A neutrofilia é um achado laboratorial extremamente comum tanto em nível ambulatorial, quanto em ambiente hospitalar. Por este motivo, é importante entender como interpretar este achado e indicar a correta avaliação para seu paciente.
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Dicas do Estratégia para provas
Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à .
- Para adultos, geralmente corresponde a mais de 8.000 neutrófilos/microL, mas pode mudar o valor de referência a depender do laboratório.
- As infecções e a inflamação são as causas mais comuns de neutrofilia em adultos e crianças.
- A avaliação inicial envolve uma anamnese completa, em busca de sinais de infecção/inflamação, além de cirurgia recente e uso de medicamentos.
- O esfregaço sanguíneo permite avaliação da morfologia dos neutrófilos, da presença de células imaturas, além de avaliar atipia celulares presentes.
- A presença de neutrofilia isolada em pacientes assintomáticos não é motivo para iniciar antibioticoterapia.
Definição da doença
A neutrofilia refere-se a um aumento de neutrófilos no sangue periférico, definida como uma contagem absoluta no sangue mais alta do que dois desvios padrão acima da média. Para adultos, isso geralmente corresponde a mais de 8.000 neutrófilos/microL, mas pode variar a depender do kit utilizado para análise.
Os neutrófilos
Os neutrófilos são leucócitos polimorfonucleares, arredondados, formados por dois a cinco lóbulos (mais frequentemente, três lóbulos) ligados entre si por finas pontes de cromatina, sendo uma célula em estágio final de diferenciação e realiza uma síntese proteica muito limitada.
O citoplasma do neutrófilo apresenta predominantemente grânulos específicos, que além de apresentarem enzimas importantes no combate aos microrganismos, também têm componentes para reposição de membrana e auxiliam na proteção da célula contra agentes oxidantes, e grânulos azurófilos (lisossomos), que contêm proteínas e peptídios destinados a digestão e morte de microrganismos. os grânulos específicos.
São os leucócitos mais abundantes na circulação e extremamente importantes para o sistema imune inato. É a primeira linha de células recrutadas no local da infecção, fagocitando e digerindo microorganismos, produzindo espécies reativas de oxigênio.
#Ponto importante: O neutrófilo jovem tem núcleo não segmentado em lóbulos, sendo chamado de neutrófilo com núcleo em bastonete. Os bastonetes encontrados em quantidade maior no sangue periférico possuem significado clínico, pois há estímulo à produção de neutrófilos na medula óssea, como ocorre nas infecções bacterianas agudas.
Etiologia da neutrofilia
A neutrofilia pode ser uma anormalidade isolada ou pode estar associada a anormalidades de outros leucócitos, hemácias ou plaquetas. As infecções são uma causa comum de neutrofilia isolada em adultos e crianças, tanto em ambientes hospitalares quanto ambulatoriais e faz parte das causas secundárias.
A neutrofilia com desvio à esquerda é comumente observada em associação com infecções bacterianas agudas, demonstrando o aumento do recrutamento de bastonetes.
Está comumente presente em processos inflamatórios agudos e crônicos, como artrite reumatoide, doença de Kawasaki, doença de Still do adulto, doença de Crohn, colite ulcerosa, infecções granulomatosas, bronquiectasia ou hepatite crônica.
Outras causas de neutrofilia secundária incluem tumores sólidos, com parte de uma reação leucemóide, estados pós-cirúrgicos, tabagismo, obesidade e uso de certos medicamentos. Os medicamentos mais comumente associados à neutrofilia são as catecolaminas, glicocorticóides, fatores de crescimento mielóide, plerixafor, lítio e o , ácido retinóico all-trans.
#Ponto importante: A neutrofilia também pode ser observada em condições fisiológicas, como em gestantes e neonatos.
A neutrofilia primária ocorre devido ao aumento anormal da produção de neutrófilos pela medula óssea devido à regulação prejudicada da produção de neutrófilos. Exemplos incluem neoplasias mieloproliferativas, como leucemia mielóide crônica, trombocitemia essencial e policitemia vera, e leucocitose crônica idiopática.
Avaliação da neutrofilia
Inicialmente é necessário coletar uma história completa em busca de sinais de infecção e inflamação ativa, como febre, linfadenopatia, tosse produtiva, dor abdominal, diarreia, história de cirurgia recente, além da lista de medicações em uso e potenciais causadores da elevação de neutrófilos.
#Ponto importante: A presença de neutrofilia isolada em pacientes assintomáticos não é motivo para iniciar antibioticoterapia em indivíduos hígidos.
O próximo passo é a revisão do esfregaço de sangue periférico, importante para avaliar os neutrófilos e identificar anormalidades em outras linhagens. A associação de alguns achados estão descritos a seguir:
- Neutrófilos hipersegmentados, com mais de cinco lobos, sugere processo megaloblástico ou, raramente, anemia ferropriva.
- Presença de células precoces (imaturas), como metamielócitos e mielócitos, pode ser devido a infecção/sepse grave ou leucemia mielóide crônica (LMC).
- Presença de um número significativo de blastos mielóides sugere leucemia mielóide aguda (LMA).
- Corpos de Döhle e granulações tóxicas sugerem processo infeccioso ou inflamatório.
- Leucócitos displásicos podem ser causados por leucemia mielomonocítica crônica (LMMC)
A observação sem testes adicionais imediatos é razoável para pacientes clinicamente estáveis com neutrofilia modesta e sem achados clínicos ou laboratoriais preocupantes na avaliação inicial. A presença de desvio à esquerda no hemograma e granulações tóxicas sugerem infecções mais graves e merecem avaliação adicional.
Exames adicionais incluem marcadores inflamatórios como PCR e VHS e exames guiados para possível causa, que pode envolver hemocultura e outras culturas, radiografia de tórax pensando em sepse pulmonar, TC de abdome pensando em processos inflamatórios abdominais.
Quando encaminhar ao hematologista?
Pacientes com perda de peso inexplicável, febre, sudorese noturna ou esplenomegalia, além de presença de formas anormais no esfregaço de sangue, como blastos, ou anormalidades em outras linhagens, pode ser necessário exame da medula óssea e a avaliação com especialista se faz necessária.
Veja também:
- Resumo de leucocitose: etiologia, avaliação e mais!
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- Resumo de eosinofilia: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de basófilos: diagnóstico, tratamento e mais!
Referências bibliográficas:
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