Qual a situação financeira dos médicos? Levantamento traz cenário atualizado
Fonte: Estratégia MED

Qual a situação financeira dos médicos? Levantamento traz cenário atualizado

Se você escolheu a carreira médica, com certeza tem curiosidade em saber os detalhes, principalmente financeiros, que a faculdade não conta. Então confira agora mesmo como suas escolhas podem influenciar o seu trabalho e sua vida.

Como anda a Saúde Financeira dos Médicos? 

Um dos principais pontos levados em consideração na escolha da profissão é a média salarial. E este tem sido um dos grandes atrativos para quem opta pela Medicina, tornando o curso um dos mais concorridos do Brasil

Considerando que, em 2020, o Brasil alcançou a maior marca histórica, com 500 mil registros únicos nos Conselhos Regionais de Medicina (CRM), estima-se que quase 180 mil médicos ingressaram no mercado de trabalho entre 2010 e 2019, acirrando a concorrência e, consequentemente, a dinâmica de trabalho na área médica. Por isso, o Estratégia MED se propôs a revisar os últimos estudos realizados sobre os desafios e a real situação financeira destes profissionais, como a sua relação com os empregadores, remuneração, benefícios e o impacto que isso pode causar nas escolhas feitas durante a carreira. 

Será que quem já atua na área está completamente satisfeito? Para responder essa e outras perguntas, o Estratégia MED compilou os principais achados sobre a situação financeira dos médicos brasileiros

Esse levantamento utiliza dados extraídos da recente pesquisa publicada pelo Research Center, um núcleo de pesquisas de uma das empresas voltadas para a educação médica atuantes no país, além de estudos como a Demografia Médica de 2020, o Diagnóstico Situacional da Associação Médica Brasileira (AMB), o Site Salário, entre outras referências. 

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Quem participou das pesquisas?

Com 3.013 participantes, o núcleo de pesquisas Research Center (RC), tentou diversificar buscando médicos em diferentes estágios de formação. As pesquisas ouviram médicos residentes ou com pós-graduação em andamento, médicos generalistas e médicos especialistas.

Um pouco mais da metade dessa amostra aleatória, 50,9%, é composta por médicos especialistas com residência ou pós-graduação completa. Seguido por 32,2% de médicos generalistas e 16,9% de médicos residentes ou que ainda estão se especializando.

Já a Demografia Médica de 2020 entrevistou 2.400 médicos, amostragem proporcional à distribuição geográfica e socioeconômica da população no território brasileiro. É importante lembrar que essa população contava com 500 mil médicos em novembro de 2020, sendo 293.064 médicos especialistas e 184.946 médicos generalistas, correspondendo a uma razão de 1,58 especialista para cada generalista. 

O site salário.com.br nos oferece um contraponto sobre as informações obtidas por autodeclaração dos profissionais ouvidos nas pesquisas, apresentando os dados salariais oficiais registrados na Secretaria Especial da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, por meio do Novo CAGED, eSocial e Empregador Web, até março de 2022.

Por fim, a Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) nos fornece algumas possibilidades de interpretação desses dados e ainda complementa o cenário com questões sobre os efeitos da pandemia na rotina dos médicos.

Médico Generalista ou Médico Especialista? 

Considerando 2.044 participantes ouvidos pelo Research Center, algumas especialidades se mostraram mais populares do que outras. Medicina de Família e Comunidade ganha essa corrida, com 13,9% dos participantes que escolheram essa especialidade para a sua formação. Seguido por 9,1% em Pediatria, 8,9% em Clínica Médica, 8,4% em Cardiologia, 7,7% em Ginecologia e Obstetrícia, e 4,4% em Cirurgia Geral.

Contudo, a Demografia Médica nos apresenta outro ranking, em que 4 especialidades correspondem a quase 40% dos especialistas registrados em 2020. A primeira especialidade da lista, em número de profissionais titulados, é Clínica Médica, com 11,3% do total de especialistas. Em seguida, temos Pediatria, com 10,1%, seguida de Cirurgia Geral, com 8,9% e Ginecologia e Obstetrícia, com 7,7%, totalizando 38% de especialistas. 

Imagem com infográfico comparativo das pesquisas com as especialidades médicas mais populares
Infográfico comparativo das pesquisas contendo as especialidades médicas mais populares

Agora, pensando nas provas de residência médica, podemos notar que essas especialidades apresentam um número grande de vagas, principalmente, nas maiores instituições. E isso, consequentemente leva à alta da procura pelos profissionais que desejam se especializar, resultando em mais profissionais interessados nessas áreas.

Já para os médicos generalistas, a pergunta do Research Search foi um pouco diferente: eles pretendem fazer residência ou pós-graduação? E o desejo em seguir estudando, com a preocupação em continuar sua formação é esmagadora. Apenas 5,4% responderam que não têm intenção em se especializar.

