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Visão geral
A trazodona é um derivado da triazolopiridina sintetizada pela primeira vez em 1966 na Itália. Foi considerado um dos primeiros antidepressivos atípicos e é usado atualmente para tratar tanto depressão quanto dispepsia funcional. Além disso, é frequentemente utilizada no tratamento de insônia pelos seus efeitos hipnóticos.
Indicações e dosagem
Indicações rotuladas
De acordo com a bula profissional disponibilizada pela ANVISA, a indicação clássica da trazodona continua sendo os quadros depressivos, principalmente quando a ansiedade e a insônia estão presentes. Outras indicações rotuladas incluem dor associada à neuropatia diabética e de outros tipos de dores crônicas, com dispepsia funcional.
É sugerido uma dose inicial de 50 a 150 mg/dia em dose única ou fracionada de 12 em 12 horas. Podem ser feitos incrementos de 50 mg/dia a cada 3 a 4 dias conforme tolerabilidade e resposta terapêutica esperada até uma dose máxima de 400mg/dia. Casos depressivos mais graves podem necessitar de doses maiores, mas esse manejo é feito principalmente intra hospitalar.
Insônia
A trazodona é frequentemente usada como hipnótico para tratar a insônia no contexto da depressão, bem como a insônia associada a antidepressivos. No entanto, algumas diretrizes são contra seu uso para este fim e a ANVISA não coloca a trazodona como medicação para este fim.
Existe algum grau de evidência para seu uso na insônia. Uma revisão sistemática identificou sete estudos randomizados de trazodona em 429 pacientes com insônia usando doses variando de 50 a 150 mg todas as noites por uma a quatro semanas. A trazodona melhorou a qualidade subjetiva do sono e o número de despertares, mas não teve efeito em nenhuma outra medida objetiva do sono em comparação com o placebo.
As doses estudadas para insônia variam de 50 a 150 mg durante a noite, sendo indicada doses mais baixas em adultos mais velhos. É improvável que doses acima de 150 mg tenham benefícios adicionais na insônia e o risco aumentado de efeitos adversos. A redução gradual da dose é recomendada na descontinuação, em vez da retirada abrupta.
Contraindicações
É contraindicada em casos de reação de hipersensibilidade à trazodona. Não deve ser usada associada ou dentro de 14 dias após a descontinuação dos inibidores da enzima MAO. Não é indicado iniciar trazodona em um paciente recebendo linezolida ou azul de metileno intravenoso ou para pacientes em fase de recuperação de um infarto do miocárdio.
Efeitos adversos da trazodona
A trazodona pode causar vários efeitos colaterais, sendo mais comum a sedação, tontura, boca seca e náusea. Além disso, hipotensão ortostática e cefaléia também são comuns. Dentre as causas mais preocupantes, as arritmias cardíacas, com prolongamento do intervalo QT, são as mais temidas, podendo evoluir com arritmias atriais e ventriculares. Outros efeitos incluem síndrome serotoninérgica, aumento do risco de sangramento e glaucoma de ângulo fechado.
O priapismo peniano secundário à trazodona, caracterizado por uma ereção peniana prolongada e dolorosa, é uma emergência que deve ser avaliada imediatamente por um urologista. Estima-se que ocorra de 1 em 1.000 em doses variando de 50 a 400 mg por dia.
#Ponto importante: as concentrações no estado estacionário recomendadas são de aproximadamente 1 a 3 mcg/mL.
Características farmacológicas da trazodona
Farmacodinâmica
O mecanismo de ação antidepressiva da trazodona no homem ainda não está completamente elucidado. A trazodona é uma triazolopiridina que, em estudos em animais, inibe a recaptação da serotonina, causa subsensibilidade dos adrenoreceptores, atua como um antagonista do receptor 5HT2A e induz alterações significativas nos adrenoreceptores pré-sinápticos do receptor 5-HT.
A trazodona também age bloqueando significativamente a histamina H1 (o que pode explicar seu efeito sedativo) e os receptores alfa1-adrenérgicos fracamente a recaptação pré-sináptica da serotonina.
#Ponto importante: Os efeitos parecem ser dependentes da dose, de modo que em doses baixas o fármaco atua como um antagonista da serotonina e em altas doses como um agonista da serotonina.
Os efeitos colaterais cardiovasculares são explicados por sua ação bloqueando os receptores alfa-adrenérgicos pós-sinápticos. A droga não afeta os receptores colinérgicos e os efeitos na recaptação de norepinefrina e dopamina são mínimos.
Farmacocinética
A trazodona é bem absorvida após a administração oral e aumenta quando administrada com alimentos, com biodisponibilidade de 100%. Sofre extensa biotransformação hepática pela via CYP3A4 ao metabólito ativo é a m-clorofenilpiperazina (mCPP).
#Ponto importante: O alimento aumenta a absorção, diminui o pico de concentração e retarda o tempo até o pico de concentração.
A excreção é principalmente renal (75%) e biliar (20%), com meia-vida de eliminação bifásica, consistindo de uma fase inicial (meia-vida de 3 a 6 horas), seguida de uma fase mais lenta (meia-vida de 5 a 9 horas), que pode ser prolongada em pacientes obesos. Não pode ser usado com inibidores da monoamina oxidase (IMAO).
Superdosagem ou intoxicação
A superdosagem apenas com esse fármaco geralmente segue curso benigno, raramente é letal. Embora a maioria dos pacientes se recupere sem intercorrências, a overdose pode causar arritmias, parada respiratória, coma e priapismo. Houve pelo menos um caso fatal de suicídio com trazodona isolada foi relatado, no qual o paciente desenvolveu torsades de pointes, bloqueio atrioventricular completo e falência de múltiplos órgãos.
#Ponto importante: O uso indiscriminado da trazodona associado a outras substâncias, como álcool e outras drogas costumam ter maior letalidade.
Veja também:
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Referências bibliográficas:
- Cantarelli, Maria da Graça e Marcolin, Marco Antonio. Trazodona: farmacologia e interações medicamentosas. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]. 2006, v. 33, n. 6, pp. 329-336. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-60832006000600006
- Michael Hirsch; Robert J Birnbaum. Serotonin modulators: Pharmacology, administration, and side effects. Uptodate.
- Khouzam HR. A review of trazodone use in psychiatric and medical conditions. Postgrad Med. 2017 Jan;129(1):140-148. doi: 10.1080/00325481.2017.1249265.
- Bulário profissional ANVISA. Dipsonível em: https://consultas.anvisa.gov.br/#/bulario/q/?numeroRegistro=101180130
- Crédito da imagem em destaque: Pexels