Resumo de desidratação na infância: diagnóstico e mais!

Resumo de desidratação na infância: diagnóstico e mais!

A desidratação na infância é tema recorrente nas provas de residência, sendo frequentemente cobrada em associação com gastroenterite aguda. Além disso, é um quadro comum nas urgências pediátricas. Por este motivo, confira agora aspectos práticos e importantes sobre este tema. 

Definição da doença

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a desidratação como uma condição que resulta da perda excessiva de água corporal. 

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Epidemiologia e fisiopatologia de desidratação 

A gastroenterite aguda é a principal causa de desidratação pediátrica em crianças e, a  cada ano, aproximadamente 760.000 crianças sofrem de doenças diarreicas em todo o mundo.

#Ponto importante: o agente etiológico mais comum das diarreias é o rotavírus. 

As infecções virais, incluindo rotavírus, norovírus e enterovírus, em média 80% dos casos de diarreia infecciosa, enquanto as bacterianos causam menos de 20%. Causas bacterianas comuns incluem Salmonella, Shigella e Escherichia coli. Parasitas como Giardia e Cryptosporidium representam menos de 5% dos casos.

Patogênese

A desidratação representa a depleção total de água em relação ao sódio. A água corporal total (ACT) em humanos é distribuída em dois compartimentos principais: Dois terços (⅔) do ACT está no compartimento intracelular e o outro 1/3 está distribuído entre o espaço intersticial (75%) e o plasma (25%). 

Podemos ter uma desidratação do tipo isotônica (a mais comum), hipertônica ou hipotônica:  

  • Isotônica: a proporção de perda de água e eletrólitos é similar e as manifestações variam de acordo com o grau da diarreia. 
  • Hipertônica: a quantidade de água perdida é maior que a de eletrólitos, deixando o intravascular mais concentrado. Como consequência, a água tende sair das células para o intravascular e os sintomas de desidratação são menos intensos, associados a sede intensa, febre, irritabilidade e letargia. 
  • Hipotônica: Por outro lado, na desidratação hipotônica se perde mais eletrólitos do que água, ocasionando a saída de líquido do intravascular para dentro da célula. Há alto risco de choque hipovolêmico pela depleção de água e edema cerebral pelo inchaço nas células neuronais, gerando convulsões e agitação.  

Classificação de gravidade da desidratação 

Pela porcentagem de peso perdida:

  • Leve: menor que 5%
  • Moderada: entre 6 e 9 %
  • Grave: maior ou igual a 10% 

Pelos sintomas de desidratação: 

A avaliação do estado de hidratação do paciente a partir dos sintomas é a forma mais comum de ser cobrada em provas, geralmente em crianças com diarreia. O exame físico deve incluir estado geral do paciente, dos olhos, se há lágrimas ou não, se o paciente tem sede, o nível de consciência, presença do sinal da prega cutânea, e como se encontra o pulso e o enchimento capilar. 

Outros critérios de gravidade incluem nível de alerta, fontanela baixa, saliva espessa, padrão respiratório alterado, ritmo cardíaco acelerado, pulso débil, aumento do tempo de enchimento capilar, extremidades frias, perda de peso, turgência da pele e sede excessiva, como descrita na tabela abaixo disponibilidade pelo guia de diarreia aguda da SBP: 

Crédito: Sociedade brasileira de pediatria (SBP),2017. 

Avaliação da desidratação

Exames importantes para avaliação e tomada de decisão incluem distúrbios nos níveis de sódio, acidose caracterizada por níveis baixos de bicarbonato ou níveis elevados de lactato, evidenciados rapidamente a partir da gasometria venosa. 

Para pacientes com vômitos, que não foram capazes de tolerar fluidos orais, a hipoglicemia pode estar presente. A avaliação da gravidade específica da urina e a presença de cetonas podem auxiliar na avaliação da desidratação e afastar diagnósticos diferenciais, como cetoacidose diabética.

Tratamento da desidratação

O tratamento da desidratação depende do grau de desidratação ABC e é dividido por planos, baseados em soro de reidratação oral (SRO) ou fluidoterapia venosa:

  • Plano A: Tratamento domiciliar, com quantidades de soro de reidratação oral após cada evacuação. As quantidades depende da idade:
    • Menores de 1 ano: 50 – 100 ml
    • Maiores que 1 ano e menores que 10 anos: 100 a 200ml
    • Maiores que 10 anos: conforme aceitação.
  • Plano B: Fornecer SRO em observação sob supervisão médica. Deve ser ofertado entre 50 a 100 mL/Kg, durante 2 a 4 horas até que desapareçam os sinais de desidratação.
    • Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilize o plano A. 
    • Se permanecerem deve ser passado sonda nasogástrica (gastróclise).
  • Plano C: Deve ser ofertada reidratação via endovenosa. 

O plano C contempla duas fases para todas as faixas etárias: fase rápida (de expansão) e fase de manutenção.  

  • Fase rápida
    • Se menos que 5 anos: realizar 20 ml/Kg de cristalóide em Soro Fisiológico a 0,9% em 30 min. 
    • Sendo maior que 5 anos: realizar 30 ml/kg de Sf 0,9% em 30 min, seguido por 70 ml/kg de Ringer Lactato em 2 horas e 30 minutos.
  • Fase de manutenção e reposição também é feita para todas as faixas etárias. Na manutenção deve-se ofertar 100 ml por kilo de peso calórico do paciente, por outro lado, a reposição é adicionada à fase de manutenção enquanto a criança não consegue se alimentar ou beber água. O peso calórico é calculado da seguinte forma:
    • < 10kg = peso normal do paciente
    • 10 a 20 kg = 10 + 0,5 x peso da criança
    • > 20 kg = 15 + 0,2 x peso da criança
Crédito: Sociedade brasileira de pediatria (SBP),2017. 

É importante repor os eletrólitos também. O K+ (potássio) deve fazer parte da solução de manutenção com 2,5 mEq por kg de peso calórico. Equivale a 2 ml de KCl a 10% para cada 100 l de solução da fase de manutenção ou 01 ml de KCl a 19,1%.

Nas diarreias hipertônicas, o Na (sódio) deve ser 3 mEq por kg de peso calórico durante a fase de manutenção, formando uma solução hipotônica. Nas diarreias isotônicas, o Na (sódio) deve ser 140 mEq por kg de peso calórico por dia durante a fase de manutenção, formando uma solução hipotônica.

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Manejo do Paciente com Diarreia (Cartaz). Ministério da Saúde. 
  • Sociedade brasileira de pediatria (SBP). Diarreia aguda: diagnóstico e tratamento. Nº 1, Março de 2017. SBP
  • Vega RM, Avva U. Pediatric Dehydration. [Updated 2022 Aug 1]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK436022/
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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