Especialidades Médicas mais procuradas e melhor remuneradas

Com isso, observamos uma mudança significativa nos interesses dos profissionais da medicina, que vêm migrando seus interesses de especialização em áreas com maior presença em todo o território nacional. Programas de incentivo à especialização em áreas da Medicina Preventiva, atendendo, de certa forma, as necessidades de Estratégia de Saúde da Família e Comunidade (ESF) do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Nesse sentido, o governo federal lançou em 2021 o Plano Nacional de Fortalecimento das Residências em Saúde, valorizando os residentes, corpo docente-assistencial e gestores de programas de residência, em especial nas regiões prioritárias do SUS. Recentemente, o programa Médicos pelo Brasil (substituto do Mais Médicos) selecionou 4.057 médicos-residentes de Família e Comunidade, estimulando a crescente busca pela especialidade. Não podemos esquecer, também, das bolsas de incentivo à residência em Medicina de Família e Comunidade, que podem ultrapassar R$ 10 mil em algumas instituições.  

Tempo de formação e média etária

Outro dado importante levantado pela pesquisa do Research Center foi o tempo que os participantes já estão formados. Com o crescimento de cursos e vagas nas faculdades de medicina nos últimos anos, a pesquisa seguiu o esperado e a realidade atual do país. Dos mais de 3.000 participantes, 63% têm até 10 anos de formação apenas. Ainda assim, os mais experientes seguem bem representados, como também revelava a Demografia Médica em 2020: a média de idade dos médicos brasileiros, especialistas ou não, é de 44,6 anos. Entre os especialistas, a idade média estava em 47,3, considerando o desvio padrão de 14 pontos para mais ou para menos em ambos os casos. 

E no recorte etário, a Medicina de Família e Comunidade é considerada uma das mais “jovens”, cuja média de idade desses especialistas é de 41,7 anos. Em contrapartida, os profissionais especializados em Homeopatia e em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial têm, em média, 61,6 e 60,1 anos, respectivamente. 

Setor e Ambiente de Trabalho

Um ponto positivo da profissão é a possibilidade de ter diversos vínculos empregatícios, assim como trabalhar por conta e poder atuar em diferentes ambientes e rotinas de trabalho. O número apontado pela pesquisa do Research Center é de 2,16 ambientes de trabalho diferentes por médico.
Os ambientes com maior número de profissionais atuando são:

42% – Emergência ou unidade de pronto atendimento
29,2% – Consultórios particulares
25,4% – Clínicas de família ou unidade de atenção
23,6% – Ambulatórios ou policlínicas públicas
19,4% – Ambulatórios ou policlínicas privadas

Outros locais também foram indicados na pesquisa como enfermarias, centros cirúrgicos, clínicas de imagem, instituições de ensino, atendimento pré-hospitalar e outros.

Quanto ao tipo de setor de trabalho, nota-se que o setor público é o principal empregador dos médicos brasileiros, não deixando a iniciativa privada para trás:

38,9% – Público e privado
38,6% – Somente público
22,5% – Somente privado

Dos atendimentos em consultório particular, foi apresentado uma média de 37,6 pacientes por semana, considerando pacientes particulares e de convênios/planos de saúde.

Em 2020, os percentuais de médicos atuantes em cada setor econômico revelam diferenças significativas. Segundo a Demografia Médica, dos 2.400 médicos entrevistados, 21,5% dedicavam-se exclusivamente ao setor público e 28,3% ao setor privado. Ainda, mais da metade, 50,2%, atuava nos 2 setores. E considerando a sobreposição entre os 2 setores, 78,5% dos médicos atuavam na iniciativa privada, enquanto 71,5%, nos serviços públicos.

Pontos negativos

Mas infelizmente, como em todas as profissões, existem também os pontos negativos da carreira escolhida.

A pesquisa do RC aponta que 42,6% responderam que o alto volume de trabalho é o aspecto mais difícil, seguido por baixa remuneração pelo empregador (39,4%), falta de condições para exercer uma boa assistência (32,6%), alta carga horária (31,4%), gasto de tempo com burocracias (25,7%), risco em ser processado (18,5%), construir e fidelizar clientela (9,3%), entre outros.

Confirmando que as extensas jornadas de trabalho são o ponto negativo que mais impacta a vida dos médicos, a Demografia Médica revelava, em 2020, que quase metade dos médicos (45,9%) atuava em jornadas de mais de 60 horas semanais. Destes, 28,9% assumiam mais de 80 horas semanais de carga-horária no trabalho. Em 2014, o percentual de médicos que atuavam mais de 40 horas por semana era menor, de 32,4%. 

Renda Líquida Mensal

Agora, talvez o tópico que mais chame a atenção: a média da renda líquida mensal. Segundo o Research Center, a média salarial dos médicos, em geral, está em torno de R$18 mil reais. Mas engana-se quem pensa que todos os médicos são remunerados nessa faixa salarial. Há quem receba menos da metade deste valor, assim como há quem receba mais do dobro, como os dados apresentados pelo site Salários, cuja média salarial de um Pediatra, por exemplo, é de R$7.159,44 para uma carga-horária de 22 horas semanais. 

