoamento na especialidade escolhida.
Uma opção de renda extra, principalmente no caso de você cursar uma especialidade mais rara e diferenciada, é a possibilidade de atuar como professor particular, o que pode ocorrer com facilidade se você tiver um bom networking e, principalmente, uma boa didática.
5. Técnicas de estudo para a realidade do residente
Principalmente em programas mais conhecidos pela sua “correria”, a rotina da residência mal vai te permitir sentar e ler artigos ou livros necessários na paz que você precisa. Para isso, é necessário desenvolver metodologia ativa de aprendizado baseando-se nos casos do dia a dia.
Para ajudar, produza resumos dinâmicos – no estilo mapa mental – e preencha post-its apoiando-se nas ocorrências do seu cotidiano como residente. Também é interessante ter um caderno para anotar os casos que precisem de mais estudo, atualização ou aprofundamento. Assim, no seu tempo de estudo fora do hospital, você poderá pesquisar com mais calma o que julgou necessário, bem como incrementar as condutas conforme as últimas atualizações do CFM ou das sociedades médicas.
Vale lembrar que os programas dos cursos de residência médica compreendem, obrigatoriamente, de 10% a 20% de sua carga horária às atividades teórico-práticas. As instituições podem ocupar esse tempo sob a forma de sessões atualizadas, seminários, correlações clínico-patológicas ou outras, de acordo com o currículo pré-estabelecido para cada programa. Ou seja, nem todo estudo irá partir 100% de você!
6. Residência em outro estado
Por ter mais programas que a região Nordeste e Norte do Brasil, diversos médicos migram para as regiões Centro-Oeste, Sul e principalmente Sudeste para realizar a sua residência médica. Este cenário pode influenciar negativamente os profissionais que não estavam preparados para tal mudança, bem como prejudicar o estudo na residência médica. Ou, pode simplesmente acontecer o contrário.
Para saber se a mudança de estado é para você, leve em consideração as seguintes perguntas:
- O serviço é melhor em outro local?
- Há possibilidade de crescimento em outro local?
- É possível se sustentar neste novo local durante a residência?
- Está disposto a morar sozinho durante a residência, mesmo sem rede de apoio próxima?
- Fazer a residência em outro local impactará positivamente sua atuação futura na cidade natal?
- O custo de oportunidade do tempo fora compensa?
Se a maioria das respostas às perguntas acima for sim, então realizar a residência médica fora do seu estado ou cidade natal pode ser bom para você. Porém, caso a maior parte das respostas tenha sido não, a melhor opção talvez seja permanecer, pelo menos por enquanto, na sua região natal.
O segundo cenário não se trata de uma opção conformista ou limitante, pelo contrário, muitos médicos prezam por permanecer em sua cidade para ajudar a sua comunidade de origem, enquanto priorizam pelo tempo de qualidade, principalmente na época de estudo e aprofundamento que é o período de residência.
Além disso, muitos são os incentivos – principalmente financeiros – ao desempenho da medicina em áreas remotas, serviços públicos de saúde ou apenas fora dos centros urbanos. Isso ocorre por conta da disparidade dentro das especialidades na medicina, bem como a concentração de médicos em determinadas regiões e cidades do Brasil. Na Demografia Médica 2023 você pode consultar mais dados acerca da distribuição de médicos pelo território brasileiro.
Saiba mais: Incentivos à Residência em Medicina de Família e Comunidade fazem a bolsa ultrapassar 10 mil reais
7. Saiba a hora de abrir mão
Perceber que escolheu errado a especialidade ou a instituição da sua residência médica desanima qualquer um. Porém, é preciso reconhecer a hora de abrir mão daquele programa, pensando no seu possível futuro como profissional, o quão você poderá ajudar a sociedade se formando naquela área ou em outra e, principalmente, na sua felicidade.
Diversos fatores devem ser levados em consideração na hora de tomar uma decisão tão séria. Além das condições já citadas ao longo deste texto, um dos principais pontos que deve ser levado em consideração é a sua atração pela área. Assim, pense na sua experiência no que tange os seguintes aspectos:
- Os possíveis ganhos financeiros;
- As possibilidades de trabalho;
- A rotina da área; e
- A realidade local da sua cidade.
Para te ajudar a decidir se a sua dúvida ou problema for a respeito da instituição escolhida, reflita sobre:
- Localização geográfica da instituição;
- Questões familiares (história familiar ou a própria vontade de ficar próximo aos parentes);
- Apoio da instituição nos empregos futuros e possibilidade de networking;
- Presença de suporte pedagógico;
- Potencial de pesquisa da instituição;
- Qualidade em si do serviço;
- Potencial cirúrgico ou de integração com outras áreas, principalmente as básicas;
- Preparação compatível com o mercado de trabalho; e
- Absorção pelo serviço.
Por último, pondere acerca do próprio programa pensando na sua realidade como profissional:
- Possibilidade de trabalhar fora, pensando no tempo e preparo necessários;
- Quantidade de plantões;
- Hierarquia do programa;
- Bullying;
- Horário de trabalho; e
- Preparação para um R+.
Se grande parte da área, instituição e do programa em si não estão correspondendo às suas necessidades como médico, pode ser necessário repensar a escolha, tomando cuidado apenas com fases complicadas, porém temporárias e superáveis. Confira no YouTube do Estratégia MED o depoimento do Dr. Felipe Freitas, que desistiu duas vezes do programa de residência médica escolhido até finalmente achar a área e instituição ideais:
Gostou do conteúdo? Com o Estratégia MED você pode escolher a melhor maneira de estudar e garantir a sua vaga na residência médica em 2024. Você tem a chance de se preparar por meio da resolução de questões presentes em nosso Banco de Questões, que em abril de 2023 contava com quase 190 mil questões cadastradas. Vem ser coruja!
Texto em colaboração de Ana Carolina Damasceno
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