Resumo de cardiopatias congênitas: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de cardiopatias congênitas: diagnóstico, tratamento e mais!

As cardiopatias congênitas são defeitos estruturais ou malformações no coração da criança que já vem desde o nascimento, didaticamente divididas em cardiopatias cianogênicas e acianogênicas. É um tema de extrema importância na Neonatologia, pois representa a terceira causa de morte neste período. 

Circulação fetal

A circulação fetal é marcada por alta pressão pulmonar e baixa pressão sistêmica. Na circulação fetal existem três shunts: o ducto venoso, forame oval e canal arterial (ducto arterioso). Por outro lado, ao nascimento, a circulação neonatal é marcada por uma baixa pressão pulmonar e alta circulação sistêmica. 

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Manifestações clínicas das cardiopatias congênitas

A principal manifestação das CG cianóticas é a cianose, que refere-se a cor azulada da pele e mucosas devido ao aumento da hemoglobina reduzida (carboxihemoglobina) ou de seus derivados acima do normal. Essa manifestação ocorre principalmente quando há dessaturação crítica, geralmente com SpO2 abaixo de 85%. 

Os principais sinais nas CG acianóticas são hiperfluxo pulmonar, insuficiência e sobrecarga de câmaras cardíacas. Outras manifestações que podem estar presentes são sinais de insuficiência cardíaca, como taquipneia, sudorese, cansaço durante as mamadas, cardiomegalia, hepatomegalia e presença de sopros cardíacos. 

Cardiopatias congênitas cianogênicas

São o subtipo de cardiopatias congênitas mais cobradas em provas, sendo duas as principais: transposição dos grandes vasos e tetralogia de Fallot. 

Transposição dos grandes vasos

Essa condição ocorre quando se forma um circuito em paralelo com inversão dos grandes vasos, com a aorta emergindo do ventrículo direito e a artéria pulmonar emergindo do ventrículo esquerdo. A criança geralmente se apresenta com cianose grave e insuficiência cardíaca, e a radiografia demonstra cardiomegalia com aspecto em “ovo deitado”

#Ponto importante: A persistência do canal arterial é o que mantém esses pacientes vivos, pois a presença de shunts permite que certa quantidade de sangue oxigenado vá para os tecidos. 

Diante disso, um dos tratamentos iniciais é a administração de prostaglandinas endovenosas para manutenção do canal arterial. O procedimento de Rashkind serve para criar um shunt temporário para a sobrevivência da criança até a cirurgia definitiva. A cirurgia de Jatene é a que corrige o problema em definitivo.  

Tetralogia de Fallot

A tetralogia de Fallot é marcada por estenose pulmonar, comunicação interventricular (CIV), dextroposição ou cavalgamento da aorta e hipertrofia do ventrículo direito. A obstrução na via de saída do ventrículo direito gera aumento da pressão durante a sístole, shunt direita-esquerda entre os ventrículos e presença de hipofluxo pulmonar e hipoxemia severa. 

O fluxo pulmonar é adequado ao nascimento, mas ocorre obstrução progressiva nas primeiras semanas de vida, provocando a cianose progressiva. O achado radiológico típico da doença é em bota ou tamanco holândes. 

As crianças podem apresentar crises hipoxêmicas agudas decorrente de estresse ou choro. Particularmente nesses casos, a criança deve ser colocada em posição genupeitoral (diminui a resistência periférica e retorno venoso), deve ser fornecido oxigênio, morfina e noradrenalina ou metoprolol. A cirurgia de Blalock-Taussig é realizada para aumento do fluxo pulmonar, sendo indicado quando existir tetralogia de Fallot e artérias pulmonares hipoplásicas.  

Cardiopatias congênitas acianogênicas

É caracterizada por sobrecargas de câmaras cardíacas e hiperfluxo pulmonar, marcada na radiografia de tórax como aumento da trama vascular pulmonar. 

Comunicação interventricular (CIV)

Cardiopatia congênita mais comum da infância. É caracterizada por defeito do septo ventricular, que pode ser perimembranosa 70%, muscular 5 a 20% e, subarterial de 5 a 30% dos casos. Enquanto os dois primeiros fecham espontaneamente, o subarterial não se fecha de maneira espontânea. 

Geralmente se apresenta após o primeiro mês de vida, com sopro holossistólico em borda esternal esquerda, que pode estar acompanhado se abaulamento precordial e insuficiência cardíaca. A radiografia de tórax se apresenta com cardiomegalia e abaulamento de arco pulmonar

Comunicação interatrial (CIA)

O defeito de septo atrial é uma condição em que existe um shunt E-D ao nível atrial e sobrecarga de volume do ventrículo direito. Existem 4 tipos: Ostium secundum (presente em até 70% dos casos), Ostium primum e do seio venoso. O primeiro tem resolução espontânea em quase 100% dos casos

A maioria dos pacientes são assintomáticos, geralmente são diagnosticados após triagem em exame físico com sopros sistólico pulmonar e tricúspide ou hiperfonese e desdobramento fixo B2. 

Persistência do canal arterial

O canal arterial persiste de maneira fisiológica até às 48 horas de vida, e fechamento anatômico em média com 7 dias de vida. A falha no fechamento ocorre principalmente em prematuros, quanto menor o peso ao nascimento e é a cardiopatia mais comum na rubéola congênita

É marcada clinicamente por sopro contínuo em maquinaria, hiperfonese de B2, pulsos periféricos amplos e hipertensão pulmonar. A conduta é utilizar AINEs, como ibuprofeno e indometacina

Coarctação de aorta

Representa o estreitamento da aorta, mais comumente no nível da aorta torácica proximal. O quadro clínico é marcado por redução dos pulsos em membros inferiores, pulsos amplos e níveis pressóricos elevados em membros superiores, sopro sistólico e hiperfonese de B2 em focos aórtico e mitral.

Os sinais típicos de radiografia de tórax são muito cobrados em provas de residência, incluindo o sinal do 3 invertido e sinal de Röesler. Nas causas graves, assim como na transposição de grandes vasos, a sobrevivência nos primeiros dias dependerá da persistência do canal arterial, sendo infundido prostaglandina endovenosa em pacientes muito sintomáticos. 

Diagnóstico das cardiopatias congênitas

O diagnóstico precoce das CG é realizado através do teste do coraçãozinho, um teste de triagem neonatal para cardiopatia congênita, realizado a partir da oximetria de pulso de forma rotineira em recém-nascidos com idade gestacional maior que 34 semanas. No entanto, essa triagem só se aplica a cardiopatias críticas e dependentes do canal arterial. 

O ecocardiograma é o exame adicional de escolha quando a triagem for positiva ou a criança apresentar sinais sugestivos de cardiopatias, para diagnóstico e avaliação das manifestações sistêmicas.  

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Gisele C P L. Cardiopatia congênita. 2021. Portal GOV
  • Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole,2017.
  • Varela-Chinchilla CD, Sánchez-Mejía DE, Trinidad-Calderón PA. Congenital Heart Disease: The State-of-the-Art on Its Pharmacological Therapeutics. J Cardiovasc Dev Dis. 2022 Jun 26;9(7):201. doi: 10.3390/jcdd9070201. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9316572/
  • Wang T, Chen L, Yang T, Huang P, Wang L, Zhao L, Zhang S, Ye Z, Chen L, Zheng Z, Qin J. Congenital Heart Disease and Risk of Cardiovascular Disease: A Meta-Analysis of Cohort Studies. J Am Heart Assoc. 2019 May 21;8(10):e012030. doi: 10.1161/JAHA.119.012030. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6585327
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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