Por isso, muito deve ser considerado: tempo de atuação na área, formação, vínculos empregatícios, jornada e outras questões. Assim como esperado, os médicos especialistas são os que possuem, em média, uma renda maior, sendo observado uma diferença de aproximadamente R$5 mil entre as formações:

Médico residente ou em especialização: média de R$11.638,11
Médico generalista: média de R$15.935,96
Médico especialista: média de R$21.920,75

Pensando nos primeiros anos de especialização, esse valor pode ser menor por conta da bolsa recebida pela residência médica. E também pode ser menor, por um tempo, devido à diminuição da carga-horária que o residente ou pós-graduando tem para se dedicar ao trabalho, afinal é um momento dedicado aos estudos. Assim como para os que já estão há bastante tempo no mercado como especialistas, esse valor pode subir por conta do currículo e pacientes conquistados, cargo, tempo, etc.

Com tantas possibilidades na carreira e diferenças, uma das principais perguntas foi feita: você considera a sua remuneração justa?

Pode parecer estranho para quem está de fora, mas 74,5% dos médicos participantes responderam que não acreditam que recebem algo compatível com o trabalho que promovem. Sendo assim, acham justo que deveriam receber algo em torno de 44,6% a mais por mês.

Engana-se ao pensar que o cenário era muito melhor em 2020. Do total dos respondentes do inquérito Demografia Médica, especificamente da questão sobre remuneração, 45,9% disseram ganhar mais de R$ 16 mil mensais e 18% recebe menos R$ 11 mil por mês. 17,6% declararam renda mensal acima de R$ 27 mil por mês. 

Quem trabalha exclusivamente no setor público ganha menos: na menor faixa salarial, ou seja, até R$ 11 mil mensais, estão 42,2% dos que trabalham apenas no SUS. 21,2% dos que trabalham exclusivamente no setor privado e 36,6% dos que têm dupla prática pública e privada. Na faixa de R$ 21 a R$ 27 mil estão 58% dos que têm dupla prática, 28,1% dos que trabalham só no setor privado e 13,9% dos que atuam exclusivamente no SUS.

Despesas x Economia

Na vida de qualquer brasileiro, médico ou não, as despesas estão presentes, são recorrentes e necessárias. No estudo da Research Center, foram destacadas despesas comuns como: despesas médicas, dívida de cartão de crédito, aluguel de casa ou apartamento, gastos com filhos, a própria educação que segue sendo sempre atualizada, financiamentos, empréstimos, etc.

Seguindo um pouco da realidade brasileira, 50% dos que responderam não conseguem, ao fim do mês, poupar algum valor e, se conseguem, poupam menos de 10% da renda.

Levando em consideração essas questões, foi perguntado se eles se consideram aptos a se organizar financeiramente. Embora a resposta tenha sido majoritariamente positiva, quando perguntado se em casos de emergência que impossibilitem o trabalho conseguiriam se manter usando suas reservas, mais de um terço afirma que não conseguiria ficar sem trabalhar por mais de 3 meses sem criar dívidas.
Dos 2.475 que responderam a essa pergunta, 12% alegaram não conseguir se manter por nenhum mês, enquanto 24,1% afirmam conseguir de 1 a 3 meses. Apesar desta maioria, vale a atenção em relação aos que conseguem por mais de um ano: 8,4% dizem conseguir entre 13 e 24 meses, e logo atrás, 8,3% têm condições de se manter por mais de 24 meses. 

Expectativas

Com tanto estudo e trabalho, não custa nada pensar um pouco mais para dentro e no que realmente importa, e cabe como realização profissional e pessoal. Tempo livre com família e amigos, não depender dos ganhos mensais (viver de renda), liberdade para trabalhar com o que quer e gosta, e ser reconhecido. Esses são pontos que os profissionais participantes desejam. Assim como a conquista de bens imóveis, carro, investimentos, aposentadoria etc.

Há também o outro lado da profissão, que torna gratificante trabalhar na área e deixa aquele sentimento de dever feito. Os pontos apresentados foram: atingir desfechos favoráveis como salvar vidas, fechar diagnóstico e aliviar sofrimento, trabalhar com o que gosta, gratidão e reconhecimento, orgulho por mudar a vida de pessoas, e muita coisa boa.

E se você chegou até aqui, é porque Medicina é sua escolha ou está no seu radar. Então não deixe de acompanhar o Estratégia MED para novidades, curiosidades, estudos para residência médica e muito mais. Vem ser Coruja!

Texto com colaboração de: Ana Carolina Damasceno e Beatriz Testa.
Edição: Mara Rodrigues 

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