Medicina tem mais mulheres, mas permanece desigual
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Medicina tem mais mulheres, mas permanece desigual

Disparidade salarial e acesso à especialização ainda são entraves para a carreira, revela Demografia Médica no Brasil

No Dia Internacional da Mulher, muito (ainda) se discute sobre os avanços e retrocessos sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Essas discussões também repercutem na área médica, como revela a Demografia Médica no Brasil (DM), estudo lançado em fevereiro de 2023. Em 2024 a expectativa é a de que as mulheres predominem na área, fenômeno chamado pelos estudiosos como “feminização da medicina”.

Em 2022, o número de CRMs (Conselho Regional de Medicina) registrados por homens era apenas 2,8% maior que o de mulheres. Isso demonstra a tendência de paridade da presença dos gêneros na profissão, como pode ser observado no gráfico a seguir:

Gráfico de evolução do número de médicos, por gênero, no Brasil de 2009 a 2022 e projeção para o ano de 2035.
Fonte: Scheffer M. et al., Demografia Médica no Brasil 2023

Desafios a serem superados

Apesar do significativo aumento da presença feminina na medicina, médicas ainda enfrentam grandes desafios no que se refere às condições de trabalho, como a diferença salarial. Em 2020, a remuneração média de um homem era de R$ 36.421, enquanto a das mulheres era de R$ 23.205, representando uma diferença salarial de quase 64% entre os gêneros, segundo dados da DM: 

Gráfico de evolução do rendimento médio mensal de médicos declarantes de Imposto de Renda de Pessoa Física, segundo sexo, em 2020.
Fonte: Scheffer M. et al., Demografia Médica no Brasil 2023

Essa diferença varia conforme a faixa etária, mas a maior remuneração dos homens prevalece em todas. Na faixa dos 41 a 50 anos, o rendimento médio das médicas equivalia a 65% da renda dos médicos em 2020. Contudo, a diferença salarial entre os gêneros diminui nas idades mais avançadas e, também, até os 30 anos, quando mulheres declaram renda média equivalente a 82,7% à dos homens

Gráfico de evolução dos rendimentos médicos declarantes do Imposto de Renda Pessoa Física, segundo faixa etária e sexo, em 2020.
Fonte: Scheffer M. et al., Demografia Médica no Brasil 2023

Médicos predominam na maioria das especialidades médicas

Outro problema a ser superado é o acesso de mulheres à especialização, fator de extrema importância para o desenvolvimento da carreira. A presença de médicos é predominante em 36 das 55 especialidades médicas, enquanto médicas são maioria em apenas 19

Em alguns campos, a diferença é exorbitante, como é o caso das áreas cirúrgicas. Cirurgia Geral, por exemplo, mulheres representam menos de 25% do total de especialistas. Em contrapartida, especialidades como Dermatologia e Pediatria as médicas assumem o topo do ranking, com 77,9% e 75,6%, respectivamente. Já o número de especialistas em Nutrologia, Medicina Física e Reabilitação, e Gastroenterologia estão proporcionalmente equilibradas entre os gêneros. 

Gráfico de barras demonstrando as especialidades médicas com maior presença feminina em 2022.
Fonte: Scheffer M. et al., Demografia Médica no Brasil 2023

Contudo, esse cenário tende a mudar nos próximos anos, considerando o significativo aumento da presença feminina nos programas de formação médica. Tanto na graduação quanto na pós-graduação, especialmente na residência médica, considerada o padrão-ouro de especialização, as mulheres estão ocupando cada vez mais espaço. 

Seguindo a tendência da graduação, cujo percentual de mulheres no primeiro ano de medicina equivalia a 62% do total em 2019. Já a residência médica registrou 56% de mulheres no mesmo período. A Demografia Médica considera que “a maior presença feminina é compatível com o fenômeno da feminização da medicina no Brasil”. 

Feminização da medicina em outros cenários

O aumento da presença das mulheres na medicina segue a tendência mundial, a exemplo dos países monitorados pela OCDE, que registraram um crescimento médio de 10% de médicas entre os anos 2000 e 2020. Em países como Lituânia, Estônia e Letônia percentual de mulheres atuantes na área médica passa de 70% do total. Mas em outros países, como Japão e Coreia do Sul, esses índices são de 22,7% e 24,5%, respectivamente.

Diversos estudos relatam os impactos da prevalência de homens na medicina, especialmente, no que se trata da saúde da mulher. Recentemente, a autora do livro Unwell Women, Elinor Cleghorn, comentou durante entrevista sobre o seu trabalho, que “em sua longa história, a Medicina absorveu e reforçou divisões de gênero socialmente construídas num mundo dominado por homens”. 

Cleghorn argumenta que a prevalência masculina na medicina gera impactos e obstáculos para o conhecimento teórico e para a prática médica e defende a necessidade de “entender onde estamos e como chegamos até aqui.” Por isso, segundo a autora, “a Medicina deve ouvir e acreditar nos nossos testemunhos sobre o nosso próprio corpo e usar tempo e dinheiro para resolver mistérios médicos” para solucionar este problema. 

Um panorama promissor desponta em conquistas recentes, como a posse da primeira mulher no Ministério da Saúde, Nísia Trindade. Mas se a geração de oportunidades no mercado tradicional não acompanha o crescimento numérico das mulheres na medicina, iniciativas como as Femtechs têm se mostrado uma nova possibilidade de mitigar as desigualdades entre gêneros na medicina. 

Saúde da mulher em provas

E mesmo com a tímida evolução na produção de conhecimento teórico e prático, há indícios de maior investimento governamental em programas voltados para a saúde da mulher. Isso se revela, especialmente, em campanhas do Sistema Único de Saúde (SUS), reforçando os seus princípios básicos de universalidade, integralidade e equidade

Nesse sentido, a questão de gênero na saúde compõe o rol de temas pertinentes aos Determinantes Sociais da Saúde (DSS), seleções para residência médica e de processos de revalidação de diplomas de medicina expedidos no exterior tendem a exigir, cada vez mais conhecimento sobre esses assuntos. Veja um exemplo de questão que relaciona gênero aos DSS: 

UNICAMP 2020

O Núcleo de Saúde Coletiva constatou que nos últimos cinco anos 67,5% entre as mulheres analfabetas ou com ensino fundamental incompleto e 91,4% entre mulheres com ensino superior completo da população alvo realizaram coleta de Exame de Citologia Oncológica de Colo Uterino. ESSES DADOS MOSTRAM:

A - Ação de promoção de saúde.
B - Desigualdade social em saúde.
C - Ação local da vigilância sanitária.
D - Ação de prevenção.


A alternativa B, Determinantes Sociais da Saúde, responde essa questão, concordando com o gabarito da banca. 

Se você já é assinante do Banco de Questões do Estratégia MED, pode conferir o gabarito com comentários da professora especialista neste link. Ou, se você ainda não é assinante, conheça o BQMED e aprimore os seus conhecimentos da área médica: 

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