Olá, querido doutor e doutora! A Hiperostose Esquelética Idiopática Difusa (HEID) é uma condição osteometabólica com manifestações predominantemente esqueléticas, cuja detecção muitas vezes ocorre de forma incidental. Este texto apresenta uma revisão clínica e radiológica da HEID, abordando sua definição, fisiopatologia, diagnóstico, critérios classificatórios, tratamento e possíveis complicações.
A presença de ossificações contínuas no ligamento longitudinal anterior, preservando os discos intervertebrais, é um dos achados radiográficos mais característicos da HEID.
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Conceito de HEID
A Hiperostose Esquelética Idiopática Difusa (HEID) é uma condição musculoesquelética caracterizada pela formação anormal de osso em locais onde tendões e ligamentos se inserem no esqueleto — fenômeno chamado de entesopatia. Essa ossificação tende a ocorrer de forma contínua ao longo da coluna vertebral, especialmente na região torácica, acometendo o ligamento longitudinal anterior.
Fisiopatologia da HEID
Neoformação óssea nas enteses
Na HEID, o processo predominante é a ossificação gradual e exagerada dos pontos de inserção de tendões e ligamentos, conhecidas como enteses. Esse fenômeno ocorre sem sinais evidentes de inflamação e afeta principalmente o ligamento longitudinal anterior da coluna, resultando em pontes ósseas que conectam múltiplos corpos vertebrais. O crescimento ósseo segue um padrão “ondulante” e contínuo, com predileção pelo lado direito da coluna torácica, possivelmente devido à proteção anatômica exercida pela aorta no lado esquerdo. Com o avanço da ossificação, há restrição da mobilidade vertebral e risco de compressões em estruturas adjacentes, como nervos e vias aéreas.
Fatores metabólicos e biomecânicos
A origem exata da HEID ainda não é totalmente compreendida, mas há forte associação com distúrbios metabólicos, especialmente obesidade, diabetes tipo 2, hiperinsulinemia e dislipidemias. Esse perfil metabólico parece criar um ambiente favorável à proliferação óssea, possivelmente por meio de estímulos hormonais e fatores de crescimento locais. Além disso, o estresse mecânico crônico sobre determinadas enteses pode induzir microtraumas repetitivos, desencadeando respostas de reparo com formação de tecido ósseo. Essa combinação de fatores locais e sistêmicos sustenta o caráter progressivo e exuberante da ossificação observada na HEID.
Epidemiologia e fatores de risco
Epidemiologia
A HEID é mais prevalente em indivíduos a partir da sexta década de vida, com aumento progressivo da incidência conforme o envelhecimento. Estima-se que aproximadamente 25% dos homens e 15% das mulheres com mais de 50 anos apresentem sinais radiográficos da doença, sendo esses números ainda maiores em faixas etárias mais avançadas.
Embora possa acometer ambos os sexos, há um predomínio claro em homens. A condição também é mais frequente em populações de origem europeia, sendo menos comum entre indivíduos asiáticos, negros e indígenas. Por sua evolução lenta e muitas vezes assintomática, é comum que o diagnóstico ocorra de forma incidental, durante a investigação de outras queixas musculoesqueléticas ou exames de rotina.
Fatores de risco
- Idade avançada (acima dos 50 anos);
- Sexo masculino;
- Obesidade;
- Diabetes mellitus tipo 2;
- Hiperinsulinemia;
- Dislipidemias (especialmente hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia);
- Hiperuricemia e gota;
- Histórico familiar ou predisposição genética (HLA-B8); e
- Sedentarismo e sobrecarga mecânica crônica.
Sintomas
Embora muitos pacientes com HEID permaneçam assintomáticos por longos períodos, outros podem desenvolver queixas progressivas relacionadas à ossificação vertebral e à entesopatia periférica. Os sintomas mais frequentes envolvem dor e rigidez na coluna — especialmente em regiões torácica e cervical — com limitação de movimentos, principalmente pela manhã ou após repouso prolongado.
Em casos mais avançados, o crescimento ósseo pode comprimir estruturas adjacentes, levando a manifestações neurológicas, respiratórias e digestivas. Além disso, há queixas musculoesqueléticas em articulações periféricas, relacionadas à calcificação de enteses em joelhos, tornozelos, pés, ombros e cotovelos.
Localização | Sintomas associados |
---|---|
Coluna torácica e cervical | Dor mecânica, rigidez, limitação de movimentos, disfagia, disfonia. |
Coluna lombar | Dor lombar crônica, claudicação, parestesias em membros inferiores. |
Enteses periféricas | Dor e desconforto à palpação em calcâneo, crista ilíaca, olécrano. |
Região cervical anterior | Disfagia, apneia do sono, dificuldade de intubação. |
Extremidades inferiores | Dor em joelhos, tornozelos e pés; espessamento tendíneo. |
Ombros e cotovelos | Dor articular, rigidez e limitação funcional. |
Diagnóstico da HEID
Critérios classificatórios
Os critérios mais utilizados são os de Resnick e Niwayama, estabelecidos em 1976. Outros critérios mais recentes, como os de Utsinger, propõem maior sensibilidade ao incluir casos com menos vértebras envolvidas e manifestações periféricas, porém ainda não há consenso definitivo sobre uma padronização diagnóstica universal.
Autor | Ano | Critérios Radiográficos | Principais Observações |
---|---|---|---|
Resnick e Niwayama | 1976 | – Ossificação contínua do ligamento longitudinal anterior envolvendo ≥ 4 vértebras torácicas. – Preservação da altura dos discos. – Ausência de sacroileíte. | Critério clássico, foca apenas na coluna torácica. |
Utsinger | 1985 | – Ossificação envolvendo ≥ 2 vértebras torácicas ou lombares. – Inclusão de entesopatias periféricas. | Mais sensível para fases iniciais e acometimento extra-axial. |
Arlet e Mazieres | 1990 | – Presença de 3 vértebras acometidas na porção inferior da coluna torácica. – Ossificação ligamentar associada a calcificações circunvizinhas. | Inclui alterações periarticulares. |
Usinger (três graus) | 2013 | – Possível: 2 vértebras envolvidas. – Provável: 2 vértebras + entesopatia periférica. – Definitivo: ≥ 4 vértebras acometidas com achados característicos. | Proposta gradual, inclui achados axiais e periféricos de forma escalar. |
Tratamento da HEID
O manejo da HEID é predominantemente conservador e voltado para o alívio dos sintomas. As principais medidas incluem fisioterapia, reeducação postural, atividade física supervisionada e uso de anti-inflamatórios não esteroidais nos períodos de dor.
Em pacientes com dor persistente ou acometimento periférico relevante, o uso de bisfosfonatos pode ser considerado, embora ainda haja controvérsias sobre sua eficácia. Casos com complicações neurológicas, fraturas ou deformidades graves podem necessitar de intervenção cirúrgica, como descompressão medular ou estabilização vertebral.
Evolução
A HEID evolui de forma lenta e tende a apresentar curso clínico estável na maioria dos casos. A qualidade de vida pode ser impactada pela limitação funcional, especialmente nos estágios avançados. A detecção precoce e o manejo adequado ajudam a preservar a mobilidade e prevenir complicações. Apesar de não ser uma condição progressiva agressiva, há risco aumentado de fraturas e compressões se não monitorada adequadamente.
Complicações
- Fraturas vertebrais após traumas de baixa energia;
- Compressão medular ou radicular;
- Disfagia por ossificação cervical anterior;
- Apneia obstrutiva do sono;
- Dificuldade de intubação orotraqueal;
- Claudicação e parestesias em membros inferiores;
- Heterotopia óssea após artroplastia de quadril; e
- Limitação funcional importante em fases avançadas.
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Referências Bibliográficas
- PINHEIRO, Marcelo de Medeiros; OLIVEIRA, Thauana Luiza de. Hiperostose esquelética idiopática difusa – critérios de classificação. Revista Paulista de Reumatologia, v. 21, n. 2, p. 78-81, abr./jun. 2022.
- LUO, T. David; VARACALLO, Matthew A. Diffuse Idiopathic Skeletal Hyperostosis. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; jan. 2025.