No Dia Internacional da Mulher, muito (ainda) se discute sobre os avanços e retrocessos sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Essas discussões também repercutem na área médica, como revela a Demografia Médica no Brasil (DM), estudo lançado em fevereiro de 2023. Em 2024 a expectativa é a de que as mulheres predominem na área, fenômeno chamado pelos estudiosos como “feminização da medicina”.
Em 2022, o número de CRMs (Conselho Regional de Medicina) registrados por homens era apenas 2,8% maior que o de mulheres. Isso demonstra a tendência de paridade da presença dos gêneros na profissão, como pode ser observado no gráfico a seguir:
Navegue pelo conteúdo
Desafios a serem superados
Apesar do significativo aumento da presença feminina na medicina, médicas ainda enfrentam grandes desafios no que se refere às condições de trabalho, como a diferença salarial. Em 2020, a remuneração média de um homem era de R$ 36.421, enquanto a das mulheres era de R$ 23.205, representando uma diferença salarial de quase 64% entre os gêneros, segundo dados da DM:
Essa diferença varia conforme a faixa etária, mas a maior remuneração dos homens prevalece em todas. Na faixa dos 41 a 50 anos, o rendimento médio das médicas equivalia a 65% da renda dos médicos em 2020. Contudo, a diferença salarial entre os gêneros diminui nas idades mais avançadas e, também, até os 30 anos, quando mulheres declaram renda média equivalente a 82,7% à dos homens.
Médicos predominam na maioria das especialidades médicas
Outro problema a ser superado é o acesso de mulheres à especialização, fator de extrema importância para o desenvolvimento da carreira. A presença de médicos é predominante em 36 das 55 especialidades médicas, enquanto médicas são maioria em apenas 19.
Em alguns campos, a diferença é exorbitante, como é o caso das áreas cirúrgicas. Cirurgia Geral, por exemplo, mulheres representam menos de 25% do total de especialistas. Em contrapartida, especialidades como Dermatologia e Pediatria as médicas assumem o topo do ranking, com 77,9% e 75,6%, respectivamente. Já o número de especialistas em Nutrologia, Medicina Física e Reabilitação, e Gastroenterologia estão proporcionalmente equilibradas entre os gêneros.
Contudo, esse cenário tende a mudar nos próximos anos, considerando o significativo aumento da presença feminina nos programas de formação médica. Tanto na graduação quanto na pós-graduação, especialmente na residência médica, considerada o padrão-ouro de especialização, as mulheres estão ocupando cada vez mais espaço.
Seguindo a tendência da graduação, cujo percentual de mulheres no primeiro ano de medicina equivalia a 62% do total em 2019. Já a residência médica registrou 56% de mulheres no mesmo período. A Demografia Médica considera que “a maior presença feminina é compatível com o fenômeno da feminização da medicina no Brasil”.
Feminização da medicina em outros cenários
O aumento da presença das mulheres na medicina segue a tendência mundial, a exemplo dos países monitorados pela OCDE, que registraram um crescimento médio de 10% de médicas entre os anos 2000 e 2020. Em países como Lituânia, Estônia e Letônia percentual de mulheres atuantes na área médica passa de 70% do total. Mas em outros países, como Japão e Coreia do Sul, esses índices são de 22,7% e 24,5%, respectivamente.
Diversos estudos relatam os impactos da prevalência de homens na medicina, especialmente, no que se trata da saúde da mulher. Recentemente, a autora do livro Unwell Women, Elinor Cleghorn, comentou durante entrevista sobre o seu trabalho, que “em sua longa história, a Medicina absorveu e reforçou divisões de gênero socialmente construídas num mundo dominado por homens”.
Cleghorn argumenta que a prevalência masculina na medicina gera impactos e obstáculos para o conhecimento teórico e para a prática médica e defende a necessidade de “entender onde estamos e como chegamos até aqui.” Por isso, segundo a autora, “a Medicina deve ouvir e acreditar nos nossos testemunhos sobre o nosso próprio corpo e usar tempo e dinheiro para resolver mistérios médicos” para solucionar este problema.
Um panorama promissor desponta em conquistas recentes, como a posse da primeira mulher no Ministério da Saúde, Nísia Trindade. Mas se a geração de oportunidades no mercado tradicional não acompanha o crescimento numérico das mulheres na medicina, iniciativas como as Femtechs têm se mostrado uma nova possibilidade de mitigar as desigualdades entre gêneros na medicina.
Saúde da mulher em provas
E mesmo com a tímida evolução na produção de conhecimento teórico e prático, há indícios de maior investimento governamental em programas voltados para a saúde da mulher. Isso se revela, especialmente, em campanhas do Sistema Único de Saúde (SUS), reforçando os seus princípios básicos de universalidade, integralidade e equidade.
Nesse sentido, a questão de gênero na saúde compõe o rol de temas pertinentes aos Determinantes Sociais da Saúde (DSS), seleções para residência médica e de processos de revalidação de diplomas de medicina expedidos no exterior tendem a exigir, cada vez mais conhecimento sobre esses assuntos. Veja um exemplo de questão que relaciona gênero aos DSS:
UNICAMP 2020 O Núcleo de Saúde Coletiva constatou que nos últimos cinco anos 67,5% entre as mulheres analfabetas ou com ensino fundamental incompleto e 91,4% entre mulheres com ensino superior completo da população alvo realizaram coleta de Exame de Citologia Oncológica de Colo Uterino. ESSES DADOS MOSTRAM: A - Ação de promoção de saúde. B - Desigualdade social em saúde. C - Ação local da vigilância sanitária. D - Ação de prevenção. A alternativa B, Determinantes Sociais da Saúde, responde essa questão, concordando com o gabarito da banca.
Se você já é assinante do Banco de Questões do Estratégia MED, pode conferir o gabarito com comentários da professora especialista neste link. Ou, se você ainda não é assinante, conheça o BQMED e aprimore os seus conhecimentos da área médica: