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Visão geral
O azul de metileno (AM) é um corante orgânico à base anilina que foi sintetizado em 1876 por Heinrich Caro. Inicialmente teve função para coloração e inativação de microrganismos. No final do século 19, estudiosos perceberam que em dosagens altas o AM é capaz de interromper as funções das fibras e terminações nervosas, sendo aplicado como antimalárico, em doenças reumáticas e como neurolépticos na época.
Com o avanço dos estudos científicos sobre a droga, tentaram demonstrar seu benefício na sepse, choque refratários a drogas vasoativas, na doença de Alzheimer e como antioxidante na área cosmética. Atualmente, a indicação rotulada está reservada no tratamento de metaemoglobinemia.
Dicas rápidas sobre Azul de metileno
- A única indicação rotulada é para metemoglobina adquirida e induzida por drogas.
- Deve ser utilizada em baixas concentrações, pois em altas doses pode causar metemoglobinemia paradoxal ou hemólise.
- Estudos não demonstraram evidências no choque séptico, mesmo existindo plausibilidade biológica em seu uso.
- Não deve ser utilizado em pacientes com deficiência de GCPD ou em uso de serotoninérgicos.
Indicações e dosagem
Metemoglobinemia adquirida
O AM é o tratamento de escolha para metemoglobinemia tóxica aguda com níveis de metemoglobina >30% e também para pacientes sintomáticos, como cianose, com níveis de metemoglobina entre 20 e 30%. Para níveis de metemoglobinemia assintomáticos com níveis menores que 30%, é prudente suspender o agente causador e observar.
A dose intravenosa é de 1 a 2 mg/kg durante 5 a 30 minutos, com dose única máxima usual de 100 mg, usando o peso corporal real. Pode repetir a dose 1 hora depois se o nível de metemoglobina permanecer acima de 30% ou os sintomas persistirem. A maioria dos indivíduos apresenta melhora clínica rápida com redução dos níveis de metemoglobina para menos de 10% em até 60 minutos.
A dose pediátrica é de 1 a 2 mg kg, IV ou oral (neonato 1mg/kg IV) podendo ser repetida a cada 30 a 60 minutos se o nível de metemoglobina permanecer acima de 30% ou os sinais e sintomas persistirem.
#Ponto importante: Deve-se ter cuidado com doses altas e repetidas de AM, pois podem resultar em hemólise ou metemoglobinemia paradoxal, especialmente em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase.
Para pacientes com metemoglobinemia congênita secundária à deficiência de citocromo b5 redutase (Cyb5R), pode ser utilizada a formulação cosmética de AM para diminuir a cianose.
Outras indicações
Seu uso é feito off-label no tratamento e profilaxia de encefalopatia induzida por ifosfamida na dose oral ou intravenosa de 50 mg em dose única ou a cada 4 a 8 horas até o desaparecimento dos sintomas. O tratamento pode não ser necessário, já que a encefalopatia pode melhorar espontaneamente. Para profilaxia a dose 50mg IV ou oral a cada 4 ou 8 horas, aplicados no dia anterior ou no dia dos cursos subsequentes de ifosfamida.
Existe plausibilidade biológica para o uso de azul de metileno na fisiopatologia da sepse e choque séptico, com ação vasopressora e cardioprotetora. No entanto, os estudos são escassos e controversos no que diz respeito à melhora da taxa de mortalidade neste contexto, não sendo indicada pelas diretrizes da sepse.
Outras indicações off-label para utilização de azul de metileno incluem:
- Agente tópico para cromoscopia diagnóstica
- Onicomicose;
- Mapeamento do linfonodo sentinela em cirurgia de câncer de mama;
- Superdosagem de choque, betabloqueador ou bloqueador dos canais de cálcio;
- Síndrome de vasoplegia associada à cirurgia cardíaca.
Contraindicações
O azul de metileno não deve ser usado em indivíduos com deficiência de G6PD, pela precipitação de hemólise, e em indivíduos recebendo agentes serotoninérgicos (ex; ISRS, antidepressivos duais) pela possibilidade de precipitar a síndrome serotoninérgica.
Efeitos adversos do azul de metileno
As reações mais graves incluem síncope, anemia hemolítica, anafilaxia e síndrome serotoninérgica. As mais comuns incluem hiperidrose, descoloração da pele, tonturas, cefaleia, cor anormal da urina (azul esverdeado) e dor nos membros.
Características farmacológicas do azul de metileno
Farmacodinâmica
Na metemoglobinemia, em baixas concentrações, o azul de metileno acelera a conversão para hemoglobina. Em altas concentrações, ocorre efeito oposto, com conversão do íon ferroso da hemoglobina reduzida em íon férrico para formar metemoglobina (metemoglobinemia paradoxal).
Na intoxicação por cianeto, o AM combina-se com o cianeto para formar cianometemoglobina evitando a interferência do cianeto com o sistema citocromo.
O azul de metileno pode ser capaz de restaurar o tônus vascular, importante no choque e síndromes vasoplégicas, por um efeito inibitório direto na sintase endotelial do óxido nítrico, pela oxidação do ferro ferroso ligado à enzima. O azul de metileno também é um inibidor da guanilato ciclase solúvel, inibindo ON e do GMP cíclico reduzindo o vasorelaxamento.
Farmacocinética
A absorção oral varia de 50% a 95%. O início de ação na redução da metemoglobina via endovenosa é de 30 a 60 minutos. No plasma é predominantemente ligada a proteínas. O pico de ação via oral é de 1 a 2 horas e endovenosa após 30 minutos.
Sofre metabolismo de primeira passagem e redução periférica para azul de leucometileno. É eliminado na bile, fezes e urina principalmente como droga inalterada e cerca de um terço como metabólito. A eliminação da meia-vida varia de 5 a 6,5 horas.
Veja também:
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Referências bibliográficas:
- Methylene blue: Drug information. Uptodate.
- Methemoglobinemia. Uptodate.
- Oliveira et al. / Braz. J. Surg. Clin. Res. Azul de metileno para fins terapêuticos. BJSCR. V.27,n.2,pp.66-70 (Jun – Ago 2019).
- Pedro Henrique Pereira Guerra et al. Azul de metileno e seus benefícios diante dos transtornos mentais e doenças neurodegenerativas. 2021. Disponível em : https://doi.org/10.37118/ijdr.21519.04.
- Azul de metileno. Manual farmacêutico Albert Einstein.
- Crédito da imagem em destaque: Pexels